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Odontologia Clínico-Científica (Online)

versão On-line ISSN 1677-3888

Odontol. Clín.-Cient. (Online) vol.9 no.4 Recife Dez. 2010

 

ARTIGO ORIGINAL ORIGINAL ARTICE

 

Abordagem odontológica do paciente diabético um estudo de intervenção

 

Approach to diabetic dental patients an intervention study abordagem do paciente diabético

 

 

Madhiane Farias dos SantosI; Érica Manuela do NascimentoI; Tássia Cristina de Almeida PintoII; Ruthinéia Diógenes Uchôa LinsIII; Edja Maria de Brito Melo CostaIV; Ana Flávia Granville-GarciaV

ICirurgiã-dentista pela FO/UEPB
IIMestranda em Odontologia pela FO/UEPB
IIIDoutora em Patologia Oral pela FO/UFRN, Professora do Programa de Pós-Graduação de Odontologia da UEPB
IVDoutora em Odontologia pela FO/UFRJ, Professora do Programa de Pós-Graduação de Odontologia da FOP/UPE
VDoutora em Odontopediatria pela FOP/UPE, Professora do Programa de Pós-Graduação de Odontologia da UEPB

Endereço para correspondência

 

 


RESUMO

Determinar a percepção dos cirurgiões-dentistas da Estratégia de Saúde da Família de Campina Grande/PB na abordagem de pacientes com diabetes mellitus. Metodologia: Foi um estudo de intervenção "antes e após", com 33 profissionais. Utilizou-se um questionário semiestruturado , aplicado em dois momentos, antes e após palestra informativa. O teste estatístico utilizado foi o McNemar (significância de 5%). Resultados: Todos os profissionais sabiam o significado de diabetes, e o conhecimento sobre os tipos desta doença melhorou após a palestra (39,4% X 97%, p<0,001). No primeiro momento, 54,6% conheciam a sintomatologia do diabético, sendo que este percentual aumentou para 97% após a palestra. 69,7% sabiam o melhor horário para atendimento ao diabético; na segunda etapa da pesquisa, esse percentual ampliou-se para 100%. Os piores resultados observados foram na prescrição de anti-inflamatórios (9,1% X 63,6%, p<0,001). Os sujeitos conheciam as manobras operatórias a serem seguidas na abordagem do diabético, sendo este conhecimento consolidado após palestra. Inicialmente, 42,4% participavam do HIPERDIA, e, na etapa final, observou-se adesão ao programa de 54,5% (p=0,012). Conclusão: A palestra informativa aumentou o conhecimento dos cirurgiões-dentistas sobre o assunto, e a universidade, como formadora de opinião, deve participar da educação continuada desses profissionais.

Descritores: Diabetes Mellitus; Odontologia; Programa Saúde da Família.


ABSTRACT

determine the dentists' perception of the Family Health Strategy Program (Federal government project) in Campina Grande-PB in approaching patients with Diabetes Mellitus. Methods: It was a "before and after" intervention study, with 33 professionals interviewed. A semi-structured questionnaire was used, applied before and after an informative lecture. The statistical test used was the McNemar (significance level of 5%). Results: All professionals knew the meaning of Diabetes Mellitus, and the knowledge about the variations of this disease w as improved after the informative lecture (39.4% X 97%, p<0.001). In the first interview 54.6% knew about the diabetic symptomatology, and after lecture 97% showed this knowledge. 69.7% knew what was the best time to attend a diabetic patient, and this percentage increased to 100% in the second interview. The worst results were about anti-inflammatory prescription (9.1% X 63,6%, p< 0.001). The professionals knew about the surgical maneuvers to be done with diabetic patients, and this knowledge was consolidated after the lecture. Initially, 42.4% participated on HIPERDIA (Federal Government Health Program for hypertensive and diabetic patients) and, in the end, the participation in this plan changed to 54.5% (p=0.012). Conclusions: The informative lecture increased the knowledge of professionals on the subject and the university, as an opinion maker, should participate in the education of professionals contributing to the resolution of problems experienced in health services.

Keywords: Diabetes Mellitus; Dentist; Family Health Strategy.


