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Revista da Associacao Paulista de Cirurgioes Dentistas

versão impressa ISSN 0004-5276

Rev. Assoc. Paul. Cir. Dent. vol.66 no.3 Sao Paulo Jul./Set. 2012

 

ARTIGO ORIGINAL

 

Eficácia do gelo e gás na determinação da sensibilidade pulpar antes e após a restauração

 

Reliability of ice and refrigerant gas before and after in restorative procedures

 

 

João Marcelo Ferreira de MedeirosI; Lucilei Lopes BonatoII; Maria Teresa Fortes Soares D'AzevedoIII; Edison Tibagy Dias de Carvalho AlmeidaIV; Miguel Simão Haddad FilhoV; Luiz Carlos Laureano da RosaVI

IProfessor Doutor - Professor Assistente III da Disciplina de Endodontia da Universidade de Taubaté - Brasil
IIProfessora Doutora - Profa. Assistente III da Disciplina de Dentística do Departamento de Odontologia da Universidade de Taubaté – Brasil
IIIProfessora Doutora - Professora Assistente III da Disciplina de Dentística do Departamento de Odontologia da Universidade de Taubaté – Brasil
IVProfessor Doutor - Professor Assistente III da Disciplina de Clínica Integrada do Departamento de Odontologia da Universidade de Taubaté - Brasil
VMestre - Professor Assistente da Disciplina de Endodontia do Curso de Odontologia da Universidade São Francisco - Brasil
VIDoutor - Professor Assistente III da Disciplina de Bioestatística do Instituto Básico de Ciências Exatas da Universidade de Taubaté- Brasil

Autor para correspondência

 

 


 

RESUMO

O objetivo do presente estudo foi comparar a frequência de respostas positivas e negativas, bem como a intensidade da dor do paciente frente à aplicação térmica em 625 dentes humanos cariados antes e após os procedimentos restauradores. A intensidade dolorosa foi medida por meio da Escala Analógica Visual representada por uma régua calibrada em milímetros de 1 a 10. Antes de fazer a restauração aplicou-se o bastão de gelo e depois o gás refrigerante, para obtenção da resposta pulpar. Após a restauração, nova aplicação dos testes e avaliação da intensidade dolorosa valendo-se da referida escala. Os dados relativos antes e após os procedimentos restauradores foram tabulados analisando-se a frequência e percentual de respostas positivas e negativas e a intensidade dolorosa em leve, moderada e intensa. Ao comparar o bastão de gelo e gás refrigerante ocorreu diferença percentual de repostas positivas e negativas com significado estatístico (p=0,00001) o mesmo ocorrendo à intensidade da dor nos seus três níveis tanto antes como depois dos procedimentos restauradores. Concluiu-se que, o gás refrigerante comparado com o gelo, determinou maior número de frequências de respostas positivas tanto antes como depois dos procedimentos restauradores. O número de dentes com dor intensa antes dos procedimentos restauradores foi maior do que depois da restauração a aplicação do gelo como o gás refrigerante. Quanto à intensidade dolorosa moderada e leve verificou-se que antes de realizar a restauração os índices percentuais foram menores em relação à intensidade dolorosa depois dos procedimentos restauradores tanto a aplicação do gelo como o gás refrigerante.

Descritores: teste da polpa dentária; dentística operatória; restauração dentária permanente


 

ABSTRACT

The aim of this study was to compare the frequency of positive and negative responses and intensity of patient pain in the thermal application in 625 human caries teeth before and after the restorative procedures. Pain intensity was measured by Visual Analogue Scale represented by a calibrated rule 1-10 mm. Before making the restoration was applied the ice stick and then the refrigerant gas to obtain the pulp response. After the restoration were made the new application testing and evaluation of pain intensity availing himself of that scale. The data before and after the restorative procedures were tabulated by analyzing the frequency and percentage of positive and negative responses and pain intensity as mild, moderate and intense. By comparing the ice stick and refrigerant occurred percentage difference of positive and negative responses with statistical significance (p = 0.00001) occurring at the same intensity of pain at its three levels both before and after restorative procedures. it concluded that the refrigerant compared to the ice stick determined more positive response frequencies both before and after restoratives procedures. The number of teeth with pain before the restorative procedures was higher than after application of the restoration of ice stick as the refrigerant.As a moderate and mild pain intensity was found that before performing the restoration percentage rates were lower in relation to pain intensity after the restorative procedures both the application of ice and the refrigerant gas.

