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RFO UPF

versão impressa ISSN 1413-4012

RFO UPF vol.16 no.3 Passo Fundo Set./Dez. 2011

 

 

Análise bibliométrica da produção científica da Revista da Faculdade de Odontologia da Universidade de Passo Fundo (RFO/UPF)

 

Bibliometric analysis of scientific production in the Revista da Faculdade de Odontologia da Universidade de Passo Fundo (RFO/UPF), Brazil

 

 

Juliane Bervian*; Cristina Montini Bruch**; Priscila Humbert Rodrigues***; Vanessa Ceolin Poletto****; Paulo Floriani Kramer*****

* Mestra em Odontopediatria pela Universidade Luterana do Brasil, Canoas, RS; professora Assistente do curso de Fonoaudiologia da Universidade de Passo Fundo, RS; aluna do curso de doutorado do Programa de Pós-Graduação da Universidade Luterana do Brasil, Canoas, RS.
** Especialista em Odontopediatria pela Universidade de Passo Fundo, RS; professora do curso de Odontologia da Universidade Regional Integrada, Campus de Erechim, RS; aluna do curso de mestrado do Programa de Pós-Graduação da Universidade Luterana do Brasil, Canoas, RS.
*** Cirurgiã-dentista graduada pela Universidade Luterana do Brasil, Canoas, RS; aluna do curso de mestrado do Programa de Pós-Graduação da Universidade Luterana do Brasil, Canoas, RS.
**** Mestra em Odontopediatria pela Universidade Luterana do Brasil, Canoas, RS.
***** Doutor em Odontopediatria pela Faculdade de Odontologia da USP, São Paulo, SP; professor da disciplina de Clínica Infantil e coordenador do Programa de Pós-Graduação em Odontopediatria do curso de Odontologia da Universidade Luterana do Brasil, Canoas, RS.

Endereço para correspondência

 

 


 

RESUMO

Objetivo: O objetivo do presente estudo transversal foi analisar o perfil das publicações da revista da Faculdade de Odontologia da Universidade de Passo Fundo (RFO/UPF). Métodos: Foram feitas cópias dos resumos de cada artigo publicado no período de 1996 a 2010, totalizando 463 resumos. A categorização dos dados quanto ao delineamento metodológico, à especialidade odontológica e à instituição de ensino superior de procedência dos autores foi feita por dois examinadores independentes e os resultados, apresentados por meio da frequência de variáveis. Resultados: Os resultados mostraram que as especialidades odontológicas com maior número de publicações foram a dentística (14,7%) e a odontopediatria (10,8%). Os delineamentos mais utilizados foram estudos laboratoriais in vitro (30,5%), seguidos de estudos transversais (22,9%), relatos de caso (19,4%) e revisões de literatura (19,2%). A instituição de ensino superior que mais publicou na revista foi a Unicamp (15,6%), seguida da UPF (12,1%) e PUCRS (11,9%). Conclusões: Conclui-se, que embora a RFO/UPF tenha superado os problemas decorrentes da endogenia, ainda são reduzidos os estudos com potencial de gerar evidências científicas e influenciar condutas clínicas.

Palavras-chave: Bibliometria. Pesquisa em odontologia. Brasil.


 

ABSTRACT

Objective: The objective of this cross-sectional study was to analyze the literature profile of articles published in the Revista da Faculdade de Odontologia da Universidade de Passo Fundo (RFO/UPF). Methods: Copies of the abstracts of all articles published between 1996 and 2010 were analyzed, totaling 463 abstracts. Data were classified according to study design, dental specialty, and Higher Education Institution of the authors by two independent examiners, and the results were expressed as frequency of variables. Results: Regarding dental specialty, dentistry (14.7%) and pediatric dentistry (10.8%) were associated with the largest number of papers. The most common study designs were in vitro laboratory studies (30.5%), cross-sectional studies (22.9%), case reports (19.4%), and literature reviews (19.2%). The leading publishing institution was UNICAMP (15.6%), followed by UPF (12.1%) and PUC/RS (11.9%). Conclusions: Although RFO/UPF has overcome the problems arising from endogeneity, there is lack of studies with potential to generate scientific evidence and to influence clinical procedures.

Keywords: Bibliometrics. Research in dentistry. Brazil.


 

 

Introdução

Odontologia baseada em evidência é o uso consciente, explícito e judicioso da melhor evidência corrente na tomada de decisão sobre o cuidado de pacientes individuais1. A prática baseada em evidência significa, dessa forma, integrar excelência clínica individual com a melhor evidência externa de pesquisas sistemáticas ou experimentais.

