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Odontologia Clínico-Científica (Online)

versão On-line ISSN 1677-3888

Odontol. Clín.-Cient. (Online) vol.9 no.3 Recife Set. 2010

 

ARTIGO ORIGINAL ORIGINAL ARTICE

 

Fluxo salivar e concentração do Fator de Crescimento Epidérmico (EGF) na saliva de pacientes diabéticos tipo 2

 

Salivary flow and Epidermal Growth Factor (EGF) levelsin saliva of type 2 diabetic patients

 

 

Monique Danyelle Emiliano Batista PaivaI; Amanda Maria Medeiros de AraujoII; Márcia Regina PiuvezamIII; Hermann Ferreira CostaIV; Lino João da CostaV

IDoutora em Estomatologia (UFPB/UFBA)
IIMestranda em Radiologia Odontológica na Faculdade de Odontologia de Piracicaba (UNICAMP/SP)
IIIDoutora em Imunologia (UFRJ) e Pós-Doutorado (Department of Immunology, University of Strathclyde, Escócia)
IV
Doutorando em Produtos Naturais e Sintéticos Bioativos (UFPB)
V
Doutor em Odontologia - Diagnóstico Bucal (USP). Professor de Estomatologia (UFPB)

Endereço para correspondência

 

 


RESUMO

O objetivo deste trabalho foi o de avaliar o fluxo salivar e a concentração do EGF na saliva de pacientes diabéticos, comparados a um grupo controle de pacientes clinicamente sadios. A amostra foi composta de 15 indivíduos divididos em dois grupos, G0 – controle (n=9) e G1 – diabéticos (n=6). A saliva foi coletada por estimulação mecânica com o auxílio de um hiperboloide. A concentração do EGF foi verificada por meio de imunoensaio do tipo sanduíche, com a utilização de Kit ELISA (R&D Systems®) e auxílio de um leitor de microplaca. Pôde-se observar uma média do fluxo salivar de 1,27 ml/min. no G0 e 1,26 ml/min. no G1, não havendo diferença estatisticamente significativa entre os dois grupos, quando empregado o teste t-Student (p=0,972). Quanto ao EGF, foram observadas as médias de 1624,08 pg/ml e 2367,66 pg/ml para o G0 e G1, respectivamente, também não sendo esta diferença significante (p=0,559). Os dados deste trabalho demonstraram que não houve diferenças significativas do fluxo salivar e da concentração de EGF na saliva dos pacientes diabéticos em relação ao grupo controle.

Descritores: Saliva; Fator de Crescimento Epidérmico; Diabetes Mellitus.


ABSTRACT

The aim of this study was to evaluate the salivary flow and the concentration of EGF in saliva of diabetic patients not insulin-dependents compared with a non diabetic patients (control group). Stimulated saliva was collected in two groups of patients: G0 – control (n=9) and G1 – diabetics (n=6), using a hiperbolóide. Saliva was expelled in the first minute and it was despised. In the following five minutes it was collected with a funnel connected to a graduated tube. EGF concentration measurement was performed using a sandwich-type immunoassay, using an ELISA Kit (R&D Systems®) and a microplate reader. It was observed an average of salivary flow of 1.27ml/min. in G0 and 1.26ml/min. in G1 and it was not found significant differences between the two groups (p=0.972). It was also observed an average of 1624.08 pg/ml of EGF in the G0 and 2367.66 pg/ml in the G1 and as the salivary flow the difference was not statistically significant (p=0.559). The data present in this work demonstrate no differences between salivary flow and EGF concentration of diabetic patients as compared as non-diabetic patients.

Keywords: Saliva; Epidermal Growth Factor; Diabetes Mellitus.


 

 

INTRODUÇÃO

Segundo a Organização Mundial da Saúde, a prevalência de diabetes é de mais de 180 milhões de pessoas no mundo, com incidência crescente em curso, podendo duplicar até 20301. O comprometimento da cicatrização de feridas em diabéticos se deve a alterações no sistema imunológico e defeitos inflamatórios inerentes ao Diabetes Mellitus2,3.

Ao longo das últimas décadas, os fatores de crescimento têm sido testados pela sua capacidade de acelerar o processo de cicatrização, na tentativa de sobrepor as alterações apresentadas pelos indivíduos diabéticos2.

Hormônios peptídicos salivares, como o Fator de Crescimento Epidérmico (EGF do inglês Epidermal Growth Factor), estão envolvidos na regulação de processos inflamatórios e na promoção da proliferação celular, contribuindo para uma rápida cicatrização de feridas no epitélio4. O EGF é conhecido por estimular a replicação de fibroblastos, aumentar a produção de colágeno, resultando em uma maior formação de epitélio 2.

É uma proteína composta por 53 aminoácidos, potencialmente mitogênica. Está presente nos fluidos biológicos, incluindo a saliva, e possui importante papel na manutenção de uma barreira epitelial protetora e na cicatrização da mucosa quando esta é agredida5,6, estimulando a proliferação das células da mucosa oral4.

O EGF da saliva origina-se das glândulas parótida e submandibular7, e sua concentração parece estar reduzida em pacientes tabagistas8. A glândula parótida é a principal fonte do EGF na saliva humana9. A proporção relativa de EGF nas glândulas parótida, submandibular e no restante das glândulas é de 6:4:110.

O objetivo deste trabalho foi o de aprofundar os estudos, avaliando o fluxo salivar e a concentração do EGF na saliva de pacientes diabéticos, que, devido a essa condição, já apresentam dificuldades na cicatrização, quando comparados a pacientes sadios.

