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Arquivos em Odontologia

versão impressa ISSN 1516-0939

Arq. Odontol. vol.47  supl.2 Belo Horizonte Dez. 2011

 

 

Promoção de saúde bucal para adolescentes

 

Promotion of oral health for adolescents

 

 

Ana Cristina Oliveira I; Viviane Elisângela Gomes I; Andréia Maria Duarte Vagas I; Efigênia Ferreira e Ferreira I

I Departamento de Odontologia Social e Preventiva, Faculdade de Odontologia, Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Belo Horizonte, MG, Brasil

Contato: anacboliveira@yahoo.com.br, vivigomes_br@yahoo.com.br, vargasnt@task.com.br, efigeniaf@gmail.com

Autor correspondente

 

 


 

RESUMO

Considerando-se que os adolescentes não são beneficiados pelos cuidados e atenção dispensados às crianças nem desfrutam da assistência direcionada aos adultos, a adolescência é considerada um período de risco para doenças bucais como cárie e doença periodontal. Este trabalho descreve o projeto de extensão "Promoção de Saúde Bucal para Adolescentes" desenvolvido na Faculdade de Odontologia da Universidade Federal de Minas Gerais (FO-UFMG). O Projeto "Promoção de Saúde Bucal para Adolescentes" existe há mais de 10 anos e faz parte do "Programa Promoção de Saúde" da FO-UFMG. Foi criado com o intuito de realizar ações de promoção da saúde bem como o atendimento odontológico de adolescentes de Belo Horizonte. O projeto vem ocupar um espaço necessário e lacunar, propondo uma atenção especial aos adolescentes. Tem como meta propiciar atendimento odontológico com vistas à promoção de saúde do adolescente. Permite ao aluno do curso de graduação em odontologia conhecer as especificidades dos pacientes adolescentes e também maior treinamento e desenvolvimento na definição do diagnóstico e na decisão do tratamento a ser realizado. O projeto acontece em uma das clínicas da FO-UFMG, sendo ofertadas 24 vagas por semestre. São realizados procedimentos preventivos, cirúrgicos e restauradores. Os alunos são todos voluntários, sendo que apenas o aluno monitor é contemplado com uma bolsa de auxílio financeiro. Os alunos envolvidos, em sua maioria, mostram-se satisfeitos e valorizam o aprendizado durante a participação no projeto. O atendimento ao adolescente é um grande desafio. Não existe uma fórmula pronta. Se o profissional não compreendê-lo na sua individualidade, não poderá relacionar-se de forma adequada e dificilmente atingirá a meta de prevenção almejada, pois não saberá motivá-lo.

Descritores: Adolescente. Cárie dentária. Atenção primária à saúde. Acesso aos serviços de saúde. Odontologia.


 

ABSTRACT

Considering that adolescents do not benefit from the care and attention to children or enjoy the targeted assistance provided for adults, adolescence is considered a period of risk for oral diseases, such as caries and periodontal disease. The preent study aimed to describe the "Oral Health Promotion for Adolescents" extension project, developed at the School of Dentistry form the Federal University of Minas Gerais (UFMG). The "Oral Health Promotion for Adolescents" project has been in existence for more than 10 years and is part of the "Health Promotion Project" at the UFMG School of Dentistry. The project was created in an attempt to take action to promote the health and dental care of adolescents in Belo Horizonte, Brazil. The project attempts to occupy an empty and incomplete space by proposing a special care for adolescents and aims to provide dental care in an attempt to promote healthcare for adolescents. This project grants undergraduate students in dentistry the opportunity for the firsthand study of the specifics of adolescent patients as well as increased training and development in defining the diagnosis and treatment decisionmaking. The project takes place in one of the UFMG School of Dentistry clinics, which offers 24 positions per semester. At this clinic, preventive, surgical, and restorative procedures are performed. All students are volunteers, and only the student tutor is awarded a financial aid grant. The majority of the students involved appear to be satisfied and value learning process during their participation in the project. The healthcare services for adolescents is an enormous challenge. There is no ready-made formula. If professionals do not understand the adolescents as individuals, they will be unable to relate with the adolescent properly and will unlikely be able to reach the desired goal of prevention, as they will be unable to effectively motivate the adolescent patient.

