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Odontologia Clínico-Científica (Online)
versão On-line ISSN 1677-3888
Odontol. Clín.-Cient. (Online) vol.10 no.4 Recife Out./Dez. 2011
ARTIGO ORIGINAL / ORIGINAL ARTICLE
Influência de diferentes bebidas na estabilidade de cor da resina composta
Influence of different drinks on the resin composites' color stability
Anna Luiza Szesz I; Yasmine Mendes Pupo II; Gislaine Cristine Martins II; João Carlos Gomes III; Osnara Maria Mongruel Gomes III
I Bolsista PIBIC – Fundação Araucária. Universidade Estadual de Ponta Grossa – UEPG, Ponta Grossa – PR
II Doutoranda em Odontologia, Área de concentração Dentística Restauradora Universidade Estadual de Ponta Grossa – UEPG, Ponta Grossa – PR
III Professor Doutor do Departamento de Odontologia da Universidade Estadual de Ponta Grossa – UEPG, Ponta Grossa – PR
RESUMO
A maior preocupação dos pacientes na Odontologia é a estética do sorriso. Nesse sentido, os fabricantes de materiais odontológicos têm aprimorado as resinas compostas, para que apresentem excelente estética e boas propriedades mecânicas. O objetivo do presente estudo é avaliar a influência de diferentes bebidas (vinho, coca-cola e café) na estabilidade de cor da resina composta com e sem escovação com dentifrício. Foram confeccionados corpos de prova com resina composta, os quais foram submetidos à avaliação inicial da cor e divididos em grupos que foram imersos por 30 e 60 dias, nos respectivos líquidos, referentes aos grupos experimentais. Após esse período de imersão, a cor foi novamente avaliada, e os corpos de prova, submetidos à escovação, para avaliar se a escovação é um método eficaz para prevenir ou diminuir o manchamento na resina composta, ocasionado pelas bebidas em estudo. As bebidas em estudo afetaram a estabilidade de cor das resinas compostas, apresentando alterações de cores visíveis. A escovação não foi eficaz na remoção da pigmentação pelo vinho tinto, porém propiciou melhoria no manchamento ocasionado pela coca-cola.
Descritores: Resina composta; Espectrofotometria; Escovação dentária.
ABSTRACT
The main concern of patients in dentistry is the aesthetics of the smile. In this sense, the manufacturers of dental materials have improved, like the resins that are used for restorations in anterior and posterior teeth and that have excellent aesthetics and good mechanical properties. The aim of this study is to evaluate the influence of different drinks (wine, Coke and coffee) on color stability of composite resin with and without brushing with toothpaste. Specimens were fabricated with composite resin, which underwent an initial assessment of color and divided into groups that were immersed for 30 and 60 days in their net regarding the experimental groups. After this period of immersion, the color was measured again, and the specimens were submitted to brushing, to assess whether toothbrushing is an effective method to prevent or reduce the staining in composite resin, caused by drinking in study. Drinks in the study affected the color stability of composite resins, with color changes visible. Brushing was not effective in removing the pigment in red wine, however, resulted in improved staining caused by Coke.
Keywords: Composite resin; Spectrophotometry; Toothbrushing.
INTRODUÇÃO
Diversas pesquisas têm sido realizadas, proporcionando mudanças com relação à adesão físico-química, à estabilidade dimensional e à ausência de infiltração marginal entre as resinas compostas e os tecidos dentais mineralizados, defrontando-se com condições adversas de umidade e variações térmicas na cavidade bucal.1 Entretanto, a estabilidade da cor das resinas compostas ainda é um fator preocupante e largamente pesquisado.
