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Odontologia Clínico-Científica (Online)

versão On-line ISSN 1677-3888

Odontol. Clín.-Cient. (Online) vol.9 no.3 Recife Set. 2010

 

ARTIGO ORIGINAL ORIGINAL ARTICE

 

Perfil das ações de combate ao câncer de boca no estado de Pernambuco/Brasil

 

Profile of the shares of mouth cancer in the state of Pernambuco / Brazil

 

 

João Henrique de Freitas FerreiraI; Monica Cristina Batista de MeloII

ICirurgião-Dentista, Aluno do curso de Especialização em Saúde Coletiva da Faculdade Maurício de Nassau
IIDoutoranda em Saúde Materno-Infantil - IMIP, Professora do curso de Especialização em Saúde Coletiva da Faculdade Maurício de Nassau

Endereço para correspondência

 

 


RESUMO

Esta pesquisa teve como objetivo identificar os programas de prevenção de câncer de boca, realizados no estado de Pernambuco, quer seja em instituições públicas ou privadas além de outras entidades representativas e, a partir daí, realizar uma avaliação, analisando as metas e cada programa com vistas à necessidade de mudança do perfil epidemiológico do câncer bucal, objetivando a redução de mortalidade causada por essa doença no estado de Pernambuco. Foi realizado estudo transversal e análise descritiva dos dados obtidos na coleta, por meio de entrevista pessoal, com o objetivo de obter informações sobre o tema abordado na pesquisa, sendo esses dados coletados nas secretarias e coordenações de saúde do estado e municípios pernambucanos além das universidades públicas e privadas no estado. Após a coleta, os resultados foram surpreendentes, quando da constatação da inexistência de qualquer programa/projeto de prevenção de câncer bucal na Secretaria de Saúde do Estado de Pernambuco e na Secretaria de Saúde da Prefeitura do Recife. Por meio de suas coordenações de saúde bucal, houve a confirmação da não existência de tais programas de prevenção, o que é um contrassenso, pois o estado é o responsável pela promoção, proteção e recuperação da saúde da população (Lei do SUS-1990), no entanto, não é dada a devida importância. Ressalte-se, ainda, que os três projetos/programas existentes na prevenção do câncer bucal na Universidade de Pernambuco, na Faculdade do interior e na Faculdade particular do Recife são abordados de forma diferente, mas de grande importância no combate à doença. Por fim, ressalta-se a grandeza de serem intensificadas as campanhas de orientação e prevenção do câncer bucal para todos, visando à redução dos fatores de risco e à promoção dos fatores de proteção, além de o Estado assumir sua responsabilidade social, econômica, educativa e política com relação à saúde dos seus cidadãos.

Descritores: Prevenção; Câncer; Boca; Saúde Coletiva; Estado de Pernambuco.


ABSTRACT

This research aims to identify which programs of oral cancer prevention, carried out in the state of Pernambuco, whether in public or private institutions, in addition to other representative or philanthropic organizations, and from there, perform an evaluation analyzing the goals of each program, observing the need of change of the Epidemiologic profile of oral cancer, aiming to reduce the mortality rate caused this disease in the state of Pernambuco. Sectional study was conducted and descriptive analysis of data obtained in the gathering of information, through individual interviews with the intention of collecting information regarding the theme of the research. This information being gathered from state and city health departments of Pernambuco. After gathering this information, the result was surprising, when becoming aware of the inexistence of any oral cancer prevention program/project, in the State health department and the City health department. It was surprising because the health department of the state of PE and Recife's health department, through their oral health coordinations, confirmed the inexistence of such prevention programs. That proved that there is a countersense because the state is responsible for promoting, protecting and recovering the health of the population. However, was not given the appropriate importance, drawing attention to the fact that the three existing projects/programs in oral cancer prevention at the University of Pernambuco, the Dentistry University Caruaru and the Dentistry College of Recife, approached in different ways but of great importance in fighting the disease. Lastly, we highlight the importance of intensifying the orientation and prevention of oral cancer campaigns for all, aiming the reduction of the risk factors and promoting protection factors, besides the State carrying through with its social, economical, educational and political responsibility concerning the health of its citizens.

