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Arquivos em Odontologia
versão impressa ISSN 1516-0939
Arq. Odontol. vol.47 supl.2 Belo Horizonte Dez. 2011
Projeto Próteses Provisórias: quatro anos de contribuição para a qualidade de vida
Provisional Prosthesis Project: a four year contribution to the quality of life
Herbert Haueisen Sander I; Eduardo Lemos de Souza I; Hugo Henriques Alvim I; Tulimar Pereira Machado Cornacchia I; Lincoln Dias Lanza II; Ricardo Reis Oliveira II
I Departamento de Odontologia Restauradora, Faculdade de Odontologia, Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Belo Horizonte, MG, Brasil
II Programa de Pós-Graduação em Odontologia, Faculdade de Odontologia, Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Belo Horizonte, MG, Brasil
Contato: hhsander@ig.com.br, edulsouza@ig.com.br, hugohalvim@yahoo.com.br, cornacchia@ufmg.br, icolanza@terra.com.br
RESUMO
O projeto de extensão "Próteses Provisórias", do Departamento de Odontologia Restauradora da Faculdade de Odontologia da UFMG (FO-UFMG) é realizado desde 2007, na clínica de atendimento de número 1 dessa unidade acadêmica. O objetivo geral deste projeto é proporcionar atendimento odontológico aos pacientes que já estejam em tratamento nas disciplinas de graduação, e que necessitem de reposições protéticas dentais. Essas, em função da grande demanda e do tempo requerido para serem resolvidas, passam a ser solucionadas provisoriamente de forma rápida e ágil, permitindo que o paciente aguarde a solução definitiva para seu problema. A metodologia inclui agendamento dos pacientes encaminhados por diversas disciplinas da graduação e daqueles que aguardam vaga para as disciplinas de Dentística III e de Prótese Removível, e seu atendimento por alunos de 7o e 8o períodos da graduação. Este atendimento acontece semanalmente, às terças-feiras, no horário de 18:00 às 22:00 horas, sob supervisão de cinco docentes do Departamento em cada turno de trabalho. A abordagem clínica compreende planejamento protético e realização de coroas unitárias provisórias em resina acrílica, próteses totais e parciais removíveis provisórias e próteses imediatas. Os dados obtidos demonstram que este Projeto se configura como fundamental às necessidades dos usuários do nosso sistema de atenção, na medida em que proporciona uma melhoria em sua qualidade de vida, e que propicia aporte teórico-prático muito rico aos estudantes da FO-UFMG.
Descritores: Prótese dentária. Restauração dentária temporária. Resinas acrílicas. Qualidade de vida.
ABSTRACT
The "Temporary Prosthesis" extension project, Department of Restorative Dentistry, School of Dentistry from the Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG)), has been conducted since 2007, at dental care clinic number 1 of this academic unit. The general objective of this project is to provide dental care to patients already being treated in undergraduate courses, and who require prosthetic dental replacements. These, according to the high demand and the time required to be solved, become temporarily resolved, quickly and eficiently, allowing patients to wait for the final solution to the problem. This methodology includes the scheduling of patients referred from various undergraduate courses, together with those who are awaiting an appointment in the disciplines of Restorative Dentistry III and Removable Prosthodontics, and its attendance by students from the 7th and 8th semester of the undergraduate course. This service takes place weekly, on Tuesdays from 6:00pm to 10:00pm, under the supervision of five teachers from the Department in each work shift. The clinical approach includes the planning and implementation of acrylic resin provisional crowns, total and partial provisional removable dentures, and immediate dentures. In conclusion, the obtained data show that this Project is essential to the needs of the users of this health care system, as it provides an improvement in their quality of life, and offers a rich theoretical and practical contribution to UFMG School of Dentistry students.
Uniterms: Dental prosthesis. Dental restoration. Temporary. Acrylic resins. Quality of life.
INTRODUÇÃO
A perda dentária traz enormes transtornos às pessoas, não só de natureza fisiológica, tais como dificuldade de mastigação, fonação e desarmonia na oclusão, como também de natureza psicológica, devido ao comprometimento estético, que pode gerar diminuição da auto-estima e constrangimento nas relações sociais1. A saúde bucal deveria ser incluída como um dos fatores para a melhoria da qualidade de vida das pessoas2.
