Artigo de Revisão / Review Article

 

RPS (REGISTRO PERIODONTAL SIMPLIFICADO): MÉTODO RÁPIDO E SIMPLES NA IDENTIFICAÇÃO PRECOCE DA DOENÇA PERIODONTAL

 

PSR (Periodontal Screening and Recording): fast and simple method for early identification of periodontal disease

 

 

Mylena Rafhaele Gomes de Oliveira ^I; Marcia Rosana Farias de Oliveira ^II; Jussiara Élcia Gomes Rodrigues ^II; Eduardo Sérgio Donato Duarte Filho^III

^I PGraduanda em Odontologia pela Universidade de Pernambuco – UPE/Campus Arcoverde; Bolsista de Iniciação Científica
^II Graduandas em Odontologia pela Universidade de Pernambuco – UPE/Campus Arcoverde
^III Doutorando em Odontologia pela Universidade Cruzeiro do Sul. Professor Assistente de Periodontia da Universidade de Pernambuco – UPE/ Campus Arcoverde; Preceptor de Periodontia da Faculdade ASCES

Endereço para correspondência

 

 

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RESUMO

Objetivo: Explanar sobre o RPS (Registro Periodontal Simplificado), um método simples e de fácil aplicação para a detecção precoce da doença periodontal, desenvolvido pela Academia Americana de Periodontologia (AAP) junto à Associação Dental Americana (ADA) em 1992. Métodos: Foi realizada uma revisão da literatura sobre o RPS em periódicos e artigos científicos nas bases de dados LILACS, BBO e SciELO. Resultados: Através do RPS pode-se avaliar o grau de necessidade de tratamento periodontal, tornando o exame periodontal inicial mais rápido e prático, além de favorecer a elaboração de uma estratégia de tratamento mais segura. O exame é realizado com a sonda periodontal preconizada pela Organização Mundial de Saúde, onde a boca do paciente é dividida em seis sextantes, os quais recebem códigos numerados (0 a 4) de acordo com a visibilidade da sonda no sulco e com determinadas características clinicas. O método parece encontrar grande valia, principalmente, quando se deseja otimizar o intervalo de tempo entre diagnóstico e tratamento. Conclusão: o RPS é um método rápido, simples, de baixo custo e eficiente na detecção precoce das doenças periodontais e, consequentemente, na prevenção de suas formas avançadas; contudo, em determinadas situações, não substitui o exame periodontal completo.

DESCRITORES: Índice Periodontal, Diagnóstico Clínico, Doenças Periodontais, Triagem, Doenças da Gengiva.

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ABSTRACT

Aim: To explain about the PSR (Periodontal Screening and Recording), a simple and easy method to apply for early detection of periodontal disease, developed by the American Academy of Periodontology (AAP) and the American Dental Association (ADA) in 1992. Methods: A review was conducted on the RPS in journals and scientific articles in the databases LILACS, BBO and SciELO. Results: Through the PSR the degree of necessity of periodontal treatment can be evaluated, becoming the examination initial periodontal quicker and practical, beyond favoring the elaboration of a treatment strategy safer. The examination is carried through with the periodontal sounding recommended by the World Health Organization, where the patient's mouth is divided in six sextants that receive codes with numbers (0 from 4) with in accordance the visibility of the sounding lead in the gingival sulcus and with determined clinical features. The method seems to find very useful especially when it is desired to optimize the time interval between diagnosis and treatment. Conclusion: The PSR is rapid, simple, inexpensive and efficient to the early detection of periodontal diseases and, consequently, for the prevention of the advanced periodontal disease. However, it doesn't replace a complete periodontal examination.

Keywords: Periodontal Index, Clinical Diagnosis, Periodontal Diseases, Triage, Gingival Diseases.

