SciELO - Scientific Electronic Library Online

 
vol.69 issue3 author indexsubject indexarticles search
Home Pagealphabetic serial listing  

Revista da Associacao Paulista de Cirurgioes Dentistas

Print version ISSN 0004-5276

Rev. Assoc. Paul. Cir. Dent. vol.69 n.3 Sao Paulo Jul./Sep. 2015

 

Relato de caso clínico (Autor convidado)

 

Utilização de novas tecnologias empregadas na reabilitação protética bucomaxilofacial: relato de caso

 

Use of news technologies on the maxillofacial rehabilitation: a case report

 

 

Reinaldo Brito e DiasI; Ricardo Cesar dos ReisII; Rennan Luiz Oliveira SantosIII; Neide Pena CotoIV

 

I Professor titular e chefe do Departamento de Cirurgia, Prótese e Traumatologia Maxilofaciais da Faculdade de Odontologia da Universidade de São Paulo (Fousp)
II Mestre e doutor em Prótese Bucomaxilofacial pela Fousp
III Mestrando em Ciências Odontológicas área de concentração em Prótese Bucomaxilofacial da Fousp
IV Professora livre docente do Departamento de Cirurgia, Prótese e Traumatologia da Fousp

Endereço para correspondência

 

 


 

RESUMO

A Prótese Bucomaxilofacial é a especialidade odontológica responsável pelo estudo clínico e tratamento das malformações congênitas, distúrbios do desenvolvimento e mutilações patológicas ou traumáticas da região intra e extraoral da face. As perdas do globo ocular podem ser reparadas com o auxilio de próteses oculares, confeccionadas de modo individualizado, com características semelhantes ao olho são. O maior desafio é a obtenção da íris protética que deve ser cópia fiel da íris do olho remanescente para que a dissimulação da perda seja completa. Este trabalho, por meio de apresentação de caso clinico, traz um avanço de técnica para a obtenção de íris protética com sua digitalização.

Descritores: olho artificial; reabilitação; íris


 

ABSTRACT

The maxilofacial prosthetics is the dentistry speciality responsible for the clinical study and treatment of congenital malformations, developmental disorders and pathological or traumatic mutilations of intra and extra oral region of the face. The eye loss can be repaired with the help of ocular prostheses, made in a individualized way, with characteristics similar to the healthy eye. The biggest challenge is getting the prosthetic iris that should be a true copy of the remaining one to the loss concealment process is complete. This paper, through a case report, brings a technical advance to obtain prosthetic iris with your scan.

Descriptors: eye, artificial; rehabilitation; iris


 

 

RELEVÂNCIA CLÍNICA

Todo e qualquer método que traga uma melhoria no atendimento ao paciente, confecção da prótese reabilitadora, diminuição de tempo de consulta clínica em ambulatório, sempre tendo como resultado final a satisfação do paciente mutilado, apresenta uma relevância clínica impar. O método de obtenção da íris protética para confecção de prótese ocular individualizada é capaz de cumprir todas as vantagens supracitadas.

 

INTRODUÇÃO

As perdas do globo ocular são mutilações que podem ocorrer devido às malformações congênitas, distúrbios de desenvolvimento, mutilações patológicas e traumáticas, agressões físicas com armas brancas e de fogo, acidentes domésticos e quedas, por exemplo. A reabilitação protética indicada nestes casos é a prótese ocular. Confeccionada pelo Cirurgião-Dentista de maneira individualizada, após obtenção de moldagem da cavidade anoftálmica do paciente acometido.1

A prótese ocular tem como função prevenir o colapso e a deformidade palpebral dando sustentação e tonicidade muscular, bem como sua atresia por falta de função; deve proteger a sensível cavidade anoftálmica contra agressões por poeira, fumaça, frio e demais agentes; deve evitar a secura da conjuntiva; restaurar a direção do fluxo lacrimal ao seu ducto fisiológico; além de prevenir o acúmulo de secreção lacrimal na cavidade evitando as alterações assimétricas que progressivamente se instalam, restaurando por fim o contorno facial.1,2,3

