SciELO - Scientific Electronic Library Online

 
vol.50 issue3 author indexsubject indexarticles search
Home Pagealphabetic serial listing  

Arquivos em Odontologia

Print version ISSN 1516-0939

Arq. Odontol. vol.50 n.3 Belo Horizonte Jul./Sep. 2014

 

 

Conhecimento atual sobre a necessidade de imunização da hepatite B dos acadêmicos da área da saúde de uma universidade brasileira

 

Current knowledge on the need for hepatitis B immunization among academians in the healthcare field of a Brazilian university

 

 

Manoelito Ferreira Silva-junior I; Rahyza Inácio Freire de Assis I; Cláudia Lobelli Rangel Gomes II; Paula Vitali Miclos III; Hedilberto Araújo de Sousa IV; Maria José Gomes

 

I Curso de Odontologia, Universidade Federal do Espírito Santo, UFES, Vitória, Espírito Santo, Brasil
II Programa de Pós-Graduação em Odontotologia, Departamento de Odontopediatria, Faculdade de Odontologia de Piracicaba, Universidade Estadual de Campinas (FOP/UNICAMP), Piracicaba, São Paulo, Brasil
III Cirurgiã-dentista, Florianópolis, Santa Catarina, Brasil
IV Departamento de Clínicas Odontológicas, UFES, Vitória, Espírito Santo, Brasil

Contatos: manoelito_fsjunior@hotmail.com, rahyzaifa@hotmail.com, claudialobelli@gmail.com, pvmiclos@gmail.com, hedilbertosousa@gmail.com, dramjgomez@yahoo.com.br

 

 


 

RESUMO

Objetivo: O objetivo do estudo foi avaliar o conhecimento sobre a vacinação da hepatite B, de acadêmicos dos cursos de Medicina, Odontologia e Enfermagem da Universidade Federal do Espírito Santo (UFES). Materiais e Métodos: A metodologia utilizada foi descritiva transversal com abordagem quantitativa e qualitativa, através de questionário semiestruturado validado em uma amostra de 298 acadêmicos. Os dados quantitativos foram expressos em frequências absolutas e relativas, e aos dados qualitativos seguiu-se a análise de Conteúdo de Bardin. Resultados: Dos alunos que acreditam que a vacinação é obrigatória, 83 (61,02%) são alunos de Medicina, 63 (77,77%) de Enfermagem e 50 (61,72%) de Odontologia. Dos alunos que são vacinados contra a hepatite B, a maioria são alunos de Medicina, com 109 (80,14%), seguidos pelos da Enfermagem com 58 (71,60%) e por último os de Odontologia 54 (66,66%). Na abordagem qualitativa, verificou-se apenas um eixo temático, Acesso. Sobre o acesso à informação sobre a doença, houve relato de diversos locais de obtenção do conhecimento. Foram citados também diversos locais que devem ser procurados pelos acadêmicos em caso de acidente com perfurocortantes. Conclusão: Embora os acadêmicos da área da saúde da UFES tenham conhecimentos satisfatórios sobre a vacinação contra a hepatite B, muitos ainda não foram vacinados. Diante disso, observa-se a necessidade de campanhas de prevenção e esclarecimentos no intuito de aumentar o compromisso com vacinações dos alunos da área de saúde.

Descritores: Hepatite B. Riscos ocupacionais. Imunização. Vacinação.


 

ABSTRACT

Aim: This study aimed to assess the current knowledge on hepatitis B vaccinations among the medical, dental and nursing students at the Federal University of Espírito Santo (UFES). Methods: A descriptive cross-sectional methodology using a quantitative and qualitative approach was implemented through a semi-structured questionnaire applied to 298 healthcare students. The quantitative data were expressed in absolute and relative frequencies and the qualitative data analysis followed Bardin's content analysis. Results: Of the students who believe that vaccination is mandatory, 83 (61.02%) are medical students, 63 (77.77%) nursing students, and 50 (61.72%) dental students. The highest percentage of students vaccinated against hepatitis B were medical students, at 109 (80.14%), followed by nursing students, at 58 (71.60%), and finally dental students, at 54 (66.66%). In the qualitative approach, there has been only one main theme: Access. Various locations were cited for students to obtain care in case of a needle stick type injury. Conclusion: Even though there is sufficient knowledge regarding the need to receive hepatitis B vaccination on the part of scholars in the healthcare field at UFES, many still affirm that they have not been vaccinated. Thus, there is a need for prevention and clarification campaigns to help improve healthcare student compliance with the vaccination.

