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RFO UPF

versão impressa ISSN 1413-4012

RFO UPF vol.19 no.3 Passo Fundo Set./Dez. 2014

 

 

Abordagem dos cirurgiões-dentistas do Estratégia de Saúde da Família do município de Patos-PB a usuários com hipertensão arterial

 

Approach of dentists of the family health strategy of the city of Patos-PB to users with hypertension

 

 

Izabelle Maria Ferreira da Silva ValeI ; Rosana Araújo RosendoII ; Luciana Ferraz GominhoIII ; Michele Baffi DinizIV ; Dmitry José de Santana SarmentoV ; Tássia Cristina de Almeida Pinto-SarmentoVI

 

I Cirurgiã-dentista, graduada pela Universidade Federal de Campina Grande (UFCG), Patos, Paraíba, PB, Brasil
II Mestra em Diagnóstico Bucal; professora da Faculdade de Odontologia da Universidade Federal de Campina Grande (UFCG), Patos, Paraíba, PB, Brasil
III Doutor em Endodontia; professora da Faculdade de Odontologia da Universidade Federal de Campina Grande (UFCG), Patos, Paraíba, PB, Brasil
IV Doutor em Ciências Odontológicas; professora da Faculdade de Odontologia da Universidade Cruzeiro do Sul, São Paulo, SP, Brasil
V Mestre em Patologia Oral; professor da Universidade Estadual da Paraíba (UEPB), Araruna, Paraíba, PB, Brasil
VI Mestra em Clínica Odontológica; professora da Faculdade de Odontologia da Universidade Federal de Campina Grande (UFCG), Patos, Paraíba, PB, Brasil

Endereço para correspondência

 


 

RESUMO

Objetivo: o objetivo deste trabalho é verificar o conhecimento dos cirurgiões-dentistas dos Estratégias de Saúde da Família (ESF) do município de Patos-PB, no atendimento a usuários com hipertensão arterial (HA). Materiais e métodos: é um estudo do tipo transversal e analítico, no qual foi aplicado um questionário estruturado com 21 profissionais dos ESFs de Patos-PB. Os dados obtidos foram analisados a partir da estatística descritiva e inferencial bivariada (testes Qui-Quadrado e Exato de Ficher). Resultados: dos pesquisados, 85,7% definiram hipertensão arterial, mas apenas 44,4% desses responderam corretamente; 95,2% responderam corretamente o valor normal da pressão arterial. A xerostomia foi a alteração causada pelo uso de anti-hipertensivo mais citada (85,71%); a lidocaína foi o anestésico de escolha (61,9%); a interação medicamentosa mais citada (48,6%) foi a dos anti-hipertensivos com os anti-inflamatórios não estereoidais e com os analgésicos com ácido acetilsalicílico (AAS). Participam do Programa Hiperdia 66,7% dos entrevistados e 33,3% relataram aferir a pressão dos usuários, dependendo da anamnese realizada. Observou-se a associação estatística entre trabalhar em outro local e definir corretamente a HA (p=0,006). Conclusão: os profissionais que participaram da pesquisa mostraram um conhecimento relativamente adequado/producente, realizando uma conduta condizente com o que a literatura sugere, mas, ainda, necessitando de maiores esclarecimentos sobre o tema, para suprir suas dificuldades.

Palavras-chave: Anestesia local. Hipertensão. Odontologia. Vasoconstritores.


 

ABSTRACT

Objective: to verify the knowledge of dentists of the Family Health Strategy (FHS) in the city of Patos, PB, Brazil, in serving users with the measurement of Arterial Hypertension (AH). Materials and methods: cross-sectional analytical study, with the application of a structured questionnaire to 21 professionals of the FHS units from the city of Patos, PB, Brazil. Data were analyzed using descriptive and inferential bivariate statistics (chi-square and Fischer's exact tests). Results: from the respondents, 85.7% could define arterial hypertension, but only 44.4% of them answered it correctly; 95.2% correctly answered the normal value of blood pressure. Xerostomia was the most mentioned change caused by the use of antihypertensive (85.71%); Lidocaine was the anesthetic of choice (61.9%); the most mentioned drug interaction (48.6%) was of antihypertensive with non-steroidal anti-inflammatory, and of analgesics with acetylsalicylic acid (ASA). From the total respondents, 66.7% participated in the Hiperdia program, and 33.3% reported measuring blood pressure of users depending on the anamnesis performed. Statistical association was observed between working in another location and correctly determining AH (p = 0.006). Conclusions: the professionals who participated in the survey showed relatively good knowledge with compatible behavior to what literature suggests, but still requiring further clarification on the subject, to meet their major difficulties.

