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Revista da Associacao Paulista de Cirurgioes Dentistas

Print version ISSN 0004-5276

Rev. Assoc. Paul. Cir. Dent. vol.70 n.3 Sao Paulo Jul./Sep. 2016

 

Artigo original

 

Remuneração de três planos odontológicos da cidade de Maceió-AL em comparação à tabela VRPO-CFO

 

Remuneration of three dental plans from the city of Maceio-Al in comparison to the table VRPO-CFO

 

 

João Moreira de Lima NetoI; Mario Henrique Soares RoblesII; Natanael Barbosa dos SantosIII; Marcílio Otávio Brandão PeixotoIV; Luiz Alexandre Moura PenteadoV

 

I Graduado do curso de Odontologia do Centro Universitário Cesmac - Cirurgião-Dentista
II Graduado do curso de Odontologia do Centro Universitário Cesmac - Cirurgião- Dentista
III Professor doutor do curso de Odontologia do Centro Universitário Cesmac
IV Professor do curso de Odontologia do Centro Universitário Cesmac
V rofessor do curso de Odontologia do Centro Universitário Cesmac



Endereço para correspondência

 

 


 

RESUMO

Objetivo: Investigar se o valor médio geral de remuneração ofertado por três planos odontológicos da cidade de Maceió-AL possuem defasagem, coerência ou ágio em relação ao estabelecido na tabela VRPO-CFO. Materiais e Métodos: foram utilizados três planos odontológicos da cidade de Maceió-AL, acreditando ser esses os de maior procura por parte dos profissionais, para uma comparação entre suas categorias de serviço e as da tabela VRPO, sendo calculado o valor percentual de acréscimo ou defasagem. Resultados: Nota-se que em todas as categorias de serviço, o plano que melhor remunerou foi o plano A, tendo as categorias prevenção, Endodontia, Radiologia e Dentística o menor percentual de defasagem, sendo eles 22%, 26%, 30% e 40%, respectivamente, as demais categorias apresentaram índice acima de 50%. O plano odontológico que pior remunerou, de acordo com a presente pesquisa, foi o plano C, com média de defasagem geral de 65%, possuindo a categoria Diagnóstico como o serviço com maior defasagem (83%). Conclusão: Conclui-se que a remuneração dos procedimentos odontológicos, que envolvem todas as especialidades, oferecida por planos odontológicos de Maceió-AL aos Cirurgiões-Dentistas, estão abaixo dos valores determinados na tabela do VRPO-CFO.

Descritores: tabela de remuneração de serviços; remuneração; valores de referência.


 

ABSTRACT

Objective: To investigate whether the overall average amount of remuneration offered by three dental plans from the city of Maceió-AL have a discrepancy, consistency or goodwill in relation to the established VRPO-CFO table. Materials and Methods: three dental plans from the city of Maceió- AL were used, believing that these are the most demanded by professionals, for a comparison between their service categories and VRPO table, therefore calculating their increasement percentage value or lag. Results: We notice that in all service categories, the plan that best remunerated was plan A, having the categories Prevention, Endodontics, Radiology and Dentistry the lowest percentage of lag, namely 22%, 26%, 30% and 40% respectively, the other categories had an index above 50%. The dental plan that pays worse, according to this research, was plan C, with an overall discrepancy average of 65%. Having the Diagnosis service category with the largest lag (83%). Conclusion: We conclude that the remuneration for dental procedures, involving all specialties offered by dental plans in Maceió (AL) to dentists, are lower than the ones determined on the VRPO-CFO table.

Descriptors: Fee Schedules; Remuneration; Reference Values.


 

 

RELEVÂNCIA CLÍNICA

Discutir a relação de trabalho, principalmente no que concerne à remuneração profissional de planos odontológicos. Reflete sobre a necessidade de engajamento da categoria no sentido de evitar aviltamento de valores de honorários diante do delicado equilíbrio da inter-relação profissional e paciente promovida pelas armadilhas mercantilistas impostas pelo o atual panorama do mercado de trabalho em Odontologia.