Key words: Prevention, Cancer, Oral, Collective Health, State of Pernambuco


 

 

INTRODUÇÃO

O objetivo desta pesquisa foi o de identificar os programas de prevenção de câncer bucal realizados no Estado de Pernambuco pela Secretaria de Saúde do Estado e Municípios bem como o de verificar a existência de ações realizadas nas Universidades públicas e privadas do Estado. Dessa forma, buscam-se as ações/ programas que estão sendo realizados, a fim de avaliar e compará-los, tendo em vista a necessidade imperiosa de mudança no perfil epidemiológico da doença, com vistas à redução de mortalidade por câncer de boca no Estado.

Verificou-se que, nos últimos 30 (trinta) anos, a incidência do câncer de boca no Brasil tem aumentado. Muitos desses casos são diagnosticados numa fase muito tardia, levando o paciente à morte ou a cirurgias complicadíssimas e mutilações, que provocam deformidade, impedindo o paciente de levar uma vida normal1.

O perfil epidemiológico está, em parte, associado às transformações ocorridas na estrutura (sócio–econômica) do país, caracterizada pelo crescimento do processo de industrialização e pela aceleração da urbanização, associado ao aumento da expectativa de vida da população concentrada nos grandes centros urbanos, que modificou seus hábitos e, além dos poluentes urbanos a que passou a ser submetida, intensificou ainda o consumo de produtos alimentícios com aromatizantes e conservantes; passou a fumar mais e se expõe aos fertilizantes e pesticidas usados na agricultura. Esses fatores em longo prazo aumentam o risco potencial para o desenvolvimento de neoplasias malignas2 e com a incidência de câncer na população proporcional à idade das pessoas, sabe-se que, a partir dos 55 anos, a incidência aumenta de maneira significativa 3.

A exposição da mucosa bucal a agentes cancerígenos resulta, inicialmente, em lesões inflamatórias inespecíficas que são reversíveis, caso a agressão seja suspensa., porém, se os agentes continuam agredindo a mucosa bucal, eles provocarão reações que podem levar ao desenvolvimento de alterações celulares chamadas de displasias. Dependendo da intensidade e do tempo de exposição aos agentes cancerígenos, as displasias evoluem de leve para moderada, daí para forma grave e, finalmente, para carcinoma in situ 1. A sobrevida dos pacientes com câncer de boca está diretamente relacionada com a extensão da doença, quando o diagnóstico é realizado precocemente, e o tratamento é realizado e são obedecidas as recomendações médicas.

Nota-se que a interrupção dos agentes agressores como forma de motivação do paciente, abandonando, assim, o uso do tabagismo, etilismo, contribuirá para remover as condições agressoras da mucosa bucal, possibilitando a prevenção e cura da doença. Portanto, a responsabilidade de reconhecer as lesões e das alterações que representam as displasias é, via de regra, do profissional de saúde, realizando a prevenção, o diagnóstico precoce e favorecendo o tratamento adequado em tempo hábil, e ainda, poderá contribuir motivando o paciente, para que este abandone o tabagismo, etilismo, removendo as condições agressoras da mucosa bucal.

O exame clínico da boca é de simples execução e deve ser realizado em toda a população como medida preventiva e com a possibilidade de diagnóstico precoce, principalmente nos indivíduos com lesões suspeitas e naqueles expostos aos fatores de risco já conhecidos.