Uniterms: Hepatitis B. Occupacional risks. Immunization. Vaccination.


 

 

INTRODUÇÃO

O Brasil ainda enfrenta problemas de saúde pública relacionados às doenças transmissíveis endêmicas e epidêmicas1 e isso se reflete na epidemiologia de doenças imunopreveníveis.

Os profissionais de saúde são como grupo de risco em relação a essas doenças, incluindo a hepatite B e estão diariamente expostos a patógenos, tanto em ambientes ambulatoriais como hospitalares2.

Dentre as inúmeras doenças passíveis de transmissão, a hepatite B é a doença ocupacional infecciosa mais importante para os trabalhadores da saúde3. Pois é necessário pouca quantidade de sangue infectado para transmissão da doença, além da grande resistência ambiental do vírus da hepatite B (HBV), que consegue sobreviver por mais de uma semana em temperatura ambiente4.

No entanto, percebe-se que a formação acadêmica dos profissionais de saúde ainda é focada nos conhecimentos aplicados aos pacientes, limitando seu autocuidado e das pessoas à sua volta2. Por isso, Cavalcanti et al.5 defende que a profilaxia por meio de vacinas deveria ser uma proposta obrigatória para todo profissional de saúde, principalmente aqueles que ainda estão em período de formação acadêmica, pois há a necessidade de um determinado tempo para adquirir imunidade, além do risco aumentado, pela inexperiência, na operação com materiais perfurocortantes pelos estudantes.

De acordo com Shimizu e Ribeiro6, entre os fatores que contribuem para a alta ocorrência de acidentes de acadêmicos em relação a materiais perfurocortantes, estão a falta de habilidade e de segurança para a realização dos procedimentos, além da ansiedade acrescida da inexperiência que aumentam o estresse7.

Medidas de proteção individual são indicadas para evitar a transmissão ocupacional do HBV, incluindo o uso de equipamentos de proteção individual, tais como: luvas, máscara, gorro, óculos de proteção e jaleco, além da vacinação de toda a equipe que realiza tarefas que envolvam contato com sangue, fluidos corporais, instrumentos perfurocortantes ou superfícies contaminadas por fluidos corporais. A vacinação deve ser completada preferencialmente ainda durante o treinamento, antes que os indivíduos tenham contato com os meios contaminantes4,8.

Os alunos de Odontologia, Medicina e Enfermagem da Universidade Federal do Espírito Santo (UFES) classificam-se como um grupo de risco em relação à hepatite B, por estarem diariamente expostos às vias de transmissão durante os procedimentos práticos ambulatoriais realizados como parte das atividades didáticas do curso, principalmente pela inexperiência no manuseio dos materiais e dos riscos eminentes à prática vivenciada.

O objetivo do estudo foi avaliar o conhecimento sobre a vacinação contra hepatite B de acadêmicos dos cursos de Medicina, Odontologia e Enfermagem da UFES.

 

MATERIAIS E MÉTODOS

Esse é um estudo descritivo transversal com abordagem quantitativa e qualitativa. A população do estudo foi composta por alunos dos cursos de Odontologia, Enfermagem e Medicina da UFES matriculados no 2o semestre de 2010 (2010/2). A amostra determinada pela fórmula de Barnett (1982) foi determinada em 296 alunos, subdivididos proporcionalmente pelo número de alunos em cada curso, sendo 12 alunos de cada turma de Medicina e 09 alunos de cada turma de Odontologia e Enfermagem.

Como critérios de inclusão, o acadêmico deveria ser maior de 18 anos, estar devidamente matriculado no semestre letivo de 2010/2 da UFES nos cursos estudados, ser eleito no sorteio randomizado e aceitar participar da pesquisa assinando o termo de consentimento livre e esclarecido (TCLE) e ter respondido todas as questões do questionário.