Descriptors: dental pulp test; dentistry; dental restoration repair


 

 

RELEVÂNCIA CLÍNICA

A avaliação da sensibilidade pulpar é de importância do ponto de vista clínico, pois pode sugerir a indicação ou não do tratamento endodôntico, permitindo avaliar a possível reversibilidade ou não do processo inflamatório da polpa dentária, tanto antes e depois de procedimentos restauradores.

 

INTRODUÇÃO

A avaliação da sensibilidade pulpar é um procedimento de relevância na prática diária, pois, permite julgar a provável reversibilidade ou não de processo inflamatório pulpar com expectativa de indicação ou não do tratamento endodôntico.

Especialistas e clínicos gerais buscam por métodos mais precisos na avaliação do diagnóstico do estado pulpar, porém, muitos deles tratam o estabelecimento do diagnóstico pulpar de maneira equívoca, não por descuido, mas por puro desconhecimento1,2.

Na realidade deve-se antes de qualquer tratamento odontológico, em qualquer especialidade, utilizar recursos que o auxilie na prática de um bom diagnóstico não como mera recomendação, mas, sim, como uma necessidade que deve ser realizado antes e depois dos procedimentos restauradores.

Assim sendo, antes da restauração de qualquer dente é importante que se faça uma correta interpretação do caso em particular, a saber, na anamnese, exame clínico e nos recursos complementares para que se tenha ideia da condição clínica pulpar. Da mesma maneira, deve-se fazer também depois que se faz a restauração do mesmo dente à avaliação do estado pulpar até por uma preocupação a um bom prognóstico.

Nunca esquecer que além de aplicação criteriosa de recursos disponíveis haja uma perfeita adequação com a queixa principal, história pregressa e atual, bem como com o exame físico, e por último, o exame radiográfico.

A documentação odontológica deve incluir todos os dados possíveis do paciente, recolhidas e obtidas de maneira procedente e racional pelo profissional durante o seu exame e, uma vez realizado o tratamento incluir uma nova avaliação, com a realização de novos exames e testes, bem como ao seu término, reavaliar o estado pulpar pós-tratamento com subsequente registro na documentação odontológica3.

Mais ainda, importa relatar que o exercício do diagnóstico pulpar tem confirmado o valor do resfriamento como recurso complementar de exame durante a determinação do diagnóstico do estado pulpar, inclusive em diversas especialidades odontológicas1,2,3,4,5,6,7,8,9,10,11,12,13,14,15,16,17.

O emprego de procedimentos semiotécnicos a fim de revelar a presença ou não da polpa dentária deve ser aplicado numa série de condições clínicas e dentre elas ressalta-se dentes portadores de cárie destinados a restaurações simples ou reconstrução18.

Vários autores consideram a importância de um acompanhamento por parte do profissional de uma avaliação periódica do estado pulpar após restauração principalmente quando existem dúvidas a respeito da resposta pulpar quanto a lesões prévias ou a outros procedimentos19,20.

Os testes térmicos em dentes molares com coroa protética apresentam literatura escassa e resultados frente a metodologias e amostragem inconsistentes. Propuseram estudar comparativamente a eficácia do gelo e gás tetrafluorotano na determinação da sensibilidade pulpar em 400 dentes molares humanos de 197 pacientes com idade variável entre 19 e 62 anos. As coroas protéticas eram confeccionadas em metalo-cerâmica, metalo-plástica, metálica e plástica (provisório). Os agentes de resfriamento empregados foram aplicados diretamente na superfície vestibular do terço cervical da coroa. Concluiu-se que o teste de sensibilidade pulpar com o tretafluoroetano quando comparado ao bastão de gelo, produziu índice de acerto maior e estatisticamente significante na determinação da sensibilidade pulpar em todos os grupos de dentes testados, portadores de coroas protéticas sendo mais eficaz12.

