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RFO UPF

versão impressa ISSN 1413-4012

RFO UPF vol.18 no.3 Passo Fundo Set./Dez. 2013

 

 

O papel do ensino de graduação em Odontologia e o motivo da escolha da profissão: uma visão dos alunos concluintes

 

The role of graduate education in Dentistry and the reason for choosing the profession: perceptions of graduating students

 

 

Jiogleicia Elciane de SousaI;Lais Karam Braga MacielI; Keli Bahia Felicíssimo ZocrattoII

I Acadêmica do curso de Odontologia do Centro Universitário Newton Paiva. Belo Horizonte, Minas Gerais, Brasil
II Professora titular do curso de Odontologia do Centro Universitário Newton Paiva, doutora em Saúde Pública pela FM-UFMG. Belo Horizonte, Minas Gerais, Brasil

Endereço para correspondência

 

 


 

RESUMO

A escolha profissional ocorre, geralmente, no final do ensino médio. Essa decisão pode ser influenciada por diversos fatores, entre eles status, retorno financeiro e vocação profissional. Objetivo: identificar o papel do ensino de graduação em Odontologia e as principais razões que levaram os alunos das instituições privadas a escolherem o curso, bem como comparar o perfil de respostas nas instituições privadas do município de Belo Horizonte no ano de 2013. Sujeitos e método: foi aplicado, a uma amostra de 184 graduandos do último ano do curso de Odontologia, um questionário estruturado contendo questões sobre capacitação profissional, motivo da escolha do curso e prosseguimento nos estudos. Os dados foram analisados por estatística analítica e teste qui-quadrado (p = 0,05). Resultados: a maior parte dos estudantes optou pela Odontologia por vocação e desejava dar prosseguimento aos estudos, sendo a especialização a mais almejada. Houve diferença estatisticamente significativa entre as instituições associada à atuação na carreira acadêmica (p = 0,03), e relacionada à segurança de participar de processos seletivos (p = 0,01). Dentre as atividades extracurriculares, o estágio foi o mais frequentado. Conclusão: a vocação profissional foi o principal motivo que levou os acadêmicos a escolherem a Odontologia como profissão, e o ensino oferecido pelas faculdades foi visto como suficiente pelos acadêmicos.

Palavras-chave: Odontologia. Estudantes. Escolha da profissão.


 

ABSTRACT

Career choice usually occurs at the end of high school. This decision may be influenced by many factors including status, financial return, and professional vocation. Objective: to identify the role of graduate education in Dentistry, and the main reasons why students from private institutions choose the course, as well as to compare the response profile of private institutions of the city of Belo Horizonte, Brazil, in 2013. Subjects and Methods: a structured questionnaire was applied on a sample of 184 graduating students attending the last year of Dentistry school. The questionnaire included questions about professional training, reason for choosing the course, and continuing education. Data were analyzed by analytical statistics and the chi-square test (α=0.05). Results: most of the students chose Dentistry by vocation, and wanted to continue their studies. Specialization was the most desired. Statistically significant difference was noted among institutions, and it was associated to the performance in academic careers (p = 0.03), and to the security of participating in selection processes (p = 0.01). Among extracurricular activities, the internship was the most attended. Conclusion: professional vocation was the main reason that led students to choose Dentistry as a profession, and they found education offered by Schools sufficient.

Keywords: Students. Career choice.


 

 

Introdução

A vocação profissional é formada durante toda a vida, iniciando-se na adolescência e perpetuando-se, muitas vezes, até o período da graduação. A escolha da profissão torna-se árdua, pois ocorre, geralmente, na fase de ensino médio, quando os jovens têm pouca idade para realizarem uma escolha tão permanente. A decisão da carreira é entendida como a capacidade que um indivíduo tem de identificar seus interesses dentro da profissão, estabelecer os objetivos profissionais que espera alcançar e traçar uma estratégia de ação coerente com esses objetivos1.

