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Arquivos em Odontologia

versão impressa ISSN 1516-0939

Arq. Odontol. vol.47  supl.2 Belo Horizonte Dez. 2011

 

 

Emergências odontológicas

 

Dental emergencies

 

 

Marcelo Drummond Naves I; Juliana Vilela Bastos II; Maria Ilma de Souza Cortes III; Luiz Augusto Lima IV

I Departamento de Clínica, Patologia e Cirurgia Odontológica, Faculdade de Odontologia, Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Belo Horizonte, MG, Brasil
II Departamento de Odontologia Restauradora, Faculdade de Odontologia, Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Belo Horizonte, MG, Brasil
III Departamento de Odontologia, Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC Minas), Belo Horizonte, MG, Brasil
IV Cirurgião-dentista

Contato: madruna@uol.com.br, jvb@ufmg.br, cortesmi@globo.com.br

Autor correspondente

 

 


 

RESUMO

A área de emergência/urgência odontológica se caracteriza por sua grande demanda e altos custos, devido principalmente à necessidade de mão de obra com alta especificidade. No município de Belo Horizonte o único serviço público que oferece este serviço 24 horas é o Hospital Municipal Odilon Behrens – HMOB sendo que a Faculdade de Odontologia da UFMG tem tradicionalmente desenvolvido atividades de estágio, ensino e pesquisa em conjunto com este setor, promovendo um intercâmbio mutuamente enriquecedor. Uma das atividades desenvolvidas é o projeto de extensão "Emergência Odontológica", formalizado através de um convênio de cooperação mútua entre as duas instituições. O projeto, juntamente com outras atividades ali desenvolvidas, contribuem para reforçar a importância do ambiente hospitalar como um espaço pedagógico na formação do profissional da odontologia e ampliam a oferta de atendimento emergencial pelo mesmo. O projeto "Emergência Odontológica", integrado ao Programa de Traumatismos da FO-UFMG, assume importância estratégica ao articular o atendimento emergencial realizado no HMOB com as clínicas de referência da Faculdade onde os pacientes que sofreram traumatismos dento-alveolares são encaminhados para dar continuidade ao tratamento.

Descritores: Emergências. Traumatismos dentários. Avulsão dentária.


 

ABSTRACT

Emergency/urgent dental care is characterized by high demand and high costs, mainly due to the need for highly skilled labor. In the city of Belo Horizonte, Brazil, the only public service that offers this 24 hour service is the Odilon Behrens Municipal Hospital (HMOB). The School of Dentistry of the Federal University of Minas Gerais (UFMG) has traditionally developed training activities, teaching, and research in conjunction with HMOB. One such activity is the extension project, entitled "Dental Emergency", formalized by a mutual cooperation agreement between the two institutions. The project, along with other activities, contributes to reinforcing the importance of the hospital environment as a pedagogical space in the formation of the dental professional and expanding the provision of emergency care within this space. The project, "Dental Emergency", integrated within the Dental Trauma Program from the UFMG School of Dentistry, is of strategic importance in coordinating the emergency service performed at HMOB clinics, as well as at the clinics from the UFMG School of Dentistry, where patients who have suffered traumatic dental injuries are referred to continue their treatment.

Uniterms: Dental emergencies. Tooth injuries. Tooth avulsion.


 

 

INTRODUÇÃO

A abordagem inicial do paciente tem papel decisivo no sucesso do tratamento das emergências, fato que confere uma grande responsabilidade ao profissional que presta este atendimento. Cabe ao profissional coletar um conjunto de informações subjetivas e clínico-radiográficas que permitam identificar os vários componentes da lesão para definir as medidas terapêuticas necessárias. São prérequisitos básicos para lograr êxito nesta tarefa não só o domínio da técnica semiológica bem como o conhecimento sobre a prevalência, distribuição e implicações clínicas das principais patologias orais agudas e seu diagnóstico diferencial., Entretanto, apesar do estudo fornecer regras essenciais para a arte de examinar, ele sozinho, não é suficiente. Só a vivência permite ao profissional adquirir predicados tais como saber ouvir e ver bem o paciente, ter muita paciência, empatia e interesse para conduzir uma investigação minuciosa que leve ao diagnóstico correto e consequentemente, à solução satisfatória do problema1. Além disso, mesmo que não exista um consenso que contemple todos os aspectos envolvidos no tratamento das urgências, o clínico precisa estar a par da evolução dos recursos terapêuticos disponíveis. Essas considerações se tornam particularmente importantes num momento em que se observa uma preocupação da classe odontológica com o crescente número de processos contra Cirurgiões-Dentistas como muito bem ressaltou Ramos2:

"A evolução científica da Odontologia possibilita melhores probabilidades de sucessos na terapêutica. Porém esta mesma evolução nos ensina que os bons resultados terapêuticos dependem de múltiplos fatores para o seu sucesso. Alguns deles são, sim, de responsabilidade dos profissionais. O profissional deve se empenhar em não ser negligente, isto é, não deixar de efetuar todos os procedimentos preconizados. Não deve ser imprudente, isto é, afoito, precipitado, devendo planejar com critério seus tratamentos; nem imperito, isto é, realizar procedimentos clínicos para os quais não esteja tecnicamente preparado, sem ter bom domínio das técnicas. Se algumas destas situações ocorrer se concretizará a culpa do profissional, no sentido jurídico da palavra."