 

 

INTRODUÇÃO

O Diabetes Mellitus é um grupo de doenças metabólicas caracterizadas por hiperglicemia e associadas a complicações, disfunções e insuficiência de vários órgãos, especialmente olhos, rins, nervos, cérebro, coração e vasos sanguíneos. Pode resultar de defeitos de secreção e/ou ação da insulina, envolvendo processos patogênicos específicos, por exemplo, destruição das células beta do pâncreas (produtoras de insulina), resistência à ação da insulina, distúrbios da secreção da insulina, entre outros1. Perfila-se como uma doença perigosa, figurando entre as quatro principais causas de morte no país, além de ser a principal causa de cegueira adquirida e de estar fortemente associada às doenças coronarianas, renais e amputações de membros inferiores2.

O aumento da prevalência do Diabetes Mellitus, aliadoà complexidade de seu tratamento, tais como restrições dietéticas, uso de medicamentos e complicações crônicas associadas, reforçam a necessidade de programas educativo-preventivos e terapêuticos eficazes nos serviços públicos de saúde3. Existe a necessidade de uma reflexão crítica sobre os processos de trabalho em saúde , visando à produção de novos conhecimentos e ao desenvolvimento de novas práticas de saúde consoantes com os princípios e diretrizes do SUS. Dessa forma, vale destacar a atenção prestada ao paciente com Diabetes Mellitus (DM) no SUS, em vista à necessidade do trabalho de uma equipe interdisciplinar para a prestação de um atendimento integral a este grupo4.

No âmbito da área da "Saúde do Adulto", a partir de 2001, frente à elevada prevalência, ao alto custo social e aogrande impacto na morbimortalidade da população brasileira, com relação a essas doenças crônicas, foi implantado pelo Ministério da Saúde o Plano de Reorganização da Atenção à Diabetes Mellitus, a fim de tornar mais eficaz e eficiente o cuidado dessa população a partir da Atenção Básica5.

O manejo adequado do Diabetes Mellitus no nível de atenção básica reduziria os efeitos econômicos adversos para famílias, comunidades e sociedade em geral, provocada por internações e, principalmente, diminuiria as sequelas e complicações6. Dessa forma, cabe ao cirurgião-dentista conhecer melhor essa patologia, suas manifestações bucais, atuar preventivamente, bem como debelar os focos de infecção que contribuem para a descompensação do paciente diabético, evitando o comprometimento do estado de saúde geral do paciente7,8.

Diante da problemática em questão , com o intuito de fornecer subsídios para futuras propostas de intervenções, este estudo propõe-se a avaliar a conduta dos cirurgiões-dentistas das Unidades Básicas de Saúde do Município de Campina Grande-PB no atendimento de pacientes com Diabetes Mellitus.

 

METODOLOGIA

Foi realizada uma pesquisa de intervenção "antes e após" com 33 dos 35 cirurgiões dentistas das Unidades Básicas de Saúde da Estratégia de Saúde da Família do Município de Cam pina Grande-PB.

A coleta de dados foi realizada por meio de um questionário autoaplicável, semiestruturado com 10 perguntas, entre dezembro de 2009 a fevereiro de 2010. No momento inicial, foi explicitada a finalidade da pesquisa, sendo então solicita da a participação do entrevistado por meio da assinatura do termo de consentimento livre e esclarecido. A aplicação dos questionários foi feita em dois momentos, antes e após palestra informativa. Na primeira etapa, o profissional respondeu as perguntas, e logo após , foi ministrada uma palestra de 10 minutos com informações com abordagem sobre o risco de desenvolvimento de endocardite. Após sanar as dúvidas dos profissionais, foi entregue uma cartilha e um banner explicativo sobre a temática abordada. Após 30 dias, os questionários foram aplicados no vamente, e, desta forma, o impacto da intervenção foi observado.

A fidedignidade das respostas foi testada pelo método de validação de "face" em 10% dos entrevistados. Nesse método, o pesquisador solicita aos tomadores de decisão que explicitem, com suas próprias palavras, o que entenderam sobre cada pergunta9. Para análise dos dados , utilizou-se, como técnica de estatística inferencial, o teste de McNemar, com margem de erro de 5.0%10,11.

Nas questões de múltipla escolha, poderia haver uma ou até 3 respostas corretas; assim foi considerado correto quando o profissional respondeu as 3 corretas, parcialmente correta quando acertou até 2 e incorreta quando errava.

Previamente à coleta dos dados, esta pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Estadual da Paraíba (CAAE: 0462.0.133.000-09).

 

RESULTADOS

Na Tabela 1, são apresentados os resultados relativos à caracterização amostral . Dessa tabela, destaca-se que: a maioria (82%, n=27) era do sexo feminino; um pouco mais da metade tinha mais de 10 anos de formado (57,6%, n=19); 87,9% (n=29) eram especialistas , sendo a especialização mais frequente a Saúde Coletiva (37,9%, n=11).