O processo de escolha profissional costuma ser difícil e cercado de angústias. Dentre as principais dúvidas e conflitos pessoais, listam-se as inseguranças com a escolha, as diversificadas opções de cursos, critérios socioeconômicos culturais relacionados com a profissão, mercado de trabalho e concorrido processo seletivo instituído pelas Universidades2. Igualmente, vários são os fatores determinantes nas escolhas profissionais: sociais, educacionais, familiares, psicológicos, políticos e econômicos3. Além dos fatores elencados, há uma diversidade de instituições de ensino que compõem um sistema complexo, diversificado, em constante mudança e expansão. As instituições de ensino classificam-se de acordo com o seu financiamento e administração em públicas e privadas. Aquelas apresentam, basicamente, financiamento do setor público. Em se tratando do sistema de ensino superior privado, as fontes de financiamento provêm do pagamento das mensalidades por parte dos próprios alunos, podendo algumas ainda contar com apoio de mantenedores, na maior parte das vezes, religiosos. Dentre as instituições privadas, identificam-se as comunitárias laicas, confessionais e filantrópicas, que apresentam isenção fiscal por não terem fins lucrativos. Ainda dentre as privadas, existem as particulares2, definidas como instituições com fins lucrativos4.

A escolha da Odontologia como profissão pode decorrer de vários fatores para um mesmo entrevistado. Nas entrevistas dos estudantes, ascensão social e econômica, convivência com trabalhadores da saúde, ambiente odontológico, emprego garantido, profissão liberal, qualidade de vida, lado artístico da profissão e o contato com a Odontologia desde a infância foram motivos apontados para escolha da profissão2. A identificação profissional pode ser influenciada pela história de vida da pessoa e pelas suas experiências na infância com a família5. A influência familiar pode ser explicada pelo contato frequente com a profissão, principalmente quando esta possui um prestígio social, despertando o interesse em segui-la11.

A permanência no curso escolhido pode ter influência direta da instituição de ensino. Estudos mostram que, durante a sua trajetória na graduação, o aluno passa por fases que podem avigorar ou não sua escolha profissional. No período inicial, a motivação com a escolha do curso ocorre, principalmente, pelo entusiasmo com a aprovação no vestibular e o ingresso em uma universidade. Em um segundo momento, esse aluno pode sentir-se desmotivado por diversos fatores, assim como podem surgir preocupações sobre uma possível nova escolha, e a Instituição deve lançar mão de projetos que o levem a vivenciar a realidade profissional para reavivar o comprometimento com o curso. Em um terceiro momento, há o interesse na continuidade do curso, caracterizado pela proximidade do seu término e pelas expectativas quanto à atuação profissional7. Essa fase também é marcada por insegurança dos alunos diante do início da atividade profissional8. Novamente, verifica-se o papel fundamental das instituições com projetos de apoio para auxiliá-los na inserção no mercado de trabalho.

Em outro momento da vida profissional, o estudante vai se deparar com um novo desafio: a decisão de seguir uma especialidade. A educação continuada é, de fato, indispensável para o profissional, por proporcionar- lhe uma oportunidade de reciclagem contínua, aprimorando os conhecimentos técnicos, científicos e práticos. Porém, a especialização acaba por fragmentar o conhecimento, necessitando-se de uma interdisciplinaridade profissional e ocasionando prejuízos para a efetivação do atendimento integral e integrado do paciente6,9. A especialização aparece como componente para diferenciar e qualificar o desempenho profissional e é uma via para o profissional firmar-se e competir no mercado10. Na pesquisa de Freitas11 (2007), que realizou entrevistas com cirurgiões- dentistas de Jõao Pessoa, os resultados indicaram que o sucesso no mercado de trabalho depende do investimento em boa qualificação. No estudo de Teixeira1 (2002) com jovens formados e egressos universitários, os alunos justificaram a necessidade de uma especialização para aprimorar a formação, pois perceberam a formação recebida na graduação como sendo insuficiente para uma boa colocação no mercado de trabalho, o que lhes exigia um redirecionamento de carreira.