O Projeto Emergências Odontologias vem sendo ofertado desde 1992 e tem como meta principal estabelecer mecanismos de cooperação e intercâmbio entre a Faculdade de Odontologia da UFMG e o SUS/ BH na capacitação de recursos humanos e prestação de serviços na área de emergências odontológicas, reforçando a importância do ambiente hospitalar como um espaço pedagógico na formação do profissional da odontologia e ampliam a oferta de atendimento emergencial oferecido pelo SUS-BH.

DESCRIÇÃO DAS ATIVIDADES DE EXTENSÃO

O estágio de emergência no HMOB começou a ser ofertado como parte da disciplina estágio supervisionado em parceria com a Prefeitura de Belo Horizonte em 1986. A partir de 1992, com a instalação do currículo novo na Faculdade de odontologia, passou a ser ofertado como projeto de extensão isolado e passou a ser realizado durante o semestre letivo. Em 1997, como resposta a uma necessidade do hospital, passou-se a ter carga horária distribuída durante todo o ano, assumindo as características do projeto atual utilizando calendário corrido. Em 2004 foi inserido no Programa de Traumatismo Dentário tendo como objetivos específicos:

1. Constituir-se em campo de estágio para capacitação alunos de graduação e pós-graduação da FO-UFMG no cuidado de emergências odontológicas;
2. Viabilizar atividades de reciclagem para profissionais da rede se atualizar no cuidado a emergências odontológicas;
3. Permitir o monitoramento e coleta de dados epidemiológicos relativos à ocorrência de emergências odontológicas no município de Belo Horizonte;
4. Calibrar e padronizar procedimentos emergenciais realizados no âmbito da rede do SUS/ BH adequando-os a protocolos cientificamente embasados.
5. Prestar atendimento de urgência aos pacientes portadores de traumatismos dentários no âmbito do SUS-BH.

O projeto se desenvolve através de plantões de 24h semanais, realizados nas dependências do HMOB, onde são prestados atendimento clínico e cirúrgico ambulatorial em emergências odontológicas e buco maxilo faciais, atendimento clínico em cirurgia buco maxilo facial, estomatologia, patologia bucal e atendimento básico preventivo a pacientes internados. Além do atendimento clínico são realizados seminários e grupos de discussão para abordar aspectos técnicos e filosóficos envolvidos no atendimento de emergências além de questões epidemiológicas pertinentes, coleta de dados epidemiológicos, e atividades teóricas coletivas com os outros projetos integrantes do programa.

Os alunos, num total de doze (12), são selecionados através de prova escrita, avaliação de histórico e entrevista no final do 8º período de graduação para iniciarem o estágio no início do semestre letivo hospitalar, que compreende o período de 1º de janeiro a 30 de junho (1º semestre) e 1º de julho a 31 de dezembro (2º semestre). Os trabalhos são realizados em regime de escala de plantão o que já é um diferencial para formação do aluno que se vê obrigado a escalonar suas prioridades conforme os dias de sua escala, uma vez que aqui não existem feriados e fins de semana.

No ano de 2010 foram atendidos pela equipe do pronto socorro odontológico 15.787 pacientes, nos quais foram realizados 31.360 procedimentos. Destes, 2.223 estavam relacionados com traumatismo dento-alveolares3.

 

