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Revista da Associacao Paulista de Cirurgioes Dentistas

versão impressa ISSN 0004-5276

Rev. Assoc. Paul. Cir. Dent. vol.70 no.3 Sao Paulo Jul./Set. 2016

 

Relato de caso clínico

 

Diagnóstico diferencial da sinusite de origem odontológica por meio da tomografia computadorizada

 

Differential diagnosis of dental sinusitis with the aid of computed tomography

 

 

Carlos Henrique FerrariI; Frederico LaperriereII; Frederico Canato MartinhoIII

 

I Doutorando - Professor coordenador de Endodontia da APCD Bragança Paulista
II Mestre em Endodontia
III Doutor em Endodontia - Professor do Departamento de Disciplina de Endodontia do Departamento de Dentística Restauradora, Instituto de Ciência e Tecnologia, Unesp



Endereço para correspondência

 

 


 

RESUMO

O objetivo do presente artigo é apresentar três casos clínicos com diagnóstico de sinusite de origem odontológica, ou síndrome endo-antral, um quadro inflamatório infeccioso de origem endodôntica que acomete dos tecidos e mucosa do seio maxilar adjacentes aos ápices radiculares. Os casos apresentados chamam a atenção para a dificuldade do diagnóstico apenas com a radiografia periapical e a importância da tomografia computadorizada como recurso auxiliar.

Descritores: seio maxilar; sinusite; endodontia; infecção focal dentária.


 

ABSTRACT

The aim of the current article is to report three clinical cases diagnosed as sinusitis of dental origin, or endo-antral syndrome, an inflammatory condition of endodontic infection origin that affects the tissues and mucosa of the adjacent maxillary sinus up to the root apex. The presented cases draw attention to the difficulty of diagnosis only with periapical radiography and the importance of computed tomography as an auxiliary resource.

Descriptors: maxillary sinus; Sinusitis; Focal Infection, Dental; Endodontics.


 

 

RELEVÂNCIA CLÍNICA

Na prática clínica, Cirurgiões-Dentistas, especialmente endodontistas, e otorrinolaringologistas, se deparam com casos de sinusite em que o diagnóstico diferencial é de difícil conclusão, quando utilizados apenas os recursos tradicionais.

 

INTRODUÇÃO

O envolvimento do seio maxilar com patologias endodônticas é descrito há muito por endodontistas e otorrinolaringologistas. 1-7 A infecção proveniente do canal radicular é largamente reconhecida como causadora de inflamação das mucosas sinusais após a destruição das suas corticais ósseas. Essa capacidade de causar lesão é tão maior quanto for à proximidade dos ápices com a cortical inferior do seio. Esta distância varia muito de paciente para paciente e até mesmo em lados distintos num mesmo indivíduo. Em diversos casos, o ápice radicular se projeta no interior do seio maxilar com um mínimo de cobertura óssea, ou até mesmo nenhuma, recoberto apenas pela membrana do seio.3,4,8,9

A origem odontogênica das sinusites é relatada em cerca de 10 a 12% dos casos.10 Por outro lado, a sinusite sem causa endodôntica é frequentemente reportada por pacientes e até confundida por Cirurgiões-Dentistas, como odontológica, ressaltando a importância da correta interpretação dos achados clínicos e exames por parte dos profissionais de saúde envolvidos.11

O conjunto de sinais e sintomas que definem o quadro de sinusite de origem endodôntica, é denominado síndrome endo-antral e é caracterizado por: infecção endodôntica em um dente próximo ao seio maxilar, imagem radiolúcida periapical relacionada ao dente afetado, perda da lâmina dura em volta do ápice correspondente à borda inferior radiográfica do seio maxilar, imagem radiopaca no seio maxilar sobre o ápice do dente envolvido e variação de graus de radiopacidade na imagem do seio maxilar acometido pela inflamação, comparado ao seio maxilar do lado oposto.12

 

RELATOS DE CASOS CLÍNICOS

Caso 1

Paciente sexo masculino, 56 anos, apresentou-se ao Cirurgião- Dentista relatando dor à mastigação. Na anamnese, o paciente relatou quadros recorrentes de sinusite, sem causa aparente. Relatou também ter passado por tratamento endodôntico no dente 16 há cinco anos. O exame clínico revelou uma pequena área edemaciada na gengiva, na região da raiz mésio-vestibular do dente 16, além de dor ao teste de percussão. O exame radiográfico periapical revelou tratamento endodôntico satisfatório realizado nos dentes 15 e 16. Realizada a tomografia, observou-se no dente 16, imagem de outro canal mésio-vestibular não tratado, rarefação óssea periapical circunscrita na raiz mésio-vestibular, rompimento da cortical inferior do seio maxilar contígua à referida raiz e velamento parcial da imagem do seio maxilar. Ressalte-se que nenhum desses achados foi observado no exame radiográfico periapical (Figura 1).