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INTRODUÇÃO

A doença periodontal é uma das enfermidades mais disseminadas na humanidade e a maior causa de perda de dentes na população adulta¹. O termo "doença periodontal" é usado num sentido amplo para abranger todas as condições patológicas que acometem as estruturas do periodonto de proteção (gengiva livre e gengiva inserida) e/ou sustentação (osso alveolar, cemento e ligamento periodontal.). A partir disso, as doenças periodontais são tidas como um desequilíbrio entre agressão e defesa nesses tecidos, resultando em reações inflamatórias que acometem a gengiva (gengivite), que podem ou não progredir, com o tempo, para os tecidos de suporte do dente (periodontite)².

As doenças periodontais têm sido consideradas um dos principais agravos de saúde bucal no Brasil³, tornando-se responsáveis pelas maiores causas de perda dentária da população, principalmente, devido à falta de diagnóstico precoce⁴. Com o grande número de processos jurídicos contra os cirurgiões dentistas em decorrência da não identificação dessas patologias periodontais nas suas formas iniciais ainda reversíveis, ficou evidente a necessidade da elaboração de um método clínico com validade legal que orientasse o diagnóstico e o provável tratamento sem exigir grandes investimentos tanto de equipamento quanto de treinamento profissional^5,6. Com isso, houve a necessidade de desenvolvimento de um índice que desempenhasse tal função: identificação precoce da condição periodontal e direcionamento a um tratamento, se necessário.

Neste contexto, objetiva-se explanar sobre um método rápido e simples, desenvolvido para avaliar a condição periodontal do paciente, o PSR/RPS (Periodontal Screening and Recording/ Registro Periodontal Simplificado).

 

MÉTODOS

O presente estudo se constitui de uma revisão da literatura realizada com base em artigos científicos. Para seleção dos artigos recorreu-se ao banco de dados na Biblioteca Virtual de Saúde- BVS onde foram acessadas as bases de dados: Literatura Latino- Americana em Ciências da Saúde-LILACS; Bibliografia Brasileira de Odontologia-BBO; Scientific Eletronic Library Online-SCIELO.

Na consulta às bases de dados foram utilizados os descritores com as seguintes estratégias: "doenças periodontais" AND "índice periodontal", totalizando 121 artigos; "doenças periodontais" AND "triagem" totalizando 1 artigo; "doenças periodontais/ terapia" AND "prótese dentaria" totalizando 4 artigos; "índice periodontal" AND "doenças gengivais" AND "gravidez" com um total de 2 artigos; "doenças periodontais" AND "estudantes de odontologia", resultando em 8 artigos; "diagnóstico clínico" AND "índice periodontal" apresentando apenas um artigo. Além disso, refinou-se a pesquisa através do uso do Limite "Humanos".

Para selecionar os artigos, realizou-se a leitura crítica do resumo e após, foram identificados conceitos sobre o Registro Periodontal Simplificado necessários para eleger os artigos mais relevantes para o presente trabalho. No entanto, essa revisão foi baseada em artigos que utilizavam o RPS como metodologia de estudo, pois faziam uma breve referência sobre o histórico do RPS e sua aplicação.

De posse dos artigos selecionados, foi dado início ao desenvolvimento do trabalho com base nos destaques observados em cada artigo.

 

RESULTADOS E DISCUSSÃO

O conhecimento de como uma doença se comporta em uma comunidade é de fundamental importância para o planejamento, execução e avaliação de serviços odontológicos voltados à prevenção e controle desta⁷. Os aspectos epidemiológicos da doença são de fundamental importância para o planejamento e organização dos serviços. Por isso, visando o estabelecimento de um índice universal para o reconhecimento da doença periodontal e da necessidade de tratamento periodontal nas populações, alguns métodos de exame têm sido propostos, derivados do Índice Comunitário de Necessidade de Tratamento Periodontal (CPITN), atualmente denominado "Índice Periodontal Comunitário" (CPI) o qual tem sido bastante utilizado para obtenção de dados epidemiológicos, se portando como indicador da condição periodontal da população, por exemplo, caso demonstrado pelo projeto "SB Brasil 2010"³.