Uniterms: Adolescent. Dental caries. Primary health care. Health services accessibility. Dentistry.


 

 

INTRODUÇÃO

Cerca de 20% da população mundial é composta por adolescentes, estando 34 milhões deles no Brasil (22% dos brasileiros) (Brasil, 2008). O período da adolescência é determinado pela puberdade, pelo ambiente familiar e cultural. O adolescente está em busca de uma nova identidade. Seu estado emocional é marcado por constantes flutuações de humor, insegurança e por contradição de condutas.

Apesar da prevalência de cárie dentária na adolescência tenha apresentado declínio nos últimos 20 anos, ainda permanece em níveis preocupantes. O percentual médio de adolescentes afetados pela doença cárie varia em torno de 80% a 90%2-4. Considerandose que os adolescentes não são beneficiados pelos cuidados e atenção dispensados às crianças nem desfrutam da assistência direcionada aos adultos, a adolescência é considerada um período de risco para doenças bucais como cárie e doença periodontal. A presença de lesões cariosas, sangramento gengival e cálculo dentário são problemas comuns nessa parcela da população.

Levantamentos epidemiológicos nacionais, realizados no Brasil, demonstraram redução na prevalência e gravidade da cárie dentária. O primeiro levantamento epidemiológico nacional em saúde bucal foi realizado em 1986 nas capitais brasileiras. Dentre outras idades ou faixas etárias, foram examinados adolescentes entre 15 e 19 anos de idade, encontrando-se um CPOD médio de 12,4 na Região Sudeste, semelhante á média nacional, 12,7 (Brasil,1986). Em 2003, outro levantamento nacional mostrou o declínio do CPOD médio (6,7±4,82) para esta faixa etária7. O último levantamento epidemiológico nacional, realizado em 2010, apontou um CPOD médio de 4,2 para esta faixa etária (Brasil, 2010), mostrando uma redução de 30% do CPOD dessa faixa etária, entre os períodos de 2003 a 2010.

Os dados relacionados ao acesso ao atendimento odontológico desse ultimo levantamento mostraram que 13,5% dos adolescentes brasileiros nunca haviam tido uma consulta nesta área. Esse é um fator que deve ser considerado de maneira especial, uma vez que, dentre os fatores que podem influenciar a situação de cárie dentária em um grupo ou população, destaca-se a dificuldade para ampliar o acesso aos recursos de prevenção e para assegurar tratamento dentário às pessoas afetadas8

Para reverter o alto índice de cárie no Brasil e promover a saúde bucal de forma abrangente, é necessária a implantação de um amplo programa de prevenção, que inclua assistência odontológica preventiva e curativa associada à educação da população9,10. Ainda é grande o grau de desinformação das pessoas quanto à saúde da boca e dos dentes11-12.

As consequências provenientes da realização de programas preventivos são observáveis não apenas clinicamente, através da redução dos índices de cárie, mas também pela modificação da consciência popular, quanto aos cuidados com os dentes, hábitos de higiene bucal e dieta alimentar13. É consenso que programas preventivos proporcionam, comparativamente às ações curativas, menores custos de implantação e operacionalização, ofertando, em função da baixa complexidade dos procedimentos, uma cobertura maior da população13.

Considerando a importância da atenção odontológica direcionada aos adolescentes, o presente artigo objetivou descrever o projeto de extensão "promoção de saúde bucal para adolescentes" desenvolvido na Faculdade de Odontologia da Universidade Federal de Minas Gerais (FO-UFMG).

