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Arquivos em Odontologia

versão impressa ISSN 1516-0939

Arq. Odontol. vol.46 no.4 Belo Horizonte Out./Dez. 2010

 

Acesso a serviços odontológicos e auto-percepção da saúde bucal em adolescentes, adultos e idosos

 

Access to dental services and self-perception of oral health in adolescents, adults, and the elderly

 

 

Cristina GibiliniI; Cláudia Elisa de Campos EsmerizI; Luciana Fernandes VolpatoI; Zuleica Maria de Almeida Pedroso MeneghimI; Débora Dias da SilvaII; Maria da Luz Rosário de SousaIII

IPrograma de Pós-Graduação em Odontologia, Faculdade de Odontologia de Piracicaba, Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Piracicaba, SP, Brasil
IIPrograma de Pós-Graduação em Odontologia, Faculdade de Odontologia, Universidade de São Paulo (USP), SP, Brasil
III
Departamento de Odontologia Social, Faculdade de Odontologia de Piracicaba, Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Piracicaba, SP, Brasil

Autor correspondente

 

 


RESUMO

Conhecer e identificar as condições e a auto-percepção da saúde bucal dos indivíduos contribui favoravelmente para o planejamento e implementação de ações e programas. O objetivo deste trabalho foi descrever a experiência de cárie, condições de acesso a serviços odontológicos no Estado de São Paulo, e verificação da auto-percepção da saúde bucal de adolescentes, adultos e idosos, associada às condições clínicas encontradas. Um total de 1824 adolescentes (15 a 19 anos), 1612 adultos (35 a 44 anos) e 781 idosos (65 a 74 anos) participaram deste estudo. Os exames odontológicos foram realizados em domicílios, seguindo critérios da Organização Mundial de Saúde. As informações sobre acesso a serviços e autopercepção foram obtidas por meio de entrevistas. Os dados foram descritos e analisados com uso do teste Qui-quadrado, com 95% de confiança. O índice CPOD correspondeu a 28,6 para os idosos, 20,9 para os adultos e 6,5 para os adolescentes. Quanto ao acesso aos serviços odontológicos e tempo da última visita ao dentista, a maior freqüência foi há menos de 1 ano para adolescentes (60,1%) e adultos (47,9%), e há mais de 3 anos (58,5%) para idosos. Os adolescentes com menos experiência de cárie, ou seja, com CPOD abaixo da média, representaram 54,8%; a proporção de adultos com 20 ou mais dentes presentes foi de 64,3% e a prevalência de idosos edêntulos foi de 59,9%. A auto-percepção foi semelhante entre os grupos; com exceção dos idosos. A auto-percepção apresentou dados positivos para os adolescentes e adultos que apresentaram condições clínicas mais favoráveis. Diante destes resultados, torna-se necessária a implantação de ações de programas efetivos para educação e prevenção, com enfoque na manutenção dos dentes para adultos e idosos. Para adolescentes, há necessidade de controle e manutenção da saúde bucal para que futuramente estes apresentem melhores condições de saúde bucal que as encontradas dentre os adultos e idosos.

Descritores: Assistência odontológica. Odontologia em saúde pública. Saúde bucal. Epidemiologia.


ABSTRACT

Understanding and identifying the conditions and self-perception of oral health of people contributes positively to the planning and implementation of actions and programs. The purpose of this study was to describe the caries experience, the terms of access to dental services, and the self-perception of oral health, as well as to verify the association of clinical conditions inherent within self-perception in adolescents, adults, and the elderly in the state of Sao Paulo. The sample corresponded to 1,824 adolescents (15-19 years of age), 1,612 adults (35-44 years of age), and 781 elderly (65-74 years of age). Dental examinations were carried out in homes, using criteria from the World Health Organization; information about access to services and self-perceptions were obtained through interviews. Data were described and analyzed using the chi-square test with a 95% confidence interval. The DMFT index corresponded to 28.6 for the elderly, 20.9 for adults, and 6.5 for adolescents. Regarding access to dental services and time since last dental visit, the highest frequency was less than 1 year for teenagers (60.1%) and adults (47.9%), and over 3 years (58.5 %) for elderly patients. Adolescents with less experience of dental caries, i.e., DMFT below the average, accounted for 54.8%, while the proportion of adults with 20 or more teeth was 64.3% and the prevalence of edentulism was 59.9%. Self-perception was similar among the groups, with the exception of the elderly and presented positive data for adolescents and adults who had a greater contact with favorable clinical conditions. Given these results, it becomes necessary to implement actions for effective programs concerning education and prevention, with emphasis on retaining teeth for adults and the elderly. For teens, who commonly showed a better oral health than that found among adults and the elderly, the control and maintenance of oral health is a greater priority.