Reis e Ciccillini10 (2013), que entrevistaram docentes do curso de Odontologia, relataram que os alunos já chegam ao início do curso com uma especialização em mente e ressalvaram que eles não conheceram a Odontologia como um todo, portanto, escolheram a área a seguir por status ou pensando apenas em retorno financeiro. Ressaltaram, ainda, que a maneira como a disciplina é conduzida pelo professor pode induzir o aluno a acreditar na excelência da respectiva área e minorar as demais como disciplinas coadjuvantes, complementares ou desnecessárias.

As experiências aplicadas, tais como estágios e aulas práticas, são consideradas básicas para o desenvolvimento de um senso de capacidade para o exercício profissional12. A liberdade de escolha em relação aos temas e conteúdos e o caráter opcional das atividades não obrigatórias mostraram-se como um componente motivacional para a sua realização. Assim, o aluno tem um papel ativo na sua formação, ou seja, é responsável por uma aprendizagem autodirigida13. Discentes que não vivenciaram projetos de extensão durante a graduação, por desinteresse ou desconhecimento, não sabiam das vantagens que estas proporcionavam à comunidade, bem como a contribuição para sua própria formação acadêmica14.

A falta de experiências práticas, contudo, é uma deficiência que pode ser minimizada por meio de ações concretas que viabilizem uma melhor formação, tanto por parte da universidade quanto por parte do indivíduo. A instituição pode lançar mão de mais atividades práticas que realmente capacitem os alunos para o mercado de trabalho e os estimulem a buscar oportunidades de exercitar a profissão e, assim, preparar- se para ingressar na vida profissional1.

O presente estudo tem por objetivo identificar o papel do ensino de graduação em Odontologia, retratando as principais razões que levaram à escolha da profissão pelos alunos concluintes, das instituições privadas, no município de Belo Horizonte, no ano de 2013.

 

Sujeitos e método

O presente estudo, de caráter analítico e desenho transversal, foi realizado com os acadêmicos concluintes do curso de Odontologia das faculdades privadas do município de Belo Horizonte do primeiro semestre do ano de 2013. O universo de alunos concluintes das universidades em estudo era de 230 alunos, matriculados na Faculdade dos Empreendedores (FEAD), no Centro Universitário Newton Paiva (CUNP) e na Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC-MG). A amostra do estudo foi composta, no total, por 184 alunos, distribuídos entre as referidas faculdades. Aos participantes do estudo foi aplicado um questionário estruturado com questões referentes à capacitação profissional, ao motivo da escolha do curso e ao prosseguimento nos estudos (Você se sente preparado para participar de processos seletivos? Sim/Não. Pretende continuar estudando depois de formar? Sim (Especialização, Mestrado, Doutorado)/Não/Não sei responder. Hoje, se tivesse que optar por uma carreira, escolheria novamente a Odontologia? Sim/Não/Não sei responder. Qual(is) motivo(s) levou(aram) você a escolher o curso de Odontologia? Influência de parentes, retorno financeiro, vocação profissional, status, outros. Você se sente preparado para exercer essa profissão? Sim/ Não/Não sei. Em relação às atividades práticas curriculares – clínicas, estágios, laboratórios –, durante sua formação, você considera: Quantidade suficiente/ pouca quantidade/grande quantidade. Você acredita que as atividades extracurriculares contribuem para a sua formação? Sim/Não/Não sei. Você participou de projeto(s) extracurricular(es) durante sua graduação em Odontologia? Sim – Monitoria, Iniciação Científica, Estágio Extracurricular/Não. Se você não realizou atividades extracurriculares durante a graduação em Odontologia, o motivo foi: Trabalho/Incompatibilidade de horário/Desinteresse/Falta de informação.

Durante a coleta e a análise dos dados, foram tomadas medidas necessárias para garantir o anonimato e a confidencialidade das informações. Foi realizada análise descritiva (medida de frequência e variabilidade) e comparativa dos dados (teste qui-quadrado) a um nível de significância de 5%. Para preservar a identidade das instituições participantes, cada uma foi representada por uma letra. O projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa sob o protocolo nº CAAE 08970312.5.0000 5097.

