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Revista de Cirurgia e Traumatologia Buco-maxilo-facial
versão On-line ISSN 1808-5210
Rev. cir. traumatol. buco-maxilo-fac. vol.13 no.1 Camaragibe Jan./Mar. 2013
Tomografia computadorizada de feixe cônico no planejamento de implantes em maxila atrófica: relato de caso
Cone beam computed tomography in the planning of implants in an atrophic maxilla: a case report
Fabiana Caroline da SilvaI; Nelson luís Barbosa RebellatoII; Ângela FernandesIII
I Mestranda do Programa de Pós-graduação em Odontologia, Universidade Federal do Paraná, UFPR
II Professor do Programa de Pós-graduação em Odontologia, UFPR. Doutor em Cirurgia Buco-Maxilo Facial
III Professora do Programa de Pós-graduação em Odontologia, UFPR. Doutora em Estomatologia Clínica
RESUMO
Um apropriado plano de tratamento é imprescindível para o sucesso reabilitador em Implantodontia. Um dos pré-requisitos é a avaliação da qualidade, altura e largura ósseas e de estruturas anatômicas mediante imagens para o diagnóstico. O presente estudo apresenta um relato de caso baseado no planejamento cirúrgico com implantes dentários osseointegráveis por meio do exame de Tomografia Computadorizada de Feixe Cônico, em maxila atrófica com reabsorção óssea severa. Esclarece a importância da aquisição de imagens utilizando esse método, no sentido de eliminar fases cirúrgicas desnecessárias, oferecendo maior conforto e menos riscos para os pacientes.
Descritores: Implantação Dentária; Implante Dentário; Tomografia Computadorizada de Feixe Cônico; Reabsorção Óssea.
ABSTRACT
An appropriate treatment plan is indispensable for successful rehabilitation in implantology. One of the prerequisites is the assessment of the quality, height and width of the bone and vital anatomical structures, by means of imaging for the purpose of diagnosis. This study presents a case based on the planning of surgery with dental implants by means of cone beam computed tomography in an atrophic maxilla with severe bone resorption. It also highlights the importance of acquiring images using this method in order to eliminate unnecessary surgical phases, thereby offering more comfort and fewer risks to patients, as compared with conventional imaging techniques.
Keywords: Dental Implantation; Cone-Beam Computed Tomography; Bone Resorption.
INTRODUÇÃO
Um apropriado plano de tratamento é imprescindível para o sucesso reabilitador em Implantodontia. Um dos pré-requisitos é a avaliação da qualidade, altura e largura ósseas e de estruturas anatômicas vitais, realizado por meio de imagens para o diagnóstico. a habilidade multiplanar de gerar imagens em planos axial, coronal e sagitalé oferecida pela Tomografia Computadorizada (TC), ressonância magnética e pela Tomografia Computadorizada de Feixe Cônico (TCFC), conhecida como Tomografia Cone Beam. a literatura descreve a riqueza de detalhes anatômicos proporcionada e a importância desse recurso no planejamento cirúrgico em Implantodontia, valorizando estruturas importantes, como os seios maxilares, forames lingual e mentual, nível de reabsorção óssea em áreas desdentadas e feixes/ramos vásculo-nervosos relacionados1.
As radiografias convencionais fornecem informações adequadas sobre os sítios para instalação de implantes osseointegráveis. No entanto, o tamanho limitado do filme, a distorção de imagem, a ampliação e uma vista em duas dimensões geram imprecisão nos dados e nas medições, restringindo o seu uso2. Estudos confirmaram a existência da taxa de ampliação nas radiografias panorâmicas3,4 e sugeriram para a avaliação pré-operatória em implantodontia a utilização da TCFC, que elimina aquela limitação, aumentando a acurácia do exame3.
No que diz respeito à TC, as limitações são a exposição à radiação, o custo elevado e o tamanho do equipamento, geralmente reservado para ambientes hospitalares2.
A Tomografia Computadorizada de Feixe Cônico é uma técnica de aquisição de imagem desenvolvida no final de 1900, que se baseia na aplicação de feixe de raios-x em forma de cone, centrado em um detector de imagem. A A imagem pode ser reconstruída em três dimensões (3D) por um conjunto de dados convertidos, usando-se uma modificação do algoritmo original cone beam, desenvolvido por Feldkamp et al. em 1984. Essa técnica seccional é uma valiosa ferramenta durante o planejamento pré-operatório para implantes osseointegrados5.
A posição do paciente na obtenção da TCFC para a região maxilofacial também pode ser a sentada, ou em pé ao invés de somente a supina, dependendo do modelo de equipamento utilizado. O exame permitiu a redução na radiação absorvida pelo paciente, pois utiliza uma única rotação de 360 graus e um feixe cônico, enquanto que, na TC espiral, ocorrem várias rotações e um feixe em leque2.
Autores enfatizam a superioridade espacial resolutiva da TCFC em relação à TC convencional3. O tamanho do voxel na TCFC pode ser de até 0,1mm, estabelecendo uma resolução superior em relação à TC, que chega apenas a 0,5mm2.
A Tomografia Computadorizada de Feixe Cônico apresenta uma significativa dose de radiação menor em relação à TC espiral2,3,5,7. A dose de radiação em TCFC é cerca de 40% menor que na TC, porém de 3-7 vezes maior do que doses panorâmicas. Portanto, quando necessária a reconstrução de uma imagem 3D, a TCFC deve ser o exame de escolha8. Avanços tecnológicos em imagens 3D por meio de TCFC oferecem vantagens significativas em relação à qualidade e à quantidade de dados anatômicos devido à maior precisão e proximidade com a realidade. A TCFC ainda permite o planejamento em programas virtuais2.