 

METODOLOGIA

PACIENTES

Fizeram parte da amostra 15 indivíduos, divididos em dois grupos: G0 –controle, composto de 9 indivíduos sadios e G1 – diabéticos tipo 2, com 6 indivíduos não dependentes de insulina.

COLETA DA SALIVA

A saliva total estimulada foi obtida por meio de estimulação mecânica, baseada na técnica de Krasse11, modificada quanto ao material utilizado, de forma que o paciente foi orientado a mastigar o hiperboloide durante um minuto, deglutindo a saliva. Após o primeiro minuto, foi acionado um cronômetro, e este continuou mastigando, porém sem deglutir a saliva, a qual era expelida em funil de vidro de onde seguia para um tubo graduado, em intervalos frequentes de 1 minuto, durante cinco minutos.

DETERMINAÇÃO DA CONCENTRAÇÃO DE EGF

Uma vez coletada, a saliva foi centrifugada durante 10 minutos a uma velocidade de 4000 rpm para sedimentação de bactérias, células epiteliais, restos nucleares e outros detritos. O sedimentado foi desprezado, e o sobrenadante foi, então, congelado em um freezer a -80ºC, até o momento do imunoensaio. A análise da saliva para medição da concentração do EGF foi realizada por meio de um imunoensaio do tipo sanduíche, com a utilização de um Kit ELISA (R & D Systems®). A concentração de EGF foi expressa pela leitura de densidade óptica das amostras em comparação com uma curva padrão, com o auxílio de um leitor de microplaca com absorção de 450nm, seguida de 570 nm de comprimento de onda. As amostras foram submetidas ao ensaio em duplicata.

 

RESULTADOS

CARACTERIZAÇÃO DA AMOSTRA

Todos os indivíduos pertenciam a uma faixa etária de 40 a 70 anos, sendo 12 do gênero feminino e 3 do masculino. Quanto à etnia, 12 eram não-caucasianos, e 3, caucasianos. Nenhum possuía os hábitos de etilismo ou tabagismo.

FLUXO SALIVAR E CONCENTRAÇÃO DO EGF

Foram observadas as seguintes médias de fluxo salivar para os grupos G0 e G1, respectivamente: 1,27 ml/min e 1,26 ml/min, não sendo observada diferença estatisticamente entre os dois grupos (p=0,972). A média da concentração de EGF foi de 1624,08 pg/ml no grupo G0 e 2367,66pg/ml no grupo G1, também não sendo essa diferença estatisticamente significante (p=0,559), (Tabela 1).

 

 

DISCUSSÃO

O Diabetes Mellitus tipo 2, também chamado diabetes mellitus não dependente de insulina, é a quinta condição crônica mais comum e a sexta maior causa de mortalidade entre os idosos12.

Alterações nos níveis de insulina bem como de glicose no sangue são fatores que afetam diretamente a capacidade das glândulas salivares para sintetizar proteínas específicas13. Desde a descoberta do EGF nas glândulas salivares, avanços foram feitos no conhecimento do estudo da biologia celular e saúde das ciências orais14.

Os fatores de crescimento presentes na saliva desenvolvem um importante papel no reparo dos tecidos moles da cavidade oral7 e na regulação do crescimento celular bem como proliferação e diferenciação8. Trabalhos realizados recentemente provaram a ação de reparação tecidual do EGF4, 6, 7, 12, 14 em diabéticos2,13,15,16,17.

Estudos referem a importância do EGF na proteção da mucosa oral, sendo também possível localizar, na literatura, citações, principalmente em relação ao seu efeito protetor em nível gastrointestinal18 e na mucosa do trato alimentar superior, no tratamento de colites e úlceras gastrointestinais18,19,20.

Tem havido uma compreensão mais profunda da farmacologia de fatores de crescimento que visa ao reforço do processo de cicatrização15, 21,22. Particularmente em pacientes diabéticos, a cicatrização de feridas após cirurgias é frequentemente comprometida. Também é comum a experiência de ulceração crônica das extremidades13,15. Por isso, a redução dos níveis do EGF na saliva pode ajudar a explicar a presença de complicações orais e sistêmicas na cicatrização de feridas associadas com o diabetes2,13,16.

Nossos resultados mostraram que não houve diferença significativa entre fluxo salivar e concentração do EGF entre pacientes saudáveis e diabéticos não insulino-dependentes, o que difere dos achados de Oxford13, que encontrou diferença estatística nessas variáveis, sendo menores as concentrações em pacientes diabéticos.

Sugerimos a necessidade de novos estudos com maior número amostral que possam contribuir para novas descobertas na área do diabetes e dos fatores de crescimento, de maneira a proporcionar melhoria da qualidade de vida dos pacientes portadores dessa patologia crônica, melhorando os processos de reparo e regeneração tecidual nestes.

 

CONCLUSÃO

Conclui-se não haver diferenças quanto ao fluxo salivar e à concentração do EGF na saliva dos pacientes diabéticos tipo 2 estudados em relação ao grupo controle de indivíduos sem distúrbios sistêmicos.

 

REFERÊNCIAS

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Endereço para correspondência
Monique Danyelle Emiliano Batista Paiva
Rua Tertuliano de Castro, 101/303 - Bessa - João Pessoa/PB - CEP: 58035-170
Email: monique_batista@yahoo.com.br

Recebido para publicação: 22/12/09
Aceito para publicação: 12/04/10