 

 

 

Resultados

Dentre os motivos de escolha do curso, destaca-se a vocação profissional, com 59,2% das opções marcadas; 22,8% relataram ter recebido influência de parentes; 17,4% escolheram em decorrência do retorno financeiro; e 3,3%, por status. Outros motivos, tais como trabalho autônomo, trabalho liberal e flexibilização nos horários de trabalho, corresponderam a 13,6% das respostas.

Em relação ao prosseguimento nos estudos, 181 (98,4%) desejavam continuar e, dentre estes, 144 (78,3%) almejavam cursar especialização; 54, (29,3%) mestrado; e 36 (19,6%), doutorado. Dentre os alunos que desejavam dar continuidade aos estudos, estão 74 (98,7%) da faculdade C, 57 (98,3%) da faculdade A e 50 (98%) da faculdade B. Dos acadêmicos que gostariam de cursar especialização, estão 37 (94,9%) da faculdade B, 60 (85,7%) da faculdade C e 47 (83,9%) da faculdade A. Não houve diferença significativa entre as instituições com relação ao prosseguimento nos estudos e o desejo de cursar especialização. Quanto à carreira acadêmica, os alunos da Faculdade A mostraramse mais interessados (41,1%), representando o dobro de interesse (p = 0,03) em relação aos da faculdade B (20,5%), e uma vez mais interesse (p = 0,34) se comparados aos estudantes da faculdade C (32,9%). Houve diferença significativa entre as intituições. Foi verificado maior desejo de cursar doutorado também por parte dos alunos da faculdade A (30,4%), seguidos de 17,9% da faculdade B e de 17,1% da faculdade C (Tab. 1).

Em relação às atividades práticas curriculares durante o curso de graduação (clínicas, estágios, laboratórios), 86 (46,7%) alunos consideraram ser administradas em quantidade suficiente; 84 (45,7%), em pouca quantidade; e 14 (7,6%), em grande quantidade. Para 48 (64%) alunos da faculdade C, 22 (37,9%) da faculdade A e 16 (31,4%) da faculdade B, a quantidade de aulas práticas curriculares durante a formação foi avaliada como suficiente. Da mesma forma, 32 (62,7%) alunos da faculdade B, 33 (56,9%) da faculdade A e 19 (25,3%) da faculdade C responderam que essas atividades são ofertadas em pouca quantidade. Contradizendo esses dados, 8 (10,7%) alunos da faculdade C, 3 (5,9%) da faculdade B e 3 (5,2%) da faculdade A ponderaram que essas atividades são distribuídas em grande quantidade.

A maioria dos acadêmicos (94%) observou que as atividades extracurriculares contribuem para a sua formação, enquanto 6% não creem na sua eficácia. A maior parte dos acadêmicos (91,3%) participou de atividades extracurriculares. Destas, o estágio extracurricular foi a mais realizada (65,8%), seguida de monitoria (58,2%), iniciação científica (11,4%) e outras atividades (11,4%), como palestras e projetos de extensão. Apenas 2 (8,7%) acadêmicos, independentemente da instituição, não participaram de tais atividades (Fig 1).

A maior parte dos alunos (83,2%) alegou estar preparada para exercer a profissão, sendo 63 (87,5%) da faculdade C, 49 (84,5%) da faculdade A e 41 (80,4%) da faculdade B. A minoria (8,2%) relatou não estar preparada, representada por 7 (13,7%) acadêmicos da faculdade B, 4 (6,9%) da faculdade A e 4 (5,6%) da faculdade C.

A maioria dos acadêmicos (73,7%) afirmou se sentir preparada para participar de processos seletivos. Os alunos da faculdade A estavam duas vezes mais confiantes, quando comparados aos da faculdade B (50%), e uma vez mais preparados para participar de processos seletivos, se comparados com os da faculdade C (62,2%). Houve diferença significativa entre as intituições (p = 0,01) (Tab. 1).