 

INTRODUÇÃO

Neste novo século, a Odontologia brasileira encontra-se saturada de profissionais. Apesar deste fato, o Brasil é um país que enfrenta ainda grandes problemas com relação à saúde bucal. Sabe-se que há pouco tempo a maioria da população não tinha acesso aos consultórios particulares, por questões socioeconômicas, restando-lhe como única opção o atendimento prestado pelo serviço público.1

Segundo Morita, Haddad e Araújo2, o Brasil é um país com uma das maiores concentrações de profissionais de Odontologia do mundo, em números absolutos são 219.575 profissionais cadastrados. Segundo dados de 2015, do Conselho Federal de Odontologia3, o Brasil possui 271.696 Cirurgiões-Dentistas cadastrados. Apesar dessa grande oferta de profissionais no mercado de trabalho, significativa parcela da população ainda continua desassistida, devido tanto pela falta de um eficiente, integral e digno atendimento no setor público, apenas voltado em determinados locais para resolução emergencial de problemas bucais (principalmente a dor de dente)4; quanto pelo aspecto cultural de parte da população que ainda percebe o serviço de atendimento odontológico particular como sendo acessível a poucos pela suposição de um o alto custo.4

Em função desta situação surgiram formas diversas de contratos, convênios e credenciamentos. Justificava-se este evento pela tentativa de se buscar uma ampliação do mercado de trabalho. O Cirurgião-Dentista passou, então, a aceitar e formalizar, nas suas clínicas, contratos de prestação de serviço com empresas e instituições para atender funcionários, empregados, beneficiários e seus familiares. Esse acordo recebeu o nome de credenciamento ou convênio.5

Os convênios cresceram rapidamente no mercado se apresentando como oportunidade de trabalho para os profissionais da área, assim como mais uma alternativa aos consumidores. Eles comercializam assistência à saúde bucal atuando num mercado de serviços onde há muitos Cirurgiões-Dentistas sem possibilidade de desenvolver uma prática profissional satisfatória e também um grande número de indivíduos sem acesso ao atendimento odontológico.6

Segundo Belardinelli7, o convênio pode ser conceituado como o estabelecimento de um agente regulador das relações entre prestador e tomador de serviços de saúde. Na Odontologia, corresponde a um elemento que introduziu relação direta entre Cirurgião-Dentista e paciente.7

Os convênios oferecem a seus empregados um aumento indireto de seus salários. E da mesma forma, ele deveria remunerar quem presta os serviços. Entretanto, não é isso que acontece. Os convênios são contratos "prontos" oferecidos aos Cirurgiões-Dentistas, não sendo, oriundo do entendimento entre partes. São de fato verdadeiros contratos de trabalhos e defendem invariavelmente os interesses das empresas e não dos profissionais.7,8

É provável que para muitos Cirurgiões-Dentistas a cobrança de honorários ocorra principalmente com base no que é observado como preço fixado na concorrência9, talvez por desconhecer a diversidade de critérios que devem ser elencados para a correta fixação dos honorários em Odontologia, quais sejam, éticos, legais e administrativos (custos fixos e variáveis, tempo de execução e diferenciação/qualificação profissional).10

Diante do exposto, o presente trabalho teve como objetivo comparar as remunerações médias efetuadas por três planos da cidade de Maceió-AL em relação a existente na tabela de Valores de Referência para Procedimentos Odontológicos (VRPO) estabelecido pelo Conselho Federal de Odontologia (CFO).