Grupo de risco - é o termo utilizado para definir a probabilidade de que indivíduos sem certa doença, mas expostos a determinados fatores, adquiram essa moléstia. A identificação dos fatores de risco baseia-se no fato de que a etiologia (causa) do câncer está intimamente relacionada à ação dos agentes cancerígenos químicos, físicos e biológicos. Quando se encontra uma lesão suspeita, para confirmar se ela tem natureza maligna ou não, pode-se utilizar exames complementares, como a citologia esfoliativa (método útil para rastreamento populacional) e a biópsia 4.

Se o exame clínico completo fosse realizado como rotina clínica pelo cirurgião-dentista, teríamos modificado os dados estatísticos. Este profissional tem a possibilidade de realizar o exame minucioso, podendo detectar alterações antes mesmo de qualquer sintoma. É importante declarar que o desenvolvimento do câncer de boca aumenta na proporção em que aumenta o consumo de tabaco e álcool. Essas são as razões principais por que a incidência está crescendo também nas mulheres2. O autoexame da boca deve ser realizado a cada 6 meses, principalmente entre os homens com mais de 40 anos, fumantes, etilistas. Deve ser feito diante do espelho, cujo objetivo é o de identificar lesões precursoras do câncer de boca. Devem ser observados sinais como mudança de cor da mucosa, endurecimentos, feridas e áreas dormentes. Pelo menos uma consulta odontológica de controle por ano deve ser realizada1

A educação populacional por meio do autoexame, associado ao afastamento dos fatores predisponentes, contribuirá, sem dúvida, para diminuir a incidência. Diante da suspeita, o paciente deve ser encaminhado para a confirmação do diagnóstico, pois está comprovado que a perda do tempo implica a redução da expectativa de vida e tratamento. Como em outras neoplasias malignas, o câncer de boca tem o seu desenvolvimento estimulado pela interação de fatores ambientais (agentes cancerígenos) e fatores do hospedeiro (idade, raça, sexo e herança genética). Estudos epidemiológicos têm demonstrado que 80 a 90% dos cânceres estão associados a fatores ambientais (ar, água, indústrias químicas, alimentos, medicamentos e produtos de uso doméstico, além de hábitos de vida). A conjugação desses fatores associados ao tempo de exposição, intensidade são condições básicas na gênese dos tumores malignos que acometem a boca, porém os fatores externos parecem exercer um papel preponderante. É importante salientar que muitas associações entre exposição a determinados fatores e a ocorrência de câncer não são claras, requerendo investigação mais ampla2.

Diante do exposto, o objetivo desta pesquisa foi o de identificar e descrever sobre ações de prevenção de câncer de boca realizadas em Pernambuco.

 

METODOLOGIA

Respeitados e cumpridos os princípios éticos contidos na Declaração de Helsinki, foi realizado estudo descritivo de corte transversal. Os dados foram coletados por meio de busca ativa, no período de maio a agosto de 2007, nas Secretarias e Coordenações de Saúde do Estado e municípios pernambucanos bem como nas Universidades públicas e privadas do Estado, por meio da entrevista pessoal e do contato telefônico com professores e coordenadores dos projetos e via email, não havendo questionário, apenas a anotação dos dados e do relato dos programas feito pelos coordenadores.

 

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Depois de realizada visita a uma Universidade Federal do Estado de Pernambuco, uma Universidade Estadual, uma Faculdade particular do Recife, uma Faculdade do interior, Secretaria de Saúde do Estado e Secretaria de Saúde do Recife, constatou-se que inexiste qualquer tipo de programa/projeto de prevenção de câncer de boca na Universidade Federal, na Secretaria Saúde do Estado de PE e na Secretaria de Saúde da Prefeitura do Recife. Surpreende todos, quando se toma ciência da comprovação por meio da Coordenação da Saúde Bucal do Estado de Pernambuco, da não existência de programa de prevenção do referido tema. Isso se justifica pelo fato de ser a Secretaria de Saúde do Estado a principal responsável para promoção, proteção e melhoria da saúde de sua população. Por outro lado, é dever do Estado promover isso, garantido pela Constituição Federal e ser responsável pela saúde coletiva da sua população, sem jamais declinar sobre a importância da prevenção do câncer bucal e da saúde das pessoas 5.