Na confecção da prótese ocular, a obtenção da íris protética é uma ação de extrema importância, em que deve-se copiar os detalhes e nuances da íris do olho são aumentando a dissimulação da peça protética.4,5,6

A relevância da reabilitação protética ocular tem estimulado estudos e pesquisas visando o aprimoramento das técnicas de sua confecção, pois a fidelidade na reprodução da íris protética e a durabilidade da prótese ocular são prejudicadas pela fotodegradação das cores e tintas utilizadas, limitando assim a vida útil da prótese. Com isso há a necessidade de sucessivas trocas das peças protéticas aumentando a demanda do atendimento e o fluxo de pacientes. 7,8 Este artigo apresenta uma nova técnica de obtenção da íris protética por meio de imagem digitalizada da íris remanescente impressa em papel fotográfico, descrita por meio de apresentação de um caso clínico.

 

RELATO DE CASO CLÍNICO

JCB, 58 anos, gênero masculino, procurou o ambulatório da Disciplina de Prótese Bucomaxilofacial da Faculdade de Odontologia da Universidade de São Paulo – Fousp, encaminhado por um Serviço Público do Estado de São Paulo, com a solicitação de confecção de prótese ocular lado esquerdo.

O paciente relatou ter sofrido acidente de trabalho, onde cortando madeira uma lasca desta atingiu seu olho esquerdo, há cerca de dois anos. O mesmo apresentava-se sem uso de equipamento de proteção.

Durante a anamnese referiu ter estado de saúde bom, e fazer uso do fumo com cerca de 40 cigarros diários. Queixou-se de visão limitada no olho são, sendo encaminhado ao oftalmologista. Refere ainda dor na cavidade anoftálmica.

No exame clínico constatou-se a enucleação do olho comprometido, a cavidade anoftálmica retentiva, mobilidade do coto de boa qualidade e boas condições palpebrais.

A conduta clínica de confecção de prótese ocular segue um protocolo que consiste em moldagem da cavidade anoftálmica com o auxilio de seringa descartável de 20ml e hidrocoloide irreversível- alginato (Figura 1) após devida anestesia utilizando colírio oftálmico. Com o molde em mãos (Figura 2), deve-se levá-lo à mufla número 3 e inclui-lo em gesso pedra tipo III. A contra mufla deve ser posicionada após a cristalização do gesso e o devido isolamento do conjunto. Deve ser vertido gesso paris (Figura 3).

Após cristalização do gesso, é perfurado um ducto de alimentação para verter cera odontológica, obtendo-se a peça ceroplástica (Figura 4). Em paralelo deve-se proceder a obtenção da íris protética que pode ser pintada sobre calota de íris em resina acrílica termicamente ativada (RAAT) (Figura 5) ou, em casos que a íris apresenta alta complexidade de nuances e cores, como do paciente aqui descrito (Figura 6) a tecnologia aliada a preocupação em dissimular da melhor maneira possível a perda do paciente, traz a íris digital.

Técnica patenteada pelos autores, sob o número P.I 1.003.388- 2 no Instituto Nacional de Propriedade Industrial (Inpi).

A técnica da íris digital consiste em obter imagem fotográfica da íris sã do paciente, tomando-se os devidos cuidados de iluminação, posição e abertura palpebral (Figura 7). Após a tomada fotográfica, procede-se a revelação desta nos possíveis diâmetros

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

da íris humana (entre 10 e 12mm) em papel fotográfico específico (Figura 8), a imagem selecionada deve ser entremeada por uma calota de íris e uma lâmina em RAAT (Figura 9) ficando pronta para ser posicionada na ceroplastia, devidamente ajustada.

Com isso, faz-se a centralização da íris, prova no paciente e as devidas mensurações de abertura palpebral (Figura 10). Após o processo de acrilização, caracterização e finalização da prótese ocular com sua camada final, passos estes seguindo o protocolo de confecção de uma prótese ocular convencional.

Procede-se então a entrega da peça protética e as devidas orientações de higiene ao paciente (Figura 11).

