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Revista Brasileira de Odontologia

versão On-line ISSN 1984-3747versão impressa ISSN 0034-7272

Rev. Bras. Odontol. vol.69 no.2 Rio de Janeiro Jul./Dez. 2012

 

ARTIGO DE REVISÃO

 

Saúde bucal do idoso atendido na Policlínica Geral do Rio de Janeiro: uma análise radiográfica

 

Oral health status of elderly patients with consultations at the General Polyclinic of Rio de Janeiro: a radiographic analysis

 

 

Nedi Soledade Miranda RochaI; Andréia Miranda RochaII; Angela Maria Bertozzi de AquinoIII; Marcos Paulo Fonseca CorvinoIV; Maíra do PradoV; Sonia GroismanVI

I Especialista em Odontogeriatria pelo CFO / Especialista em Endodontia pela PUC-RJ
II Especialista em Radiologia e Imaginologia pela Unesa/ Especialista em Dentística Restauradora pela Unigranrio
III Especialista em Endodontia pela PUC-RJ / Professora do Curso de Odontogeriatria da Cepro / Staff do Hospital Estadual Carlos Chagas
IV Médico / Professor do Programa de Pós-Graduação de Odontologia da UFF
V Doutora em Clínica Odontológica, área de concentração Endodontia (FOP/Unicamp) / Professora do Curso de Especialização em Endodontia da UFRJ
VI Professora Adjunta do Departamento de Odontologia Social e Preventiva da FO/UFRJ / Doutora em Odontologia Preventiva pela FO/UFF / Coordenadora do Curso de Especialização em Saúde Coletiva da UFRJ

Endereço para correspondência

 

 


RESUMO

O objetivo do presente trabalho foi realizar um perfil epidemiológico da saúde bucal de idosos atendidos na Policlínica Geral do Rio de Janeiro. Foram avaliados quarenta e oito exames radiográficos, selecionados aleatoriamente do arquivo de prontuários odontológicos, de pacientes idosos atendidos na Policlínica Geral do Rio de Janeiro, por um único examinador, utilizando negatoscópio. Os dados foram armazenados e PS percentuais analisados. Os resultados evidenciaram 46% de edentulismo e em 56% dos casos dentes presentes. Dos dentes presentes, 37% eram acometidos por doença periodontal, 24% apresentavam prótese unitária, 20% continham obturações, 15% apresentavam tratamento endodôntico e 2% tinham restos radiculares. Os resultados do presente estudo são similares aos achados na literatura, fazendo-se necessário maior ênfase no tratamento odontológico dos idosos.

Palavras-chave: epidemiologia; Odontogeriatria; saúde bucal; Imaginologia.


ABSTRACT

The aim of this study was to establish an oral health status of elderly patients with consultations at the General Polyclinic of Rio de Janeiro. Forty-eight radiographs exams, randomly selected, were evaluated by a single examiner using lightbox. Data were stored and analyzed. The results showed 44% (Na versão em Português consta 46%) of edentulousness and 56% of patients with teeth. In the last case, 37% had periodontal disease; 24% had unitary prostodontic; 20% had restorations; 15% had endodontic treatment and 2% still had radicular roots. The results of this study were similar to the literature, which emphasizes the need for dental treatment in the elderly population.

Keywords: epidemiology; Odontogeriatrics; oral health; Imaginology.


 

 

Introdução

Graças a políticas de melhor saneamento básico, vacinação, larga utilização de medicamentos incluindo antibióticos e com medidas preventivas de saúde geral abrangendo maior cobertura na saúde pública, tem se observado um aumento significativo da expectativa de vida das pessoas, quer vivem em países desenvolvidos ou em desenvolvimento. Na Odontologia, por conta do sucesso das medidas preventivas estabelecidas nos países escandinavos em meados do século 20 e depois difundidos no Mundo, priorizando educação para saúde, higienização e utilização de fluoretos associado ao consumo inteligente de açúcares, ocorreu um declínio das duas doenças que mais acometem a cavidade bucal: as Doenças Cárie e Periodontal. Isso fez com que as pessoas chegassem à idades mais avançadas com mais saúde geral e maior número de elementos dentários presentes. Mesmo no Brasil, vive-se mais anos, com melhor saúde geral e bucal, chegando-se à terceira idade com mais dentes remanescentes, diminuindo o edentulismo e suas conseqüências psicológicas, nutricionais, sociais, empregatícias, mastigatórias e semiológicas 3,7,10,11.

Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística 5 nos últimos anos vem ocorrendo uma diminuição da taxa de fecundidade e natalidade associado a um aumento da população idosa com 70 anos ou mais . Em relação a essa populaçõa idosa, no que tange a saúde bucal, o Levantamento das Condições de Saúde Bucal da População Brasileira, realizado pelo Ministério da Saúde em 2003, concluiu que o brasileiro com mais de 60 anos de idade já extraiu, em média, 26 dentes, sendo que três em cada quatro idosos não possuem nenhum dente funcional 11.

A manutenção dos dentes naturais saudáveis e funcionais é fundamental para a mastigação, para a percepção do sabor dos alimentos, para a fala e para a estética, contribuindo para o bem estar e a qualidade de vida 4. As perdas dentárias e as próteses inadequadas diminuem a capacidade de mastigação, podendo provocar alterações nutricionais e comprometendo a saúde geral 14,15. O objetivo deste estudo foi realizar um perfil epidemiológico de saúde bucal, através da avaliação radiográfica dos prontuários, de pacientes idosos atendidos na Policlínica Geral do Rio de Janeiro.

