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Arquivos em Odontologia

versão impressa ISSN 1516-0939

Arq. Odontol. vol.47  supl.2 Belo Horizonte Dez. 2011

 

 

A formação de Auxiliares em Saúde Bucal na Faculdade de Odontologia da Universidade Federal de Minas Gerais

 

The education of Dental Assistants in the UFMG School of Dentistry

 

 

Carlos José de Paula Silva I; Andréia Maria Araújo Drummond I; Simone Oliveira Campos II; Mara Vasconcelos III; Elza Maria de Araújo Conceição III; Viviane Elisângela Gomes III

I Programa de Pós Graduação em Odontologia, Faculdade de Odontologia, Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Belo Horizonte, MG, Brasil
II Cirurgiã-dentista
III Departamento de Odontologia Social e Preventiva, Faculdade de Odontologia, Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Belo Horizonte, MG, Brasil

Contato:acpalmier@terra.com.br, sdlucas@uai.com.br

Autor correspondente

 

 


 

RESUMO

A formação de equipes odontológicas configura-se hoje como uma das estratégias fundamentais para se atingir as metas de elevação dos níveis de saúde bucal da população brasileira. Este artigo tem por objetivo apresentar a experiência da Faculdade de Odontologia da Universidade Federal de Minas Gerais na formação de auxiliares em saúde bucal. A Faculdade de Odontologia tem uma trajetória de compromisso com as mudanças impostas pela evolução dos modelos de prática que sejam mais abrangentes, resolutivos e voltados para as reais necessidades da população. Nesse sentido, implementou sua proposta de formação de pessoal técnico e auxiliar das equipes odontológicas e vem formando auxiliares em saúde bucal desde meados da década de 90. O curso atualmente é organizado com metodologias de ensino que visam a preparação adequada desses profissionais às exigências do mercado, ao trabalho desenvolvido pela equipe de saúde, bem como às necessidades de cuidado da população. Do ponto de vista didático o curso busca propiciar oportunidades de estágios e treinamentos laboratoriais e clínicos, contribuindo na vivência de experiências de saúde coletiva e de atendimento individual. Consideramos também que é papel da universidade pública dar respostas e soluções que beneficiem a sociedade e também em qualificar profissionais capacitados para atuarem como multiplicadores dos conhecimentos produzidos.

Descritores: Saúde bucal. Auxiliares de odontologia. Formação de recursos humanos.


 

ABSTRACT

The education of dental assistants configures as one of the fundamental strategies to achieve the goal of raising the levels of oral health within the Brazilian population. This article aims to present the experience of the School of Dentistry from the Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) in the education of dental assistants in oral health. The UFMG School of Dentistry has a history of commitment to changes imposed by the evolution of practice models, which are more firm and focused on the true needs of the population. Based on this prinicple, the UFMG School of Dentistry has been implementing a proposal for the training and education of dental technicians and assistants, as well as the training of dental assistants in oral health, since the mid-1990's. The course is currently structured with education methodologies aimed at preparing these professionals for current market needs, the work developed by the health care team, as well as the healthcare needs of the population in general. From a didactic point of view, the course seeks to provide opportunities for internships and clinical and laboratory training, in turn contributing to the experience gained in public health as well as in individual services or private clinics. The role of the public university is to help present answers and solutions that bring benefits to society as a whole, as well as to to provide the proper training for professionals to act as multipliers of the generated knowledge.

Uniterms: Oral health. Dental auxiliaries. Human resources formation.


 

 

INTRODUÇÃO

A formação de equipes odontológicas configura-se hoje como uma das estratégias fundamentais para a elevação dos níveis de saúde bucal da população brasileira. O Sistema Único de Saúde, assim como as instituições formadoras de recursos humanos, têm apontado para a necessidade de investimento na formação de profissionais capacitados para compor tais equipes. Paralelamente, há grande demanda da população pela busca de capacitação profissional que lhes permita inserção no mundo do trabalho, que se torna a cada dia mais exigente e competitivo. A incorporação dos auxiliares em saúde bucal trouxe otimização do processo de trabalho, a minimização do custo operacional e a possibilidade de abertura ao acesso da população aos cuidados de saúde1. Além disso, permitiu um aumento da qualidade técnica e da produtividade2.