Uniterms: Dental care. Public health dentistry. Oral health. Epidemiology.


 

 

INTRODUÇÃO

Mesmo com dados evidenciando a expressiva melhora na condição de saúde bucal no Brasil, os resultados do levantamento nacional mais recente1 ainda apresentaram-se aquém das metas preconizadas pela Organização Mundial da Saúde (OMS) para o ano de 2000. Somente o índice que avalia experiência de cárie - CPOD - aos 12 anos foi compatível com a meta.

Apesar da reconhecida importância da saúde bucal, uma parcela importante da população brasileira não utiliza os serviços odontológicos frequentemente. Este fato foi demonstrado em um estudo que avaliou dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) nos anos de 1998 e 2003, em que, respectivamente, 18,7% e 15,9% dos brasileiros nunca consultaram o cirurgião-dentista2. Segundo o levantamento epidemiológico sobre saúde bucal realizado no país1, aproximadamente 14% dos adolescentes brasileiros nunca foram ao cirurgião-dentista, já o percentual dos adultos e idosos corresponderam a 3% e 6%, respectivamente.

Com a implantação da Política Nacional de Saúde Bucal (Brasil Sorridente), uma das metas a ser atingida é a de melhorar a condição de saúde da população, partindo de princípios e práticas, dentre as quais, se insere o aumento do atendimento, além da sua qualificação e também da ampliação do acesso aos serviços odontológicos a todas as faixas etárias3.

Ampliar o acesso a todas as faixas etárias é um fato importante tendo em vista que nas últimas décadas, o envelhecimento populacional no Brasil vem ocorrendo de forma crescente. Como descrito por Silva & Castellanos4, a Odontologia, inserida na área da saúde, tem enfrentado essa nova realidade, pois tradicionalmente voltou suas atenções especificamente a escolares, e desta forma, a condição de saúde bucal encontrada em adultos e idosos é insatisfatória, resultado da ausência de programas específicos para tais grupos.

No entanto, como ressaltado por Nickel et al.5, não mais se admite esta exclusão de clientela em um Sistema Único de Saúde (SUS), baseado nos princípios de universalidade de atenção em que todo cidadão tem direito à saúde e de integralidade de serviços onde as necessidades da população devem ser atendidas em sua totalidade.

Sabe-se que as necessidades da população, bem como, as condições de saúde/doença são verificadas através dos levantamentos epidemiológicos. Estes quantificam as condições de saúde dos indivíduos, além de serem usados no planejamento, organização e monitoramento dos serviços de saúde prestados, incluindo a saúde bucal6. Porém, como a maioria destes dados é coletada de forma quantitativa e baseada em índices, considera-se apenas a visão do profissional. A tendência é que também sejam obtidos dados qualitativos, coletados por meio de entrevistas/questionários para avaliar a auto-percepção, em que o próprio indivíduo percebe suas condições de saúde bucal e as necessidades de tratamento7,8, além de aspectos sócio-comportamentais e culturais, importantes para realizar o planejamento dos serviços de saúde bucal.

Diante do que foi exposto, torna-se importante conhecer a percepção e comportamento do indivíduo com relação à saúde bucal. Assim, o objetivo deste estudo foi descrever as condições clínicas de saúde bucal (experiência de cárie), o acesso a serviços odontológicos e a auto-percepção da saúde bucal e verificar a associação das condições clínicas com a auto-percepção em adolescentes, adultos e idosos do Estado de São Paulo.

 

MATERIAL E MÉTODOS

Este estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa (CONEP/581/2000), e utilizou a base de dados do estudo “Condições de Saúde Bucal no Estado de São Paulo em 2002”. Trata-se de um levantamento epidemiológico realizado pela Secretaria de Saúde do Estado de São Paulo em parceria com a Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo (USP), de acordo com a metodologia empregada no Projeto SB Brasil, inquérito de base populacional (Brasil, 2004)1.

No levantamento nacional, a amostra foi definida para ser representativa das cinco macro-regiões. Assim, para que o Estado de São Paulo apresentasse uma amostra estadual representativa, foram sorteados mais 16 municípios, complementando os 19 correspondentes à amostra nacional - totalizando 35 municípios9.

A amostra foi probabilística e estratificada por idade (18-36 meses, 5 anos, 12 anos, 15-19 anos, 35-44 anos e 65-74 anos). No presente estudo, serão descritos os dados dos indivíduos com 15-19 anos, 35-44 anos e 65-74 anos.