 

 

Na tabela 2, são tratadas questões relacionadas ao conceito, aos sintomas e a tipos de Diabetes Mellitus. Em geral , observou-se um considerável aumento de respostas corretas, após a palestra informativa, em todas as questões analisadas. No que concerne aos tipos de Diabetes Mellitus verificou-se diferença estatisticamente significante entre as respostas das etapas inicial e final (p< 0,001).

 

 

O melhor horário para o atendimento e as manifestações bucais em pacientes diabéticos foram abordadas na tabela 3. Em ambas as questões, foram observadas um aumento de respostas corretas no segundo momento da pesquisa.

 

 

Os medicamentos utilizados em pacientes diabéticos foram abordados na Tabela 4. Em todas as questões, observou-se um aumento no percentual de respostas corretas na segunda visita. Foi verificado na pergunta referente ao tipo de anti-inflamatório a ser prescrito a um paciente diabético descompensado, uma maior porcentagem de respostas erradas na primeira avaliação, com aumento significativo de resposta correta na segunda, sendo observada diferença estatisticamente significativa entre os dois momentos (p < 0,001).

 

 

Na tabela 5, tratou-se dos cuidados pré, trans e pós-operatórios de pacientes diabéticos, e , mais uma vez , verificou-se uma melhora no percentual de respostas corretas na segunda visita. Constatou-se a participação de menos da metade (42,4%, n=14) dos profissionais no programa HIPERDIA, na primeira etapa, sendo que este percentual subiu para 54,5% (n=18) após palestra informativa, não sendo verificada diferença estatisticamente significante entre as duas avaliações (p=0,012).

 

 

DISCUSSÃO

O paciente diabético necessita de um tratamento multidisciplinar, e o seu atendimento pode ser feito nas unidades básicas de saúde, conforme recomenda o Mistério da Saúde1. Em relação à saúde bucal, observa-se uma série de alterações clínicas, e o despreparo dos Cirurgiões-Dentistas para o atendimento deste paciente com necessidades especiais pode gerar possíveis agravantes.

Diante das prevalências e complicações associadas , a presente pesquisa foi de suma importância, uma vez que não apenas avaliou a percepção dos cirurgiões-dentistas da Estratégia de Saúde da Família, mas forneceu instruções básicas para o atendimento odontológico dos pacientes diabéticos.

Foram pesquisados 33 dos 35 cirurgiões-dentistas pertencentes à Estratégia de Saúde da Família do município de Campina Grande -PB. Dois profissionais não foram encontrados após três tentativas, por motivo de férias ou licença médica. A maioria apresentava uma ou mais especializações, demonstrando o interesse desses profissionais por atualizações, ou mesmo, na educação continuada, provavelmente por este motivo, o perfil educativo desta pesquisa refletiu de forma positiva, na receptividade dos profissionais. Embasando essas assertivas, observou-se, na segunda etapa, que, na maioria dos locais, o cartaz com instruções para o atendimento do paciente diabético estava exposto.

Uma grande dificuldade encontrada foi a ausência de estudos com o mesmo perfil para a confrontação dos dados; assim a análise dos resultados foi feita, comparando-se as respostas dos sujeitos com o que é proposto pela literatura.

A pergunta inicial referiu-se ao conceito de Diabetes, e todos afirmaram que sabiam o significado dessa doença crônica já no primeiro momento. Essa é uma patologia que inclui um grupo de doenças metabólicas , caracterizadas por hiperglicemia, resultantes de defeitos na secreção de insulina e/ou em sua ação , causando o uso inadequado de carboidratos. A glicose acumula-se na corrente sanguínea e não é disponibilizada para uso intracelular8,12,13.

Em que pese todos terem afirmado que conheciam o conceito desta doença, apenas 39,4% opinaram, de forma correta, sobre os tipos de diabetes, sendo que este percentual aumentou para 97% na segunda parte da pesquisa (p<0, 001), (Tabela 2). Essa mudança de resultados demonstrou os efeitos positivos da palestra informativa. Atualmente esta doença é classificada de acordo com a sua etiologia em tipo 1 (insulino dependente), tipo 2 (deficiência relativa da secreção e resistência à insulina), gestacional (diminuição da tolerância à glicose durante a gravidez) e outros tipos de diabetes menos frequentes que podem resultar de defeitos genéticos da função das células beta, defeitos genéticos da ação da insulina, doenças do pâncreas exócrino, endocrinopatias, efeito colateral de medicamentos, infecções e outras síndromes genéticas associadas ao diabetes1,13,14,15. A progressão desta doença pode causar comprometimento da visão, rins, hipertensão, insuficiência cardíaca congestiva e necrose de extremidades, levando à amputação de membros13.