Pode-se constatar ainda que a Secretaria de Saúde da Cidade do Recife, a maior cidade do Estado, também não possui qualquer programa/projeto na área de prevenção de câncer bucal em atuação, deixando a saúde de sua população sem qualquer proteção frente a este problema de saúde coletiva que assola a nossa sociedade. Foi identificado que, a despeito da não realização de programas de prevenção de câncer bucal, pela Secretaria de Saúde do Estado e do Município do Recife, as Universidades estão extrapolando seus muros e, por meio de Atividades de Extensão, estão desenvolvendo ações para prevenção e diagnóstico precoces do câncer de boca no Estado, como se discrimina abaixo:

Na Universidade Estadual, existe um PROGRAMA DE COMBATE AO CÂNCER DE BOCA, que visa ao incremento de ações para prevenção e diagnóstico diferencial e precoce do câncer bucal, buscando reduzir os índices de mortalidade causada por essa neoplasia, utilizando-se de ações educativas, divulgação do autoexame bem como promovendo o diagnóstico precoce, instituindo, assim, a "SEMANA DO COMBATE AO CÂNCER BUCAL". Este projeto/programa foi encaminhado ao Conselho Federal de Odontologia que, por unanimidade, se mostrou favorável a sua implantação bem como ao Coordenador Nacional de Saúde Bucal/MS e às classes médica e odontológica, além dos fonoaudiólogos, psicólogos, enfermeiros e fisioterapeutas que participam das ações e se mobilizaram para deflagrar o Programa no Estado de Pernambuco, realizando, por meio do Instituto de Ciências Biológicas – ICB/UPE, cursos de capacitação profissional para cirurgiões-dentistas, auxiliares de saúde bucal, técnicos em saúde bucal, agentes comunitários de saúde e orientações para técnicos em pró-teses dentárias e população em geral, pois, mesmo tendo a prevenção assumido um papel significativo no modelo de saúde brasileiro, o câncer bucal se constitui ainda, e isso se evidencia por meio dos altos índices de mortalidade, em um problema nacional de saúde pública. Ainda, a ação "Educando nas Escolas", que integra os alunos dos cursos de graduação e pós-graduação em odontologia, enfermagem, medicina e ciências biológicas à população, fornece orientações sobre a doença, os fatores de risco, de proteção, prevenção, o diagnóstico diferencial e precoce, tratamento, as perspectivas atuais da doença, divulgando o autoexame nas Escolas públicas e privadas do Estado. Cerca de 300 alunos dos cursos de graduação e pós-graduação em medicina, odontologia, enfermagem e ciências biológicas participam do Programa. Este auxilia na formação de futuros profissionais de saúde e cidadãos mais conscientes e solidários, com percepção do sistema de saúde público e privado, atua junto aos profissionais por meio das capacitações e educa a população ainda bastante leiga neste assunto. Este Programa realiza, anualmente, a "Corrida contra o câncer de Boca do Estado de Pernambuco", na qual os participantes percorrem 8Km, e o "Curso de Difusão Cultural em Câncer de Boca" para profissionais e alunos dos cursos de graduação e pós-graduação da área de saúde do Estado. Em todas as atividades desenvolvidas, sempre são arrecadados alimentos não-perecíveis destinados ao Hospital de Câncer de Pernambuco. Esse programa foi reconhecido e recebeu o "prêmio de finalista da Revista Saúde" (matéria das edições de agosto e novembro de 2006) – Revista Saúde, Ed. Abril) devido a sua atuação e ao seu alcance. Desde 2005, foram orientadas 22.360 pessoas, 2983 atendidas, 28 casos confirmados de câncer oral e 560 lesões potencialmente malignas, diagnosticadas (resultados parciais das atividades desenvolvidas em 33 municípios pernambucanos, nos anos de 2005 e 2006). Ainda foram capacitados 691 profissionais entre CD, ACD, THD e ACS. Os casos analisados e suspeitos de câncer de boca, nesse programa da UPE, são encaminhados ao laboratório cito-histopatológico da Faculdade de Odontologia – FOP/UPE, o qual faz o suporte diagnóstico/laboratorial do programa. Há ainda o encaminhamento adequado das pessoas atendidas. A primeira ação da UPE aconteceu em 1998, mediante a Publicação do Manual de Orientação para Prevenção e Diagnóstico Precoce do Câncer de Boca – Dias Pereira, JR, Andrade, ESS e Vidal, AKL, sendo editados 30.000 exemplares pela UPE e distribuídos, por meio do Conselho Regional de Odontologia de Pernambuco (CRO/ PE), para todos os cirurgiões-dentistas (CD) do Estado, para o Conselho Federal de Odontologia (CFO) e demais Conselhos Regionais de Odontologia (CRO) do país, visando à atualização e assunção de responsabilidade dos profissionais. Em 2002, foi realizado o 1º treinamento para Cirurgiões-Dentistas (CD), Auxiliares de Consultório Dentário(ACD), atualmente denominados Auxiliares de Saúde Bucal, Agentes Comunitários de Saúde (ACS) e Técnicos em Higiene Dental(THD), atualmente denominados Técnicos em Saúde Bucal, no IV Distrito Sanitário do Recife/PE. Denominou-se de projeto piloto do atual Programa, que foi deflagrado em 2005. Este Programa da UPE é caracterizado pela multidisciplinaridade dos profissionais e alunos da área de saúde envolvidos. O custo é mínimo, considerando-se que a prevenção e o diagnóstico precoce beneficiarão a população, observando-se a necessidade de tratamento e o aumento do número de casos diagnosticados, em estágio tardio, a cada ano, além de efetivamente a Universidade estar extrapolando os seus muros e buscando resultados efetivos, com vistas à qualidade de vida e saúde para a população. Este projeto exemplifica a integração entre Universidade, Associações e Conselhos das Classes Médica, Odontológica, além de Serviços Públicos e Privados de Saúde e de Educação no Estado de Pernambuco.