 

MATERIAL E MÉTODO

Para cumprir o objetivo da presente pesquisa foi utilizada inicialmente a tabela VRPO. Esta tabela é fruto de discussão desde a década de 80, quando a Comissão Nacional de Convênios e Credenciamentos (CNCC) - composta pelas entidades representativas: CFO, Associação Brasileira de Cirurgiões-Dentistas (ABCD), Associação Brasileira de Odontologia (ABO), Federação Interestadual dos Odontologistas (FIO) e Federação Nacional dos Odontologistas (FNO) - buscou definir valores referenciais para procedimentos odontológicos que protejam os Cirurgiões-Dentistas do aviltamento profissional na relação com as operadoras de planos de saúde e sejam, ao mesmo tempo, compatíveis com o mercado. Para sua composição, a tabela VRPO considera os custos fixos e variáveis de cada procedimento.11

Como método, a tabela VRPO foi dividida/analisada por categorias de serviços, conforme se distribuem originalmente na mesma, a saber: Diagnóstico, Prevenção, Odontopediatria, Dentística, Endodontia, Periodontia, Prótese, Cirurgia, Ortodontia e Radiologia. Estas categorias foram tabuladas no programa Microsoft® Excel 2007 (for Mac) por meio da seguinte metodologia:

1) Abriu-se um arquivo do Excel e nele foram criadas dez abas nomeadas respectivamente de acordo com cada categoria de serviço da VRPO.

2) Dentro de cada aba (categoria de serviço) foi digitado na primeira coluna o nome dos procedimentos da tabela VRPO e na segunda coluna o respectivo valor, em real (R$), atribuído ao mesmo.

3) Por fim, reservou-se a terceira, quarta e quinta colunas para digitação dos valores (R$) de comparação dos planos odontológicos, que foram nomeados por meio das letras A, B e C buscando preservá-los; mesmo sabendo e se destacando que estas tabelas são disponibilizadas/ fornecidas livremente para todo e qualquer Cirurgião-Dentista que tenha interesse em aderir aos planos.

Os valores de remuneração (R$) dos planos odontológicos, digitados, vieram de três tabelas de honorários profissionais odontológicos da cidade de Maceió-AL, obtidas entre os meses de janeiro e fevereiro de 2014. A seleção dos planos seguiu o critério de que presumidamente estes fossem os que à época possuíssem maior procura e interesse de adesão profissional.

Concluída a digitação dos valores dos planos, verificou-se visualmente a existência de qualquer célula em branco nas colunas A, B e/ ou C, por aba de categoria de serviço. A ocorrência da célula em branco, gerada pela não prestação do serviço pelo plano, provocou a exclusão da linha por inteiro.

Após esta fase, foram calculados os valores médios pagos (R$) por categoria de serviço da VRPO e dos planos, separadamente.

Por fim, os valores médios (R$) dos planos foram comparados aos da VRPO e determinou-se a média percentual (%) de acréscimo ou defasagem.

 

RESULTADOS

Do total de dez categorias de serviço que foram objeto de estudo, quatro foram excluídas pelos motivos em sequência explicitados. Duas (Odontopediatria e Prótese) pelo fato do plano (B) não abonar tais categorias de serviço. A terceira categoria (Ortodontia) foi excluída pelo motivo do plano (B) ofertar pacotes que não incluíam valores por procedimento e sim o tratamento ortodôntico como um todo. Soma-se a Ortodontia o motivo dos outros dois planos terem dados parciais de procedimentos.

A quarta e última categoria de serviço excluída foi a de Periodontia, pois também não pode ser avaliada porque apenas um procedimento poderia ser comparado com a tabela dos três planos odontológicos, sendo inviável a comparação da média de procedimentos.

Diante destes fatos, seis categorias foram incluídas na análise final da pesquisa, sendo elas: Diagnóstico, Prevenção, Dentística, Endodontia, Cirurgia e Radiologia.

Na Tabela 1 observam-se os valores médios brutos (R$) e médias percentuais de defasagem (%) dos planos odontológicos em relação à VRPO, por categoria de serviço. Nota-se que em todas as categorias de serviço analisadas, o plano que melhor remunerou foi o plano A com uma média de defasagem de 42%. Neste plano as categorias Prevenção, Endodontia, Radiologia e Dentística, em ordem crescente, apresentaram os menores percentuais de defasagem, sendo eles 22%, 26%, 30% e 40%, respectivamente, as demais categorias apresentaram índice acima de 50%.