Aliás, autores estudaram quais os recursos diagnósticos mais utilizados por especialistas em endodontia na avaliação da sensibilidade pulpar. Para tal, foram obtidos dados de 200 questionários a endodontistas da região de São Paulo, que apresentavam os testes mais usuais onde se perguntava: "Quais os recursos complementares mais utilizados na detecção da sensibilidade (sensibilidade) pulpar que você utiliza durante o exame do paciente?". Os dados foram organizados de modo a facilitar sua subdivisão em teste pelo frio, calor, elétrico, cavidade, anestesia e outros, permitindo estabelecer percentuais de utilização destes em função do número de citações. De posse dos resultados obtidos, concluiu-se que o gás refrigerante foi o recurso auxiliar preferido pelos especialistas (70%), seguido do bastão de gelo (59,5%) e o bastão de guta-percha (49%), sendo que os demais não perfaziam sequer 20% do total1.

Frente à metodologia empregada parece-nos lícito afirmar que dentre os recursos semiotécnicos complementares listados, os mais utilizados para verificar a sensibilidade pulpar foram, em ordem decrescente: gás refrigerante, bastão de gelo, guta-percha aquecida, teste de cavidade, teste eléctrico, água e jacto de ar, teste de anestesia, brunidor aquecido e algodão embebido em álcool1.

Avaliação de dados da anamnese e dos relatos de 692 dentes em 560 pacientes quanto à sensibilidade provocada pelo contato com substâncias frias foram comparadas com resultados da resposta pulpar obtidos pela aplicação de dois agentes térmicos frios (gelo e gás refrigerante) considerando o aumento ou a diminuição da intensidade dolorosa obtida em dentes portadores de lesão pulpar inflamatória irreversível. Primeiramente realizou-se um questionamento sobre a sensibilidade do paciente quando ingeria alimentos ou líquidos frios e qual a sensação experimentada nos dentes pulpíticos, anotando-se os dados. Após isso, foram realizados testes complementares onde foram usados o gelo na forma de bastão e o tetrafluoroetano o qual era borrifado em penso de algodão e aplicado sobre a superfície dentária. Dos resultados obtidos pode-se concluir que, para as situações avaliadas de pulpite irreversível, em ambos os agentes térmicos, ocorreu alto índice de intensificação do processo doloroso, porém, estatisticamente significante. Comparando-se os dados da anamnese com o bastão de gelo não ocorreu diferença estatisticamente significante entre alívio da dor, intensificação da dor ou nenhuma alteração de sensibilidade diferentemente da comparação entre anamnese com o gás refrigerante com significado estatístico entre as variáveis15.

Pesquisas foram feitas para saber quais recursos complementares os clínicos gerais da cidade de Taubaté utilizam para determinação da sensibilidade pulpar. Para tanto, entrevistaram ao acaso 106 Cirurgiões-Dentistas da cidade de Taubaté valendo-se de um questionário elaborado pelo autor. Estes eram de diferentes épocas de graduação, especialista ou não e de diversas faculdades de Odontologia. Os dados foram organizados de acordo com os testes: frio, calor, elétrico, cavidade, anestesia e outros, permitindo estabelecer percentuais de utilização destes em função do número de citações. Como inferência estatística utilizou-se teste binomial para proporção, sendo o nível de significância de 5%. Na comparação entre a proporção de clínicos gerais que utilizam guta-percha (90,56%) e bastão de gelo (77,35%) o teste apresentou valor<0,05 indicando que a proporção de clínicos gerais que usam guta-percha aquecida é maior do que aqueles clínicos que usam bastão de gelo. De posse dos resultados obtidos, concluíram-se que a guta-percha aquecida foi o recurso auxiliar preferido pelos clínicos gerais (90,56%) seguido do bastão de gelo (77,35%), gases refrigerantes (64,15%), jato de ar (41,5%), teste de anestesia (38,67%), teste de cavidade (31,13%), água fria (24,52%), brunidor aquecido (4,71%), teste elétrico (1,88%) e algodão embebido em álcool (0,94%)2.

Por outro lado, a dor é definida segundo a IASP (International Association for Study of Pain), como uma experiência subjetiva desagradável, sensitiva e emocional, associada com lesão real ou potencial dos tecidos ou descrita em termos dessa lesão, sendo vivenciada por quase todas as pessoas, além de ser, geralmente, o motivo que as leva a procurar o sistema de saúde21.

