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Revista Brasileira de Odontologia

versão On-line ISSN 1984-3747versão impressa ISSN 0034-7272

Rev. Bras. Odontol. vol.74 no.2 Rio de Janeiro Abr./Jun. 2017

 

Comunicação Breve/Radiologia Odontológica e Imaginologia/Patologia Oral

 

Osteossarcoma craniofacial: um enfoque imagenológico

 

Craniofacial osteosarcoma: an imaginology focus

 

Bruna Melo Coelho LoureiroI; João Maurício Carrasco AltemaniI; Fabiano ReisI; Albina Messias de Almeida Milani AltemaniII

 

I Departamento de Radiologia e Diagnóstico por Imagem, Faculdade de Ciências Médicas, Universidade Estadual de Campinas, Campinas, SP, Brasil
II Departamento de Patologia, Faculdade de Ciências Médicas, Universidade Estadual de Campinas, Campinas, SP, Brasil

Endereço para correspondência

 

 


RESUMO

Objetivo: relatar um caso de osteossarcoma craniofacial e revisar a literatura sobre os achados de imagem. Relato de caso: as informações foram obtidas por revisão de prontuário. A paciente do sexo feminino, 25 anos, com parestesia e dor em hemiface direita. Os exames de imagem evidenciaram extenso tumor comprometendo seio maxilar, palato, arcada dentária e cavidade nasal e extensão à fossa infratemporal. Discussão: a maioria dos osteossarcomas craniofaciais são lesões líticas com sinais de agressividade em radiografias. A tomografia é excelente para detectar lesões ósseas e calcificações. A ressonância magnética (RM) é excelente para caracterizar a extensão da lesão. Conclusão: os achados imaginológicos trazem importantes informações para avaliação pré-operatória e monitoramento de recidivas.

Palavras-chave: Osteossarcoma; Neoplasias de cabeça e pescoço; Maxila.


ABSTRACT

Objective: the objective of this study was to report a case of craniofacial osteosarcoma and review the literature on imaging findings. Case report: the information was obtained by medical records review. A 25-year-old female, with right hemiface paresthesia and pain was examined. Imaging showed extensive tumor covering the maxillary sinus, palate, dental arch, nasal cavity, and infratemporal fossa extension.. Discussion: most of the craniofacial osteosarcomas in the radiography are lithic and showed signs of aggression. Tomography is efficient in detecting calcification and bone lesions, whereas magnetic resonance imaging (MRI) is effective in characterizing the extension of the lesion. Conclusion: the imaging findings reveal important information for preoperative evaluation and relapse monitoring.

Keywords: Osteosarcoma; Head and neck neoplasms; Jaw.


 

Introdução

Osteossarcoma é o mais comum tumor ósseo primário e ocorre predominantemente na adolescência, com pico de incidência entre 10 e 20 anos de idade.1 Nesta faixa etária, 80% dos tumores são encontrados em um osso longo da extremidade. A predileção pelo esqueleto apendicular tende a diminuir com a idade, passando para 50% nos maiores de 50 anos. Quase 70% dos osteossarcomas são localizados ao redor do joelho ou ombro.2 Os osteossarcomas da região da cabeça e pescoço são neoplasias relativamente raras e agressivas, representando 6 a 13% dos osteossarcoma, ocorrendo mais comumente na maxila e mandíbula.3 Com relação às neoplasias de cabeça e pescoço, os osteossarcomas craniofaciais representam menos de 1% dos cânceres desta região.4

Diante da baixa prevalência de acometimento de osteossarcoma nos ossos do crânio e/ou face, o objetivo deste trabalho foi descrever um relato de caso e realizar uma revisão da literatura sobre o tema, com ênfase nos achados de imagem correspondentes.

 

Relato de Caso

Paciente sexo feminino, 25 anos, com parestesia em hemiface direita e obstrução nasal há quatro meses. Ao exame físico apresentava abaulamento maxilar direito e de palato duro, proptose à direita, obstrução total de fossa nasal direita e obstrução parcial nasal esquerda. Tomografia computadorizada (TC) de face mostrou formação expansiva heterogênea, com componente osteolítico associado, irregularmente calcificada, envolvendo o seio maxilar direito, células etmoidais, órbita direita, com áreas de captação de contraste iodado intravenoso. Ressonância magnética (RM) evidenciou lesão sólida com isossinal em T1 e T2, intensa impregnação pelo gadolínio. A Figura 1A, T1 axial pós contraste e Figura 1B, T2 axial. Realizada ressecção cirúrgica do globo ocular e porção inferior da órbita direita, seio maxilar direito, hemiarcada dentária superior direita com sete dentes, cavidade nasal, com colocação de prótese de silicone bucomaxilar. As possibilidades diagnósticas inicialmente consideradas foram de osteossarcoma, condrossarcoma, osteoblastoma agressivo e fibroma ossificante. O estudo anatomopatológico da peça cirúrgica confirmou: osteossarcoma grau II (moderadamente diferenciado, Figuras 2A e 2B). Três meses após a ressecção cirúrgica, a paciente retorna ao ambulatório com abaulamento em região zigomática associado à hipoacusia à direita. RM mostrou tecido tumoral com isossinal à musculatura, infiltrativa, comprometendo a órbita direita e estendendo-se à fossa infratemporal. Referia gestação recente, sendo optado por abortamento para realização de quimioterapia e radioterapia. Aproximadamente um ano após o diagnóstico inicial a paciente evoluiu a óbito. O presente manuscrito foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa – UNICAMP (parecer Nº 001/2017).