 

DISCUSSÃO

O tratamento reabilitador protético Bucomaxilofacial tem um importante papel na Odontologia. Os profissionais envolvidos na reabilitação do paciente devem possuir um conhecimento amplo para diagnosticar, planejar e executar o tratamento. Para tanto devem observar as novas tendências baseadas em evidências científicas. A utilização de recursos digitais na confecção da íris protética é uma descrição recente. Antes, usava-se a fotografia apenas como um meio para guiar a pintura da íris, utilizando a imagem digital do olho contralateral impressa para minimizar tempo de permanência do paciente em ambulatório.1,9 O entrosamento e esforços combinados do oftalmologista e o protesiológo Bucomaxilofacial podem oferecer ao paciente uma prótese ocular satisfatória, restaurando a aparência, volume e estética normais, fatores essenciais para a melhor qualidade de vida do paciente.1,7,10

As novas técnicas e tecnologias devem respeitar as diretrizes éticas seguindo todos os padrões e exigências necessárias para que possam ser utilizadas no paciente.

 

CONCLUSÃO

A utilização de novas tecnologias empregadas na reabilitação protética, como a técnica da obtenção da íris protética digital, traz agilidade no atendimento ao paciente acompanhado de grande satisfação com a reabilitação.

 

APLICAÇÃO CLÍNICA

A técnica aqui demostrada tem grande importância e aplicabilidade clínica. Com sua utilização, a duração da consulta clinica em ambulatório para a obtenção da íris protética será minimizada e a dissimulação da perda do globo ocular terá maior fidelidade.

 

REFERÊNCIAS

1. Beumer III J, Marunick MT, Espósito SJ. Maxillofacial Rehabilitation. Prosthodontic and Surgical Management of Cancer-related, Acquired, and Congenital Defects of the Head and Neck. Quintessence; 2011.         [ Links ]

2. Hotta,PTH ; Tinajero, LPH; Geraldini, CAC; Coto, NP; Dias, RB. Uso de prótese ocular expansora em crianças com perda do globo ocular - caso clínico. Revista de Odonto Metodista, 2011;19: 73-7.

3. Artopolou II, Montgomery PC, Wesley PJ, Lemon JC. Digital imaging in the fabrication of ocular prostheses. J Prosthet Dent. 2006;95(4):327-30.

4. Goiato MC, Fernandes AÚ, dos Santos DM, Hadadd MF, Moreno A, Pesqueira AA. Alteration of blue pigment in artificial iris in ocular prosthesis: effect of paint, drying method and artificial aging. Cont Lens Anterior Eye. 2011 Feb;34(1):22-5.

5. Anh JS, Lee YK Color distribution of a shade guide in the value, chroma and hue scale. J.Prosthet Dent. 2008;100: 18-28.

6. Reis RC, Dias RB, Carvalho JCM. Evaluation of iris color stability in ocular prosthesis. Braz Dent J. 2008;19: 370–4.

7. Alves MCAP, Carvalho JCM. Prótese ocular – avaliação da estética e da estabilidade da cor da íris pintadas com tinta acrílica e tinta a óleo. RPG. 2004;11(1):57-60.

8. Geraldini CAC, Coto NP, Dias RB. Confecção de prótese ocular oca: Nova proposta. Odontologia Clínico-Científica. 2010;9: 45-8.

9. Kathuria N, Prasad R, Gupta N, Gulati M, Bhide SV A modified technique and simplified laboratory procedure for ocular prosthesis fabrication.. J Prosthodont Res. 2012 Apr;56(2):147-50.

10. Kathuria N, Prasad R, Gupta N, Gulati M, Bhide SV A modified technique and simplified laboratory procedure for ocular prosthesis fabrication.. J Prosthodont Res. 2012 Apr;56(2):147-50.

 

 

Endereço para correspondência:
Neide Pena Coto - Fousp
Faculdade de Odontologia da Universidade de São Paulo
Avenida Lineu Prestes, 2.227
Cidade Universitária
São Paulo/SP
Cep: 05508-000
Brasil

e-mail:
npcoto@usp.br

 

Recebido: jul/2015
Aceito: ago/2015