A seleção dos indivíduos para participar da pesquisa foi realizada a partir de uma amostra por conglomerados, em que o os municípios, os setores censitários e as quadras e domicílios foram consideradas as unidades primárias, secundárias e terciárias, respectivamente. Foi adotada a regra de não substituição dos domicílios e elementos amostrais sorteados. Para controlar a taxa de não resposta recomendou-se o retorno ao domicílio sorteado.

Os códigos e critérios utilizados neste levantamento seguiram as recomendações da OMS6 para avaliação da cárie dentária. Os indivíduos também responderam a uma entrevista que abrangeu aspectos sócio-demográficos, auto-percepção em saúde bucal e acesso a serviços odontológicos.

Foi realizado o processo de calibração da equipe considerando-se um número máximo de cinco examinadores por município e abrangendo no mínimo 24 horas de trabalho. Aferiu-se a porcentagem de concordância intra e interexaminadores a fim de se verificar a reprodutibilidade do estudo, tanto na fase de calibração quanto na de coleta de dados.

Os exames epidemiológicos e entrevistas foram realizados nas residências dos voluntários entre maio a julho de 2002.

Os dados gerais sobre as condições clínicas, auto-percepção da saúde bucal e acesso aos serviços odontológicos foram apresentados de forma descritiva.

Adicionalmente, foram selecionadas especificamente as seguintes condições clínicas para análise de associação nos diferentes grupos etários: CPOD (adolescentes) e presença de dentes (adultos e idosos).

O CPOD foi dicotomizado segundo a média, diferenciando os adolescentes que apresentaram CPOD acima da média daqueles com CPOD abaixo da média.

A presença de dentes considerou a prevalência da perda dentária (variação de 0 a 32 dentes). Para os adultos esta variável foi dicotomizada identificando os que apresentavam até 19 dentes e aqueles com 20 ou mais dentes. Dentre os idosos, a deferenciação foi feita considerando aqueles que não apresentavam nenhum dente (edêntulo total) daqueles com ao menos um dente na cavidade bucal. 

Cada variável (CPOD e presença de dentes) foi analisada quanto a sua associação com os fatores da auto-percepção de saúde bucal. As Tabelas 1 e 2 demonstram as variáveis examinadas com suas respectivas categorias.

 

 

 

Para a análise dos dados, foram usados os programas SPSS e Epiinfo 6.0, considerando-se o nível de confiança de 95%. A análise descritiva foi realizada com medidas de proporção e intervalos de confiança. O teste Qui-quadrado foi utilizado para verificar associações entre as variáveis.

 

RESULTADOS

Foram examinados 1824 adolescentes (15-19 anos), 1612 adultos (35-44 anos) e 781 idosos (65-74 anos). Para todas as idades, o maior percentual foi de mulheres (acima de 59%), com um elevado percentual de indivíduos brancos (acima de 70%), que residiam em área urbana (acima de 94%).

Com relação ao acesso a serviços odontológicos, verificou-se para todas as faixas etárias que a maioria já foi ao dentista ao menos uma vez. Com relação ao tempo da última visita ao dentista, 60,1% dos adolescentes e 47,9% dos adultos foram ao dentista há menos de 1 ano. Mais da metade (58,5%) dos idosos foi ao dentista há 3 anos ou mais.

Os demais dados, relacionados ao motivo da ida ao dentista, a avaliação do atendimento e a informações preventivas, estes podem ser visualizados na Tabela 1.

Com relação à cárie dentária, o CPOD foi de 6,5 (dp=4,7) para os adolescentes, 20,9 (dp=7,5) para os adultos e 28,6 (dp=5,9) para os idosos. O componente perdido correspondeu a 11,5 (dp=10,1) e 26,3 (dp=8,5) dentes para os adultos e idosos, respectivamente. As médias do índice CPOD e seus componentes com os intervalos de confiança (95%) podem ser visualizadas no Gráfico 1. Os adolescentes apresentaram em média, 28,2 (dp=1,8) dentes presentes; dentre os adultos, a média foi de 19,9 (dp=9,9) e os idosos tinham somente 5,3 (dp=8,2) dentes.

Com relação aos adolescentes que se apresentavam livres de cárie, o percentual correspondeu a 9,5%. Quanto ao edentulismo, verificou-se elevado percentual de idosos edêntulos (59,9%), e este percentual foi de 10,8% entre os adultos.

A Tabela 2 identifica as categorias de variação das condições clínicas dicotomizadas para a análise de associação com a auto-percepção (CPOD e presença de dentes), bem como a prevalência das mesmas, com seus percentuais e respectivos intervalos de confiança.