CONSIDERAÇÕES FINAIS

As lesões traumáticas dento-alveolares representam uma das urgências odontológicas mais frequentes devido à sua natureza aguda. Estudos clínicos têm demonstrado que estas lesões representam uma das causas mais comuns de procura dos serviços de pronto atendimento4-7. Entretanto, segundo Barret & Kenny19978, não estando habituado situações de urgência numa área que está fora da sua prática rotineira, o clínico se baseia em suas raras experiências prévias para solucioná-las. Hamilton et al.9 também concluíram que Cirurgiões-Dentistas envolvidos na atenção primária apresentavam um nível de conhecimento insuficiente para tratar as urgências em traumatismos dentários. Na realidade, a atuação do profissional nos casos de traumatismos, deve se iniciar já durante o primeiro contato telefônico com o paciente, ou mais frequentemente, com os pais ou responsáveis. É fundamental que neste momento sejam repassadas instruções relativas aos cuidados imediatos, tais como: orientações para um reimplante ou reposicionamento do elemento dentário, manuseio e meio de armazenamento de dentes avulsionados, localização e armazenamento de fragmentos. Em seguida, é imprescindível realizar uma avaliação clínica o mais rápido possível. Mesmo lesões dentárias que não necessitem um tratamento imediato, podem requerer uma intervenção para alívio da dor ou controle de quadros hemorrágicos e lesões de tecido mole. Por outro lado, o clínico deve ser capaz de reconhecer e encaminhar para um atendimento hospitalar, quadros que envolvam comprometimento neurológico, fraturas dos ossos da face e grandes lacerações de tecido mole. É importante ressaltar ainda, que nenhuma lesão traumática deve ser abandonada ao seu próprio curso. Após o atendimento de urgência todos os casos devem ser acompanhados a médio e longo prazo.

O projeto "Emergência Odontológica" assume importância estratégica ao estabelecer mecanismos de cooperação e intercâmbio entre a Faculdade de Odontologia da UFMG e o SUS/BH na capacitação de recursos humanos e prestação de serviços na área de emergências odontológicas. Não podemos deixar de ressaltar, o volume de procedimentos realizados pelos alunos no projeto, o que proporciona um treinamento supervisionado de grande importância na formação de recursos humanos nessa área da odontologia, agregando conhecimentos importantes na prática profissional que vão repercutir no atendimento das vítimas de traumatismo, levando a uma diminuição da morbidade e das sequelas nesses pacientes. Como exemplo do impacto social e transformação gerados pela atuação do Projeto junto ao HMOB podemos citar os resultados obtidos na avaliação das condições de manejo e tratamento emergencial dos casos de avulsão encaminhados à clínica de Traumatismos Dentários da FO-UFMG10 Com relação ao tratamento emergencial realizado no momento do acidente, a análise dos prontuários demonstrou que 84% dos dentes avulsionados foram reimplantados sendo que a maioria (53,3%) recebeu imobilização flexível. A medicação sistêmica mais frequentemente prescrita foi a analgésica, mas esta prática não foi frequente. Os resultados obtidos demonstraram que o tratamento emergencial dos dentes avulsionados encaminhados à CTD-FOUFMG foi realizado de maneira adequada.

 

REFERÊNCIAS

1. Estrela C, Estrela CAR. Diagnóstico da dor odontogênica. In Estrela C. Dor Odontogênica. São Paulo: Artes-Médicas; 2001.         [ Links ]

2. Ramos DLP. A proteção do profissional. In: Feller C, Gorab R. Atualização na clínica odontológica: cursos antagônicos. São Paulo: Artes Médicas; 2000. p.579-91.

3. Estatística 2010. Hospital Municipal Odilon Berhens - Serviço Odontológico. Belo Horizonte: 2010. Comunicação Pessoal.

4. Anaya-Alva S, Loyola Rodrigues JP. Análises retrospectivo de 787 urgências estomatológicas. ADM. 1984; 41:75-9.

5. Fleming P, Gregg TA, Saunders IDF. Analysis of an emergency dental service provided at a children's hospital. Int J Paediatr Dent. 1991; 125-30.

6. Schwartz S. A one-year statistical analysis of dental emergencies in a pediatric hospital. J Can Dent Assoc. 1994; 60:966-8.

7. Zeng Y, Sheller B., Milgrom P. Epidemiology of dental emergency visits to an urban children's hospital. Pediatr Dent. 1994; 16:419-23.

8. Barret EJ, Kenny DJ. Avulsed permanent teeth: a review of the literature and treatment guidelines. Endod Dent Traumatol. 1997; 13:153-63.

9. Hamilton FA, Hill FJ, Holloway PJ. An investigation of dento-alveolar trauma and its treatment in an adolescent population. Part 1: The prevalence and incidence of injuries and the extent and adequacy of treatment received. Br Dent J. 1997; 182:91-5.

10. Machado LA, Viana FS, Silva MNC, Côrtes MISC, Bastos JV. Tratamento emergencial de pacientes portadores de avulsão traumática em dentes anteriores permanentes. In: Anais do XI Encontro Científico da FO-UFMG, 2011; Belo Horizonte.

 

 

Autor correspondente:
Marcelo Drummond Naves
Faculdade de Odontologia
Av. Pres. Antônio Carlos, 6627
CEP: 31279-901 – Belo Horizonte – MG – Brasil

E-mail: madruna@uol.com.br