No entanto, os métodos mais utilizados pelos profissionais da saúde são as descrições verbais ou escritas da dor, que permitem o acesso aos componentes motivacional-afetivo; sensório-discriminativo e cognitivo-avaliativo. São exemplos desses métodos as escalas de dor, entrevistas, testes psicológicos, técnicas projetivas e diários de dor. Estes métodos permitem a compreensão da subjetividade do paciente e de diversas outras variáveis não acessadas pelos dois outros métodos22.

A Escala Analógica Visual (Visual Analogue Scale - VAS) é um teste que mede por meio uma régua com uma linha de 10 cm e âncoras em ambas as extremidades. Numa delas é marcada "nenhuma dor" e na outra extremidade é indicada "a pior dor possível", ou frases análogas. A intensidade da dor é indicada marcando a linha e uma régua é utilizada para quantificar a mensuração numa escala de 0-100 mm. É um instrumento sensível, simples, reproduzível e universal, ou seja, pode ser compreendido em distintas situações onde há diferenças culturais ou de linguagem do avaliador. A Escala Analógica Visual é de utilidade na comparação do paciente com ele próprio ao longo do tempo, mas, é menos confiável em comparar indivíduos um com o outro22.

Em um estudo foi verificado que uma marca acima de 3 cm numa escala de 10 cm poderia incluir 85% dos sujeitos que estimaram sua dor como moderada numa escala de categorias de 4 pontos, e 98% dos sujeitos que registraram dor severa23.

Há poucos relatos na literatura, por investigação comparativa, de acontecimentos com processos de cárie e de alterações sintomatológicas dos dentes, bem como seu valor sobre a manutenção da sensibilidade antes e depois dos procedimentos restauradores. O propósito do presente estudo foi comparar a frequência de respostas positivas e negativas em dentes humanos cariados antes dos procedimentos restauradores e após sua restauração valendo-se da aplicação do bastão de gelo e do gás refrigerante tetrafluoroetano bem como a intensidade sintomatológica de cada dente dos pacientes.

 

MATERIAL E MÉTODO

Foram selecionados 625 dentes humanos superiores e inferiores portadores de processo de cárie e destinados a tratamento restaurador, pertencentes a pacientes de ambos os sexos, entre 22 e 58 anos de idade.

Esta investigação foi submetida a julgamento e concordância do Comitê de Ética em Pesquisa de seres humanos da Universidade São Francisco conforme uma declaração do protocolo CEP/CBSUSF realizada em 23/05/2001.

Procedeu-se a feitura de documentação odontológica na qual foram incluídos anamnese e exame físico, de sorte a escolher elementos dentários que, do ponto de vista clínico, apresentassem quadro de normalidade, não sendo revelada a presença das seguintes condições: histórico passado ou atual de dor espontânea, histórico de traumatismo dentário, alteração cromática da coroa dentária, preparo cavitário com selamento provisório, mobilidade, bolsa periodontal, hiperemia, edema ou fístula mucosa regional, sangramento gengival local, sensibilidade à percussão vertical e horizontal e sensibilidade à palpação em nível apical.

Por outro lado, denotaram-se durante o exame físico que os dentes eram portadores de processo de cárie e a dor quando provocada por estímulos térmicos, segundo os pacientes eram de pequena e moderada intensidade e que desaparecia tão logo o estímulo era removido.

Para comprovar os níveis de dor de cada paciente tanto após a aplicação do gelo como após aplicação do gás refrigerante utilizou-se como medida da intensidade da dor a Escala Analógica Visual (Visual Analogue Scale-VAS) e tal manobra foi realizada antes e após os procedimentos restauradores.

A referida escala se constitui de uma régua calibrada em milímetros de 1 a 10. Uma vez aplicado o estímulo térmico instruiu-se o paciente para ele indicasse com o dedo na referida régua o número que ele achava e que correspondia a intensidade dolorosa que ele sentia, e a seguir, pediase que ele falasse o número na régua para confirmação do que o paciente estava indicando e tais indicadores eram anotados em uma tabela.