Keywords: Local Anesthesia. Hypertension. Dentistry. Vasoconstrictors.


 

 

Introdução

Define-se hipertensão arterial (HA) como uma cardiopatia caracterizada pelo aumento anormal da pressão arterial. Se não houver o controle adequado desses pacientes, sérias complicações poderão aparecer, como acidentes cerebrovasculares, problemas renais e trombose, entre outros, tornando-se um importante agravo à saúde pública não somente no Brasil, mas também no mundo1.O quadro de HA pode ser definido quando a pressão arterial sistólica (PAS) for maior ou igual a 140 mmHg e quando a pressão arterial diastólica (PAD) for maior ou igual a 90 mmHg em indivíduos que não façam uso de medicação anti-hipertensiva, em mais de uma ocasião2.

Quanto à epidemiologia, dados mostram que aproximadamente 30 milhões de brasileiros são hipertensos, mas que metade dessas pessoas não sabem da existência do problema1. Segundo a sua etiologia, pode ser classificada em primária, quando não há outra patologia associada que explique o aumento da pressão arterial (PA), ou em secundária quando se encontra associada a outra patologia que cause a elevação da PA, nesse caso, passível de cura mediante a eliminação da causa3.

Para os cirurgiões-dentistas é muito importante conhecer as possíveis complicações que podem acontecer durante o atendimento odontológico ao paciente hipertenso, assim como também as consequências provocadas devido à medicação utilizada por esses. Os anti-hipertensivos são fármacos que podem provocar algumas alterações bucais, como a hiperplasia do tecido gengival e a diminuição do fluxo salivar4.

Outro fator que merece destaque é a problemática da utilização de anestésicos locais com vasoconstritores em pacientes hipertensos, pois se observa que há o receio dos cirurgiões-dentistas de realizarem essa conduta, visto que se aplicada de forma incorreta possa causar o agravamento da doença1.

Problemas relacionados a interações medicamentosas podem influenciar de forma negativa na saúde do paciente, provenientes do aparecimento de efeitos adversos ou da falha no objetivo terapêutico5. Assim, todos os anti-inflamatórios não estereoidais (Aines) podem realizar uma ação contrária de forma parcial ou total sobre os efeitos de vários agentes anti-hipertensivos, aumentando a morbidade desses pacientes, podendo levar a crises hipertensivas6.

É muito importante ressaltar a necessidade do cirurgião-dentista ter conhecimento específico sobre as particularidades desses pacientes, no intuito de poder oferecer um atendimento mais seguro e eficaz, sem correr o risco de causar complicações não apenas locais, mas também sistêmicas7.

Diante do exposto, o presente estudo avalia a percepção dos cirurgiões-dentistas do Estratégia de Saúde da Família em relação à abordagem a usuários com hipertensão arterial, quais as condutas adotadas na realização do tratamento desses, averiguando as principais dificuldades encontradas pelos profissionais.

 

Materiais e métodos

Foi realizada uma pesquisa com 21 cirurgiões-dentistas dos Estratégias de Saúde da Família do município de Patos, no estado da Paraíba. A coleta dos dados foi realizada por meio de um questionário estruturado com 21 perguntas, o qual foi adaptado de estudo anteriormente realizado8.

De acordo com a resolução 466/12 do Conselho Nacional de Saúde (CNS), esse trabalho foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa (CAAE 35706714.0.0000.5181) e segue os padrões exigidos pela Declaração de Helsink, e previamente a coleta dos dados foi explicado ao participante com o objetivo da pesquisa, sendo solicitada à sua participação por meio da assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. A aplicação dos questionários foi feita nos intervalos entre o atendimento de um usuário e outro, no próprio consultório da unidade. A autenticidade das respostas foi avaliada pelo método de "face", em que 10% dos entrevistados explicaram as perguntas com suas próprias palavras, o que permite concluir que o instrumento foi bem compreendido pelos participantes9.

O instrumento de pesquisa contemplou questões referentes à formação do profissional, informações sobre a definição da HA, o valor da PA normal, o hábito de verificar a PA dos usuários, as manifestações bucais presentes nos usuários que fazem uso crônico de medicamentos anti-hipertensivos, bem como questões relacionadas ao uso de anestésicos e fármacos de utilização sistêmica.

A definição de PA foi avaliada segundo a definição da Sociedade Brasileira de Hipertensão (SBH) que considera a patologia como uma elevação crônica da PA sistólica ou diastólica10, sendo considera satisfatória aquela resposta totalmente correta, insatisfatória quando estava errada e incompleta quando faltava alguma informação na descrição.