Os dados foram coletados pela aplicação de um questionário composto por questões abertas e fechadas seguindo questionário realizado no estudo de Silva-Junior et al.9.

A análise de dados foi feita utilizando-se o programa Excel 2010 (Microsoft, EUA). As questões abertas foram analisadas e categorizadas de acordo com o Conteúdo de Bardin10, buscando alcançar, dentro da perspectiva da fenomenologia, o relato específico de cada estudante e, posteriormente, o conjunto da amostra.

O presente estudo está registrado no Sistema Nacional de Ética na Pesquisa - SISNEP no Comitê de Ética em Pesquisa da UFES sob o protocolo de número 052/10 seguindo as recomendações da Resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde.

 

RESULTADOS

A amostragem total da pesquisa foi constituída de 298 acadêmicos da UFES, sendo assim distribuídos, por cursos: 136 alunos de Medicina, equivalente a 28,33% dos acadêmicos do curso, 81 (30,0%) de Enfermagem e 81 (30,0%) de Odontologia. Embora tenha sido previsto entrevistas com 144 acadêmicos de Medicina, houve perda de oito, devido a dados incompletos no questionário, o que não reduziu a amostra esperada. Dos participantes, 180 (60,4%) são do gênero feminino e 118 (39,6%) masculino. A idade dos acadêmicos participantes da pesquisa variou de 18 a 30 anos, com média relativa de 22 anos.

A tabela 1 apresenta dados referentes ao conhecimento dos acadêmicos em relação à da vacina e da doença hepatite B.

 

 

 

Buscou-se saber se os acadêmicos conheciam o significado da expressão "Paciente de risco". Os resultados mostram que 75 (92,59%) dos alunos de Odontologia, 81 (100%) alunos de Enfermagem e 111 (81,61%) dos alunos de Medicina disseram saber o significado da expressão.

A tabela 2 mostra os resultados obtidos sobre o conhecimento da obrigatoriedade da vacinação para realização de procedimentos clínicos nos cursos da área da saúde.

 

 

 

A tabela 3 mostra o conhecimento dos alunos sobre o número de doses para eficácia na soroconversão, o que concerne a imunização contra a hepatite B.

 

 

 

Para saber se os alunos estavam atentos à transmissibilidade das doenças, perguntamos qual apresenta maior risco de transmissão: o HBV ou o Vírus da Imunodeficiência Humana (HIV). 130 (95,58%) dos alunos de Medicina, 60 (74,07%) de Enfermagem e 65 (80,25%) de Odontologia disseram ser a hepatite B a doença com maior risco de transmissão.

As perguntas abrangeram a adoção de medidas preventivas durante as disciplinas clínicas. Nossos resultados mostram que 76 (55,88%) dos alunos de Medicina, 49 (60,49%) de Enfermagem e 58 (71,60%) dos alunos de Odontologia responderam positivamente ao uso de medidas preventivas. Além disso, 16 (11,76%) dos alunos de Medicina, 05 (6,17%) de Enfermagem e 05 (6,18%) dos alunos de Odontologia afirmaram não usar nenhuma medida preventiva. 18 (22,22%) alunos de Odontologia, 44 (32,35%) alunos de Medicina e 27 (33,34%) alunos de Enfermagem marcaram a opção sem atividade clínica.

A tabela 4 mostra quais medidas preventivas são adotadas, além da vacinação, durante as atividades clínicas realizadas durante o curso de graduação, para garantir menor risco aos acadêmicos.

 

 

 

As questões abertas foram classificadas segundo a análise do Conteúdo de Bardin10 e caracterizadas em um único grupo: Acesso. As respostas foram transcritas exatamente como os entrevistados escreveram.

A primeira pergunta aberta questionou aos alunos com quem eles adquiriram informações sobre a vacinação e foram obtidas as seguintes resposta: "Faculdade"; "Professores da universidade"; "Médico"; "Campanhas de vacinação"; "Livros"; "Médicos, pais e professores"; "Disciplina de microbiologia"; "No serviço de saúde"; "Campanhas na TV"; "Agentes de saúde"; "Nas aulas de imunologia"; "Disciplina curricular"; "Não obtive informação"; "Faculdade e internet".