A metodologia de aplicação dos agentes térmicos seguiu como praxe, primeira a aplicação do bastão de gelo e depois o gás refrigerante, o hidrofluorocarbono (Congelante Aerossol-Implastec Ltda., Votorantim, SP, Brasil) ou tetrafluoroetano (CS-68-Chemical Specialties Indústria e Comércio Ltda., São Paulo, SP, Brasil) para obtenção da resposta dolorosa pulpar. O gelo foi obtido valendo-se de tubos anestésicos vazios que preenchidos com água eram levados ao congelador, enquanto o gás refrigerante foi aplicado valendo-se de penso de algodão preso aos ramos de uma pinça clínica sobre o qual se borrifava o spray do gás refrigerante a uma distância de cinco centímetros durante o intervalo de cinco segundos.

Os testes foram aplicados sobre a superfície vestibular dos respectivos dentes a intervalos de tempo nunca superiores de dez segundos, tanto para o bastão de gelo denotou-se manifestação dolorosa e desaparecimento imediato da dor uma vez removido o estímulo térmico enquanto para o gás refrigerante a dor foi mais intensa e desaparecimento mais lento em relação ao teste pelo gelo. Para cada um dos agentes térmicos, procederamse duas aplicações por dente, com intervalos de dois minutos instruindo-se ao paciente a levantar a mão no instante da resposta dolorosa.

Os dentes foram posteriormente restaurados e após este procedimento realizado a aplicação dos testes de sensibilidade e nova avaliação para avaliação da intensidade dolorosa valendo-se da Escala Analógica Visual (Visual Analogue Scale - VAS) representada pela escala visual analógica abaixo.

Os dados relativos antes e depois dos procedimentos restauradores foram tabulados analisando-se inclusive a frequência e percentual de respostas positivas e negativas bem como frequência da intensidade dolorosa em leve, moderada e intensa. Os dados colhidos foram tabulados e submetidos à análise estatística pelo teste do Qui-quadrado (c2) ao nível de significância de 5%.

 

RESULTADOS

Os resultados obtidos estão dispostos nas tabelas 1, 2 e 3.

 

 

 

 

 

 

 

DISCUSSÃO

O conhecimento da determinação do diagnóstico clínico do estado pulpar e, principalmente, o sucesso da terapia endodôntica instituída, dependem do conhecimento e experiência profissional.

A dor de dente com maior intensidade e curta duração sobrevém quando se resfriam a superfície dos dentes especialmente aqueles portadores de cáries, porém, quando a dor é de alta intensidade em dentes com processo inflamatório e se manifesta de maneira prolongada sugere condição de irreversibilidade do processo inflamatório pulpar de maneira especial ao gás refrigerante17.

Por outro lado, uma condição clínica onde a dor se manifesta em alta intensidade ao resfriamento, porém, de curta duração implica em processo inflamatório pulpar com característica de reversibilidade1,17,28.

Nesta presente investigação, a intenção foi comparar a frequência de respostas positivas e negativas, bem como a intensidade sintomatológica em dentes humanos cariados antes dos procedimentos restauradores e após sua restauração comparando dois agentes térmicos, o bastão de gelo e o gás refrigerante tetrafluoroetano.

A tabela 1 aponta que ao confrontar o bastão de gelo e o gás tetrafluoroetano, verificou-se, no cômputo geral dos grupos analisados percentagem maior de frequências de respostas positivas do que negativas para o agente térmico tetrafluoroetano de maior capacidade refrigerante.

Esse alto índice de frequências de respostas positivas observadas na tabela 1 com a aplicação do gás refrigerante antes e após os procedimentos restauradores constituíram indicadores que se equipararam enquanto resultados contrários foi observados com a aplicação do bastão de gelo com menos frequências de respostas positivas e negativas2,3,4,5,6,7,8,9,10,11,12,13,14,15,17,24.

Aliás, a tabela 1 assinala que tanto o bastão de gelo como o gás refrigerante apresentou não só diferença percentual de repostas positivas e negativas verificou-se a ocorrência de diferença estatisticamente significante (p=0,00001) entre os dois recursos térmicos tanto antes como depois dos procedimentos restauradores. Tal acontecimento nesta presente pesquisa aponta que o tetrafluoroetano foi uma excelente alternativa na determinação da sensibilidade pulpar, haja vista, o seu elevado grau de acerto em quase todos os 625 dentes testados, isto é, 98,4% antes e 96% depois dos procedimentos restauradores.