Na Faculdade do interior, também existe um programa/ projeto chamado de "ASA BRANCA", realizado por intermédio dos alunos da graduação e de outros profissionais, por meio da busca ativa de lesões malignas e cancerizáveis, com atendimento à população do município nos arredores da cidade de Caruaru, estendendo-se, a partir de 2005, para outros municípios do agreste, sertão, zona da mata e litoral sul, mediante o diagnóstico e tratamento de lesões cancerizáveis, como meta principal. Tem ainda como meta a orientação da população na prevenção de combate ao câncer bucal, excluir VG por meio de atividades educativas. Segundo informações do coordenador, essas ações educativas são feitas mediante a visita domiciliar dos alunos e, se necessário, são encaminhados os possíveis casos suspeitos para clínica Asa Branca a fim de um melhor diagnóstico e tratamento. Dependendo do estágio, a lesão maligna poderá ser tratada em outras unidades hospitalares especializadas. Esse projeto teve início em 2001 e, em fevereiro de 2005, recebeu apoio do Projeto Brasil Sorridente, do governo Federal, ampliando o atendimento para os municípios do sertão, agreste, zona da mata e litoral sul de Pernambuco. A equipe é constituída de alunos de graduação, pós-graduação, cirurgiões buco-maxilo-faciais e médico especialista em cabeça e pescoço. Essas campanhas do projeto são realizadas mensalmente, tendo como a faixa etária atendida a partir de 15 anos. Total de Campanhas: 39; Total dos Municípios visitados: 28; Total de exames realizados: 71.110; Total de pacientes apresentando lesões cancerizáveis ou já malignas com tratamento realizados: 14.215. Na Faculdade particular do Recife, existe um programa denominado de "Projeto Sorrir", realizado por intermédio dos alunos da graduação, mediante a busca ativa de lesões potencialmente malignas propriamente. Essa busca ativa é feita por meio de visita dos alunos a determinadas instituições, como abrigos de idosos além de comunidades que desenvolvem o Programa de Saúde da Família (PSF), com atuação em bairros, como nos Coelhos. Ocorre em pacientes com idade acima de 40 anos, e, quando diagnosticadas as lesões citadas anteriormente, os pacientes serão encaminhados ao Hospital do Câncer de Pernambuco, para o devido tratamento médico. Segundo informação da coordenadora do projeto, além da busca ativa, é realizado também um trabalho de informação do autoexame voltado para o público dos 40 anos em diante.