A segunda questão foi sobre o que fazer no caso de entrar em contato com fatores de risco e as respostas foram as seguintes: "Procurar assistência médica"; "Ir ao centro hematológico e realizar exames"; "Procurar atendimento de emergência"; "Procurar DIP, tomar medicação caso necessário"; "Procurar atendimento medico/ quimioprofilaxia";"Procurar unidade de saúde"; "Procurar o serviço de segurança de trabalho"; "Procurar o hospital para fazer exames e tomar vacinas"; "Procurar serviço de referencia, DIP no HUCAM"; "Exame de sangue antígeno/anticorpo"; "Testes e uso de medicamento";"Procurar o serviço de infectologia para quimioprofilaxia".

 

DISCUSSÃO

A hepatite B é uma das doenças infecciosas ocupacionais mais importantes para os profissionais de saúde11.A infecção pelo HBV pode acometer qualquer pessoa, no entanto, alguns grupos de indivíduos são particularmente mais expostos, seja por determinadas circunstâncias, atitudes comportamentais ou pela atividade profissional1. Neste contexto, os profissionais da saúde apresentam grande risco pela exposição diária a material biológico contaminado5.

No Brasil, a vacinação contra a hepatite B é recomendada universalmente para recém-nascidos, adolescentes até 19 anos e pessoas com alto risco, inclusive os profissionais da saúde4,12. O Programa Nacional de Imunizações disponibiliza gratuitamente a vacina nas unidades básicas de saúde4.

Sabe-se que a imunoprevenção é uma medida segura e eficaz na proteção contra a hepatite B. Souza13, a respeito da soroconversão em imunocompetentes, diz que a vacina mostra uma eficácia alta em 90% dos vacinados. As medidas profiláticas pós-exposição não são totalmente eficazes, enfatizando-se a necessidade de implantar ações educativas permanentes, valorizando, assim, a imunização do profissional de saúde14.

Conforme os resultados sobre o conhecimento da imunoprevenção da hepatite B e vacinação, esta pesquisa corrobora os resultados encontrados por Moreira, Evangelista, Athayde15. Estes autores verificaram, em estudantes e profissionais da saúde da Faculdade de Saúde Ibituruna em Montes Claros- MG, que 60% dos participantes demonstraram desconhecimento sobre quais vacinas são essenciais para os profissionais da área da saúde. Nossos resultados também estão de acordo com os de Santos et al.16 que verificaram, em acadêmicos de Odontologia do Centro Universitário de João Pessoa, que 76,9% dos estudantes afirmaram ter tomado a vacina contra a hepatite B, no entanto, somente 31,4% relataram ter tomado o esquema vacinal completo (3 ou mais doses), 24,7% tomaram duas doses, 20% tomaram apenas uma dose e 23,9% não tomou dose alguma.

O esquema vacinal mais utilizado contra a hepatite B é de três doses, sendo o paciente vacinado nos momentos zero, um e seis meses após a primeira dose. O intervalo recomendado entre a primeira e a segunda dose é de um mês e entre a segunda e terceira é de, no mínimo, dois meses. A terceira dose deve ser administrada após os seis meses de idade17. Se a série foi interrompida após a primeira dose, a segunda deve ser dada logo que possível e a terceira pelo menos dois meses após a segunda. Se apenas a terceira dose estiver faltando, ela deve ser administrada imediatamente18.

Um estudo realizado na Itália, feito por Trevisan, Borella-Venturini e Di Marco19, mostrou um percentual de 94,7% de alunos da área da saúde vacinados contra hepatite B. Os autores apontaram, como um fator contribuinte, a grande adesão dos acadêmicos à obrigatoriedade do cartão vacinal atualizado para profissionais da área da saúde. Este dado remete aos achados do presente estudo. Embora 196 (65,77%) dos acadêmicos afirmaram ser obrigatória a atualização do cartão de vacina, a UFES não apresenta nenhum tipo de política de restrição ao ingresso ou acesso dos acadêmicos que não possuem seu sistema vacinal em dia. Assim, percebe-se que é uma necessidade imediata a obrigatoriedade do cartão de vacina para ingresso dos acadêmicos da área da saúde, reduzindo riscos pertinentes às atividades laborais dos estudantes.