Em muitas situações dentes com resposta negativa a aplicação do bastão de gelo não significa que estes são portadores de polpa mortificada e tal fato justifica-se em função da idade avançada10, isto é, em pacientes mais velhos e naqueles dentes com espessura exagerada de esmalte e dentina7, o que presume dificuldade do transpasse do frio por meio destas estruturas graças à temperatura da fonte do bastão de gelo6 (2oC).

Assim é que, quando o bastão de gelo mostra-se ineficiente lança-se mão de recurso de menor temperatura a exemplo do gás refrigerante6 (entre -46oC e -55oC) o que aumentou de modo significativo, segundo a tabela 1, o número de repostas positivas tanto antes como depois das restaurações dos dentes.

Por outro lado, o fato de ter ocorrido dor intensa em 78,5% dos casos para o gelo e 99,19% para o gás refrigerante antes dos procedimentos restauradores não significou que, para ambos os agentes térmicos, a polpa dentária estivesse hipoteticamente ou possivelmente com alteração irreversível. Muito embora estes percentuais acima acusassem dor de curta duração após a aplicação do agente significa possível reversibilidade do processo inflamatório pulpar (Tabela 2). Além do mais, não se deve esquecer que os referidos elementos dentários desta presente análise eram portadores de processo de cárie e, portanto, susceptíveis de reação a dor mais intensa aos agentes térmicos especialmente ao gás refrigerante.

Apesar disso, autores apontam que o gás refrigerante apresenta maior velocidade de esfriamento intra-pulpar quando comparado com o bastão de gelo. O gás refrigerante possui alta capacidade refrigerante6 e tal ocorrência se baseia em temperaturas muito baixas obtidas na fonte desses agentes, isto é, de -55oC a -46oC para os gases refrigerantes enquanto para o gelo a temperatura é de 2oC, daí a razão de índices de dor intensa do ponto de vista percentual para o gás refrigerante (610 dentes) do que o gelo (275 dentes) dos 625 dentes testados.

A esta altura convém esclarecer que, apesar do resfriamento produzir baixa temperatura quando aplicado na superfície do dente representa recurso térmico de alta capacidade refrigerante e que não produz reações adversas ao paciente, ou seja, não é nocivo tanto ao tecido pulpar25 como ao esmalte dentário26.

Interessante ainda observar na tabela 2 que, antes dos procedimentos restauradores a ocorrência de cinco dentes com dor moderada (1,43%) e 70 com dor leve (20,0%) quando da aplicação do bastão de gelo e, de outro modo, a tabela 3, mostra que após os procedimentos restauradores tais indicadores percentuais nesta condição foram de 87 casos (30,31%) de dor moderada e 120 situações de dor leve (41,81).

Aliás, pode-se observar que o número de dentes de pacientes com dor moderada aumentou expressivamente do ponto de vista percentual, sobretudo, ao agente de resfriamento gelo conforme aponta as tabelas 2 e 3, enquanto a dor de intensidade leve o aumento não foi tão expressivo do ponto de vista numérico, porém, com significado estatístico tanto antes como depois dos procedimentos restauradores.

Por outro lado, para o gás refrigerante a dor de intensidade moderada e leve não foi tão expressiva em número e porcentagem quando se comparou antes e depois dos procedimentos restauradores o que significa que a baixa temperatura foi eficiente nas superfícies destes dentes mesmo após a restauração.

Mais não é só. A determinação da sensibilidade pulpar em dentes que serão submetidos a tratamento em muito preocupa, uma vez que, o êxito do tratamento deverá ser considerado não só apenas pelas nossas atitudes técnicas, mas, principalmente pelo exame que realizamos no dente antes e após a terapêutica estabelecida3.

Analisar os recursos complementares bem como a aplicação dos testes no dente que sofreu tratamento restaurador deve ser uma prática permanente do cirurgião-dentista durante o exame do paciente, sobretudo, carece deste profissional da saúde de maiores esclarecimentos e subsídios a respeito da reação dolorosa, frente aos agentes térmicos, tanto antes como depois da terapia instituída. Desta forma, o melhor caminho é o da avaliação das reações dolorosas pulpares antes do tratamento bem como estas reações após os procedimentos nos dentes que receberam material restaurador.

Isto posto, depois de concluído o tratamento deve-se realizar novo exame daquele dente, valendo-se dos testes de sensibilidade pulpar, já que estes elementos conforme esta presente pesquisa apresentam com outra amostra de frequências de respostas dolorosas.