A partir da análise dos dados obtidos, observamos que esses três projetos/programas apresentados são importantes e têm como objetivo comum a detecção precoce do câncer bucal, para um melhor prognóstico e tratamento, que pode ir desde a cirurgia para remoção da neoplasia à radioterapia ou quimioterapia ou, até mesmo, à combinação dos três, dependendo do caso. E assim, serão maiores as chances de cura, sendo as sequelas bem menores e, sem dúvida, melhorará a qualidade de vida. Consequentemente, serão menores os números de óbitos causados por essa doença1.

Analisando os projetos, podemos relatar como fato positivo do projeto da Universidade Estadual, o qual deve ser abraçado não só pelos outros dois programas mas também por outros que devam surgir, a participação efetiva das classes médica, odontológica como também dos fonoaudiólogos, psicólogos, enfermeiros, fisioterapeutas, os quais, juntos, buscam a ampliação do programa de combate ao câncer bucal desde ações de prevenção até o diagnóstico precoce e o tratamento. Dessa forma, mobilizaram-se para deflagrar o Programa no Estado de Pernambuco, realizando, por meio do Instituto de Ciências Biológicas (ICB/UPE), cursos de capacitações para profissionais, como cirurgiões-dentistas, auxiliares de saúde bucal, técnicos em saúde bucal, agentes comunitários de saúde, além de prestarem orientações aos técnicos em prótese dental e população em geral.

Outro fato importante no projeto da Universidade Estadual é a "Semana de Combate ao Câncer de Boca", realizada, a cada ano, pelo Programa, reforçando a indicação do autoexame, facilitando o diagnóstico precoce da doença. Nesse sentido, sugerimos que se amplie de uma para quatro semanas anuais, devendo, assim, serem realizadas a cada trimestre. Dessa forma, num futuro próximo, poderemos reduzir a incidência de mortalidade por essa neoplasia e aumento do número de casos diagnosticados precocemente, além de podermos controlar os fatores de risco e promover os fatores proteção. Porém, para que isso seja viabilizado, é preciso haver a participação ativa do poder público pela ação do Estado mediante o total apoio da Secretaria da Saúde.

Podemos ressaltar outro aspecto positivo, presente no projeto ASA BRANCA da Faculdade do interior e na Universidade Estadual, ausente apenas no projeto da Faculdade particular do Recife, que é justamente a presença, além de estudantes da graduação, de uma equipe de multiprofissionais como alunos da pós-graduação, cirurgiões buco-maxilo-faciais, médicos especialistas em cabeça e pescoço. Sem dúvida, isso concorre para engrandecer e oferecer maior firmeza ao projeto. Percebemos a ausência, nos programas da Faculdade do interior e da Faculdade particular do Recife, de um profissional da área de psicologia, como membro integrante da equipe multiprofissional, que, sem dúvida, em sua área de competência, contribuiria significativamente para o projeto, principalmente, no preparo do paciente, da família, enfim, em todo o processo dos casos de câncer diagnosticados ou suspeitos que necessitem de tratamento e melhora, até mesmo em relação ao convívio dos pacientes portadores da doença face suas atividades habituais.