Utilizou-se como critério de inclusão os cirurgiões- dentistas atuantes nas unidades básicas de saúde da rede pública do município, presentes nessas unidades nos dias da aplicação dos questionários, que concordaram em participar da pesquisa, assinando o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE). Foram excluídos da pesquisa os profissionais que se negaram em responder ao questionário e os que se encontravam em seu período de férias, além daqueles que atuassem nas unidades que se encontrassem fechadas.

Os dados obtidos neste estudo foram tabulados no programa Statistical Package for Social Sciences (SPSS) versão 18.0 e foram apresentados na forma de gráficos, com apresentação de valores absolutos e percentuais. Para análise estatística dos dados foi utilizado o teste do Qui-Quadrado e Exato de Fischer com nível de significância de 5%.

 

Resultados

No tocante à caracterização do perfil da amostra, observou-se que dos cirurgiões-dentistas entrevistados, 61,9% dos profissionais eram do sexo feminino, de faixa etária entre 22 e 61 anos, com média de 33,86 (+ 12,39) (Tabela 1). A maior parte desses trabalhava em outro emprego (69,1%), sendo que 68,8% eram em consultório particular e apenas 6,2% atuavam em clínica com outros profissionais. A maioria dos entrevistados estavam formados há menos de cinco anos (61,9%), 14,3% tinham entre seis e dez anos de profissão e 23,8% tinham mais de dez anos de formação, variando esse tempo de dois meses a 33 anos, com média de 9,6 anos e desvio padrão de 11,66.

Verifica-se ainda que 71,4% estão no emprego há apenas cinco anos ou menos e que 36,4% não têm qualquer pós-graduação, mas dos que têm 59,1% são especialistas e 4,5% têm mestrado, lembrando que os participantes podiam responder a mais de uma alternativa. Dentre as especialidades encontradas, Saúde da Família foi a mais citada, representando 61,5% dos dados. Quando perguntados se participavam do Programa Hiperdia, 66,7% responderam que sim (Tabela 1).

 

 

 

Pode-se observar o conhecimento dos cirurgiões-dentistas acerca da hipertensão arterial, constatando- se que 85,7% afirmaram saber definir HA, mas apenas 44,4% responderam de maneira satisfatória, de modo semelhante 44,4% responderam insatisfatoriamente e 11,2% forneceram uma resposta incompleta. Acerca dos tipos de HA, 52,4% da amostra afirmou não saber quais eram, e dos que afirmavam conhecer, 50% responderam corretamente quais são esses tipos. Acrescenta-se a esses dados que 95,2% souberam responder corretamente o valor da pressão arterial normal (Tabela 2).

 

 

 

Na Tabela 3, pode-se constatar que dentre as manifestações bucais causadas pelo uso de anti-hipertensivos, a xerostomia foi a mais citada, obtendo 85,7% das respostas, e a glossite foi citada em apenas 9,5% das respostas. Quando indagados sobre as soluções anestésicas que podem ser utilizadas nos usuários hipertensos, 61,9% responderam lidocaína e 9,5% responderam articaína e igual número bupivacaína. Sobre como minimizar a ansiedade do paciente, 95,8% afirmaram conversar com os pacientes antes dos procedimentos. As interações medicamentosas entre os Aines e os anti-hipertensivos que o paciente possa estar utilizando, mostraram-se conhecidas por apenas 48,6%. Por último, quanto à conduta desses profissionais, quando perguntados em que casos aferiam a PA do usuário, 33,3% responderam que dependia da anamnese realizada e 4,8% não souberam responder.

 

 

 

Ao se realizar a avaliação do perfil da amostra em relação à correta definição de hipertensão arterial, observou-se a associação estatística (p=0,006) entre os cirurgiões-dentistas que trabalham em outros locais além da Estratégias de Saúde da Família (ESFs) e o conhecimento da correta definição de hipertensão arterial (Tabela 4).

 

 

 

Discussão

No Brasil, existem cerca de 17 milhões de hipertensos, dos quais 35% encontram-se numa faixa etária acima dos 40 anos de idade. Sendo assim, estratégias de saúde têm sido criadas desde a prevenção ao tratamento desses usuários. O Estratégia de Saúde da Família é o principal programa responsável pela atenção básica, atuando com uma equipe multiprofissional, em que o processo de trabalho desenvolve um elo com a comunidade11.

Nesse contexto, dos 38 cirurgiões-dentistas pertencentes ao Estratégia Saúde da Família do município de Patos-PB, foram entrevistados 21. A maior parte apresentava pós-graduação, o que demonstrou o interesse desses profissionais por atualizações. Nove profissionais não foram encontrados após duas tentativas por estarem em férias, sete negaram-se a responder e uma unidade encontrava-se fechada.