A bibliometria busca orientar e organizar as informações obtidas no contexto científico-acadêmico; surge como um auxílio estatístico que permite mapear e gerar diferentes indicadores de tratamento e gestão da informação e do conhecimento2. É também um instrumento quantitativo que permite minimizar a subjetividade inerente à indexação e recuperação das informações, produzindo conhecimento em determinada área de assunto3-6. Análises bibliométricas têm sido realizadas com o propósito de observar como têm sido conduzidas as pesquisas científicas, bem como identificar os temas de maior destaque e as inovações ocorridas ao longo do tempo7-9.

Ao se avaliar a literatura ibero-americana no contexto da produção mundial, verifica-se uma participação brasileira minoritária, principalmente tendo em vista seu alcance limitado pela questão da língua. Um levantamento da produção e citação das publicações científicas que primam pela qualidade centra-se na língua inglesa. As produções científicas necessitam ter um perfil adequado, apresentando autonomia técnico-científica baseada numa política editorial séria e, principalmente, no conhecido peer review, ou mesmo qualquer outra forma de avaliação e assessoria. No Brasil muitos periódicos não preenchem critérios de qualidade, como impacto, competitividade e internacionalidade10.

No Rio Grande do Sul são publicadas cinco revistas científicas de odontologia: a revista da Faculdade de Odontologia da PUC (Odonto Ciência), a revista da Faculdade de Odontologia da UFRGS (Revista da Faculdade de Odontologia de Porto Alegre), a revista da Faculdade de Odontologia da Ulbra (Stomatos), a revista Gaúcha de Odontologia (RGO) e a revista da Faculdade de Odontologia da UPF (RFO/UPF). A mais antiga é a RGO, publicada desde 1953. A seguir iniciou a publicação da revista da Faculdade de Odontologia de Porto Alegre, em 1956; a Odonto Ciência iniciou em 1986 e, mais recentemente, a Stomatos, em 1995, e a RFO/UPF, em 1996.

Todas as revistas passaram por um período inicial no qual estavam disponíveis apenas nas bibliotecas para consulta local; atualmente, possuem acesso gratuito e disponibilidade on-line. Em relação à periodicidade, a Revista da Faculdade de Odontologia de Porto Alegre e a RFO/UPF são quadrimestrais; a RGO e a Odonto Ciência são trimestrais e a Stomatos é semestral. As revistas estão indexadas em bases de dados como BBO, LILACS, EBSCO Publishing, LAPTOC (Latin American Periodicals Table of Contents) e sua qualificação para a Capes é Qualis B4.

A RFO/UPF, veículo oficial do Programa de Pós-graduação em Odontologia da Universidade de Passo Fundo e indexada nas bases de dados BBO (Bibliografia Brasileira de Odontologia), LILACS (Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde) e Rev@Odonto, destina-se à divulgação de artigos inéditos de investigação científica; resumos de teses, dissertações e monografias; relatos de casos clínicos e revisões sistemáticas, submetidos à avaliação do mérito científico por pares, membros do corpo editorial ou revisores ad hoc.

O objetivo do presente estudo foi analisar o perfil das publicações da revista da Faculdade de Odontologia da Universidade de Passo Fundo quanto ao delineamento metodológico, à especialidade odontológica e à instituição de ensino superior de procedência dos autores por meio de uma análise bibliométrica no período de 1996 a 2010.

 

Materiais e método

Foi realizado um estudo transversal por meio da observação direta do resumo dos artigos publicados na revista da Faculdade de Odontologia da Universidade de Passo Fundo no período de 1996 a 2010. Até o ano de 2006 eram publicadas duas edições por ano; a partir de 2007 publicam-se três edições por ano, totalizando 34 revistas no referido período.

Para a coleta de dados foi utilizado o resumo de todos os artigos publicados. De 1996 até 2006, os números da RFO/UPF encontram-se disponíveis na biblioteca da instituição. A partir do volume 12, número 1, de janeiro/abril de 2007, a RFO/UPF passou a disponibilizar gratuitamente na internet os artigos publicados em arquivos formato PDF. Os resumos foram divididos por ano e subdivididos por volume e número.

A categorização dos dados foi realizada pela revisão física manual direta do resumo de cada artigo por dois docentes experientes de forma independente. O treinamento foi realizado em reuniões periódicas para a revisão de conceitos e parâmetros relativos ao estudo visando à uniformização na conduta da coleta de dados e à padronização de avaliação. Em caso de discordância na avaliação de algum dado do resumo, este foi classificado por um terceiro examinador, havendo, assim, um consenso entre os examinadores. Foram excluídos prefácio, editorial, notas e comentários, visto que não teriam relevância nos quesitos de investigação do estudo. Os resumos foram avaliados quanto ao delineamento metodológico, à especialidade odontológica e à instituição de ensino superior de procedência dos autores dos artigos publicados.