Por outro lado, o plano odontológico que pior remunerou, de acordo com a presente pesquisa, foi o plano C, com média de defasagem geral de 65%. Tendo diagnóstico como a categoria de serviço com maior defasagem (83%).

 

DISCUSSÃO

Frente aos dados existentes sobre o assunto abordado, entende-se que é de suma importância, principalmente para os profissionais da área odontológica, debater os resultados encontrados e analisados neste presente artigo. É esperada uma discussão, com os dados concretos aqui observados, sobre a atual situação de trabalho existente entre Cirurgiões-Dentistas versus planos odontológicos, sobre o ponto de vista remuneratório, na cidade de Maceió-AL. Porém, uma comparação direta e ampla dos dados encontrados é difícil devido à escassa literatura científica que aborde e discuta sobre valores de remuneração praticados pelos planos odontológicos de Maceió-AL.

Contudo, existem alguns estudos9,12 que se propuseram a avaliar elementos da relação profissional versus planos em outras cidades brasileiras. Apesar do caráter abordado nessas análises possuir uma metodologia diferente em relação a esta pesquisa, é possível praticar uma comparação entre os assuntos abordados em ambas as pesquisas.

No que se refere ao nível de satisfação entre profissionais e planos de saúde, destaca-se o estudo13 realizado na cidade de São Paulo no ano de 2013, o qual mostrou que médicos, Cirurgiões-Dentistas e fisioterapeutas possuem uma relação e visão negativa quando se trata de saúde suplementar. A análise mostrou que 80% dos profissionais tiveram necessidade de aumentar a sua carga horária de trabalho para que fosse suprida a defasagem dos honorários que são pagos pelos planos. Além disso, 70% dos Cirurgiões-Dentistas classificaram como ruim/péssima a atuação das operadoras dos planos de saúde e 28% avaliaram como sendo regular, 2% marcou a opção boa e apenas 1% classificaram como ótima.13

Foi avaliado por D'Ávila et al.12 se os Cirurgiões-Dentistas da cidade de Campina Grande-PB estavam satisfeitos com a relação, dos mesmos, com os planos odontológicos no qual prestam serviços no que se referia ao profissionalismo e salário. Foi observado que 76,8% dos Cirurgiões-Dentistas classificaram como regular ou ruim, os valores pagos pelos convênios. Na análise, os autores também concluíram que parte dos Cirurgiões-Dentistas de Campina Grande-PB estavam insatisfeitos com os valores pagos pelos planos e com a forma como os mesmos os tratavam.12

Mesmo não tendo sido objetivo da presente pesquisa, avaliar a satisfação dos profissionais relacionados aos planos odontológicos pode-se, com os valores médios de defasagem encontrados, presumir-se que: se os Cirurgiões-Dentistas da cidade de Maceió-AL fossem questionados sobre sua satisfação em relação aos planos odontológicos, dessa mesma cidade, quanto aos valores ofertados, independente ou dependente da categoria de serviço (Diagnóstico, Prevenção, Endodontia, Cirurgia, Dentística, Periodontia e Radiologia), responderiam igual aos profissionais do estudo de D'Ávila et al.12. Justifica-se esse raciocínio pelo fato de que receber uma média geral de defasagem total de 57% relacionado à tabela VRPO é no mínimo decepcionante.

 

 

 

Santana e Silva14 realizaram estudo de pesquisa de mercado onde foram utilizados três planos odontológicos da cidade de Maceió-AL para analisar comparativamente os valores dos procedimentos de Dentística pagos pelos planos de acordo com os materiais restauradores, calculando-se o valor percentual de acréscimo ou defasagem em relação à VRPO. Foi observado na categoria de serviço de Dentística um valor de defasagem médio geral de 77%, enquanto na presente pesquisa, para a mesma categoria de serviço (Dentística), foi encontrado um valor de defasagem médio geral de 59%.