O manchamento da resina composta é causado por fatores intrínsecos como descoloração do próprio material, tais como alteração da matriz resinosa ou da interface matriz/carga, relacionado, também, com os procedimentos de polimento do material,2 e fatores extrínsecos que incluem o manchamento pela adsorção ou absorção de corantes resultante da contaminação por fontes exógenas provenientes da alimentação, hábitos do paciente, nicotina e algumas bebidas.3,4,5 Uma forma eficaz de prevenir ou reduzir o manchamento superficial da resina composta ocorre mediante uma boa higiene oral, com o uso da escova dental associada aos dentifrícios.4
Os materiais odontológicos podem ser avaliados no que diz respeito a alterações de cor de forma subjetiva (análise visual)6,7 ou objetiva (análise tecnológica).6,8 No entanto, uma das formas para avaliar a estabilidade de cor ocorre por meio de um teste chamado colorimetria9, que mensura a mudança de cor de materiais de forma quantitativa, eliminando a subjetividade na interpretação e comparação visual das cores.10
Até o presente momento, não foram encontrados estudos na literatura associando imersão em bebidas com a escovação sobre as propriedades físicas das resinas compostas, sendo necessários mais estudos para se avaliar a estabilidade de cor da resina composta.11 Nesse sentido, o presente estudo tem como objetivo avaliar a influência do vinho, da coca-cola e do café na estabilidade da cor da resina composta com e sem escovação, observando se a escovação é um método eficaz para prevenir ou diminuir o manchamento causado pelas bebidas em estudo.
MATERIAL E MÉTODOS
Para a realização dessa pesquisa, foi utilizada uma resina composta microhíbrida Opallis (FGM, Joinvile-SC, Brasil/ Lote: 301109) cor B1, sendo confeccionados 60 corpos-de-prova em uma matriz plástica com 8mm de diâmetro e 3mm de espessura. A resina composta foi inserida em apenas um incremento, sendo, depois da aplicação do material no interior da matriz, uma tira de poliéster pressionada sob a superfície com uma placa de vidro para obtenção de uma superfície plana. A placa de vidro foi removida, e a tira de poliéster permaneceu in situ sendo fotoativada por 40 segundos com L.E. Demetron I (Kerr, EUA) cuja densidade de potência foi de aproximadamente 600 mW/cm², aferida com radiômetro Curing Radiometer Model (Demetron Research. Corporation, EUA).
Os corpos-de-prova foram removidos da matriz permanecendo em água destilada por 24 horas, a 37ºC ± 1ºC na ausência de luz (estufa Quimis Diadema/SP). Em seguida, todos os espécimes foram submetidos a uma avaliação inicial de cor (baseline), realizada por espectrofotometria de refletância (norma ISO7491: 2000), utilizando-se um espectrofotômetro (VITA Easyshade Compact®, Vident, Brea, CA, USA), que realiza a mensuração da cor por meio de valores correspondentes à escala CIE L* a*b*. Nesse sistema, L* indica a luminosidade em que a média varia de 0 (preto) para 100 (branco), e o a*e b*, o matiz, sendo que o a* representa a saturação no eixo vermelho verde e o b* no eixo azul-amarelo. A comparação da cor antes e após os CP serem submetidos às bebidas foi dada pela diferença de cor ou ΔE, representada pela equação:
Δ E * ab = [(Δ L* )2 + (Δ a* )2+ (Δ b* )2 ]0.5 , onde
Δ L* = L*1 - L*0 (leitura após imersão nas bebidas menos leitura prévia à imersão nas bebidas)
Δ a* = a*1 - a*0 (leitura após imersão nas bebidas menos leitura prévia à imersão nas bebidas)
Δ b* = b*1 - b*0 (leitura após imersão nas bebidas menos leitura prévia à imersão nas bebidas)
Após a avaliação inicial da cor, os corpos-de-prova foram divididos em 4 grupos (n=5) para imersão de acordo com os respectivos grupos experimentais: G1 – água destilada (controle); G2 – Vinho; G3 – Coca-Cola; G4 – Café. Os cp foram imersos por 30 e 60 dias, nos respectivos líquidos referentes aos grupos experimentais. Após imersão nos diferentes períodos de tempo, a cor dos corpos-de-prova foi avaliada para verificar a ocorrência ou não de manchamento por meio da espectrofotometria de refletância. Após essas análises, os corpos-de-prova foram submetidos à escovação simulada. Cada grupo foi identificado, sendo, em seguida, posicionados nos dispositivos individuais, localizados na base de ensaio da máquina de escovação, executando-se o carregamento das seringas injetoras da suspensão de uma solução de água destilada e um dentifrício.