No estudo feito por Santos et al.16, do total de alunos, 78,0% afirmaram ter conhecimento sobre a hepatite B, ao passo que 74,5% afirmaram conhecer as vias de transmissão e 74,9% relataram conhecer as formas de prevenção desta doença. Ferrari et al.20, em uma pesquisa com estudantes de diversos cursos da área da saúde, mostraram que a etiologia das hepatites virais foi corretamente assinalada como doenças infecciosas em 92,3% a 100% das respostas nos acadêmicos de Farmácia; entre os estudantes de Enfermagem, as respostas foram corretas em 82,4% a 85% do total. O conhecimento da etiologia viral das hepatites foi consideravelmente menor entre os acadêmicos de Ciências Biológicas (77,4%) e nos estudantes de ensino médio (68,2%).

Um fator a ser observado é que, na maioria das vezes, a hepatite B é uma doença assintomática. Assim, é necessário considerar qualquer paciente como potencialmente doente, na tentativa de diminuir a contaminação cruzada. Cavalcanti et al.5, afirmam que a anamnese é um passo que não deve ser negligenciado no atendimento e é uma boa maneira de identificação de pacientes de risco, mas não é totalmente segura, já que é fundamentalmente baseado em informações dadas pelos próprios pacientes, podendo ser omitidos informações importantes.

Adotar medidas preventivas é a melhor maneira que o aluno tem de não adquirir qualquer tipo de doença, independente do seu grau de risco, ou sua gravidade. Os dados encontrados no presente estudo diferem dos resultados encontrados por Soriano et al.1, onde a maioria dos estudantes não utilizava todos os equipamentos de proteção individual (EPI). Mas corrobora Santos et al.16 que verificaram que a maioria (98,1%) utiliza rotineiramente avental, luvas, máscara, gorro e óculos.

Vieira et al.21 revelam que o percentual de soroconversão (anti-HBs superior a 10 mUI/ml), após a primeira dose, foi de 12,5%; após a segunda dose, foi de 72,72% e 82,14% após a terceira dose. Nesta perspectiva, é necessária uma cobertura vacinal mínima constituída de três doses e a realização do teste anti-HBs para confirmação da imunização contra a doença. Caso não ocorra o efeito esperado, o indivíduo estará suscetível à infecção e deverá ser vacinado da mesma forma, confirmando-se novamente se houve a soroconversão. No caso de haver contato com o vírus e a pessoa não for imune à doença será necessário o uso de imunoglobulinas (HBIG).

A grande ocorrência de infecções assintomáticas pelo HBV dificulta o diagnóstico precoce e favorece a disseminação da infecção22. Neste estudo, os valores encontrados diferem dos encontrados por Cavalcanti et al.5 que questionaram aos acadêmicos sobre os conhecimentos dos sinais e sintomas da hepatite B, pois 55,88% não sabiam. Em seu estudo a respeito do conhecimento sobre os sintomas das hepatites, Ferrari et al.20 encontraram que 75,9% dos acadêmicos de Enfermagem afirmaram conhecê-los, enquanto 51% de Farmácia, 19,2% de Ciências Biológicas e 18,2% dos alunos do ensino médio não sabiam.

Quanto à capacidade de transmissibilidade do vírus da hepatite B, o estudo de Ferreira e Silveira23 conclui que o HBV é 100 vezes mais infectante que o vírus da imunodeficiência humana (HIV) e 10 vezes mais que o vírus da hepatite C (HCV)3,15,23. Sobre como proceder em caso de acidente, aos graduandos da UFES o ideal é procurar imediatamente o Núcleo de Doenças Infecciosas da Universidade.