 

 

 

Discussão

A escolha pelo curso foi motivada, principalmente, pela vocação profissional e pela influência familiar, corroborando alguns estudos15-19. Em contrapartida, os acadêmicos relataram ter escolhido a Odontologia, principalmente, pela realização profissional e pessoal, a fim de tornarem-se profissionais liberais e por ser um curso das Ciências da Saúde2,5,20,21. Apesar de ter sido predominante no Brasil a lógica do trabalho liberal, a atuação do cirurgião-dentista enquanto assalariado e no serviço público tem ganhado destaque nos últimos anos22, o que demanda mudanças na formação. Segundo as Diretrizes Curriculares Nacionais do curso de Odontologia, a formação profissional deve ser centrada em uma prática holística, capaz de extrapolar a prática do consultório individual, de forma a capacitar o aluno a atuar em consonância com a realidade23.

Especializar-se era o anseio da maioria, corroborando outros estudos11,15,17,23. Na pesquisa de Bastos et al.16 (2003), realizada com cirurgiões-dentitas graduados na faculdade de Odontologia de Bauru, a valorização da especialização foi vista como uma possibilidade de migração do setor público para o setor privado, e a maioria considerou indispensável cursar uma pós-graduação. A importância da realização de cursos complementares após a graduação, segundo os entrevistados, explica-se pela exigência, por parte do mercado de trabalho, de um profissional em constante aperfeiçoamento e de um exercício mais pleno da profissão22.

O desejo de atuar na carreira docente também foi observado, apresentando diferenças significativas entre as instituições analisadas. A literatura apresenta divergência em relação a esse assunto. Alguns estudos mostram uma minoria dos estudantes interessada nessa área de atuação15,24, enquanto se observa um estudo que relata mais da metade dos acadêmicos com a intenção de cursar mestrado ou doutorado6. Estudantes do curso público planejam cursar mestrado ou doutorado em maior proporção do que os estudantes do curso privado11. A falta de um currículo pessoal mais rico na parte científica foi uma dificuldade apontada pelos acadêmicos que ambicionavam cursar mestrado12.

Em relação às atividades práticas curriculares, houve grande diferença entre as respostas das instituições. Para duas delas, essas atividades eram ofertadas em pouca quantidade. Resultados semelhantes foram encontrados em um estudo no qual os entrevistados enfatizaram a insuficiência desse tipo de atividade nos currículos e valorizaram a realização dessas atividades para a formação profissional12. Os alunos justificaram a falta das atividades práticas como motivo do despreparo para atuar na profissão, contradizendo o presente estudo, no qual a maioria dos acadêmicos relatou estar preparada para exercer a profissão.

Segundo as Diretrizes Nacionais Curriculares, há necessidade de uma formação técnica de excelência; no entanto, a prática acadêmica deve estar permeada de metodologias de ensino que favoreçam a articulação dos diversos conhecimentos e sua aplicação prática. A formação profissional deve permitir a prática efetiva de uma atenção integral em Odontologia e, para isso, deve-se romper o paradigma curativo-restaurador25.

O estudo de Junqueira et al.18 (2002) , com formandos da faculdade de Odontologia de São José dos Campos, evidenciou que a insuficiência de horas clínicas foi a razão da insegurança para realizar atendimento completo e de boa qualidade18. As práticas foram percebidas como meio para integração dos conhecimentos vistos em aula, contribuindo para o senso de competência profissional12. Para melhorar a qualificação para o mercado de trabalho odontológico, os alunos sugeriram o aumento do tempo de prática na Clínica Odontológica e um maior número de cursos de extensão universitária15. A possibilidade de se estender o período pré-clínico com consequente início mais tardio das práticas clínicas implicaria em um aumento de carga horária nos cursos, que, diante da concorrência entre instituições dessa natureza, poderia tornar inviável a sua sustentabilidade. Assim, investigações posteriores direcionadas a esse objeto de estudo tornam-se necessárias.

