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Arquivos em Odontologia

versão impressa ISSN 1516-0939

Arq. Odontol. vol.47  supl.2 Belo Horizonte Dez. 2011

 

 

Perfil das ações de extensão na Faculdade de Odontologia da UFMG

 

Profile of the extension activities from the UFMG dental school

 

 

Flávio de Freitas Mattos I; André Benedito Moura Dalsecco II; Érika Talita da Silva II; Sheyla Márcia Auad III

I Departamento de Odontologia Social e Preventiva, Faculdade de Odontologia, Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Belo Horizonte, MG, Brasil
II Cirurgião-dentista
III Departamento de Odontopediatria e Ortodontia, Faculdade de Odontologia, Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Belo Horizonte, MG, Brasil

Contato: f.f.mattos @uol.com.br

Autor correspondente

 

 


 

RESUMO

Na evolução de sua relação com a sociedade, a extensão universitária passou por pelo menos quatro diferentes momentos conceituais que determinaram suas práticas. Na Faculdade de Odontologia da UFMG, entre as ações de extensão em funcionamento, a mais antiga data de 1986. Elas hoje se apresentam consolidadas, e incluem a realização de cursos, projetos, programas, prestações de serviços e eventos. A centralização de sua gestão cabe ao Centro de Extensão da unidade acadêmica (CENEX FO-UFMG), instituído em 1977. Este trabalho tem como objetivo descrever o perfil das ações de extensão da Faculdade de Odontologia da UFMG. Todos os dados aqui apresentados foram extraídos do Sistema de Informação da Extensão (SIEX), em maio de 2011. Estavam então disponibilizadas 716 oportunidades para a participação de discentes de graduação em Odontologia e 194 oportunidades para cirurgiões-dentistas matriculados em cursos de extensão. Foi atendido um público de 21481 pessoas no ano de 2010. As ações de extensão da FO-UFMG são diversificadas quanto ao tipo e também quanto à instância propositora. Refletem o grande envolvimento da comunidade acadêmica, abrangendo amplo contingente populacional, além de proporcionarem campo para o desenvolvimento do processo ensino-aprendizagem e suscitarem temas para a produção intelectual.

Descritores: Universidades. Relações comunidade-instituição. Ensino. Odontologia. Sociedades.


 

ABSTRACT

In the evolution of its relationship with society, university extension activities have undergone at least four different conceptual moments which have determined their practices. In the UFMG dental School, among the many ongoing extension activities, the oldest was established in 1986. These are now consolidated and include courses, projects, programs, the rendering of services, and events. Their central management is performed by the university's Extension Center (CENEX FO-UFMG). As such, this study sought to describe the profile of the community extension activities of the UFMG Dental School. All data shown here were extracted from the Extension Information System (SIEX) in May 2011. The extension courses offered 716 opportunities for dental students and 194 opportunities for dental professionals enrolled in the courses. A population of 21.481 individuals were treated in 2010. The community extension activities of FO-UFMG varied as regards the type and source of proposal. These activities reflect the deep involvement of the school community, reaching a wide range of population groups, in addition to providing new fields for the teaching-learning process and offering new topics for the production of knowledge.

Uniterms: Universities. Community-institutional relations. Teaching. Dentistry. Societies.


 

 

INTRODUÇÃO

Historicamente, a extensão surgiu nas primeiras escolas gregas, através de suas aulas abertas ao público e de sua perspectiva dialética. Outros registros mostram ações de extensão em universidades europeias desde a idade média até meados do século XIX. Nesta época, ela era utilizada como forma de disseminar conhecimentos técnicos e de promoção de campanhas de saúde e assistenciais a populações carentes. Buscava-se redimir a Universidade de seu distanciamento de alguns grupos sociais, ao mesmo tempo em que se atendia aos interesses do capital1,2.

Na evolução de sua relação com a sociedade, a extensão universitária passou por pelo menos quatro diferentes momentos conceituais que determinaram suas práticas. Houve a transmissão vertical do conhecimento, a ação voluntária sócio-comunitária, a ação sócio-comunitária institucional e o momento acadêmico institucional3.