O delineamento baseou-se no estudo de Freire e Patussi11 (2001), que os categorizaram como revisão sistemática, ensaio clínico, coorte, caso-controle, transversal, série de casos, relato de caso, opinião de especialistas, laboratorial in vivo, laboratorial in vitro e revisão de literatura. A especialidade odontológica limitou-se às 19 especialidades regulamentadas pelo Conselho Federal de Odontologia (CFO): saúde coletiva, odontopediatria, odontologia do trabalho, odontologia legal, prótese dentária, dentística, endodontia, disfunção temporomandibular e dor orofacial, implantodontia, cirurgia e traumatologia bucomaxilofacial, radiologia odontológica e imaginologia, patologia bucal, periodontia, estomatologia, ortodontia, ortopedia funcional dos maxilares, odontologia para pacientes com necessidades especiais, odontogeriatria e prótese bucomaxilofacial. A instituição de procedência dos autores foi identificada de acordo com a IES de origem do primeiro autor de cada artigo, de modo a obter o número total de publicações de cada instituição.

Os dados foram organizados e analisados com o auxílio do software SPSS® (Statistical Package for the Social Sciences) versão 13.0, sendo apresentados por meio de estatística descritiva da distribuição de frequência das variáveis.

 

Resultados

O estudo foi composto por 463 artigos publicados na revista da Faculdade de Odontologia da Universidade de Passo Fundo no período de 1996 a 2010. A Figura 1 ilustra o número de artigos publicados por ano. Observa-se um aumento significativo do número de artigos publicados: no primeiro ano foram publicados apenas dez artigos, em 2000 aumentaram para vinte e em 2003 totalizaram trinta artigos. Entre 2004 e 2006 foram publicados 42 artigos nas duas edições anuais. Em 2007 a revista tornou-se quadrimestral e passou a publicar 45 artigos por ano, 15 por edição; a partir do volume 15, números dois e três de 2010, aumentou para vinte artigos por edição.

 

 

 

A Tabela 1 evidencia a distribuição dos artigos de acordo com a especialidade odontológica. A dentística destacou-se com 14,7% das publicações, seguida da odontopediatria com 10,8% dos artigos. As especialidades com menos publicações foram a odontogeriatria (0,4%), odontologia legal (0,9%), odontologia do trabalho (1,9%) e implantodontia (1,9%). Não houver trabalhos publicados nas áreas de prótese bucomaxilofacial e ortopedia funcional dos maxilares. De acordo com a Tabela 1, é ainda possível verificar a regularidade, ao longo dos anos, do número de publicações nas áreas de dentística e odontopediatria e um aumento significativo nas áreas de endodontia e prótese dentária nos últimos cinco anos. Destaque também para a área de saúde coletiva, que apresentou o maior número de artigos publicados na RFO/UPF nos últimos três anos.

 

 

 

Na Tabela 2 encontram-se os delineamentos metodológicos das publicações da RFO/UPF. Estudos laboratoriais in vitro representaram 30,5% dos estudos, seguidos dos estudos transversais (22,9%), relatos de caso (19,4%) e revisões de literatura (19,2%), representando 92% dos delineamentos observados. Não foram publicados estudos de coorte e opinião de especialistas. A Tabela 2 evidencia também uma alteração dos tipos de estudo ao longo dos anos. Em 1996, as revisões de literatura representavam 40%; estudos laboratoriais in vitro, 30%; relatos de caso, 10%; estudos transversais, 10% dos delineamentos metodológicos, ao passo que em 2010 os estudos laboratoriais in vitro representaram 29%; revisões de literatura, 16%; relatos de caso, 15%; estudos transversais, 15%.

 

 

 

De acordo com a Tabela 3, a Unicamp é a IES com maior número de artigos (15,6%) publicados na RFO/UPF, seguida da UPF (12,1%), PUCRS (11,9%), UFRGS (7,8%) e Ulbra (5,8%). As cinco IES representam, aproximadamente, 55% das publicações da RFO/UPF. A Tabela 3 também evidencia um aumento significativo de publicações de diferentes IES ao longo dos anos. Em 1996, a Universidade de Passo Fundo (UPF), mantenedora da revista, era responsável por 70% das publicações, ao passo que em 2010 foi responsável por menos de 10% dos artigos publicados.