Em 1992, a Associação Dental Americana (ADA) em associação com a Academia Americana de Periodontologia (AAP), sob o patrocínio da Procter & Gamble, desenvolveram o Periodontal Screening and Recording (PSR) ou Registro Periodontal Simplificado (RPS), uma modificação do CPITN⁸.

O RPS tem sido amplamente difundido, devido ao seu objetivo de avaliar de forma rápida e simples as condições periodontais dos indivíduos, tanto para identificar a saúde periodontal como problemas periodontais. Para tal exame, a boca é dividida em sextantes e a sondagem é realizada em 6 pontos para cada dente: mésio-vestibular, médio-vestibular, disto-vestibular, mésio-lingual/ palatino, médio-lingual/palatino e disto-lingual/palatino, sendo anotado em uma ficha clínica (Figura 1) o escore mais alto do sextante⁸.

 

 

 

A sondagem é realizada através de uma sonda periodontal (Figura 2) modelo 621 determinada pela OMS (WHO-621), a qual apresenta em sua extremidade uma esfera com 0,5mm (considerada atraumática e de maior confiabilidade na detecção de sangramento gengival) e, uma faixa colorida presente entre as mensurações de 3,5 a 5,5mm⁹.

 

 

 

A faixa colorida é a base para determinação dos códigos, que variam de 0 a 4, os quais o RPS estabelece como forma de avaliação da condição periodontal do paciente. Anteriormente, a sondagem era realizada em seis sítios, nos chamados "dentes-índices" de cada sextante (dentes-índices: 17-16, 11, 27-26, 37-36, 31 47-46), os quais eram tidos como dentes representativos daquela região oral. Para efeito de análise é considerado para cada sextante o código de maior valor⁷. Contudo, outros autores preconizam a técnica de que todos os dentes presentes devem ser examinados nos seis sítios, registrando na ficha clínica apenas o código mais grave referente ao sextante¹⁰. Ressalta-se que todos os dentes devem ser examinados individualmente, até mesmo os implantes⁵. Um estudo comparando a utilização do RPS segundo o método de registro ("dentes-índice" ou todos os dentes) sugeriu a aplicação deste índice através do método total, onde todos os dentes dos indivíduos devem ser examinados.

 

 

 

 

 

Uma das primeiras iniciativas para avaliar a validade do método "RPS" ocorreu em 1994¹⁴, avaliando crianças e adolescentes, concluiu não haver diferença entre o diagnóstico através do exame periodontal convencional (sonda Williams) e aquele através do sistema RPS, sendo este mais rápido e mais aceito pela população examinada.

Pesquisas mostraram uma correlação moderada, mas significativa entre RPS e o exame periodontal convencional que incluía sondagem¹⁵. O mesmo grupo de pesquisadores, mostrou uma associação significativa entre os códigos do RPS e ambos, medidas de profundidade de sondagem e do nível de inserção, enquanto o exame radiográfico não refletiu satisfatoriamente a condição periodontal relativa a esses parâmetros clínicos¹⁶.

Também comparado ao exame clínico convencional, desta vez sendo realizado com sonda manual com carga controlada e em indivíduos com idade entre 25 e 35 anos, demonstrou- se não haver diferença estatisticamente significante entre o diagnóstico estabelecido para ambos os métodos¹⁷.

Uma avaliação do CPI (Índice Periodontal Comunitário) e RPS através de uma revista da literatura levou os autores a concluírem que o CPI é indicado para pesquisas populacionais da doença periodontal, enquanto que o RPS é utilizado em consultórios, visando uma indicação de tratamento individual da patologia¹⁸. Vale ressaltar que tanto o CPI quanto o RPS não substituem o exame periodontal completo, apenas seleciona pacientes que precisem de um exame mais detalhado. Tanto o CPI quanto o RPS utilizam três indicadores das condições periodontais: o sangramento à sondagem, a presença de cálculos e outros fatores retentivos de placa bacteriana e à profundidade do sulco à sondagem¹². Contudo, o RPS possui vantagens adicionais por determinar ou não a presença de outros parâmetros não registrados pelo primeiro, como comprometimento de furca, problema mucogengival, mobilidade dentária e recessão gengival determinada pela presença de um asterisco(*)⁸.