DESCRIÇÃO DAS ATIVIDADES DE EXTENSÃO

Frente à demanda de assistência aos adolescentes, foi iniciado, há cerca de 10 anos, o projeto de extensão "Promoção de Saúde Bucal para Adolescentes", que faz parte do "Programa Promoção de Saúde" da FO-UFMG. Foi criado com o intuito de realizar ações de promoção de saúde, dentre elas o atendimento odontológico de adolescentes de Belo Horizonte. O projeto vem ocupar um espaço necessário e lacunar, propondo uma atenção especial aos adolescentes. Tem por objetivos:

- Propiciar atendimento odontológico com vistas à promoção de saúde a adolescentes na faixa etária de 13 a 18 anos.
- Propiciar ao aluno do curso de graduação em odontologia conhecer as especificidades dos pacientes desta faixa etária;
- Permitir ao aluno do curso de graduação em odontologia maior treinamento e desenvolvimento na definição do diagnóstico e na decisão do tratamento a ser realizado;
- Propiciar ao aluno do curso de graduação em odontologia um treinamento maior de sua prática clínica.

O agendamento dos pacientes atendidos no projeto era organizado por livre demanda, o que ocasionava, muitas vezes, a falta de comprometimento dos pacientes com o cumprimento dos horários e assiduidade. A fim de aprimorar o projeto, tornando-o mais efetivo em suas ações, foi feito, em 2009, um contato com a Pró-Reitoria de Recursos Humanos da UFMG visando a inclusão dos adolescentes da Cruz Vermelha que prestam serviço na referida universidade. A resposta foi muito positiva, inclusive com a disponibilização dos dados necessários. A Pró-Reitoria de Recursos Humanos reconheceu a importância e necessidade da inclusão desses adolescentes no projeto. Embora tais adolescentes necessitassem de atenção odontológica os mesmos não eram contemplados, de forma regular, nos serviços prestados pela FO-UFMG. Tendo em vista essa demanda, as coordenadoras do projeto consideraram de extrema relevância social, a inclusão desses adolescentes no atendimento oferecido.

Com o intuito de orientar os pacientes e acompanhantes enquanto aguardavam pelo horário do atendimento, o projeto "Promoção de Saúde Bucal para Adolescentes" integrou-se ao projeto de extensão "Sala de Espera", onde são abordadas questões relacionadas aos cuidados com a saúde e incentivo ao autocuidado. A cada semana um tema diferente, de interesse aos adolescentes, é abordado. Dentre eles pode-se citar a herpes simples, o uso de piercings, hábitos de alimentação saudável, pericoronarite, doenças sexualmente transmissíveis, halitose.

O projeto se desenvolve em uma das clínicas da FO-UFMG, as sextas-feiras no período da tarde. Primeiramente os adolescentes passam por uma triagem e são cadastrados. A ordem de atendimento é determinada de acordo com o risco e atividade da doença. Os pacientes são informados sobre sua situação bucal e sobre o plano de tratamento a ser cumprido. São convidados e incentivados a participar, de forma ativa, na busca da sua saúde bucal.

Plano de trabalho dos alunos

O projeto de extensão contribui muito na formação acadêmica dos alunos do curso de graduação em odontologia, algo reconhecido por todos que participam do projeto. Os alunos são todos voluntários, sendo que apenas o aluno monitor é contemplado com uma bolsa de auxílio financeiro.

O projeto oferta 24 vagas por semestre. Os alunos desenvolvem seu potencial em vários planos: relação paciente-profissional, diagnóstico da situação de saúde, planejamento e execução do tratamento. São realizados procedimentos preventivos, cirúrgicos e restauradores. Todos os casos são discutidos e monitorados pelos professores participantes do projeto. Ao final de cada semestre há um seminário onde os alunos apresentam suas avaliações sobre o projeto com discussões bastante enriquecedoras. O projeto é avaliado pelos professores, juntamente com o aluno bolsista e os 24 alunos voluntários, em seminário semestral.

O aluno bolsista, ou monitor, é encarregado da organização do projeto no que diz respeito à inscrição dos pacientes e dos alunos, dos prontuários, chamada dos pacientes, inclusão dos pacientes, se necessário, em outras clínicas de referência. A avaliação do trabalho do monitor é realizada mensalmente pelo coordenador. O aluno bolsista tem o compromisso de apresentar, na Semana do Conhecimento da UFMG, o trabalho desenvolvido no ano.