Em março de 2002, a portaria nº 267 do Ministério da Saúde, incluiu a saúde bucal na Estratégia Saúde da Família3. A partir daí, ocorreu um incremento nas possibilidades de inserção dos auxiliares em saúde bucal no mundo do trabalho pois, essa portaria com vistas à reorganização da atenção primária, fomentou a construção de uma equipe formada pelo cirurgião dentista, auxiliar em saúde bucal e técnico em saúde bucal4. Entretanto, somente com a Lei 11.889 de dezembro de 2008 concretizouse a regulamentação da atividade profissional dos auxiliares em saúde bucal5.

Nesse cenário de legitimação e consolidação profissional, este artigo tem por objetivo apresentar a experiência da Faculdade de Odontologia da Universidade Federal de Minas Gerais na formação de auxiliares em saúde bucal.

DESCRIÇÃO DAS ATIVIDADES DE EXTENSÃO

A Faculdade de Odontologia tem uma trajetória de compromisso com as mudanças impostas pela evolução dos modelos de prática que sejam mais abrangentes, resolutivos e voltados para a as reais necessidades da população. Nesse sentido, implementou sua proposta de formação de pessoal técnico e auxiliar das equipes odontológicas e vem formando auxiliares em saúde bucal desde meados da década de 90. A primeira turma do curso de formação de auxiliares em saúde bucal teve início em 1998. No ano de 2008, com o advento da Lei 11.889, ocorreu a regulamentação do exercício profissional do auxiliar em saúde bucal. O curso de auxiliar em saúde bucal (ASB) já capacitou para o mundo do trabalho aproximadamente 1.021 alunos e atualmente, encontra-se na sua 25ª turma.

O curso, atualmente, é organizado com metodologias de ensino que visam a preparação adequada desses profissionais às exigências do mercado, do trabalho em equipe, bem como às necessidades de cuidado da população. O objetivo principal é formar um profissional auxiliar capaz de atuar junto a equipes odontológicas, contribuindo assim para o aumento da resolutividade e qualidade dos serviços odontológicos prestados à população. Especificamente, objetiva-se formar auxiliares em saúde bucal para atuação no sistema público e privado de atenção odontológica, por meio de um conteúdo programático teórico e prático que contemple as atribuições do auxiliar em saúde bucal definidas pelo Conselho Federal de Odontologia.

O processo de seleção para o ingresso no curso está baseado em uma prova escrita e em uma entrevista, sendo condição necessária apresentar idade superior a 18 anos de idade, e possuir 1º grau completo, bem como, declarar disponibilidade para a frequência em aulas teóricas, práticas e estágio durante o curso. No transcorrer do curso são realizadas avaliações ao término dos principais conteúdos ministrados. Para a obtenção dos certificados o aluno deverá ter 75% de frequência às aulas e um índice de aproveitamento de 70%.

Do ponto de vista didático o curso busca propiciar oportunidades de estágios e treinamentos laboratoriais e clínicos, contribuindo na vivência de experiências de saúde coletiva e de atendimento individual, capacitando os alunos para desenvolverem junto a equipe de Saúde Bucal ações de Controle de Infecção e Microbiologia, Auto Cuidado, Manipulação de Materiais Odontológicos, Desinfecção, Esterilização e Acondicionamento de Instrumental, Aplicação da Ergonomia e Manuseio de Ficha Clínica. O curso apresenta uma carga horária de 300 horas, divididas em atividades teóricas e práticas (150 horas) e estágio (150 horas).