A Universidade possui um valor relevante na informação aos alunos. Para Santos et al.24, as instituições de ensinos têm papel primordial na prevenção e controle das doenças imunopreviníveis, pois é durante a formação acadêmica que se fundamentam conceitos e é construído o conhecimento. Azambuja et al.25 dizem que o conhecimento adquirido na academia é fundamental e tende a ser aplicado e repetido pelo trabalhador quando inserido no mercado de trabalho. Portanto, durante a graduação, os egressos devem ter construído a compreensão dos aspectos teóricos e práticos da prevenção e controle das infecções relacionadas aos serviços de assistência à saúde, pois constituirão elementos de uma atuação profissional coerente24.

Desse modo, faz-se necessário que os profissionais de saúde sejam orientados para a realização do teste sorológico anti-HBs para evitar o risco de infecção pelo vírus da hepatite B no ambiente ocupacional26. Para grupos de risco imunocomprometidos e para profissionais de saúde, está indicada a avaliação do anti-HBs. Quando não há resposta adequada após a primeira série de vacinação, grande parte dos profissionais responderá a outra dose da vacina. Por outro lado, tem-se conhecimento de que existem instituições de saúde que só admitem profissionais com o esquema vacinal completo, conduta adequada, ética e pertinente ao que se refere à promoção da saúde do trabalhador18.

Com o intuito de reduzir os riscos eminentes aos trabalhadores da saúde, foi aprovada a Norma Regulamentadora 32, para trabalhadores regidos pela Consolidação das Leis Trabalhistas, que tem por finalidade a implantação de medidas de proteção à saúde dos trabalhadores dos serviços de saúde. Essa Norma exige a utilização das medidas de biossegurança que os profissionais de saúde devem cumprir para prevenção de doenças do trabalho, incluindo a hepatite B2.

 

CONCLUSÃO

Pode se concluir que os acadêmicos têm conhecimento sobre a vacinação, porém isso não é suficiente para que estejam imunizados.

A vacinação e a necessidade do teste sorológico para verificação da imunização devem ser melhor conduzidas pelas instituições de saúde, estando seus profissionais qualificados e protegidos contra as doenças imunopreveníveis e seus estudantes devidamente orientados quanto à necessidade de manter os seus cartões de vacinação completos e atualizado

Considera-se urgente a implantação de uma política com ênfase na prevenção de doenças infecciosas, principalmente ocupacionais, aos estudantes da área de saúde. Sugere-se a inclusão da apresentação do cartão de vacinação e resultado do teste sorológico (anti-HBs) como documentos obrigatórios para o acesso a UFES.

 

REFERÊNCIAS

1. Soriano EP, Carvalho MVD, Carneiro GR, Guimarães LL, Santos FB. Hepatite B: avaliação de atitudes profiláticas frente ao risco de contaminação ocupacional. Odontol Clín-Cient. 2008; 7: 227-34.         [ Links ]

2. Pinheiro J, Zeitoune, RCG. Hepatite b: Conhecimento e medidas de biossegurança e a saúde do trabalhador de enfermagem. Esc Anna Nery Rev Enferm. 2008; 12: 258-64.

3. Garcia LP, Facchini LA. Vacinação contra a hepatite B entre trabalhadores da atenção básica à saúde. Cad Saúde Pública. 2008; 24: 1130-40.

4. Garcia LP, Blank VLG, Blank N. Aderência a medidas de proteção individual contra a hepatite B entre cirurgiões-dentistas e auxiliares de consultório dentário. Rev Bras Epidemiol. 2007; 10: 525-35.

5. Cavalcanti FM, Melo RGSV, Patrício DPS, Zimmermann RD. Hepatite B: conhecimento e vacinação entre os acadêmicos da Faculdade de Odontologia de Caruaru – PE. Odontol Clín– Cient. 2009; 8: 59-65.

6. Shimizu HE, Ribeiro EJG. Ocorrência de acidentes de trabalho por materiais perfurocortantes e fluidos biológicos em estudantes e trabalhadores da saúde de um Hospital Escola de Brasília. Rev Esc Enferm USP. 2002; 36: 367-75.