As principais dificuldades, na realização deste trabalho, foram a relativa falta de interesse por parte dos profissionais em responder o questionário, bem como a falta de estudos com essas características, que dificultaram a confrontação dos dados. Dessa forma, foi realizado um confronto entre as respostas dos sujeitos com as encontradas na literatura para a realização das análises dos resultados.

Estudos na literatura12,13 concordam quando afirmam que a hipertensão é a doença sistêmica mais frequente nos consultórios odontológicos. Esses dizem ainda que essa enfermidade pode ser diagnosticada precocemente pela aferição casual da PA. Mesmo assim, no estudo realizado constatou-se que apenas 33,3% dos profissionais realizavam a aferição da pressão arterial de acordo com as necessidades encontradas na anamnese, encontrando resultado semelhante em estudo realizado na zona leste de São Paulo-SP14, no qual 75% dos cirurgiões-dentistas habitualmente não aferem a PA.

Em trabalho, avaliando o aumento da PA dos pacientes durante o atendimento odontológico15, foi observado que aqueles que apresentavam uma característica de ansiedade elevada, apresentavam aumento na PAS em alguns procedimentos, sugerindo que esse aumento poderia estar associado ao medo ou à ansiedade. Desse modo, para minimizar essas crises de ansiedade, evitando a elevação da PA, existem métodos farmacológicos como o uso de benzodiazepínicos, e os não farmacológicos que utilizam a conversa associada ou não a um relaxamento muscular16. Diante disso, no questionário foi elaborada uma pergunta aos profissionais para saber como minimizar a ansiedade nos usuários, visto que de maneira concordante com o referido autor, 95,8% dos entrevistados responderam que a conversa antes dos procedimentos era a melhor maneira de controlar a ansiedade nos usuários.

A pressão arterial pode ser classificada em quatro categorias de acordo com a Joint National Committee: normal com a PAS < 120 mmHg e PAD < 80 mmHg; pré-hipertenso com a PAS entre 120-139 mmHg e a PAD entre 80-89 mmHg; estágio 1 com a PAS entre 140-159 mmHg e a PAD entre 90-99 mmHg, e o estágio 2 com a PAS ≥ 160 mmHg e PAD ≥ 100 mmHg4,17,18. Assim, de maneira bastante positiva este estudo constatou que 95,2% souberam responder corretamente o valor da pressão arterial normal. Desse modo, observa-se que a maior parte dos profissionais sabe diferenciar a condição de normalidade para uma alteração patológica, sendo possível a detecção de um provável quadro de hipertensão.

A ocorrência de alterações no sistema estomatognático de pacientes hipertensos é causada principalmente pela utilização crônica das medicações anti-hipertensivas19,20. Nesse contexto, é possível observar na literatura que o efeito colateral de maior relevância encontrado nos pacientes hipertensos é a xerostomia21-23. De forma semelhante, a xerostomia, nesta pesquisa, foi a mais citada em 85,71% das respostas como a principal manifestação bucal devido ao uso dos anti-hipertensivos.

Ainda se torna relevante abordar, nesta temática, a importância do cuidado na utilização de anestésicos locais nos pacientes hipertensos, sendo essa interação ressaltada em estudo sobre a interação do uso da adrenalina na anestesia local odontológica em portador de coronariopatia24. Nesse contexto de utilização das anestesias locais, constata-se que, em pacientes hipertensos compensados, o uso de vasoconstritores adicionados às soluções anestésicas locais não é contraindicado, de modo que pode ser utilizada a adrenalina 1:100.000 ou 1:200.000, em doses pequenas, e o mais indicado é não ultrapassar o limite de dois tubetes por sessão. Outra opção existente é o uso da felipressina 0,03 UI/ml como vasoconstritor, associado à prilocaína 3%, por não produzir efeitos no sistema cardiovascular25,26. Entretanto, é possível ainda observar, na literatura, a indicação da mepivacaína a 3% sem vasoconstrictor como anestésico mais seguro a se utilizar em pacientes hipertensos descompensados27.

Diante de tudo que já foi apresentado, muitos são os fatores que influenciam na melhor conduta a ser seguida, pois fatores como o tipo de hipertensão, o quadro emocional do paciente, o procedimento a ser realizado e o tempo do procedimento, entre outros, influenciam bastante na tomada de decisão do cirurgião-dentista durante o seu atendimento e qual a conduta a ser realizada, tendo suas exceções àquilo que é preconizado.

