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Revista Brasileira de Odontologia

versão On-line ISSN 1984-3747versão impressa ISSN 0034-7272

Rev. Bras. Odontol. vol.69 no.2 Rio de Janeiro Jul./Dez. 2012

 

ARTIGO ORIGINAL / ORIGINAL ARTICLE

 

Resistência em flexão de instrumentos endodônticos obtidos de fios metálicos de NiTi convencional e M-wire. Estudo comparativo

 

Bending resistance of conventional NiTi and M-wire endodontic instruments. A comparative study

 

 

Hélio Pereira LopesI; Carlos Nelson EliasII;Márcia Valéria Boussada VieiraIII;Marcelo MangelliIV;Letícia Chaves de SouzaV;Victor Talarico L. VieiraV

I Professor do Programa de Pós-Graduação em Endodontia da Unesa
II Professor do Curso de Mestrado e Doutorado do Instituto Militar de Engenharia (IME/RJ)
III Doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Endodontia da Unesa
IV Professor de Endodontia da UGF
IVDoutorandos do Curso de Ciência dos Materiais do IME/RJ

Endereço para correspondência

 

 


RESUMO

Esse estudo avaliou e comparou a resistência em flexão de instrumentos endodônticos mecanizados obtidos de fios metálicos de níquel-titânio (NiTi) convencional e M-wire. Para avaliar a resistência em flexão empregou-se o ensaio mecânico de flexão em cantilever. A flexibilidade em flexão de um instrumento endodôntico depende da composição química e do tratamento termomecânico da liga metálica, assim como, da geometria da seção reta transversal da haste cônica helicoidal do instrumento endodôntico. Os resultados obtidos revelaram que os instrumentos Profile Vortex, fabricados a partir de fios metálicos de NiTi denominados M-wire, apresentaram a maior resistência em flexão (menor flexibilidade). Os instrumentos RaCe, produzidos a partir de fios metálicos de NiTi convencional, apresentaram a menor resistência em flexão (maior flexibilidade).

Palavras-chave: flexibilidade; resistência em flexão; rigidez.


ABSTRACT

This study evaluated and compared the bending resistance of rotary endodontic instruments made of conventional nickel-titanium (NiTi) and M-wire by means of cantilever bending test. The flexibility of an endodontic instrument depends on its chemical composition and the thermo mechanical treatment of the alloy, as well as on its cross-sectional geometry on the helical shaft of the endodontic instrument. The results showed that the Profile Vortex instruments, made from NiTi wires called M-wire, had the greatest bending resistance (lowest flexibility), while RaCe instruments, produced from conventional NiTi wires showed the lowest bending resistance (greatest flexibility) among the instruments tested.

Keywords: flexibility; bending resistance; stiffness


 

 

Introdução

Flexibilidade em flexão é o encurvamento elástico apresentado por um instrumento endodôntico quando submetido a um carregamento na extremidade (ponta) e na direção perpendicular a seu eixo 3,16. Para avaliar a resistência em flexão (flexibilidade) de instrumentos endodônticos empregou-se o ensaio mecânico de flexão em cantilever. A flexibilidade em flexão de um instrumento endodôntico é proporcional à força aplicada e ao comprimento da sua haste helicoidal cônica. Quanto maiores a força e o comprimento da haste helicoidal cônica, maior será a flexibilidade em flexão do instrumento endodôntico. A flexibilidade em flexão em cantilever é inversamente proporcional ao módulo de elasticidade e ao momento de inércia do instrumento endodôntico. O módulo de elasticidade em tração é o quociente entre a tensão aplicada a um corpo e a deformação elástica que ela provoca. Quanto menor o módulo de elasticidade da liga metálica, maior a flexibilidade em flexão do instrumento endodôntico. O conceito de momento de inércia é puramente matemático e fisicamente representa a resistência ao movimento que um corpo apresenta. Depende da dimensão, da forma e da área da seção reta transversal do instrumento endodôntico 3,6,19. Assim, instrumentos endodônticos de mesmo diâmetro nominal, de mesma conicidade, de mesma liga metálica, porém de desenhos diferentes, podem apresentar flexibilidades diferentes 18.

A flexibilidade em flexão de um instrumento endodôntico é uma propriedade mecânica importante porque durante o uso clínico pode influenciar na forma final da instrumentação de um canal radicular curvo e na sua resistência a fratura por fadiga em flexão rotativa. Vários trabalhos demonstraram que instrumentos mais flexíveis mantêm a instrumentação de canais curvos mais centrados e apresentam maior resistência a fratura por flexão rotativa 1,4,8,12,13,18.