A frequência às atividades extracurriculares foi alta, contradizendo a pesquisa de Bardagi e Boff7 (2010) que constatou um número significativo de alunos que nunca participou nem participava de atividades acadêmicas ligadas ao curso. O fato de a maioria dos alunos não participar de atividades acadêmicas (como monitoria, bolsa de iniciação científica e estágio) pode estar contribuindo para uma falta de informações realistas a respeito da profissão e até mesmo impedindo que muitos deles possam descrever claramente seus sentimentos em relação à escolha26. As atividades práticas extracurriculares possibilitaram aos alunos desenvolver o senso crítico, a capacidade de aprenderem sozinhos e habilidades interpessoais, tais como lidar com um paciente ou trabalhar em grupo, propiciando, ainda, um contato mais próximo com a realidade profissional e um maior engajamento com a sua própria formação12.

O estágio extracurricular foi o mais realizado, corroborando a literatura24. Em uma pesquisa realizada com jovens em conclusão de curso, concluiu- se que o envolvimento dos estudantes em sua formação, especialmente em atividades práticas (estágios) não obrigatórias, reforça o senso de competência (autoeficácia)12. A iniciação científica foi pouco frequentada pelos acadêmicos; portanto, vê-se a importância de as instituições incentivarem os alunos nesse sentido. As atividades de pesquisa na graduação foram tidas como condição necessária ou, no mínimo, facilitadora para quem pensava em seguir carreira acadêmica12. Os alunos da instituição pública manifestaram maior interesse pela pesquisa, pelo fato de as universidades estaduais darem tradicional ênfase à produção científica27.

A conscientização da importância dessas atividades por parte dos acadêmicos foi notada. A maioria reconhece que elas contribuem para a sua formação acadêmica, concordando com outro estudo12. Pressupostos teóricos afirmaram que quanto mais o aluno se conhece no papel que desempenha, mais ele depositará em si a confiança necessária para enfrentar situações aversivas, ou processos de mudança1,12,28.

O estágio supervisionado parece exercer potencial transformador sobre os acadêmicos, preparando- os mais adequadamente, não somente para o PSF, mas também, e principalmente, para os desafios em nível social e político que o setor da saúde enfrenta em nosso país29. O estágio contribui para a formação porque permite o treino das habilidades manuais e ajuda a fixar os conteúdos teóricos13.

A maioria dos acadêmicos referiu sentir-se preparada para participar de processos seletivos, contradizendo uma pesquisa em que mais da metade dos sujeitos não se consideravam preparados pelo curso de graduação quanto aos conhecimentos teóricos e práticos necessários para uma prova de seleção23.

 

Conclusão

No presente estudo, a vocação profissional foi o principal motivo que levou os acadêmicos a escolherem a Odontologia como profissão. A maioria dos alunos pretendia dar prosseguimento aos estudos, sendo a especialização a forma mais almejada. Notou-se por grande parte dos concluintes a conscientização sobre a importância das atividades extracurriculares, pois, mesmo sendo de caráter opcional, estas puderam contar com significativa frequência, tendo sido o estágio extracurricular a atividade mais procurada. A iniciação científica foi pouco frequentada pelos acadêmicos. Os acadêmicos, em sua maior parte, referiram sentir-se preparados para participar de processos seletivos e para exercer a profissão, confirmando que consideraram o ensino oferecido pela faculdade como suficiente, não necessitando de cursos após a graduação com esse intuito. As atividades práticas curriculares, cuja oferta foi avalia como em quantidade insuficiente, não fizeram os alunos sentirem-se despreparados, sugerindo que o aumento do tempo de atividades práticas voltadas ao desenvolvimento técnico não é parâmetro de garantia de qualidade no curso.

 

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Endereço para correspondência:
Keli Bahia Felicíssimo Zocratto
Rua Ministro Orozimbo Nonato, 589/1002, Torre Stelle
34000-000 Nova Lima/ MG

e-mail:
kelibahia@yahoo.com.br

 

Recebido: 17/06/2013.
Aceito: 08/11/2013.