Grande parte dos adolescentes (68,0%) e adultos (72,3%) e mais da metade dos idosos (53,5%) relataram necessitar de tratamento odontológico. A auto-percepção da saúde bucal no geral foi favorável, sendo que mais da metade avaliou a mastigação e a fala de forma positiva (boa/ótima), além de achar que a saúde bucal não afetou o relacionamento com outras pessoas e não sentiram dor nos dentes e gengivas (Tabela 3).

 

 

Os adolescentes com menos experiência de cárie, ou seja, com CPOD abaixo da média representou 54,8%. Aqueles que relataram não necessitar de tratamento odontológico, que classificaram de forma positiva a saúde bucal, a mastigação, a fala, responderam que a saúde bucal não afetava seus relacionamentos e não tiveram dor, foram os que apresentaram menor experiência de cárie em proporção mais elevada (p<0,05). (Tabela 4)

 

 

A proporção de adultos com 20 ou mais dentes presentes foi de 64,3%. A presença de 20 ou mais dentes foi mais prevalente dentre os adultos que classificaram de forma positiva a saúde bucal, a mastigação e a fala (p<0,05). (Tabela 5).

 

 

A prevalência de idosos edêntulos foi de 59,9%; essa proporção foi mais elevada (p<0,05) dentre os idosos que relataram de forma positiva todas as variáveis relacionadas à auto-percepção da saúde bucal, com exceção da fala. (Tabela 6)

 

 

DISCUSSÃO

Com relação à história da prestação de serviços de saúde bucal no Brasil, havia a característica de ações de baixa complexidade, na sua maioria curativa e com acesso restrito da população. Grande parte dos municípios planejava e desenvolvia ações para a faixa etária de 6 a 12 anos (escolares). Os adultos e idosos tinham acesso a serviços de urgência, geralmente mutiladores10. Isto é revelado por condições de saúde bucal descritas no presente estudo, bem como em outros estudos brasileiros11,12, com elevada proporção de edentulismo, denotando condições insatisfatórias de saúde bucal, do ponto de vista normativo.

Ainda no contexto do acesso aos serviços odontológicos, Pinheiro & Torres2 relataram que o percentual dos que nunca consultaram o dentista no Estado de São Paulo foi de 11,6 (em 1998) e de 10,4% (em 2003), com redução de 10,3%. Entre os adolescentes, adultos e idosos, em 2003, o percentual dos que nunca consultaram o dentista foi de 8,8%, 3,4% e 6,3%, respectivamente. Estes achados foram muito próximos ao encontrado no presente estudo.

Pinheiro & Torres2 acrescentam ainda que embora as diferenças nas necessidades em saúde não sejam eliminadas apenas com o uso dos serviços de saúde, é inegável que o acesso a serviços de qualidade possa amenizar condições desfavoráveis de saúde em populações. Em acréscimo, o fato de nunca ter consultado o dentista é um indicador bastante negativo relacionado à falta de acesso aos serviços odontológicos e apesar da baixa porcentagem dos que nunca visitaram o dentista inferir no aumento na oferta de serviços, este fato não está relacionado a melhoria na qualidade do atendimento.

No presente estudo a proporção de adolescentes (60,1%) e adultos (47,9%) que visitaram o dentista há menos de um ano foi inferior aos dados citados por Lisboa & Abegg13 (67,1% e 62,9%, respectivamente). Já os resultados referentes ao levantamento de saúde bucal no Brasil1 demonstraram valores inferiores, tanto para os adolescentes (48,5%) quanto para os adultos (37,8%).

Matos & Lima-Costa14 avaliaram dados relativos aos adultos e idosos da região Sudeste do Brasil e se comparado com os resultados do presente estudo, houve menor proporção de adultos (47,9%) que haviam visitado o dentista há menos de um ano e maior proporção de idosos (69,6%) que foi ao dentista há 3 anos ou mais. O acesso aos serviços é importante e deve ser avaliado, mas a freqüência com que as diferentes faixas etárias requerem e o motivo pelo qual freqüentam o serviço odontológico também devem ser monitorados, pois assim podem ser planejadas e implementadas ações com ênfase no controle das doenças e que possibilite o diagnóstico precoce.

Quando foram avaliadas as condições clínicas com relação à carie dentária, verificou-se que os adolescentes apresentaram mais dentes restaurados (4,6), correspondendo a dois terços do índice CPOD, o que pode refletir pela maior procura pelo reparo e manutenção da saúde bucal. Em contrapartida, para os adultos e idosos as maiores médias correspondem a dentes perdidos (11,5 e 26,3 respectivamente), o que pode estar relacionado ao principal motivo pelo qual estes grupos procuraram pelo serviço odontológico, a dor.

