Orientando o Paciente

 

A utilização da toxina botulínica em Odontologia

 

The utilization of the botulinum toxin in Dentistry

 

Irineu Gregnanin Pedron^I

^IMestre em Ciências Odontológicas pela Faculdade de Odontologia da Universidade de São Paulo (Fousp), professor do Curso de Capacitação de Toxina Botulínica em Odontologia na FACESC (Chapecó/SC)

 

 

1. O que é a toxina botulínica?
A toxina botulínica é uma proteína produzida pela bactéria Clostridium botulinum, causadora do botulismo. Entretanto, ganhou maior destaque e vem sendo amplamente utilizada na Medicina, tanto para fins cosméticos (na eliminação temporária de rugas e linhas de expressão), como no tratamento de diversas doenças e outras condições (distonias, torcicolos, espasmos musculares, estrabismo, suor excessivo, enxaqueca, fibromialgia).^1-42

2. Como age a toxina botulínica?
A toxina botulínica é uma proteína que age inibindo a liberação de acetilcolina, neurotransmissor que atua na contração muscular, causando efeito paralisante e o enfraquecimento temporário da atividade muscular, reduzindo o tônus (contração) muscular, sem que haja outros efeitos colaterais.^1-4 Com o passar do tempo, há um restabelecimento da transmissão neuromuscular e retorno gradual à função muscular completa.¹ Em casos de sudorese excessiva (hiperidrose) ou salivação excessiva (sialorreia), a toxina botulínica age nas glândulas afetadas reduzindo a secreção de suor ou saliva respectivamente.^1,5

3. Quais são as indicações na Odontologia?
A toxina botulínica pode ser utilizada em casos de sorriso gengival (exposição excessiva da gengiva durante o sorriso - Figuras 1 e 2) ou assimetria do sorriso; hábitos como bruxismo (ranger os dentes) ou briquismo (apertamento dos dentes), ambos com prejuízos dentários, musculares e ósseos, causando, ainda, a cefaleia secundária (dores de cabeça que podem manifestar-se na região lateral da cabeça, testa e estender-se até a nuca); hipertrofia (crescimento) do músculo masseter (ângulo da mandíbula), causando assimetrias faciais; disfunções da articulação temporomandibular (que pode apresentar dor e desconforto durante a mastigação); redução de forças musculares após reabilitação com implantes dentários; e sialorreia (salivação excessiva).^1-5

4. Quanto tempo dura o efeito da toxina botulínica?
O tempo de duração é variável e depende de diversos fatores como o próprio paciente, dose, músculos atingidos e ação que se espera. Quanto maior a atividade muscular, menor o tempo de duração do efeito. Após a aplicação, o início da ação observa-se em 3 a 7 dias, com o efeito máximo em 10 a 15 dias. Geralmente varia de quatro a seis meses.^1-4

5. Quais são as reações adversas observadas após a utilização?
A aplicação da toxina botulínica é um procedimento seguro e eficaz. Entretanto, algumas reações adversas podem acontecer e dependem da localização e quantidade aplicada, incluindo dor, eritema (mancha avermelhada) e pequeno edema (inchaço) no local da aplicação; náusea; dor de cabeça; reação alérgica; hipoestesia (sensação de dormência ou anestesia transitória); entorpecimento temporário da região; xerostomia (boca seca) e alteração de voz.^1-5 Vale ressaltar que o Cirurgião-Dentista deve estar devidamente habilitado para tal função, e que a aplicação por esse profissional tem a finalidade terapêutica, buscando melhorias na qualidade de vida dos pacientes. O Cirurgião-Dentista devidamente habilitado é um pré-requisito à otimização, refinamento e segurança na aplicação da toxina botulínica em Odontologia.^1-4

6. Quais são as contraindicações?
A aplicação da toxina botulínica está contraindicada às pacientes gestantes e lactantes, aos pacientes com hipersensibilidade (alergia) a toxina botulínica, a lactose e a albumina, e portadores de doenças neuromusculares e autoimunes.^1-5

 

 

 

 

 

REFERÊNCIAS

1. Côrte-Real de Carvalho R, Shimaoka AM, Andrade AP. O uso da toxina botulínica na Odontologia. Disponível em www.crosp.org.br         [ Links ]

2. Jaspers GWC, Pijpe J, Jansma J. The use of botulinum toxin type A in cosmetic facial procedures. Int J Oral Maxillofac Surg 2011;40:127-33.

3. Mangano A, Mangano A. Current strategies in the treatment of gummy smile using botulinum toxin type A. Plast Reconstr Surg 2012; 129(6):1015e.

4. Majid OW. Clinical use of botulinum toxins in oral and maxillofacial surgery. Int J Oral Maxillofac Surg 2010;39(3):197-207.

5. Rocha AC, Utumi ER, Pedron IG. Sialorreia. In: Caldas Neto S, Mello Jr JF, Martins RHG, Costa SS. Tratado de Otorrinolaringologia. São Paulo: Ed. Roca, 2011, 149-53..

 

 

Endereço para correspondência:
Irineu Gregnanin Pedron
Rua Flores do Piauí, 508
Itaquera - São Paulo - SP 08210-200 Brasil
e-mail: igpedron@usp.br

Recebido: abr/2014
Aceito: mai/2014