A metodologia aplicada está baseada em atividades teóricas e práticas que são ministradas por alunos do Programa de Pós Graduação em Odontologia, tutorados por professores do Departamento de Odontologia Social e Preventiva (DOSP) da FO-UFMG. Essa medida pode ser considerada duplamente positiva, pois, além de contribuir na formação e na inserção dos pós graduandos nas atividades docentes, permite que os mesmos utilizem no curso suas experiências profissionais sobre o mundo do trabalho. Cabe ressaltar que a grande maioria desses pós graduandos é oriunda ou exerce atividade nos setores público ou privado. Nas atividades teóricas são utilizadas metodologias ativas de aprendizagem por meio de dinâmicas de grupo e oficinas, buscando a participação e a reflexão dos alunos nos temas apresentados. A proposta pedagógica do curso é inserir o aluno precocemente em contato com a prática odontológica. Para as atividades práticas são realizados estágios em clínicas dos municípios envolvidos com o projeto de formação profissional e aulas práticas de laboratório, permitindo uma aproximação entre os conhecimentos adquiridos na sala de aula e a realidade de atendimento nas unidades de saúde.

No estágio, os alunos encontram a oportunidade de aplicar os conhecimentos adquiridos nas aulas teóricas e práticas. Além disso, esses alunos aprendem em serviço a participação nas ações previstas no plano de trabalho nos campos de estágio. Para as atividades de estágio, é estabelecido um cronograma que permite ao aluno desenvolver as atividades consideradas de rotina nos serviços público de saúde e nos consultórios privados tais como: esterilização de instrumentais odontológicos, manipulação de materiais, montagem de bandejas clínicas, trabalho a quatro mãos, acolhimento de pacientes e também visitas domiciliares. O que se percebe é que os alunos tem a oportunidade de levar para as aulas teóricas as experiências e percepções vivenciadas nas unidades, o que contribui para o enriquecimento de toda a turma, pois cada unidade possui sua especificidade tanto do ponto de vista do perfil dos usuários como das características técnicas e de atuação na prática odontológica.

A definição dos horários e turnos de estágio são estabelecidos em acordo com a disponibilidade dos locais selecionados para receber os alunos estagiários. Esses estágios são realizados nos Centros de Saúde das Prefeituras participantes do projeto. A frequência dos estagiários e seu desempenho são controlados por funcionários dos setores envolvidos por meio de um formulário de avaliação específico desenvolvido para esse fim.

A supervisão presencial do estágio é de responsabilidade do profissional que trabalha diretamente com o estagiário, sendo o Cirurgião dentista (CD) ou Técnico em Saúde Bucal (TSB) e também pela coordenação do curso a supervisão à distância por meio de reuniões periódicas. A coordenação fica em contato com os locais de estágio abrindo um canal permanente de comunicação entre os mesmos e a equipe docente responsável pelo curso. Ao final do estágio é elaborado um relatório a ser enviado à coordenação do curso, em formulário específico, informando a frequência do aluno e a avaliação de seu desempenho.

Tendo em vista o compromisso da educação permanente dos ASBs a coordenação do curso, com o apoio do corpo docente, dos professores do DOSP e do CENEX da FO-UFMG, organizou o 1º Encontro de Ex-Alunos do curso de Auxiliar em Saúde Bucal. Esse evento pioneiro foi realizado em setembro de 2010 e oportunizou a discussão de temas atuais e contou com a presença de convidados ilustres. A programação foi cuidadosamente elaborada e consistiu em: Legislação, Aprendendo a conviver, O mundo do trabalho, Trabalho em Equipe, Aprendendo a ser e Relatos de vivências.

Considerando a importância dos processos de avaliação, durante o 1º Encontro de Ex-Alunos do curso de Auxiliar em Saúde realizou-se uma análise de características atuais do ponto de vista sócio-demográfica dos egressos, além de verificar a inserção dos mesmos no mundo do trabalho. O instrumento de análise apresentava como quesitos informações sobre: (1) idade, (2) gênero, (3) ano de conclusão do curso, (4) grau de escolaridade, (5) renda mensal como auxiliar em saúde bucal, (6) se trabalha ou não como auxiliar em saúde bucal, (7) local que desempenha a atividade profissional, (8) tempo de exercício profissional, (9) se pretende continuar no exercício profissional de auxiliar em saúde bucal, e (10) se considera que o curso de auxiliar em saúde bucal contribuiu positivamente ou não como profissional da área.