 

 

 

 

 

Discussão

O osteossarcoma pode ser classificado como: (1) primário, sendo estes mais prevalentes e de etiologia desconhecida ou (2) secundário, relacionado a um fator predisponente conhecido como: doença de Paget, displasia fibrosa, radiação ionizante, etc.5 O osteossarcoma também pode ser classificado de acordo com sua aparência microscópica e graduado conforme o grau de diferenciação.

A aparência radiográfica do osteossarcoma craniofacial é variável, mas o padrão típico é o de destruição óssea associada à esclerose, com margem agressiva e extensão para partes moles. Neoformação óssea ocorre frequentemente e um padrão de "raios de sol" pode ser observado.6 No entanto, devido à sobreposição das estruturas ósseas da cabeça e pescoço, a radiografia convencional pode apresentar um valor limitado na avaliação destes osteossarcomas. Yamamoto et al. evidenciaram que as imagens radiográficas convencionais, incluindo radiografias panorâmicas, não revelaram o contorno da lesão nem qualquer outra anormalidade e as anomalias adjacentes à lesão foram facilmente detectadas nas imagens de TC e RM.7

A tomografia computadorizada é mais sensível que as radiografias simples e pode contribuir para fornecer excelente detecção de calcificação do tumor, envolvimento cortical, bem como extensão intramedular. Existem três categorias de aparências dos osteossarcomas craniofaciais: 1. radiotransparente com ausência de formação óssea no interior do tumor; 2. salpicada de pequenas áreas de ossificação amorfa; 3. ossificação "lamelar" com placas ósseas que irradiam de um foco como "raios de sol".8

A RM distingue melhor do que a tomografia os limites da lesão, sendo bastante útil para caracterizar extensão aos tecidos adjacentes e, inclusive, intracraniana, aspecto fundamental para programação cirúrgica. As imagens ponderadas em T1 geralmente mostram a lesão iso ou hipointensa e permitem uma boa definição anatômica. As imagens ponderadas em T2 revelam iso ou hipersinal na lesãoepodem demonstrar adicionalmente reação edematosa peritumoral.9 Geralmente é observado realce heterogêneo pelo meio de contraste. No entanto, tomografias e radiografias simples são superiores à ressonância na detecção calcificações da matriz e reação periosteal ou destruição óssea.9

O diagnóstico diferencial do osteossarcoma inclui o condrossarcoma, sendo necessário o estudo anatomopatológico para confirmação diagnóstica. A gravidez pode favorecer o desenvolvimento da neoplasia e ocorrência de metástase.10

 

Conclusão

Os osteossarcomas da região da cabeça e pescoço são neoplasias relativamente raras e agressivas. Os achados imaginológicos, sobretudo de tomografia e ressonância magnética, são fundamentais para a avaliação pré-operatória e monitorar a ocorrência de recidivas.

 

Referências

1. Wang S, Shi H, Yu Q. Osteosarcoma of the jaws: demographic and CT imaging features. Dentomaxillofac Radiol. 2012;41(1):37-42.         [ Links ]

2. Campanacci M. Bone and Soft Tissue Tumors: Clinical Features, Imaging, Pathology and Treatment. 2nd ed. Vienna (AUT): Springer Science & Business Media Publisher; 1999.

3. ALQahtani D, AlSheddi M, Al-Sadhan R. Epithelioid Osteosarcoma of the Maxilla: A Case Report and Review of the Literature. Int J Surg Pathol. 2015;23(6):495-9.

4. König M, Osnes TA, Lobmaier I, Bjerkehagen B, Bruland OS, Sundby HK, et al. Multimodal treatment of craniofacial osteosarcoma with high-grade histology. A single-center experience over 35 years. Neurosurg Rev. 2017; 40:449-460.

5. Yamada SM, Ishii Y, Yamada S, Kuribayashi S, Kumita S, Matsuno A. Advanced therapeutic strategy for radiationinduced osteosarcoma in the skull base: a case report and review. Radiation Oncology. 2012;7:136

6. Isenberg SF, Dorwart RH. Osteogenic Sarcoma of the Maxilla: Preoperative Magnetic Resonance Imaging and Computed Tomography Analyses. American Journal of Otolaryngology. 1997;18(3):206-9.

7. Yamamoto A, Sakamoto J, Muramatsu T, Hashimoto S, Shibahara T, Shimono M, et al. Osteosarcoma of maxilla with unusual image findings in child. Bull Tokyo Dent Coll. 2011;52(4):201-7.

8. Ng SY, Songra A, Ali N,Carter JL. Ultrasound features of osteosarcoma of the mandible--a first report. Oral Surg Oral Med Oral Pathol Oral Radiol Endod. 2001;92(5):582-6.

9. Lee YY, Tassel PV, Nauert C, Raymond AK, Edeiken J. Craniofacial Osteosarcomas: Plain Film, CT, and MR Findings in 46 Cases. AJNR Am J Neuroradiol. 1988;9:379-85.

10. Corrêa RR, Espindula AP, Machado JR, Paschoini MC, Pacheco Olegário JG, Rocha LP, et al. Osteosarcoma in a pregnant woman: case report. Arch Gynecol Obstet. 2012;286(6):1601-2.

 

 

Endereço para correspondência:
Fabiano Reis
e-mail: fabianoreis2@gmail.com

 

Recebido: 11/01/2017
Aceito: 06/03/2017