Atuando na transmissão vertical do conhecimento, as ações de extensão das universidades no século XIX, retratavam um momento autoritário de quem desconhecia o saber popular e se acreditava detentor do saber absoluto e superior, capaz de redimir a ignorância. Suas ações eram pontuais. O momento da ação voluntária sócio-comunitária nasceu do resgate das ações educativas medievais dos jesuítas e da interação com o movimento estudantil latino americano. Seus novos paradigmas têm como marco o movimento estudantil de Córdoba, Argentina, em 1918. Tais paradigmas pressupunham o caráter processual, o comprometimento com mudanças sociais, a vinculação ideológica e a militância política de docentes e discentes. Assim, a extensão universitária passou a ter uma interface entre o saber produzido nas universidades e a cultura local. Ela iniciou uma trajetória para transformação da sociedade, transformou-se a si mesma e transformou sua relação com as atividades acadêmicas de ensino e pesquisa. Tais paradigmas levam, então, à criação das universidades populares em diferentes países latinos americanos. No Brasil, as universidades populares foram chamadas de "livres" e criadas em diferentes regiões. Aqui, a partir do final da década de 1930 e inicio da seguinte, houve um período de grandes experiências de práticas educativas em extensão. Com objetivo cultural, são criadas salas de leituras, experiências de rádio difusão, difusão cultural, além dos cursos e conferências abertas, objetivando a discussão e solução dos problemas sociais. A institucionalização das ações voluntárias sócio-comunitárias dá-se com a reforma universitária brasileira de 1931. Neste momento, a extensão readquire características redentoras, messiânicas. A extensão universitária institucionalizada brasileira nasce com caráter domesticador. Entretanto, mantinha-se um contra ponto a isto, nas universidades populares e no movimento estudantil. Foi a partir da ditadura militar brasileira instalada na década de 1960, que o Movimento Estudantil e a prática de uma Extensão Universitária emancipadora, passaram a ser entendidos como potencial risco à ordem vigente. Assim, como forma de se contrapor e cooptar os estudantes para o trabalho assistencial comunitário, o governo militar institui no Brasil programas de atuação esporádica e desvinculada das instituições universitárias. O momento acadêmico institucional da extensão nasce de sua reapropriação pelas universidades, findo o regime militar. Em 1987, é criado o Fórum Nacional de Pró-Reitores de Extensão das Universidades Públicas Brasileiras que passa a coordenar as discussões conceituais e as práticas sobre o tema1,2.

Em 1996, a Lei n. 9.394, de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, reafirma e detalha, entre os objetivos da universidade, a Extensão Universitária4:

"A Extensão Universitária é o processo educativo, cultural e científico que articula o Ensino e a Pesquisa de forma indissociável e viabiliza a relação transformadora entre Universidade e Sociedade. A Extensão é uma via de mão-dupla, com trânsito assegurado à comunidade acadêmica, que encontrará, na sociedade, a oportunidade de elaboração da práxis de um conhecimento acadêmico. No retorno à Universidade, docentes e discentes trarão um aprendizado que, submetido à reflexão teórica, será acrescido àquele conhecimento."

Entre os objetivos da extensão universitária, estabelecidos em 1998 pelo Fórum de Pró-Reitores de Extensão das Universidades Públicas Brasileiras tem-se5:

"Reafirmar a extensão universitária como processo acadêmico definido e efetivado em função das exigências da realidade; indispensável na formação do aluno, na qualificação do professor e no intercâmbio com a sociedade, o que implica em relações multi, inter ou transdisciplinares e interprofissionais."

"Dar prioridade às práticas voltadas ao atendimento de necessidades sociais emergentes, como as relacionadas com a área de educação, saúde e habitação, produção de alimentos, geração de emprego e ampliação da renda."

Na Faculdade de Odontologia da UFMG, entre as ações de extensão em funcionamento, a mais antiga data de 1986. Elas hoje se apresentam consolidadas, e incluem a realização de cursos, projetos, programas, prestações de serviços e eventos. A centralização de sua gestão cabe ao Centro de Extensão da unidade acadêmica (CENEX FO-UFMG), instituído em 1977.

Este trabalho tem como objetivo descrever o perfil das ações de extensão da Faculdade de Odontologia da UFMG (FO-UFMG).