Neste particular, há que se levar em conta que, a utilização de agentes térmicos na determinação da sensibilidade pulpar é de suma importância na complementação do diagnóstico clínico da polpa dentária, pois de seu emprego possibilita a manutenção e preservação do tecido pulpar9.

Por esta razão, todo cuidado deverá ser dado com aqueles dentes que serão, são ou foram submetidos a um tratamento restaurador que podem ocasionar alterações inflamatórias e subsequente mortificação pulpar justificando-se desta maneira a utilização acertada de recursos diagnósticos que determinam a possibilidade da realização de um prognóstico o mais acertado possível.

Relativamente aos dentes com resposta negativa a aplicação do bastão de gelo da tabela 1 tanto antes (44%) como depois (54,08%) dos procedimentos restauradores tal acontecimento é significativo de dentes com razoável limitação à resposta dolorosa a este agente térmico graças à dificuldade de ultrapassagem do estímulo térmico na superfície vestibular de dentes molares e de caninos humanos11,27, pois, trata-se de grupos dentários com maior espessura de esmalte e dentina.

Sem contar com as calcificações que produzem atresia da câmara pulpar o que torna aceitável a dificuldade na obtenção de respostas positivas quando da aplicação dos testes resultado de cáries que produzem como reação na polpa dentária calcificação dos túbulos dentinários e dentina reparativa7. Fica claro que quanto mais calcificada for à câmara pulpar maior distância deverá ser percorrida na dentina pelo estímulo térmico empregado chegar até os receptores sensitivos.

Tal constatação vem reforçar mais uma vez a ideia de resistência desses grupos dentários à aplicação do bastão de gelo, fenômeno esse chamado de geloresistência ou dentes frigoresistentes28.

No entanto, o emprego do gás refrigerante teve um comportamento eficaz antes e depois dos procedimentos restauradores, o que confirmou maior eficiência e segurança nos dois instantes do ensaio, considerando que, mesmo em 10 ocorrências de resposta negativa antes do procedimento e em 25 situações após o procedimento supõe-se certamente que esse método de exame traz um benefício representado pela sua baixa temperatura.

Fato interessante diz respeito à importância do exame clínico antes do início dos movimentos dentários, ou seja, devem-se considerar além do exame radiográfico, modelos, fotografias, inspeção clínica, sondagem de bolsa periodontal, como também o emprego rotineiro dos testes de sensibilidade pulpar3,29.

Espera-se, frente aos resultados obtidos nesta investigação, que a preferência do método deve recair sempre naquele agente térmico de baixa temperatura, isto é, de maior capacidade refrigerante.

 

CONCLUSÃO

Pela avaliação dos resultados obtidos, acreditamos ser lícito deduzir que:

• O gás refrigerante quando comparado com o bastão de gelo, determinou maior número de frequências de respostas positivas na determinação da sensibilidade pulpar tanto antes como depois dos procedimentos restauradores.

• O número de dentes com dor intensa antes dos procedimentos restauradores foi maior do que depois dos procedimentos restauradores tanto a aplicação do gelo como o gás refrigerante.

• Relativamente à intensidade dolorosa moderada e leve verificouse que antes de realizar a restauração os indicadores percentuais foram menores em relação à intensidade dolorosa depois dos procedimentos restauradores tanto a aplicação do gelo como o gás refrigerante.

 

APLICAÇÃO CLÍNICA

• O principal subsídio diz respeito à importância de avaliar a sensibilidade pulpar antes de realizar o tratamento restaurador e, com isto, se certificar se a polpa dental tem condição ou não de receber a restauração. A intensidade dolorosa é alta o suficiente para desconfiar sobre a condição de saúde pulpar;

• O correto diagnóstico clínico da condição pulpar contribuirá para um prognóstico favorável quando se faz os testes de sensibilidade tanto antes como depois do dente restaurado.

CEP/CBS-USF 2001

 

REFERÊNCIAS

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Autor para correspondência:
João Marcelo Ferreira de Medeiros
Depto. De Odontologia da Universidade de Taubaté
Rua dos Operários, 9
Centro – Taubaté – São Paulo
12020-270
Brasil

Recebido em: fev/2012
Aprovado em: mar/2012