A TCFC minimiza o "ruído", que pode ser interpretado como variações na imagem desde interferências eletrônicas, artefatos ou puramente estocásticos, que interferem na qualidade e detectabilidade de estruturas importantes. É bastante evidente em imagem 2D9.
É evidente o valor da TCFC no planejamento de implantes, na avaliação cirúrgica de patologias, da condição da ATM e nas avaliações pré e pós-operatória de estruturas craniofaciais7.
O uso do exame de TCFC no planejamento cirúrgico evita complicações potenciais, como parestesias, originadas da perfuração de osso cortical, atingindo o nervo alveolar inferior, forame mentoniano e canal incisivo, ou ainda, o mal posicionamento do implante no invólucro alveolar, sem adequado volume ósseo circundante, comprometendo a estabilidade deste. Existem 4 importantes visualizações: axial, transversal ou sagital, panorâmica ou coronal e reconstruções 3D. A imagem panorâmica, reconstruída a partir do conjunto de dados da TCFC, difere, substancialmente de uma radiografia panorâmica convencional. Essa imagem pode ser vista, utilizando-se o software de visualização incorporada para avaliar os aspectos mais amplos dos arcos. A A imagem da secção transversal é excelente para a definição de uma fatia em que a altura e a largura do osso podem ser avaliadas com precisão. Os implantes simulados podem ser colocados em posição ideal para receberem a reabilitação protética posterior7.
O objetivo do presente estudo é relatar um caso de reabilitação com implantes dentários osseointegráveis baseado no planejamento cirúrgico por meio do exame de TCFC em maxila atrófica com reabsorção óssea severa.
RELATO DE CASO
Paciente feminina, leucoderma, 46 anos de idade procurou atendimento em clínica particular, queixando-se do comprometimento estético devido à ausência dos dentes 12, 11, 21 e 22 e de instabilidade da prótese parcial removível da qual fazia uso há mais de duas décadas. A paciente havia consultado profissionais que haviam diagnosticado clinicamente a reabsorção do rebordo alveolar e atrofia parcial na região ântero-superior. Sugeriram, como única alternativa a enxertia óssea para viabilizar a reabilitação em Implantodontia.
Foi solicitado exame de TCFC para determinar as potenciais alternativas de tratamento em Implantodontia e permitir a inspeção completa da topografia óssea em 3D. Esse exame permitiu uma avaliação criteriosa dos cortes transversais sequenciais e a confirmação de que a região edêntula ântero-superior apresentava espessura óssea remanescente suficiente para receber a instalação de implantes osseointegráveis, sem a necessidade de enxertia (Figura 1). A cirurgia foi realizada com sucesso e foram instalados 4 implantes osseointegráveis, plataforma hexágono externo, com 11 mm de comprimento cada. Após três meses, a prótese fixa sobre implantes foi confeccionada (Figura 2). A paciente vem sendo acompanhada clínica e radiograficamente desde então (Figuras 2 e 3).
DISCUSSÃO
O sucesso do caso apresentado demonstra claramente a importância do uso do exame de TCFC no planejamento deste. As reabilitações orais com implantes osseointegráveis, baseadas no planejamento utilizando exames de TCFC, já demonstraram uma alternativa de tratamento previsível e com altas taxas de sucesso1,5,7. O exame é preciso para a maxila e mandíbula, tornando a modalidade excelente em implantodontia10 .
Em relação à exposição aos raios X, a maioria dos autores valoriza o fato de a TCFC apresentar uma significativa dose de radiação menor que a TC espiral2,3,5,6,7. Apesar de a dose de radiação desse exame ser 3-7 vezes maior que a dose de uma panorâmica8, no presente caso, optou-se pela TCFC, com objetivo de se verificar a espessura da maxila no sentido vestíbulo-palatino, informação essa que não é fornecida pelo exame panorâmico. Além disso, também foi utilizado o recurso de reconstrução de imagens em 3D, que oferece vantagens significativas em relação à qualidade e quantidade de informações para o planejamento.
Chama a atenção nesse caso o fato de a paciente ter procurado diversos profissionais que consideraram a instalação de implantes somente após a realização de enxertia óssea prévia, sem cogitarem a solicitação de exame tomográfico para um planejamento mais conservador. As imagens demonstradas pelo exame de TCFC permitiram uma mudança nessa informação, ou seja, percebeu-se que seria possível a realização de implantes osseointegrados naquela região, confirmando a literatura6 que alega que o exame é um método preciso para medir rebordo alveolar.
A paciente vem sendo acompanhada regularmente após o tratamento reabilitador, e tal acompanhamento vem sendo realizado por meio de exames clínicos e radiografias panorâmicas. Nessa fase, o exame radiográfico convencional é indicado devido à baixa exposição à radiação e por se tratar de uma excelente ferramenta para a visão geral da área maxilofacial2. Ressalta-se, portanto, a importância da escolha do exame de imagem adequado para cada etapa do atendimento ao paciente, da avaliação inicial, seguida do plano de tratamento até os exames de acompanhamento.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Esse caso representa uma alternativa de tratamento à substituição de uma falha dental maxilar de longa duração, que foi possível por meio da utilização do exame de TCFC no planejamento, sem necessidade de enxertia. O planejamento cirúrgico adequado permitiu diminuição do tempo e dos custos do tratamento total, por meio de uma fase cirúrgica única, com diminuição dos riscos no tratamento.
Essa possibilidade, sem dúvida, "transformou" a autoestima da paciente, permitindo-lhe uma atitude mais positiva em relação à sua condição estética.
REFERÊNCIAS
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Endereço para correspondência:
Universidade Federal do Paraná – Curso de Pós-Graduação em Odontologia
Av. Pref. Lothário Meissner, 632
Jardim Botânico- Curitiba/Paraná
CEP:80210-170
e-mail: cd_fabiana@yahoo.com.br