O teste foi realizado em uma máquina de escovação mecânica Modelo MSEt (1500 W) com 20.000 ciclos, operando a temperatura de 37(± 0,3)ºC previamente calibrada, utilizando escovas dentais e cerdas de nylon macias sob 200g de carga em uma direção perpendicular à superfície, com uma frequência de 370 ciclos por minuto, sendo substituídas a cada grupo de estudo. Posteriormente, os corpos-de-prova foram lavados em água corrente, secos com papel absorvente e novamente submetidos à avaliação de cor realizada nas mesmas condições, adotando-se o mesmo procedimento, com a superfície sempre voltada para o aparelho, sendo mantida sempre a mesma posição.
Os resultados obtidos foram submetidos à análise estatística, utilizando-se a Análise de Variância de dois critérios ANOVA, com nível de significância de 5% e teste de Tukey. Além disso, as alterações da cor foram quantificadas pela National Bureau of Standars (NBS), considerando-se os valores de ΔE baseados em uma fórmula constante de alteração de cor perceptível ao olho humano onde NBS unit = ΔELab x 0,92.
RESULTADOS
Na tabela 1, encontram-se expressos os resultados obtidos da mensuração de cor através do VITA Easyshade Compact®, imediatamente após confecção dos corpos-de-prova, em que não houve nenhuma diferença significativa de cor.
Na tabela 2, pode-se observar a média do manchamento obtido após 30 dias de imersão nos respectivos líquidos água destilada (controle), café, coca-cola® e vinho. Para os valores em L, nota-se significativamente maior média de manchamento nos corpos-de-prova imersos em vinho quando comparados ao grupo controle.
A tabela 3 mostra a média de manchamento obtido após 60 dias de imersão, e os corpos-de-prova imersos em vinho continuaram com a maior mudança de cor em L, h e a, quando comparados ao grupo controle.
Na tabela 4, encontram-se as médias obtidas após escovação, evidenciando-se uma diferença significativa nos corpos-de-prova imersos em Coca-Cola® com maior mudança de cor em L, c e b, quando comparados com os resultados de 60 dias de imersão dos corpos-de-prova. A escovação propiciou melhoria no manchamento ocasionado pela Coca-Cola®, mas não foi suficiente para o café e o vinho.
A comparação de cor foi feita antes e após os corpos-de-prova serem submetidos às bebidas, tendo esta sido dada pela diferença de cor ou ΔE. Realizaram-se as comparações entre o valor inicial com períodos de imersão e após escovação, tendo, também, sido comparadas as médias de manchamento após 60 dias de imersão, com os resultados obtidos após escovação. Os resultados da tabela 5 mostram que as médias promovidas foram detectáveis ao olho humano, e as alterações de cor promovidas pelo diodo café, pela Coca-Cola e pelo nvinho tinto foram consideradas detectáveis ao olho humano, segundo os critérios da NBS (National Bureau of Standard).
A representação gráfica confirma que a resina composta apresentou escurecimento (L- nível de claridade-valor) significativo após 30 e 60 dias de imersão em vinho (P<0.001), quando comparado ao grupo controle (água destilada), e o manchamento ocasionado pelo café foi similar ao ocasionado pelo vinho nesse mesmo período de tempo. (Figura 1)
DISCUSSÃO
A estabilidade de cor dos materiais restauradores estético é um dos fatores preocupantes relatados pelos pacientes, e vários estudos foram conduzidos com o objetivo de testar a estabilidade de cor desses materiais por meio da imersão em meios líquidos presentes na dieta.4,11,12,13 Conforme os resultados dessa pesquisa, a resina composta apresentou escurecimento (L nível de claridade-valor) significativo após 30 e 60 dias de imersão em vinho (P<0.001), quando comparado ao grupo controle (água destilada). Outros pesquisadores avaliaram quatro resinas compostas imersas também em vinho tinto e verificaram resultados de descoloração mais severa em três das resinas testadas5. O manchamento ocasionado pelo café no presente estudo foi similar ao ocasionado pelo vinho nesse mesmo período de tempo, o que foi semelhante aos resultados de outras pesquisas 13,5.