Observamos também tanto no PROJETO ASA BRANCA, da Faculdade do interior como também na Faculdade particular do Recife, PROJETO SORRIR, uma prioridade em relação ao diagnóstico e à cura do câncer bucal, deixando a prevenção como objetivo secundário. Entretanto, no projeto da Universidade Estadual, "PROGRAMA DE COMBATE AO CÂNCER DE BOCA", percebemos uma maior preocupação em relação à promoção à saúde e prevenção, embora sem deixar de atender os casos diagnosticados como positivos da doença.

Devido à importância do tema, apela-se para a intensificação das campanhas, visando à orientação e prevenção do câncer bucal para toda a população do Estado de Pernambuco, realizadas por meio das entidades aqui relatadas, com o intuito de minimizar os fatores de risco e favorecer a promoção dos fatores de proteção.

Podemos também destacar a validação da importância desse tema, pois existe uma atuação hoje bastante diversificada de vários setores da sociedade no combate ao câncer bucal, como os conselhos regionais e federais de odontologia, medicina além de setores do governo federal e estadual, estabelecendo apoio a todas as entidades que participam, direta e indiretamente, das várias campanhas de prevenção e diagnóstico precoce do câncer bucal

Existe também uma demanda pela ampliação dos cursos e capacitação para os profissionais de saúde tanto no serviço público como no privado. Espera-se que todos os projetos já existentes e outros que possam surgir busquem o aprimoramento e, assim, transpassem os muros das universidades/ faculdades, indo até as associações de moradores, entidades classistas, ONGS, escolas e outras instituições que realmente abracem esta causa do câncer bucal como um problema de saúde pública nacional e mundial, pois é fato que, mediante a educação continuada, será possível uma conscientização de nossa sociedade e assim poderemos chegar a reduzir o número de casos da doença, pois, com a adoção e manutenção dessa postura, estaremos realmente atuando como profissionais comprometidos com a saúde, com a comunidade, com nossa profissão, com nós mesmos.

É importante assinalar as limitações do estudo que, apenas, teve como foco despertar questionamentos e reflexões sobre as ações em saúde bucal no estado de Pernambuco e para a necessidade da realização de uma nova investigação sobre o tema a fim de acompanhar o desenvolvimento e o surgimento de novos espaços de atenção e atuações nessa área.

 

CONCLUSÕES

Conclui-se que são importantes e devem ser intensificadas as campanhas para orientação e prevenção do câncer bucal para toda a população, realizadas no Estado de Pernambuco, por meio das entidades aqui relatadas. Tem-se consciência de ser necessária a responsabilização dos poderes públicos, com relação à atuação social, econômica, educativa e política, tendo em vista ser a saúde dos cidadãos um dever e obrigação do estado e direito das pessoas.

Esses programas existentes no Estado de Pernambuco e aqui relatados precisam de apoio do poder público para uma melhor atuação e abrangência. Depois de feito o relato de cada programa/projeto nos resultados e discussão, comparados e avaliados, espera-se alcançar, em breve, a melhora do perfil epidemiológico do câncer bucal, reduzindo os índices de mortalidade provocados por essa doença no Estado de Pernambuco.

 

REFERÊNCIAS

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2. Navarro CM.2006 www.saudevidaonline.com.br em 14/03/2007.         [ Links ]

3. Soares HA. Manual de Câncer Bucal - 2005, 1. ed, p.04,06.         [ Links ]

4. www.inca.gov.br-2006 em 20/06/2007.         [ Links ]

5. Constituição Federal Do Brasil-1998, Art. 196, p. 200.         [ Links ]

 

 

Endereço para correspondência
Monica Cristina Batista de Melo
monicademelo@ig.com.br

Recebido para publicação: 19/12/07
Encaminhado para reformulação: 16/04/08
Aceito para publicação: 19/08/09