A reposição protética das perdas dentárias, ao proporcionar o restabelecimento das funções estética, fonética e mastigatória, contribui, portanto, de forma determinante para o restabelecimento da qualidade de vida dos indivíduos3.
A execução de uma prótese, porém requer a execução de várias etapas e, particularmente nas clínicas e atendimento da graduação, demandam um tempo considerável. Neste sentido, restaurações provisórias podem favorecer a manutenção do espaço interoclusal, da saúde periodontal e do conforto do paciente3. O material mais utilizado para confecção de restaurações e prótese provisórias é a resina acrílica, devido à sua facilidade de trabalho, praticidade, durabilidade, baixo custo e rapidez de obtenção da provisória4,5.
No caso das próteses removíveis, é necessário um período de tempo após as exodontias, para que haja a completa cicatrização dos tecidos. Outro fator a ser considerado é o tempo de espera que decorre entre o encaminhamento do paciente para uma das disciplinas que realizam procedimentos indiretos e seu efetivo atendimento. Em função disso, muitas vezes um paciente que necessita ter seus dentes extraídos devido à doença periodontal avançada, por exemplo, opta por tentar mantê-los, ainda que em condições muito precárias, pois a exodontia, sem uma reposição, pode inviabilizar sua vida profissional, social ou mesmo afetiva. Outra situação comum é o paciente ter indicação para colocação de coroa total e, em função da demora no atendimento e sem que haja reconstituição, ainda que provisória, daquele espaço, pode sofrer desajustes oclusais ou alterações no periodonto, que inviabilizam ou dificultam a confecção da prótese.
Todos esses fatores têm preocupado os docentes das disciplinas de Dentística e de Prótese da faculdade, como também o CASEU (Centro de Apoio, Seleção e Encaminhamento do Usuário), que se vê impotente para tentar resolver tanto o problema do paciente quanto as necessidades de aprendizagem dos alunos, alocados nas mais diversas disciplinas. A simples inserção destes conteúdos nas disciplinas não resolveria o problema, que afeta principalmente os pacientes que estão nas filas de espera.
Sendo assim, o Departamento de Odontologia Restauradora elaborou o presente projeto de extensão, que se configura como uma resposta premente e fundamental às necessidades dos usuários do nosso sistema de atenção. O projeto propicia, ainda, aporte teórico-prático muito rico aos estudantes uma vez que, em sua futura vida profissional, com frequência poderão lançar mão de todo conhecimento e habilidades que adquirirem durante o mesmo.
DESCRIÇÃO DAS ATIVIDADES DE EXTENSÃO
A metodologia adotada inclui, inicialmente, agendamento dos pacientes encaminhados por diversas disciplinas da graduação (Cirurgia, Clínicas Integradas de Atenção Primária – CIAP, Endodontia e Periodontia) e daqueles que aguardam vaga para as disciplinas de Dentística III, onde são confeccionadas coroas totais, sejam estéticas ou não, e de Prótese Removível. O atendimento desses pacientes é feito por alunos de 7o e 8o períodos da graduação, selecionados mediante entrevista. Estudantes do 6o período também tomam parte do Projeto, trabalhando em dupla com os demais, e atuando como auxiliares. Este atendimento acontece semanalmente, às terças-feiras, no horário de 18:00 às 22:00 horas, sob supervisão de cinco docentes do Departamento em cada turno de trabalho.
O paciente é agendado para tratamento com um aluno disponível, de acordo com o grau de complexidade de seu caso, uma vez existem alunos de dois períodos distintos realizando atendimento. A abordagem clínica compreende a realização de planejamento protético dos casos e confecção de coroas unitárias provisórias em resina acrílica, de próteses totais e parciais removíveis provisórias e de próteses totais e parciais pré-cirúrgicas (próteses imediatas), de acordo com as necessidades específicas que cada paciente apresente.
Os estudantes trabalham com seu próprio jogo de instrumental, uma vez que foi estabelecido um acordo com a central de esterilização da Faculdade, quanto aos horários para colocação e retirada do material estéril.
Como forma de aferir o desempenho dos alunos, foi elaborada uma planilha de produtividade, que fica sob responsabilidade do professor coordenador. Além de funcionar como meio de verificar o tipo de serviço prestado, seja qualitativa seja quantitativamente, a planilha permite também que sejam repassados ao SUS os procedimentos que geram ônus aos pacientes, servindo de instrumento para captação de recursos pela instituição.