Mesmo diante de condições de saúde bucal consideradas como não sendo satisfatórias, e com a auto-percepção positiva, uma elevada proporção dos indivíduos relatou necessitar de tratamento odontológico. Matos & Lima-Costa14 relataram que 77% dos adultos e 49,8% dos idosos (região Sudeste do Brasil) perceberam necessidade de tratamento odontológico, dados estes semelhantes ao presente estudo; no entanto, as mesmas autoras14 acrescentaram que os adultos e idosos que auto-definiram a não necessidade de tratamento, foram os que predominantemente avaliaram de forma positiva sua saúde bucal.

Os dados do presente estudo mostraram percepção favorável da saúde bucal, observada dentre os adolescentes com menor experiência de cárie e nos adultos com mais dentes presentes. Diante destas informações, sugere-se que estes indivíduos se preocupam mais com a saúde bucal e se importam com a manutenção dos dentes com influência direta na qualidade de vida.

Por outro lado, os idosos edêntulos avaliaram a percepção da saúde bucal, (incluindo a mastigação, relacionamento, aparência) de forma mais positiva que os dentados. Este fato corrobora dados relatados por outros estudos14-16, o que parece ser indicativo de que o fato de estes idosos não apresentarem mais os dentes naturais não interfere de modo desfavorável em sua vida cotidiana, talvez pelo fato de aceitarem a perda dos dentes como um processo inerente ao envelhecimento16, ou ainda com um certo conformismo.

Araújo et al.17, em um estudo realizado em Pelotas-RS, relataram  percentual elevado com relação à auto-percepção da saúde bucal como boa/muito boa, correspondente a adolescentes, adultos e idosos. (68,8%, 58,1% e 66,3%). Baldani et al.18, relataram que 69% dos idosos consideram sua saúde bucal boa ou muito boa apesar de 76% utilizarem prótese total.

A saúde bucal deveria ser incluída como um dos fatores para a melhoria da qualidade de vida das pessoas. No entanto, na maioria das vezes não tem sua importância reconhecida, principalmente pelas pessoas idosas. A perda total de dentes ainda é aceita como um fenômeno normal e natural que acompanha o envelhecimento, e não como reflexo da falta de políticas preventivas de saúde, destinadas à população adulta para a manutenção dos dentes até idades avançadas11. Dados do levantamento nacional relatados por Barbato & Peres19, demonstraram que os adolescentes apresentaram elevada prevalência de perdas dentárias, correspondendo a 38,9%. Este resultado merece destaque, pois indica que as perdas dentárias acometem os indivíduos em idades precoces, antes mesmo da fase adulta.

Como ressaltado por Matos et al.20, a saúde bucal pode ser vista como uma importante medida de avaliação dos serviços odontológicos. No entanto, esta avaliação deve também incluir a satisfação dos usuários com a aparência dos dentes, satisfação com a capacidade de mastigação, percepção da necessidade de tratamento dentário, presença de dor nos dentes e tipo de tratamento recebido. Neste contexto, outros autores21,22 já relataram a utilização dos serviços como produto da interação entre determinantes individuais, do sistema de saúde e do contexto social, incluindo também a experiência passada de utilização dos serviços.

 

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Ressalta-se que os dados apresentados neste estudo são importantes para que o planejamento de ações, voltadas para os grupos estudados, leve em consideração as condições clínicas, mas que as mesmas sejam complementadas com os dados subjetivos, além das condições sociais, econômicas e culturais, pois as mesmas interferem diretamente com o processo saúde-doença. Seria necessário que o planejamento em saúde bucal para estes grupos considerassem a realidade apresentada para que, desta forma, a implantação das ações e programas esteja voltada para a promoção de saúde com enfoque no controle das doenças bucais, para que estes adolescentes possam chegar à vida adulta e idosa com melhores condições e valorização da importância da saúde bucal.

 

AGRADECIMENTOS

Agradecemos à Dra. Lilian Berta Rihs Perianes pela participação e importante colaboração na análise estatística inicial dos dados apresentados neste trabalho.

 

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Autor correspondente:
Maria da Luz Rosário de Sousa Avenida Limeira, 901
CEP 13414-018 - Piracicaba – SP - Brasil
e-mail: luzsousa@fop.unicamp.br

Recebido em 07/07/2010 – Aceito em 24/12/2010

 

 

Contato: cgibilini@fop.unicamp.br, dra_claudiacampos@hotmail.com, lucianavolpato@superig.com.br, zuca.meneghim@terra.com.br, diasdeb@yahoo.com.br, luzsousa@fop.unicamp.br