O objetivo desse trabalho foi quantificar e comparar a flexibilidade em flexão em cantilever de instrumentos endodônticos de NiTi mecanizados obtidos por fios metálicos convencional e M-wire.

 

Material e Método

Foram utilizados instrumentos endodônticos de NiTi mecanizados Profile Vortex (Dentsply Tulsa Dental, OK, EUA) de número 25, conicidade 0,06 mm/mm e comprimento de 25 mm; WaveOne (Dentsply Maillefer, Ballaigues, Suíça) de número 21, conicidade 0,06 mm/mm e de comprimento de 25 mm e Reciproc (VDW, Munich, Alemanha) de número 25, conicidade 0,08 mm/mm nos três primeiros milímetros apicais e de 25 mm de comprimento. Estes três instrumentos são produzidos por usinagem de um fio metálico de NiTi denominado de M-wire que é obtido por um processo termomecânico especial. Esta nova liga apresenta maior flexibilidade do que a liga de NiTi convencional 5. Instrumentos endodônticos Revo-S SU (Micro-Mega, Besançon, França) de número 25, conicidade de 0,06 mm/mm e de 25 mm de comprimento; Mtwo (VDW, Munich, Alemanha) de número 25, conicidade de 0,06 mm/mm e de 25 mm de comprimento e RaCe (FKG Dentaire, La Chaux-de-Fonds, Suíça) de número 25, conicidade de 0,06 mm/mm e de 25 mm de comprimento foram testados. Estes três instrumentos são produzidos por usinagem de um fio metálico de NiTi convencional.

Geometria dos Instrumentos

Para a padronização dos instrumentos endodônticos testados, cinco instrumentos de cada marca foram avaliados por meio de um microscópio ótico (Pantec, Panambra, SP, Brasil) para determinar seus diâmetros em D3 e D13, o comprimento da parte de trabalho e o número de hélices na parte de trabalho. A conicidade da parte de trabalho foi calculada a partir dos diâmetros D13 e D3, como descrito por STENMAN & SPANGBERG 17 usando a seguinte equação:

Conicidade (C) = D13 – D3 / 10 O diâmetro em D0 foi calculado baseado nos valores de D3 e da conicidade, usando a seguinte equação: D0 = D3 – c x 3 O número de hélices por milímetros foi obtido dividindo o número de hélices pelo comprimento da parte de trabalho.

 

Resultados

Foram obtidos 74 questionários, que permitiram o levantamento das informações seguintes:

No item tempo de formado 15 (20%) responderam que tem menos de 5 anos de formado, 15 (20%) entre 5 a 9 anos, 18 (25%) entre 10 a 15 anos, 9 (12%) entre 15 a 20 anos e 17 (23%) com mais de 20 anos de formado, conforme percentual do gráfico 1.

Sessenta e cinco dentistas (88%) relataram atender mais de um plano odontológico, enquanto 9 (12%) atende apenas um plano odontológico, como descrito na (Tabela I).

Quanto ao que mais agrada/interessa na relação prestação de serviço/operadora as respostas foram: 6 (8%) relação pessoal positiva, 5 (6%) reajuste financeiro digno, 4 (5%) pouca burocracia e 63 (81%) aumento do volume de pacientes, mostrado no percentual do (gráfico 2).

Quando indagados quanto aos pontos negativos, 30 (12%) respostas relação pessoal intransigente, 61 (25%) respostas falta de reajuste financeiro, 66 (27%) pagamento não compatível com o mercado, 45 (18%) muita burocracia para autorização de procedimentos e repasse financeiro, 21 (9%) mudança frequente para autorização de procedimentos e 21 (9%) respostas do seu paciente das auditorias, solicitando que sejam reavaliados os procedimentos sugeridos anteriormente e substituídos por outros, conforme o percentual do (gráfico 3).

Sete dentistas (9%) responderam que devido a erro gráfico das operadoras de plano de saúde o seu nome não saiu na lista de credenciados enquanto setenta e seta (91%) responderam que o erro não ocorreu. As duas perguntas seguintes foram direcionadas aos dentistas que responderam sim a pergunta anterior não sendo relevantes já que somente sete responderam que obtiveram problema na lista de credenciados.