Os pacientes são informados sobre a estimativa de longevidade de sua prótese provisória, e também sobre os cuidados que devem tomar quanto ao seu melhor uso e aproveitamento. Recebem, ainda, um termo de consentimento em que declaram estarem cientes de que aqueles procedimentos têm durabilidade limitada.
A avaliação deste Projeto é realizada ao término de cada semestre letivo, pelos professores, alunos e funcionário participantes, e também pelos pacientes atendidos. São observados os seguintes aspectos:
– cumprimento dos objetivos propostos;
– impacto na formação do aluno;
– participação e compromisso da equipe envolvida;
– produtividade e grau de resolubilidade;
– organização e funcionamento do atendimento;
– satisfação dos usuários atendidos.
Em termos pedagógicos este Projeto tem demonstrado, de maneira inequívoca, fornecer vasta e extremamente rica contribuição teórico-prática à formação dos alunos. Isso acontece a partir do momento em que propicia, aos mesmos, a vivência do planejamento e execução do tratamento protético provisório.
Inicialmente, o aluno recebe o paciente, que é avaliado pelo seu orientador que, após definir a estratégia de tratamento, discute o caso com o estudante, e esclarece ao paciente o tratamento proposto. Durante a fase de execução, o orientador participa em atos diretos ou indiretamente, com orientações periódicas. Nota-se, portanto, um modelo de ensino mais horizontal, onde o estudante também participa como sujeito do processo ensinoaprendizagem. Esse modelo também pode ser percebido, claramente, a partir do compartilhamento de habilidades cognitivas que acontece durante o atendimento conjunto entre alunos de diferentes períodos. Além disso, os estudantes desenvolvem atividades de reflexão sobre os casos clínicos encontrados, com participação dos pacientes, no sentido de aprofundar o conhecimento sobre resolubilidade e satisfação desses.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Desde sua implantação, em 2007, o Projeto Próteses Provisórias já atingiu um público estimado em 2600 pessoas já que atende, em média, seiscentos pacientes durante o ano letivo.
Consideramos que ele surgiu apenas como uma resposta fundamental às necessidades dos usuários do nosso sistema de atenção, mas que transcendeu em muito seu objetivo inicial, que era propiciar aos pacientes o conforto de ter sua reposição dental de forma rápida e ágil, enquanto aguardavam a solução definitiva para seu problema. Assim, permitiu que os alunos experimentassem a vivência do planejamento e execução do tratamento protético provisório, dentro de uma abordagem reflexiva e de compartilhamento do conhecimento.
Finalmente, este Projeto tem permitido que se conheça o perfil epidemiológico dos pacientes da Faculdade de Odontologia da UFMG, no que se refere à perda dental e à necessidade de prótese, contribuindo assim para o aprimoramento do modelo de atendimento proposto em nosso projeto pedagógico.
Esse conhecimento certamente trará subsídios para a permanente reflexão sobre adequação entre o ensino e seu potencial de resposta à demanda de saúde bucal de nossa sociedade, além de proporcionar uma melhoria em sua qualidade de vida.
REFERÊNCIAS
1. Narvai PC, Antunes JLF. Saúde bucal: a autopercepção das mutilações e das incapacidades. In: Lebrão ML, Duarte YAO, organizadores. O projeto SABE no município de São Paulo: uma abordagem inicial. Brasília: Athalaia Bureau; 2003. p.119-40. [ Links ]
2. Gibilini C, Esmeriz CEC, Volpato LF, Meneghim ZMAP, Silva DD, Sousa MLR. Access to dental services and self-perception of oral health in adolescents, adults, and the elderly. Arq Odontol. 2010; 46:213-23.
3. Sturdevant JR. Class II cast metal restorations. In: Roberson TM, editor. Sturdevant's art and science of operative dentistry. 5thed. Saint Louis: Mosby/Elsevier; 2006. p.845-916.
4. Crispin BJ, Jo YH, Hobo S. Esthetic ceramic restorative materials and techniques. In: Crispin BJ, editor. Contemporary esthetic dentistry: practice fundamentals. Tokyo: Quintessence Books; 1994. p.155-305.
5. Garone Netto N, Burger RC. Restauração provisória. In: Garone Netto N, Burger RC. Inlay e onlay metálica e estética. São Paulo: Santos; 2009. p.45-56.
Autor correspondente:
Herbert Haueisen Sander
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E-mail: hhsander@ig.com.br