Acredita-se que a diferença de 18% entre o estudo de Santana e Silva12 e o presente estudo se deve, além de diferenças metodológicas, ao reajuste anual das tabelas de preços dos planos. Santana e Silva14, apesar de não citarem em sua pesquisa, deixam subentendido que usaram a tabela anual de 2012, pois fizeram sua investigação prática neste período; diferente da presente pesquisa, que usou a tabela anual de 2013. Outrossim, esta queda de 18% pode estar interligada com a falta de reajuste da tabela VRPO de 2012 para 2103.

Por fim, concluíram14 que a remuneração dos procedimentos odontológicos, que envolve a especialidade de Dentística Restauradora, oferecida por planos odontológicos de Maceió-AL aos Cirurgiões-Dentistas está aquém dos valores determinados na tabela do VRPO-CFO.

Assim como o estudo citado14, a presente pesquisa encontrou valores pagos por três planos odontológicos de Maceió-AL, por categoria de serviço, abaixo do que é preconizado pela tabela VRPO. No presente estudo foi encontrada, por meio de uma média geral de todas as categorias de serviço, uma defasagem de 57% abaixo da VRPO. Observa-se que a diferença de valores mostrada em ambos os estudos são prejudiciais financeiramente para qualquer consultório odontológico.

Esse percentual observado converge também com o resultado encontrado por Saliba et al.15 que investigaram honorários praticados por cinco operadoras de planos odontológicos de abrangência Nacional (Brasil) em relação aos definidos pelo Conselho Federal de Odontologia e observaram que considerando todos os procedimentos em conjunto, as empresas operadoras de planos odontológicos aplicaram um desconto médio de 54,51% sobre os preços sugeridos na tabela CFO.

Estes dados e informações evidenciam um importante problema administrativo para o consultório; uma vez que de acordo com conceitos administrativos16 cobrar mais que seu custo hora é benéfico financeiramente para seu consultório.16

Assim, é possível considerar e se refletir que essa complicada relação financeira pode ser uma das causas do fechamento de consultórios odontológicos ao longo do tempo, e que o profissional deve continuar na luta por melhorias, principalmente remuneratórias, junto aos planos, pois isso é de destacada importância para que o Cirurgião-Dentista possa manter seu consultório em funcionamento, podendo viver com dignidade a partir do seu trabalho.

O que explica a grande quantidade de profissionais associados a planos odontológicos é que eles os observam como uma forma de aumentar o fluxo do consultório e, teoricamente, sua renda profissional, mesmo com o descontentamento com os valores pagos pelos mesmos.10,12 Se comparado aos profissionais autônomos em geral, sua renda ao final do mês, mesmo com maior carga de trabalho, pode ser semelhante, por isso se faz necessário uma pesquisa de mercado e uma reflexão antes de decidir se credenciar a um plano odontológico ou só trabalhar com pacientes particulares.

A presente pesquisa destaca possíveis consequências geradas por um aumento significativo nos valores pagos pelos pacientes credenciados aos planos odontológicos. Acredita-se que uma delas seria um possível aumento na procura de serviços odontológicos no setor público, principalmente pelos pacientes de baixa renda e, consequentemente, a diminuição de pacientes no setor privado, entenda-se aqui planos.

Em contrapartida, essas consequências também proporcionariam melhorias para os pacientes e para os Cirurgiões-Dentistas, pois com os valores de remunerações mais próximos aos sugeridos pela tabela VRPO é provável que os pacientes tenham um atendimento mais humanizado, e os Cirurgiões-Dentistas menor fadiga física e psicológica.