É essencial diagnosticar e tratar indivíduos que apresentam risco para uma futura perda de inserção e o RPS, ao promover o reconhecimento da doença periodontal e indicar situações nas quais o exame detalhado é necessário de modo a possibilitar o diagnóstico da patologia periodontal, pode contribuir para o diagnóstico precoce e consequentemente, para a prevenção da doença periodontal avançada¹⁹. O RPS pode ser considerado um exame de triagem de pacientes com doenças periodontais que, ao mesmo tempo em que seleciona pacientes pela severidade de doença, direciona o profissional quanto às necessidades de tratamento. Sua praticidade está em diminuir o tempo operatório, uma vez que o exame periodontal tradicional demanda tempo, especialmente no que se refere ao preenchimento da ficha clínica⁵.

Desde que a ADA e a AAP desenvolveram este programa, o RPS foi considerado como suficiente para monitorar as doenças periodontais, e esta é uma importante conclusão, pois falhas no diagnóstico destas patologias podem resultar em comprometimento legal do profissional²⁰. Há uma grande vantagem do método do ponto de vista jurídico para adoção do RPS, exercendo papel de proteção ao cirurgião dentista, frente a uma eventual desistência ou não aceitação do plano de tratamento periodontal pelo paciente⁸.

A classificação dos pacientes pela severidade dos achados clínicos obtidas pelo RPS é de fundamental importância para o cirurgião dentista, pois ajuda o profissional na observação e monitoração tanto da saúde periodontal quanto da necessidade de tratamento caso o paciente precise, podendo reduzir a demanda de dentes condenados e avaliar situações específicas como, por exemplo, o uso do RPS como meio de diagnóstico ambulatorial em pacientes gestantes. Em pesquisa realizada no Hospital Geral de Areias, Recife/PE²¹, concluiu-se que o RPS foi efetivo e de fácil aplicação no diagnóstico de alterações periodontais em pacientes gestantes.

Além disso, ressalta-se que tal método é de grande valia se empregado corretamente no Sistema Único de Saúde (SUS) na esfera da Atenção Básica em Saúde Bucal, uma vez que, por sua praticidade, todo cirurgião dentista clínico geral terá condições de diagnosticar precocemente a doença periodontal e, principalmente, sua severidade, o que apontará a resolutividade do caso na própria Atenção Básica ou requisitará a referência do paciente à Média Complexidade.

 

CONCLUSÃO

O Registro Periodontal Simplificado é um método rápido, simples, de baixo custo e eficiente na detecção precoce das periodontopatologias e, consequentemente, para a prevenção da doença periodontal avançada, entretanto, em determinadas situações, não substitui o exame periodontal completo;

Juridicamente, o RPS pode auxiliar os cirurgiões-dentistas como método de validação legal da situação do paciente na consulta de diagnóstico da sua condição periodontal;

Sugere-se que estudos transversais, em um primeiro instante, sejam realizados adotando-se o uso do RPS dentro de situações e populações específicas, para verificar sua real validade como instrumento de diagnóstico precoce.

 

REFERÊNCIAS

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Endereço para correspondência:
Eduardo Sérgio Donato Duarte Filho
Av. Dr. Pedro Jordão, 293 ap 702
Maurício de Nassau – Caruaru-PE
CEP: 55012-640
e-mail: eduardo.sergio@upe.br

 

Recebido para publicação: 04/04/2014
Aceito para publicação: 02/07/2014