 

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Os alunos envolvidos, em sua maioria, mostram-se satisfeitos e valorizam o aprendizado durante a participação no projeto. Os procedimentos clínicos realizados no projeto são, em sua maioria, de atenção básica.

O atendimento ao adolescente é um grande desafio. Não existe uma fórmula pronta. Se o profissional não compreendê-lo na sua individualidade, não poderá relacionar-se de forma adequada e dificilmente atingirá a meta de prevenção almejada, pois não saberá motivá-lo.

 

REFERÊNCIAS

1. Brasil. Ministério da Saúde [Internet]. Saúde do Adolescente: competências e habilidades. Brasília: Ministério da Saúde; 2008 [acesso em 2010 dez 18]. Disponível em: http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/saude_adolescente_competencias_habilidades.pdf.         [ Links ]

2. Amaral MA, Nakama L, Conrado CA, Matsuo T. Dental Caries in young male adults: prevalence, severity and associated factors. Pesqui Odontol Bras. 2005; 19:249-55.

3. Gushi LL, Soares MC, Forni TI, Vieira V, Wada RS, Sousa ML. Cárie dentária em adolescentes de 15 a 19 anos de idade no Estado de São Paulo, Brasil, 2002. Cad Saúde Pública. 2005; 21:1383- 91.

4. Milciuviene S, Bendoraitiene E, Andruskeviciene V, Narbutaite J, Sakalauskiene J, Vasiliauskiene I, et al. Dental caries prevalence among 12-15-yearolds in Lithuania between 1983 and 2005. Medicina (Kaunas) 2009; 45:68-76.

5. Brasil. Ministério da Saúde [Internet]. Vigilância Epidemiológica e Sanitária. Levantamento epidemiológico em saúde bucal: Brasil, zona urbana, 1986 [acesso em 2008 dez 12]. Disponível em: http://dtr2004.saude.gov.br/dab/cnsb/vigilancia.php

6. Brasil. Ministério da Saúde [Internet]. Projeto SB Brasil 2003. Condições de saúde bucal da população brasileira, 2002-2003: resultados principais. Brasília: Ministério da Saúde; 2004 [acesso em 2008 dez 12]. Disponível em: http://portal.saude.gov.br/saude/visualizar_texto.cfm?idtxt=19578

7. Brasil. Ministério da Saúde [Internet]. Projeto SB Brasil 2010. Pesquisa Nacional de Saúde Bucal. Brasília: Ministério da Saúde; 2010 [acesso em 2011 jun 22]. Disponível em: http://dab.saude.gov.br/cnsb/.

8. Antunes JL, Peres MA, Mello TR, Waldman EA. Multilevel assesment of determinants of dental caries experience in Brazil. Community Dent Oral Epidemiol. 2006; 34:146-52.

9. Rosa FB, Rosa ME, Cury NF, Oliveira SC. Projeto para um sorriso feliz: Programa de orientação de prevenção para mães. Rev ABO Nac. 1996; 4:36- 9.

10. Zuanon AC, Motisuki C, Bordin MM, Zuim K. Quando levar a criança para a primeira visita ao dentista? JBP, J Bras Odontopediatr Odontol Bebê. 2001; 44:321-4.

11. Barbosa TR, Chelotti A. Avaliação do conhecimento de aspectos da prevenção e educação em Odontologia, dentição decídua e oclusão, em gestantes e mães até 6 anos pósparto, como fator importante na manutenção da saúde bucal da criança. Rev Inst Ciênc Saúde. 1997; 4:13-7.

12. Pinto VG. Saúde bucal coletiva. 5ª ed. São Paulo: Santos, 2008. 13. Ferreira AR, Gaíva MA. Atenção odontológica para bebês: percepção de um grupo de mães. JBP, J Bras Odontopediatr Odontol Bebê. 2001; 4:485-9.

 

 

Autor correspondente:
Ana Cristina Oliveira
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Belo Horizonte-MG

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