Participaram da pesquisa 40 egressos e os resultados da avaliação apontaram alguns aspectos relevantes, como o predomínio do gênero feminino. Essa feminilização da profissão pode ser vista como um reflexo de antigas práticas dos cirurgiõesdentistas como, a transformação das secretárias em auxiliares durante o atendimento6. A média de idade foi de 35,8 anos, com idade mínima 20 anos e máxima 56 anos. Predominaram no encontro os egressos que concluíram o curso entre 2006 e 2010. Quanto ao grau de escolaridade, 31 dos participantes possuíam ensino médio completo.

Do total de participantes, 25 informaram que ainda exerciam a atividade de auxiliar em saúde bucal com renda média de R$606,00. Desses, 15 afirmaram exercer atividade profissional em consultório particular. Quanto ao tempo de atividade, 17 afirmaram exercer atividade profissional há mais de 1 ano. Vinte e cinco egressos informaram que pretendem continuar trabalhando como auxiliar em saúde bucal. Vinte e um participantes afirmaram que o curso de auxiliar em saúde bucal foi totalmente positivo no desempenho profissional. Os gráficos 1, 2 e 3 apresentam os principais resultados da avaliação realizada.

 

 

 

 

 

 

 

Os resultados apresentados no Gráfico 1 demonstram que os egressos consideram a importância de uma maior capacitação e da continuidade do processo educacional. Esse aspecto é estimulado durante as atividades pedagógicas no decorrer do curso, inclusive apontando a necessidade de aprimoramento constante inclusive na possibilidade em prosseguir os estudos com vistas ao ingresso em cursos superiores como pode ser percebido nos resultados.

O Gráfico 2 demonstra uma característica da odontologia no Brasil pautada pelo predomínio da atividade privada e que o desempenho da atividade no serviço público ainda é restrito, mas que, com a regulamentação da atividade profissional, já sinaliza um incremento da atuação dos auxiliares em saúde bucal no setor público. Essa característica pode estar baseada no fortalecimento do Sistema Único de Saúde com a incorporação cada vez maior das equipes de saúde bucal.

Os resultados demonstrados no Gráfico 3 reafirmam a necessidade de fortalecimento da proposta pedagógica do curso na Faculdade de Odontologia da UFMG. A proposta pedagógica tem como foco uma real qualificação dos alunos para o ingresso no mundo do trabalho.

 

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Este relato reitera o importante papel desempenhado pelos auxiliares em saúde bucal como atores essenciais no processo de construção da saúde bucal no Brasil. Não apenas objetivando uma otimização do processo de trabalho e um aumento da produtividade, mas, sendo fundamentais para a promoção, prevenção e recuperação da saúde bucal da população. Consideramos também que é papel da universidade pública dar respostas e soluções que beneficiem a sociedade e também em qualificar profissionais capacitados para atuarem como multiplicadores dos conhecimentos produzidos.

 

REFERÊNCIAS

1. Pezzato LM, Cocco MIM. O técnico em higiene dental e o atendente de consultório dentário no mundo do trabalho. Rev Saúde em Debate. 2004; 28: 212-9.         [ Links ]

2. Frazão P. Sistemas de trabalho de alta cobertura na assistência odontológica na perspectiva do Sistema Único de Saúde. In: Araújo ME (org) Odontologia em saúde coletiva. São Paulo: Faculdade de Odontologia da Universidade de São Paulo. 1999:100-18.

3. Brasil. Ministério da Saúde. Portaria nº 267, de 06 de março de 2001. Normas e diretrizes para a inclusão da equipe de saúde bucal na estratégia de saúde da família. Brasília; 2001.

4. Calado GS. A inserção da equipe de saúde bucal no programa de saúde da família: principais avanços e desafios. [dissertação]. Rio de Janeiro: Fundação Osvaldo Cruz; 2002.

5. Brasil, Lei nº 11.889, de 24 de dezembro de 2008. Regulamenta o exercício das profissões de Técnico em Saúde Bucal- TSB e de Auxiliar em Saúde Bucal-ASB. Brasília; 2008.

6. Kovaleski DF, Boing AF, Freitas SFT. Recursos humanos auxiliares em saúde bucal: retomando a temática. Rev Odontol UNESP. 2005; 34:161-5.

 

 

Autor correspondente:
Viviane Elisângela Gomes
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