 

 

 

De acordo com a Tabela 4, estudos laboratoriais in vitro representam aproximadamente dois terços dos delineamentos utilizados nas especialidades de dentística (70%), endodontia (60%) e prótese dentária (66%), ao passo que os relatos de caso representam quase a metade das publicações nas especialidades de cirurgia e traumatologia bucomaxilofacial e patologia bucal. A Tabela 4 também evidencia que 75% das publicações na área de saúde coletiva são estudos transversais. Além disso, na especialidade de radiologia odontológica e imaginologia predominam, estudos laboratoriais in vitro (47%) e transversais (37%), ao passo que na odontopediatria predominam relatos de caso (26%), revisões de literatura (26%) e estudos transversais (24%). Na especialidade de estomatologia predominam relatos de caso (39%) e revisões de literatura (36%).

 

 

 

Discussão

Na área da saúde, a divulgação de novos conhecimentos dá-se, prioritariamente, por meio de periódicos. São revistas especializadas em publicar informações originárias de diversos tipos de estudo na forma de artigos científicos12. Dentre os processos de qualificação reconhecidos pela comunidade científica destaca-se a indexação, pela qual periódicos normatizam-se para fazer parte de uma listagem de revistas de determinado banco de dados13.

No processo de indexação, as revistas científicas passam por uma certificação de mérito, na qual se consideram fatores como continuidade da publicação, qualidade da informação, formatação editorial, idioma e procedência. Uma comissão de editores científicos aprova ou não a inclusão do periódico na lista de revistas selecionadas ou banco de dados13.

Nos artigos publicados na RFO/UPF no período de 1996 a 2010 destacaram-se, dentre outras especialidades, as áreas de dentística e prótese dentária. Estudo avaliando a produção científica de três periódicos brasileiros verificou que a odontologia restauradora e os materiais dentários foram as áreas temáticas mais pesquisadas14. Cormack e Silva- Filho15 (2000) também identificaram nos estudos apresentados na Sociedade Brasileira de Pesquisa Odontológica (SBPqO) um predomínio das áreas de materiais dentários e técnicas clínico-cirúrgicas. Uma explicação para isso é que esta categoria engloba a modernização dos materiais, além de procedimentos cosméticos e estéticos, muito valorizados na sociedade de consumo contemporânea.

Especialidades como prótese bucomaxilofacial, ortopedia funcional dos maxilares, odontogeriatria, odontologia legal, odontologia do trabalho, implantodontia, odontologia para pacientes com necessidades especiais e disfunção temporomandibular e dor orofacial tiveram poucos artigos publicados. Ressalta- se que algumas especialidades foram recentemente aprovadas pelo CFO. Além disso, o menor número de artigos publicados pode ser decorrência da ausência de disciplinas correlatas nos cursos de graduação e do menor número de cursos de pós-graduação lato e stricto sensu com foco nessas áreas7.

A área de saúde coletiva, por sua vez, apresentou o maior número de artigos publicados na RFO/ UPF nos últimos três anos. O progresso na área de saúde coletiva reflete a demanda crescente das universidades e, principalmente, do Sistema Único de Saúde10. Isso acena para uma nova realidade, em que o interesse pelo social vem se consolidando como objeto de estudo nas instituições de ensino e pesquisa.

A avaliação dos tipos de estudos publicados na RFO/UPF evidenciou que a maioria dos artigos se refere a estudos de baixo potencial para estabelecer evidências científicas. Segundo Oliveira et al.12 (2007), estudos laboratoriais in vitro, revisões narrativas e relatos de casos clínicos são os delineamentos mais frequentes dos estudos publicados em periódicos nacionais. Poleto e Faraco Junior16 (2010) identificaram uma frequência de 33% de relatos de caso, 30% de estudos tranversais e apenas 2,5% de ensaios clínicos em um periódico nacional de odontopediatria.

Revisões sistemáticas são consideradas como padrão de evidência para a condução de práticas clínicas. São estudos com foco em temas específicos, fontes bibliográficas abrangentes, critérios para a seleção de artigos, assim como seguimento de um rigoroso protocolo para sua realização17. Ensaio clínico, por sua vez, é o padrão para avaliação de intervenções, considerando os critérios referentes ao seu delineamento, como aleatorização dos grupos experimentais, presença de grupo de controle, cegamento e padronização de critérios18. Ambos representaram menos de 2% dos delineamentos dos estudos publicados na RFO/UPF. O interesse por estudos com alto grau de evidência, contudo, é uma tendência mundial visando à melhoria da prática clínica odontológica19.