DESCRIÇÃO DAS ATIVIDADES DE EXTENSÃO

Todos os dados aqui apresentados foram extraídos do Sistema de Informação da Extensão (SIEX), em maio de 2011. Estavam então disponibilizadas 716 oportunidades para a participação de discentes de graduação em Odontologia e 194 oportunidades para cirurgiõesdentistas matriculados em cursos de extensão. Foi atendido um público de 21481 pessoas no ano de 2010.

No total de 62 ações de extensão registradas e em funcionamento na FO-UFMG, percebe-se o predomínio dos projetos de extensão não vinculados a programas, seguidos pelos projetos vinculados a programas, que totalizam 10% do total das ações (Gráfico 1).

Quanto à origem das ações de extensão, verifica-se um predomínio da iniciativa departamental sobre os demais propositores. Entre os quatro departamentos da unidade, o que oferece o maior número de ações de extensão é o Departamento de Clínica Patologia e Cirurgia Odontológica (CPC) (Tabela 1). Analisando-se a distribuição dos tipos de ação de extensão entre os diferentes propositores, verifica-se que, quanto aos projetos de extensão, os Departamentos de Odontologia Social e Preventiva (OSP) e Odontologia Restauradora (ODR) são os mais frequentes. Os mesmos departamentos também conduzem a maioria dos programas de extensão. Há uma concentração maior de cursos propostos pelo CPC. O Departamento de Odontopediatria e Ortodontia (OPO) é a origem mais frequente das prestações de serviços, enquanto o OSP foi o que mais promoveu eventos no período compreendido entre maio de 2010 e maio de 2011.

 

 

 

 

 

Sobre os produtos acadêmicos gerados pelas ações de extensão da FO-UFMG, no ano de 2010, foram registrados 163. Este total foi composto de 78 apresentações em eventos acadêmicos, 43 artigos, 13 monografias, 8 resumos em anais de eventos, 8 capítulos de livro, 7 teses ou dissertações, 4 manuais ou cartilhas, um produto audiovisual, e uma matéria jornalística.

 

CONSIDERAÇÕES FINAIS

As ações de extensão da FO-UFMG são diversificadas quanto ao tipo e também quanto à instância propositora. Refletem o grande envolvimento da comunidade acadêmica, abrangendo amplo contingente populacional, além de proporcionarem campo para o desenvolvimento do processo ensino-aprendizagem e suscitarem temas para a produção intelectual. É dada prioridade à atenção às necessidades sociais relacionadas com a área da saúde. Entretanto, faz-se necessário um estudo aprofundado das ações desenvolvidas para verificar seu enquadramento em um, ou mais de um, dos momentos históricos de desenvolvimento da extensão universitária: transmissão vertical do conhecimento, ação voluntária sócio-comunitária, ação sócio-comunitária institucional e momento acadêmico institucional.

 

REFERÊNCIAS

1. Rocha RM, Gurgel H. A construção do conceito de extensão universitária na America Latina. In: Faria DS, editors. Construção Conceitual da Extensão na America Latina. Brasilia: UNB; 2001. p.35-53.         [ Links ]

2. Nogueira, MDP. Extensão Universitária no Brasil: uma Revisão Conceitual. In: Faria DS, editors. Construção Conceitual da Extensão na America Latina. Brasilia: UNB. 2001, p.14-27.

3. Serrano RMSM [Internet]. Conceitos de extensão universitária: um diálogo com Paulo Freire. [acesso em 2011 jun 14]. Disponível em: http://www.prac.ufpb.br/copac/extelar/atividades/discussao/artigos/conceitos_de_extensao_universitaria.pdf.

4. Brasil. Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Estabelece as diretrizes e bases da educação nacional. Diário Oficial da República Federativa do Brasil. 1996, 248, p.134-44.

5. Brasil. Plano Nacional de Extensão 1999-2001. [Internet] [acesso em 2011 jun 14]. Disponível em: www.mec.gov.br/Sesu/planonaex.shtm.

 

 

Autor correspondente:
Flávio de Freitas Mattos
Departamento de Odontologia Social e Preventiva
Av. Antonio Carlos 6627 - Campus Pampulha - UFMG
CEP: 31270-901 - Belo Horizonte - MG - Brazil

E-mail: f.f.mattos @uol.com.br