Os fatos, até este ponto discutidos, nos faz recordar e ao mesmo tempo refletir o argumentado por D'avila et al.12, de que na grande maioria dos países desenvolvidos o sistema de saúde é dividido em setores públicos e privados, entretanto, em alguns lugares, a exemplo do Brasil, o sistema público de saúde é precário, fazendo com que a população busque o setor privado.4,12

Está claro para todo Cirurgião-Dentista que busca seu ganho profissional com a prática da clínica odontológica, que a cada ano que passa, a clientela particular está diminuindo e o número de pessoas que procuram atendimento por planos odontológicos está aumentando exponencialmente. 8 A população brasileira possui a cultura de que o tratamento odontológico particular tem um custo elevado4, também sendo esse um dos motivos pelo decrescente número de pacientes particulares e um aumento no credenciamento de planos por parte da população.9

É necessário salientar que a classe odontológica não é contra os planos odontológicos, mas julga serem necessárias melhorias no atendimento, tanto para os usuários, quanto para os profissionais da área, fazendo com que o resultado final seja aceitável para ambas as partes.11,12

Um dos motivos da busca de melhorias, por parte do Cirurgião-Dentista, é a proteção contra o aviltamento profissional, e para que isso não ocorra o Conselho Federal de Odontologia publica uma tabela com os valores de referências para procedimentos odontológicos (VRPO), que tem como objetivo orientar o Cirurgião-Dentista quanto à cobrança mínima de cada procedimento.10,11

De acordo com o código de ética odontológica17, o aviltamento profissional é uma infração ética17,18 previsto do Art. 21 do mesmo código no qual se lê:

"O cirurgião-dentista deve evitar o aviltamento ou submeter-se a tal situação, inclusive por parte de convênios e credenciamentos, de valores dos serviços profissionais fixados de forma irrisória ou inferior aos valores referenciais para procedimentos odontológicos."

No Brasil, há o Dia Nacional de Alerta aos Planos de Saúde, que nada mais é do que uma manifestação contra os preços abusivos ofertados pelos mesmos, onde cada estado decide como será a mobilização.13 Este tipo de mobilização tem como objetivo a busca por melhorias, tanto para os profissionais, quanto para os pacientes. Os profissionais seriam beneficiados com o pagamento de honorários dignos, o que ocasionaria uma diminuição na sua jornada de trabalho, melhorando a qualidade de vida dos mesmos. Com isso, os pacientes seriam favorecidos com uma melhoria no atendimento, pois, com a jornada de trabalho reduzida, os profissionais estariam, além de bem dispostos física e mentalmente para atendê-los, mais estimulados financeiramente para exercer sua atividade.

Aproxima-se, neste ponto do texto, do fechamento da discussão do tema destacando-se o exposto por Maruo et al.11 que citam que o Conselho Federal de Odontologia, junto com os Conselhos Regionais de Odontologia (CRO) tem o compromisso de criar comissões regionais especializadas, com o objetivo avaliar os preços dos honorários ofertados por planos odontológicos, afim de diminuir a diferença entre os valores preconizados pela tabela VRPO e os pagos pelos planos odontológicos. Esse fato é relevante, pois pode dar a impressão simplista de uma melhoria direta e prática da saúde financeira profissional.

Os Cirurgiões-Dentistas, leitores deste estudo, devem estar antenados e serem capazes de compreender que uma aplicação de preços com base exclusiva nas tabelas de valores de referência para procedimentos odontológicos (VRPO) não é uma garantia de saúde administrativa para seu negócio, pois como apresentado durante o texto a composição de preço é um ato técnico e que deve sempre ser associado a parâmetros norteadores10,17,18, que são: a condição socioeconômica do paciente e da comunidade; o conceito do profissional; o costume do lugar; a complexidade do caso; o tempo utilizado no atendimento; o caráter de permanência, temporariedade ou eventualidade do trabalho; a circunstância em que tenha sido prestado o tratamento; a cooperação do paciente durante o tratamento; e o custo operacional.10,17,18