A predominância de pesquisas laboratoriais in vitro, principalmente nas áreas de dentística, endodontia e prótese, denota uma ênfase dos pesquisadores brasileiros em direcionar o processo de pesquisa para os testes de materiais ou de procedimentos técnicos, simulando condições biológicas em laboratórios. Apesar de necessários para estabelecer parâmetros básicos de qualidade que precedem a aplicação de materiais e técnicas em seres humanos, não estabelecem diretrizes para condutas clínicas, nem fornecem informações prioritárias para tomada de decisão clínica. A menos que sejam considerados como etapas preliminares que envolvem desfechos clínicos, o grande número de pesquisas in vitro pode resultar em estudos repetitivos, sem aplicação prática e com alcance social limitado20.

Estudos descritivos (transversais) são importantes para o conhecimento da realidade e para a formulação de hipóteses a serem testadas em estudos analíticos (ensaios clínicos, coorte e casocontrole) e representaram 75% das publicações na área de saúde coletiva. Relatos de caso, por sua vez, envolvem estudos centrados em pacientes com desfechos clínicos prioritários, ou seja, desfechos de interesse clínico para o profissional e para o paciente. Na RFO/UPF destacam-se nas áreas de cirurgia e traumatologia bucomaxilofacial e patologia bucal. Entretanto, o número limitado de pacientes, a falta de indivíduos-controle e a frequente subjetividade na apreciação dos fatos são fatores que limitam a aplicação das inferências obtidas neste tipo de estudo11.

As revisões de literatura fornecem uma síntese de determinado assunto e, quando atualizadas, auxiliam o leitor a tomar decisões clínicas informadas. Entretanto, este tipo de estudo está sujeito a vieses em todas as etapas da revisão, incluindo a falta de definição de uma questão de pesquisa clara e específica, a busca e seleção de estudos primários restritos e não sistemática, a avaliação crítica sem critérios definidos e conclusões não baseadas na significância dos resultados e na ponderação dos diferentes níveis de evidência disponíveis17. Atualmente menos de 20% dos estudos publicados na RFO/ UPF são representados pelas revisões de literatura.

O processo de endogenia ainda é muito comum em odontologia e precisa ser eliminado, pois oferece uma visão unilateral aos seus avaliados que pertencem à mesma instituição10. Esse processo parece ter sido superado na RFO/UPF, visto que em 2010 menos de 10% das publicações originaram-se da Faculdade de Odontologia da UPF, mantenedora da revista.

Uma das possíveis limitações do presente estudo foi a forma de identificação da IES dos autores. O critério adotado, baseado no primeiro autor, pode não ser suficiente para medir a abrangência do periódico, visto que pode haver colaboradores de instituições diferentes num mesmo estudo. Por outro lado, conduz a uma padronização eficiente dos dados colhidos, fundamental num estudo de bibliometria, e possivelmente permitiu um resultado fidedigno com os propósitos do estudo. Outro aspecto a ser considerado seria a utilização de um número maior de variáveis na avaliação, como, por exemplo, a identificação de tendências ou linhas temáticas por especialidade, ou ainda o efeito das alterações do perfil do Conselho Científico da RFO/ UPF ao longo dos anos com as variáveis descritas. Reafirma-se, contudo, o foco do estudo e sugere-se o aprofundamento da bibliometria como metodologia de trabalho.

Padrões internacionais de produção científica levam em conta diversos critérios extrínsecos e intrínsecos, como, por exemplo, a representatividade e excelência, a regularidade e a indexação internacional10. Esse parece ser o momento de refletir sobre o destino das numerosas publicações odontológicas nacionais. O foco deve ser o estabelecimento de critérios de qualidade científica em áreas de pesquisa consolidadas.

 

Conclusão

A RFO/UPF é um veículo de divulgação de artigos científicos do Programa de Pós-Graduação em Odontologia da Universidade de Passo Fundo. Ao longo dos anos tem passado por um processo de qualificação reconhecido pela comunidade científica nacional, evidenciado pelos níveis crescentes de indexação, continuidade da publicação e excelência da formatação editorial. A publicação de artigos que alcancem níveis hierárquicos mais elevados de evidência, bem como a sua edição em língua inglesa, contribuirá consideravelmente para que o periódico venha a ser categorizado como de qualidade internacional.

 

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Endereço para correspondência:
Juliane Bervian
Rua Tomas Gonzaga, 625
99020-170 Passo Fundo - RS

e-mail:
jbervian@upf.br

Recebido: 20.03.2011
Aceito: 29.08.2011