 

Material e Método

O presente estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em pesquisa da Policlínica Geral do Rio de Janeiro. Dos prontuários odontológicos de pacientes idosos atendidos na Policlínica Geral do Rio de Janeiro foram selecionados, aleatoriamente, quarenta e oito exames radiográficos (periapical completo). Os exames radiográficos foram avaliados por um único examinador com o auxílio de um negatoscópio. Inicialmente foi avaliada a seguinte característica, presença e ausência de dentes. Quando os dentes estavam presentes avaliou- se a presença de doença periodontal; prótese unitária, dentes obturados, tratamento endodôntico, restos radiculares e dentes que necessitavam ser restaurados. Ainda, avaliou-se a presença e necessidade de trabalhos protéticos. Os dados foram armazenados e os percentuais avaliados.

 

Resultados

Dentre os quarenta e oito pacientes cujos exames radiográficos foram examinadas, encontrou-se uma maioria de elementos dentários presentes, 56% versus 44% de edentulismo, conforme ilustrado pelo gráfico 1.

 

 

 

Em relação aos dentes presentes, o presente estudo evidenciou que 37% desses elementos eram acometidos por doença periodontal. Em 24% dos casos observou-se a presença de prótese unitária. Vinte por cento dos dentes avaliados encontravam- se obturados. Quinze por cento apresentavam tratamento endodôntico. Restos radiculares foram observados em 2% dos casos e em outros 2% havia a necessidade de restaurações (gráfico 2).

 

 

 

Em relação à presença e/ou necessidade de prótese, no gráfico 3 é possível verificar que apenas 35% dos casos possuíam prótese, enquanto 65% apresentavam a necessidade da mesma e não a possuíam.

 

 

 

Discussão

O presente estudo avaliou por meio de exames radiográficos periapicais o perfil epidemiológico da saúde bucal de idosos atendidos na Policlínica Geral do Rio de Janeiro. Em relação à metodologia de análise de imagens radiográficas, os exames radiográficos querem sejam convencionais ou digitalizados, têm sido relatados na literatura como um relevante método auxiliar no diagnóstico de cáries e são especialmente importantes na detecção das cáries ocultas 1,21.

Observando os resultados do presente estudo, verifica-se um alto índice de pacientes edêntulos (44%). Em relação à literatura disponível, o levantamento de 2002-2003 11, mostra que 51,6% dos indivíduos de 35 a 44 anos não usavam qualquer tipo de prótese superior e 84,4% não a usavam para o arco inferior. A necessidade de prótese foi observada em 64,1% (arco superior) e 29,0% (arco inferior) dos indivíduos. Já para a faixa etária de 65 a 74 anos, observou-se um maior uso de prótese superior (66,5%), sendo que 33,4 e 57,4% dos indivíduos não usavam qualquer tipo de prótese superior e inferior, respectivamente. A maior necessidade de prótese observada foi para o arco superior (67,6%). Já os resultados do inquérito populacional de 2010 evidenciaram que, apesar das necessidades de próteses terem diminuído em adolescentes e adultos, o déficit em idosos mostrou-se significativo 6,12,16.

Ainda, SHEIHAM et al. 18 e SHIMAZAKI et al. 19 descreveram em seus estudos que ter 20 dentes remanescentes (em média) nos idosos é garantia de melhor saúde geral e maior sobrevida. Os estudos destes autores envolveram entrevistas, exames clínicos, análise de amostras sanguíneas e de qualidade nutricional de número significativo de idosos, inserindo a Odontologia no contexto da Gerontologia de forma inquestionável.

Os resultados do presente estudo evidenciaram a necessidade da utilização de próteses. Dos pacientes que necessitam de trabalhos protéticos apenas 35% os utilizam. De acordo com TEÓFILO & LELES 20, a limitação financeira é a principal razão para a não substituição dos dentes perdidos por próteses. Em seu estudo, os autores observaram que de 72,5% dos pacientes que expressaram a intenção de repor a perda dentária imediatamente, com a utilização de próteses, apenas 8,1% realizaram o tratamento.

Em relação à prevalência de edentulismo e ao uso de prótese, ROSA et al. 17 verificaram que dos indivíduos avaliados em seu estudo, 65% eram edêntulos e destes 76% usavam prótese total superior e inferior. O restante usava apenas prótese superior (13%) ou necessitava prótese total superior mais inferior (11%). Em relação aos examinados em instituições, 84% eram edêntulos, sendo que, somente 30% usavam prótese total superior e inferior e o restante apresentava o aparelho mastigatório-fonético deficiente. Em relação a outras necessidades protéticas, entre os examinados no domicílio, 18% necessitavam de próteses parciais superiores ou inferiores, enquanto nas instituições somente 7% apresentavam esse tipo de necessidade. Os autores concluíram que ¾ dos indivíduos perderam todos os dentes e apenas 76% no domicílio e 30% nas instituições, usavam próteses totais superior e inferior.

Os avanços científicos e tecnológicos permitiram tanto um aumento da expectativa de vida, quanto uma qualidade de vida maior, entretanto para melhorar a saúde geral e se proporcionar maior sobrevida, é necessário maior ênfase no tratamento odontológico dos idosos 2,8,9,13.

O cuidado com a saúde é fundamental para se alcançar longos e melhores anos de vida. A população com 60 anos ou mais necessita de profissionais com conhecimentos específicos para atendê-los com excelência e com os cuidados preventivos.

 

Conclusão

Os resultados do presente estudo são similares aos achados na literatura, fazendo-se necessário uma maior ênfase ao tratamento odontológico dos idosos.

 

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Endereço para correspondência:
Maíra do Prado
Rua Professor Rodolpho Paulo Rocco, 325 / 2º andar – Endodontia - Ilha da Cidade Universitária
Rio de Janeiro/RJ, Brasil – CEP: 21.941-913

e-mail:
mairapr@hotmail.com

 

Recebido em 29/03/2012
Aprovado em 30/04/2012