Seguindo esse mesmo contexto, perguntou-se, neste estudo, aos profissionais a respeito da quantidade e do tipo de anestésico utilizado nos pacientes hipertensos. Em relação à quantidade de tubetes, os profissionais obtiveram um percentual de erro de 52,4%, mas houve um comportamento diferente nas respostas fornecidas em relação ao tipo de anestésico usado em pacientes hipertensos, tendo um maior percentual de acerto em 61,9%.

Grande parte da literatura pesquisada concorda que a realização do tratamento em pacientes hipertensos se dá por meio da utilização de vários fármacos denominados de anti-hipertensivos, que são: diuréticos, inibidores da enzima conversora de angiotensina- IECA, beta-bloqueadores, inibidores adrenérgicos, vasodilatadores e bloqueadores dos canais de cálcio6,28,29, sendo de fundamental importância que os diversos profissionais da saúde tenham conhecimento sobre esses fármacos, a fim de minimizar o risco das associações medicamentosas prejudiciais30.

Diante dessa temática, confere-se que todos os Aines podem realizar uma ação contrária de forma parcial ou total sobre os efeitos de vários agentes anti-hipertensivos, aumentando a morbidade desses pacientes, podendo levar a crises hipertensivas6. De maneira preocupante, os dados obtidos nesta pesquisa mostraram que apenas 48,6% dos entrevistados conhecem as interações desses medicamentos. Dessa forma, dentre os medicamentos que causam interações medicamentosas prejudiciais, os Aines são os mais importantes para os cirurgiões-dentistas, uma vez que essa classe de medicamentos são as mais prescritas por esses profissionais, cabendo a eles conhecerem os riscos trazidos a esses pacientes.

O Ministério da Saúde, pensando nesses pacientes, implantou o Programa Hiperdia, no qual se realiza o acompanhamento e tratamento de pacientes que são atendidos na rede ambulatorial do Sistema Único de Saúde (SUS) e que estão cadastrados como portadores de hipertensão arterial e/ou diabetes mellitus. Esse programa tem como objetivo combater amplamente esses agravos, estabelecendo metas e diretrizes para aumentar as ações de prevenção, diagnóstico, tratamento e controle dessas enfermidades, devendo haver uma reorganização do trabalho de atenção à saúde das unidades da rede básica dos serviços de saúde11. Mesmo diante dessas informações e sabendo da importância desse programa, podemos observar que ainda existe uma pequena parcela de profissionais que não participam do programa, respondendo de forma negativa ao esperado, pois 33,3% dos entrevistados não fazem parte do Hiperdia.

No presente estudo foi investigada a associação estatística entre o conhecimento correto da definição de hipertensão arterial e algumas variáveis que determinam o perfil do profissional que trabalha nos ESFs, como: tempo que está no emprego; trabalhar em outro local; tempo de formado; ter pós-graduação; e participar do Hiperdia. Diante dos resultados obtidos, observou-se a associação estatística entre trabalhar em outro local e definição correta da HA. Esse dado pode se associar ao fato de os profissionais que têm mais de um ambiente de trabalho sentirem-se estimulados a buscar constante atualização a respeito de temas relevantes como esse, de modo que toda e qualquer forma de conhecimento é sempre interessante buscar, fazendo com que esse profissional se destaque mais.

Os resultados, aqui, obtidos mostraram que há algumas falhas no processo de atualização desses profissionais, pois falta um incentivo maior para que novas pesquisas sejam desenvolvidas com o mesmo perfil, de forma que cada vez mais seja trabalhado o tema, transmitindo mais conhecimento e havendo um interesse maior por parte dos cirurgiões- dentistas. Dessa forma, novos conhecimentos e pensamentos serão transmitidos, aprimorando, cada vez mais, a transmissão de saberes a respeito da hipertensão arterial, contribuindo não somente para o aprendizado do profissional, mas também para o bem-estar do usuário.

 

Considerações finais

• os profissionais que participaram da pesquisa mostraram ter uma percepção deficiente em relação à abordagem dos pacientes hipertensos;

• a maioria dos profissionais responderam, de forma incorreta, quanto à quantidade de anestésico que pode ser utilizado no atendimento a um paciente hipertenso compensado, além do não conhecimento por parte de mais da metade dos cirurgiões-dentistas em relação às interações medicamentosas entre os Aines e os anti-hipertensivos.

 

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Endereço para correspondência:
Tássia Cristina de Almeida Pinto-Sarmento
Rua Antônio de Sousa Lopes, nº 100/apto 1802-C - Catolé
58410-180 Campina Grande-PB

E-mail:
tassiapinto@yahoo.com.br

 

Recebido: 22/04/2014
Aceito: 14/12/2014