7. Reis RK, Gir E, Canini SRMS. Acidente com material biológico e vacinação contra hepatite B entre graduandos da área da saúde. Rev Latinoam Enferm. 2008;16:401-6.

8. Kohn WG, Collins AS, Cleveland JL, Harte JA, Eklund KJ, Malvitz DM, et al. Guidelines for infection control in dental health-care settings - 2003. MMWR Recomm Rep. 2003; 52: 1-66.

9. Silva-Júnior MF, Assis RIF, Sousa HA, Miclos PV, Gomes MJ. Conhecimento dos acadêmicos de odontologia da UFES sobre a necessidade de imunização. Rev Bras Pesqui Saude. 2013; 15(4): 87-94.

10. Bardin, L. Análise de conteúdo. Lisboa, Portugal; Edições 70; 2009.

11. Sanches GBS. Hepatite B: caracterização do status imune de profissionais de saúde no estado do Mato Grosso do Sul. Campo Grande. Tese [doutorado]: Universidade Federal do Mato Grosso do Sul; 2007.

12. Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Saúde Brasil 2004: uma análise da situação de saúde. Brasília; Ministério da Saúde; 2004.

13. Souza M. Assistência de enfermagem em infectologia. São Paulo: Atheneu; 2000.

14. Rapparini C, Barreira D, Fonseca A. Secretaria Municipal de Saúde do Rio de Janeiro. Gerência de DST/AIDS. Manual de condutas em exposição ocupacional a material biológico, 1997.

15. Moreira MG, Evangelista PF, Athayde LA. Perfil sorológico dos marcadores de hepatite B em profissionais acadêmicos da área da saúde. Rev Bras Anal Clín. 2010; 42: 255-9.

16. Santos AAB, Soares IMS, Limeira IA, Ângelo AR, Veloso HHP, Queiroga AS. Conhecimentos e comportamentos de risco dos alunos de odontologia do Centro Universitário de João Pessoa em relação à Hepatite B. Comun Ciênc Saúde. 2011; 22: 335-42.

17. American Academy of Pediatrics. Report of the Committee on Infectious Diseases. 25th ed. Elk Grove Village: American Academy of Pediatrics; 2000.

18. Mast EE, Margolis HS, Fiore AE, Brinck EW, Goldstein W, Wang SA, et al. A comprehensive immunization strategy eliminate transmission of hepatitis B virus infection in the United States. Recommendations of the Advisory Committee on Immunization Practices (ACIP). Part 1: Immunization of infants, children, and adolescents. MMWR Recomm Rep. 2005; 54: 1-31.

19. Trevisan A, Borella-Venturini M, Di Marco L. Compliance with hepatitis B vírus vaccine: A matter of force? Am J Infect Control. 2005; 34: 465-6.

20. Ferrari CKB, Savazzi K, Honorio-França AC, Ferrari GSL, França EL. Conhecimentos sobre hepatites virais numa amostra de estudantes brasileiros do Vale do Araguaia, Amazônia Legal. Acta Gastroenterol Latinoam. 2012; 42: 120-6.

21. Vieira TB, Pereira R, Santos KF, Leal DBR. Soroconversão após a vacinação para hepatite B em acadêmicos da área da saúde. Disc Scientia. Série: Ciências da Saúde. 2006; 7: 13-21.

22. Ferreira MS. Diagnóstico e tratamento da hepatite B. Rev Soc Bras Med Trop. 2000; 33: 383-400.

23. Ferreira CT, Silveira TR. Viral hepatitis: epidemiological and preventive aspects. Rev Bras Epidemiol. 2004; 7: 473-87.

24. Santos SLV, Souza ACS, Tipple AFV, Souza JT. O papel das instituições de ensino superior na prevenção das doenças imunopreveníveis. Rev Eletrônica Enfer. 2006; 8: 91-8.

25. Azambuja EP, Pires DP, Vaz MRC. Prevenção e controle de infecção hospitalar: as interfaces com o processo de formação do trabalhador. Texto & Contexto Enferm. 2004; 13: 79-86.

26. Pinheiro J, Zeitoune RCG. O profissional de enfermagem e a realização do teste sorológico para Hepatite B.