Isto posto, os autores deste estudo compreendem não se tratar a discussão deste tema de uma "briga", "bandeira" ou "luta" sem fundamentação, pois a discussão de honorários infere diretamente na qualidade de vida do Cirurgião-Dentista e atende ao pensamento posto por Garbin et al.9:

"É um direito do cidadão brasileiro, quando em condições de produzir para o sustento de várias vidas e várias necessidades, adquirir por meio de seu ofício o que lhe é devido. Ofício trabalhado, conquistado sempre com o respaldo de atitudes éticas, honestas e transparentes".

 

CONCLUSÃO

Conclui-se que a remuneração dos procedimentos odontológicos, que envolvem todas as especialidades oferecida por planos odontológicos de Maceió-AL aos Cirurgiões-Dentistas está abaixo dos valores determinados na tabela do VRPO-CFO.

Os Cirurgiões-Dentistas devem usar dados administrativos de base técnica para calcular seus honorários, estando atentos ao fato de que existem situações onde até mesmo o preço mínimo previsto pela VRPO pode ser insalubre para sua estabilidade financeira e sustentabilidade do seu negócio, entenda-se consultório ou clínica, e que, portanto, o uso da tabela VRPO tem possibilidades e limitações.

 

APLICAÇÃO CLÍNICA

Os profissionais da Odontologia, principalmente o Cirurgião-Dentista, precisam, em conjunto com as entidades de classe profissional, entender, refletir e estimular melhorias nas relações de trabalho praticadas no setor. Este trabalho visa contribuir para essas ações.

Estabelecer metas remuneratórias e conseguir atingi-las parece ser a melhor forma de alcançar atendimento diferenciado, com maior probabilidade de êxito clínico, satisfação profissional e melhor qualidade de vida ao Cirurgião-Dentista. A tabela VRPO-CFO propõe, sem a perspectiva da massificação e ajustes corporativos de valores, oferecer um mínimo de valoração plausível de dignidade remuneratória aos procedimentos clínicos do Cirurgião-Dentista. Esse trabalho visa sua divulgação e uso, principalmente por parte dos profissionais vinculados a planos odontológicos, no sentido de melhorar o alcance das metas acima elencadas.

 

REFERÊNCIAS

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14. Santana, Paula Braga de Queiroz Veiga e Silva, Victor Lukas da. Valores de Remuneração Profissional de Três Planos Odontológicos da Cidade de Maceió-AL em Relação à Tabela do CFO [Monografia / Trabalho de Conclusão de Curso – Graduação]. Maceió: Curso de Odontologia, Centro Universitário Cesmac; 2013.

15. Saliba O, Góes BC, Garbin CAS, Santos RR, Garbin AJI. Honorários praticados por operadoras de planos odontológicos e pelo SUS em relação aos definidos pelo Conselho Federal de Odontologia. Arq Odontol 2011; 47(4):215-218.

16. Oliveira RN, Júnior OBO. Honorários profissionais: sua importância no contexto do consultório odontológico. Odontologia e Sociedade. 1999; 1(½):51-54.

17. Conselho Federal de Odontologia – CFO. "Código de ética profissional". Página consultada em 07 de março de 2015. http://cfo.org.br/wp-content/uploads/2009/09/codigo_etica.pdf

18. Santos RB, Ciuffi F. Dos Honorários Profissionais. In: Santos RB, Ciuffi F. Aspectos Éticos e Legais da Prática Odontológica: Código de Ética Odontológica Comentado. 1ª.ed. São Paulo: Santos, 2009: 67-75.

 

 

Endereço para correspondência:
Luiz Alexandre M. Penteado - Centro Universitário Cesmac
Rua Cônego Machado, 918
Farol - Maceió - AL
57051-160
Brasil

e-mail:
penteado.odonto@gmail.com


Recebido: set/2015
Aceito: mar/2016