Nesse contexto, alguns estudos mostram o café apresentando maior manchamente em período menor de imersão e a escovação propiciando melhoria no manchamento ocasionado pela coca-cola, mas não foi suficiente para o café e o vinho.14,15 Entretanto, em outro estudo, a escovação não afetou nenhuma propriedade analisada.11 No presente estudo, houve alteração de cor detectável ao olho humano, comparável a outros estudos 14 , que também relatam que a avaliação visual de cor é significativa. Entretanto, outros pesquisadores 16 verificaram que o café não causou qualquer alteração de cor visível aos olhos humanos.
As medições de cor, realizadas em espectrofotômetro e expressadas em coordenadas CIE-Lab, fornecem exatidão aos resultados encontrados por meio da metodologia empregada, seguindo inúmeros estudos, que descrevem a concordância dos resultados obtidos com a percepção visual humana17. Nesse estudo, os resultados foram obtidos por meio de comparações entre as diferenças de cor. Pesquisadores 18 afirmam que o valor de ΔE* representa mudanças em relação às cores que um observador pode relatar para os materiais após a imersão ou entre períodos de tempo. Assim, ΔE* é mais significativo do que valores individuais de L*, a*, b*. Quanto ao ΔL*, outros estudos 17 ressaltam que o L* representa a luminosidade, e o olho humano percebe essa característica de cor mais clara, pois a quantidade de células (bastonetes), responsáveis pela visão em preto e branco, é muito maior do que a de células responsáveis pela visão colorida (cones). Assim, qualquer perda de luminosidade é fundamental para a estabilidade de cor e de sucesso clínico.
Outros pesquisadores 19 observaram que o maior grau de manchamento pode ocorrer na primeira semana e que a escovação pode reduzir o nível de manchamento. Concluíram que, apesar de a penetração do manchamento ter sido pequena na resina composta, não seria possível a restauração da cor original. Entretanto, em outro estudo 20, foi observado que a maioria das manchas eram superficiais, podendo ser removidas com procedimentos de higiene oral regular, porém de coloração residual que pode ser cumulativa ao longo do tempo. Alguns autores afirmam que as manchas superficiais observadas em pesquisas ocorrem devido aos monômeros hidrofóbicos das resinas compostas,21,22 além da eficiência de polimerização que pode influenciar a descoloração destas.17
Pesquisadores 13 afirmam que a capacidade de resistência à mancha pode ser atribuída a uma baixa absorção de água. A absorção e a penetração dos corantes na fase orgânica dos materiais de revestimento ocorrem provavelmente devido à compatibilização do polímero com os corantes amarelos do café4. Assim, em outra pesquisa 12 sobre a influência da retenção de corantes na translucidez de resinas compostas, foi verificado que o café apresentou maior manchamento, seguido das soluções de nicotina e vinho. Vários estudos também têm demonstrado que o álcool facilita a coloração pela degradação da matriz resinosa das resinas compostas.23,24
Dentro desse contexto, o hábito de beber soluções contendo corantes dos pacientes deve ser considerado na anamnese, orientando com relação à ocorrência de um provável manchamento, especialmente na região de dentes anteriores, quando restaurados com resinas compostas.
CONCLUSÃO
Concluiu-se que o vinho tinto manchou visivelmente a resina composta, e a escovação não foi capaz de remover com eficácia tal pigmentação. A escovação propiciou melhoria somente no manchamento ocasionado pela coca-cola®. As alterações de cor promovidas pelo café, pela coca-cola e pelo vinho tinto foram consideradas detectáveis ao olho humano, destacando-se o vinho tinto, segundo critérios da NBS.
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Endereço para correspondência:
Yasmine Mendes Pupo
Rua Jaime Pinto Rosas, 180 – Jardim Carvalho
Ponta Grossa – Paraná/Brasil
E-mail: yasminemendes@hotmail.com
Recebido para publicação: 25/04/11
Aceito para publicação: 20/06/11