Quanto ao fato de terem conhecimentos de colegas da mesma especialidade, mesmo bairro, mesma cidade, na mesma faculdade cursada mesmo curso de especialização e etc. recebiam valores maiores nos mesmos procedimentos realizados por eles, 23 (32%) responderem que sim, enquanto 50 (68%) responderam que não. Sessenta e cinco dentistas (89%) responderam que não foram orientados sobre, os critérios utilizados pela empresa para preencher os requisitos necessários a fim de receber valores maiores nos procedimentos como os colegas citados na pergunta anterior, enquanto 8 (11%) responderam que foram orientados quanto a isso.

Ao serem questionados se durante todo o seu período de credenciamento foi frequente o convite para participarem de palestras ou de recebimento de periódicos no sentido de mantê-los atualizados 46 (63%) responderam que não e 27 (37%) responderam que sim, conforme (gráfico 4).

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Discussão

Os cirurgiões-dentistas entrevistados na sua maioria (59,45%) têm mais de 10 anos de formados, demonstrando que a maioria já possui experiência no mercado de trabalho. Dado semelhante foi encontrado por GARCIA & COBRA, onde 53,2% dos entrevistados tinham mais de 10 anos de formados 4.

É superior o número de dentistas que atendem a mais de um plano odontológico, ocupando grande parte de sua agenda com o atendimento paciente conveniados, sugerindo que boa parte da renda desses consultórios advém de convênios e que os cirurgiões-dentistas procuram aumentar o volume de paciente e, consequentemente, os lucros nos seus consultórios. De acordo com FERREIRA 15, muitos profissionais acham que a associação a sistemas de Odontologia de grupo vai aumentar também sua clientela particular.

Quanto ao que mais agrada na relação com os convênios, (80,77%) ser o volume de pacientes, enquanto ao que mais desagrada são as questões de ordem financeira, representadas pela falta de reajuste financeiro e pagamento não compatível com a realidade de mercado, seguidas do excesso de burocracia e relação pessoal intransigente com essas empresas, representa que apesar de todos esses problemas os profissionais se sujeitam a esses planos, devido à grande concorrência no mercado de trabalho, pelo excesso de cirurgiões-dentistas que são formados anualmente, deixando os profissionais reféns desses planos odontológicos, para sobreviverem e manterem seus consultórios.

Em pesquisa realizada por GARCIA & COBRA, os motivos enumerados para o credenciamento na empresa de convênios foram obtenção de maior número de pacientes, preenchimento de horário vago motivo financeiro, procura por pacientes, exigência de pacientes e falta de clientes 4. SERRA & HENRIQUE 10 também constataram as mesmas motivações, ou seja, 63,88% dos CDs analisados responderam que aderiram à Odontologia de grupo por acharem que seria um bom sistema para aumentar a renda e a clientela 10.

A maioria dos entrevistados, no entanto, não reclamaram dos erros gráficos e por seus nomes não saírem no livro de conveniados, o que nos leva a crer que nesse município não é uma prática comum, entretanto 31,51% tinham conhecimento de colegas que com os mesmos títulos recebiam valores maiores que eles pelos mesmos procedimentos e que não foram orientados por tais empresas a preencher os requisitos necessários, a fim de receberem os mesmos valores. Então, entendemos que o relacionamento empresa e conveniados não é satisfatório, no que diz respeito à informação para favorecimento dos conveniados.

Finalmente, os cirurgiões-dentistas na sua maioria relataram não participarem de palestras ou recebimento de periódicos no sentido de mantê-los atualizados, deixando claro não ser essa uma preocupação das empresas de planos odontológicos.

 

Conclusão

A crise no modelo de trabalho liberal do profissional de Odontologia, devido à grande demanda de profissionais qualificados no mercado de trabalho, tem exigido que eles reavaliem sua forma de atendimento e sua filosofia de trabalho.

O crescimento dos modelos de atendimento através de convênios odontológico, já é uma realidade. Apesar da insatisfação dos credenciados, no que diz respeito à burocracia exigida pelos planos odontológicos, e da remuneração não compatível com o mercado de trabalho, os cirurgiões-dentistas têm se tornado "reféns" desse modelo de trabalho, no intuito de conseguirem manter seus consultórios funcionando.

As empresas de convênios odontológicos e os cirurgiões-dentistas necessitam melhorar seu relacionamento de trabalho. Tendo ciência de que sem o cirurgião-dentista as empresas de convênios odontológicos não conseguem dar atendimento aos seus conveniados, precisam valorizar esses profissionais gerando, assim, uma maior satisfação desses credenciados.

 

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Endereço para correspondência:
Helio Pereira Lopes
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