 

 

 

Caso 2

Paciente sexo feminino, 40 anos, compareceu ao serviço odontológico encaminhado por outro colega devido a carie extensa no dente 17. Na anamnese não relatou qualquer sintoma relacionado à patologia endodôntica ou sinusal. No exame clínico foram constatados presença de cárie extensa na região mesial e resposta negativa aos testes de vitalidade pulpar. No exame radiográfico periapical observou-se imagem radiolúcida extensa na coroa e rarefação óssea periapical difusa aparentemente sobre a raiz palatina. O exame tomográfico revelou perda óssea e de lâmina dura contíguas à região periapical das três raízes e extenso rompimento e afastamento da cortical inferior do seio maxilar, além de imagem radiopaca compatível com inflamação da mucosa sinusal ao redor de toda área atingida (Figura 2).

 

 

 

Caso 3

Paciente sexo masculino, 41 anos, compareceu ao consultório relatando dor ao toque no dente 26. Na anamnese relatou que o dente havia sido tratado endodonticamente há mais de 10 anos. No exame clínico constatou-se dor à percussão. No exame radiográfico verificou-se tratamento endodôntico insatisfatório e presença de imagem radiolúcida na raiz mésio-vestibular. O exame tomográfico demonstrou pequena imagem radiolúcida difusão na região do ápice do canal palatino e extensa imagem radiolúcida circunscrita por cortical óssea envolvendo as raízes vestibulares, com espessamento das mucosas do seio maxilar na região contígua à lesão, além de um canal mésio-vestibular que não havia sido tratado (Figura 3).

 

 

 

DISCUSSÃO

O diagnóstico da síndrome endo-antral e o melhor entendimento da relação dos ápices com o seio maxilar passou por uma evolução com o advento e popularização da tomografia computadorizada. Diversos trabalhos na literatura estudaram por meio deste exame, a estreita relação entre estas estruturas e com isso relataram, em média, o maior envolvimento com o seio maxilar dos segundos molares e o menor, dos primeiros pré-molares.8,13,14

A tomografia revela melhor a relação dos ápices dentais com o seio maxilar do que a radiografia panorâmica9 e auxilia na investigação do envolvimento do seio maxilar em insucessos de tratamento endodôntico.15 Particularmente em relação à síndrome endo-antral, mostra-se mais efetiva do que a radiografia convencional na demonstração do envolvimento endodôntico efetivo nesses quadros10 e permite a melhor observação de imagens padrões características.16

 

CONCLUSÃO

De acordo com os casos apresentados podemos enfatizar a importância da tomografia computadorizada no diagnóstico da síndrome endo-antral, como complemento ao exame clínico e radiográfico, sendo muitas vezes, o principal meio de obtenção de imagens conclusivas sobre a real relação entra as patologias endodônticas e as manifestações sinusais oriundas desta.

 

APLICAÇÃO CLÍNICA

O trabalho permite mostrar ao Cirurgião-Dentista e médicos como a tomografia computadorizada pode ser um recurso valioso no diagnóstico diferencial da sinusite de origem odontológica, revelando lesões de origem endodôntica não observadas pela radiografia periapical.

 

REFERÊNCIAS

1. Bauer WH. Maxillary sinusitis of dental origin. Am J Orthod Oral Surg 1943;29(3):B133-B151.         [ Links ]

2. Killey HC, Kay LW. The maxillary sinus and its dental implications: Bristol: J. Wright; 1975.

3. Selden HS. The interrelationship between the maxillary sinus and endodontics. Oral Surg Oral Med Oral Pathol Oral Radiol Endod 1974;38(4):623-9.

4. Selden HS. The endo-antral syndrome. J Endod 1977;3(12):462-4.

5. Selden HS, August DS. Maxillary sinus involvement—an endodontic complication: Report of a case. Oral Surg Oral Med Oral Pathol Oral Radiol Endod 1970;30(1):117-22.

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9. Sharan A, Madjar D. Correlation between maxillary sinus floor topography and related root position of posterior teeth using panoramic and cross-sectional computed tomography imaging. Oral Surg Oral Med Oral Pathol Oral Radiol Endod 2006;102(3):375-81.

10. Shahbazian M, Jacobs R. Diagnostic value of 2D and 3D imaging in odontogenic maxillary sinusitis: a review of literature. J Oral Rehabil 2012;39(4):294-300.

11. Van Dis M, Miles DA. Disorders of the maxillary sinus. Dental Clin North Am 1994;38(1):155-66.

12. Selden H. The endo-antral syndrome: an endodontic complication. J Am Dent Assoc 1989;119(3):397-8, 401-2.

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14. Pagin O, Centurion BS, Rubira-Bullen IRF, Alvares Capelozza AL. Maxillary sinus and posterior teeth: accessing close relationship by cone-beam computed tomographic scanning in a Brazilian population. J Endod 2013;39(6):748-51.

15. Nair UP, Nair MK. Maxillary sinusitis of odontogenic origin: cone-beam volumetric computerized tomography-aided diagnosis. Oral Surg Oral Med Oral Pathol Oral Radiol Endod 2010;110(6):e53-e7.

16. Maillet M, Bowles WR, McClanahan SL, John MT, Ahmad M. Cone-beam computed tomography evaluation of maxillary sinusitis. J Endod 2011;37(6):753-7.

 

 

Endereço para correspondência:
Carlos Henrique Ferrari
Departamento de Dentística Restauradora
Instituto de Ciência e Tecnologia
Unesp
Av. Francisco José Longo, 777
São José dos Campos - SP
12247-004
Brasil

Recebido: jul/2016
Aceito: fev/2016