As manifestações clássicas incluem poliúria (aumento do volume urinário, devido à diurese osmótica, causada pelo excesso de glicose), polidipsia (aumento da sede para compensar a perda de água pela urina), polifagia (aumento da fome, para compensar o estado catabólico resultante da deficiência de insulina). A perda de peso também pode ser observada e, em alguns casos, a cetoacidose1,8,14,15,16. Respostas positivas desses sintomas durante a anamnese fornecem fortes indícios de diabetes. Nessa questão, pouco mais que a metade (54,7%) respondeu corretamente, sendo que este percentual elevou-se para 97% na segunda avaliação, e apenas um profissional respondeu incorretamente nessa etapa ( Tabela 2). Percebeu-se que os profissionais apresentavam-se, inicialmente, despreparados para o diagnóstico clínico da diabetes, entretanto este conhecimento se faz necessário, e a presença destes sintomas deve ser investigada com o intuito de reduzir as emergências médicas durante o tratamento odontológico.

No que se refere ao melhor horário de atendimento para estes pacientes, a maioria dos autores concorda que deverá ser feita no início da manhã, uma hora e meia após o desjejum, uma vez que, neste período, os níveis endógenos de corticosteroide são geralmente altos, e os procedimentos estressantes, que induzem liberação intensa de adrenalina e consequente aumento da glicemia, podem ser mais bem tolerados17,18,19. As consultas deverão ser curtas, entretanto, se forem longas e se estenderem ao horário das refeições ou na presença de sinais e sintomas de hipoglicemia, o trabalho é interrompido para realização de uma refeição leve ou para tratamento de hipoglicemia13,16,20. A maioria dos profissionais respondeu corretamente esta questão na primeira par te da pesquisa (69,7%), entretanto, no segundo momento, todos os profissionais responderam corretamente, demonstrando o completo aproveitamento neste ponto (Tabela 3).

Seguindo os questionamentos, foi indagado aos profissionais sobre as manifestações bucais que podem ocorrer no paciente diabético. Os problemas periodontais foram os mais mencionados , possivelmente por estes serem os mais citados na literatura odontológica relacionada a pacientes diabéticos1,16,17,21. É possível que microorganismos relacionados à infecção periodontal possam interferir no aumento da resistência à insulina e no controle da glicemia16. Por outro lado, as alterações no metabolismo do colágeno poderão promover modificações no reparo tecidual, podendo ser um complicador para o portador de Diabetes Mellitus4.

Outras manifestações também podem estar associadas ao Diabetes Mellitus, como xerostomia, hiposalivação, síndrome de ardência bucal , glossodínia, distúrbios da gustação , infecções, ulcerações na mucosa bucal, hipocalcificação do esmalte, dificuldade de cicatrização , hálito cetônico e líquen plano8.

Em que pese autores citar em o aumento do índice de cárie em pacientes diabéticos, não apenas pelo aumento da glicose da saliva como também pelo aumento do consumo de carboidratos22, esta possibilidade não foi citada no primeiro momento, sendo citada por apenas 2 profissionais no segundo. Isso ocorreu provavelmente pela consciência dos profissionais do caráter multifatorial da doença cárie.

Analisando o resultado geral desta questão , observou-se que houve uma elevação no percentual de respostas corretas após a palestra informativa (51,5% x 87,9%), (Tabela 3).

Foi indagado aos sujeitos sobre o emprego de medicamentos. A prescrição de anti-inflamatórios do tipo não esteroides (AINES) deve ser evitada, pois potencializa o efeito de medicamentos hipoglicemiantes. Assim, a utilização desses fármacos bem como a sua posologia deve ser realizada após análise criteriosa e consulta ao médico responsável pelo paciente8. No que concerne aos antimicrobianos, a prescrição deve ser feita nos tratamentos odontológicos que podem provocar bacteremia significava. Nesses casos , a opção pode ser feita pelo grupo das penicilinas. Por último, em casos de dor pós-operatória de intensidade leve a moderada, a dipirona ou paracetamol são as drogas indicadas, nas mesmas dosagens e posologias habitualmente empregadas em pacientes sob condições. Já o ácido acetilsalicílico (AAS) é contraindicado devido a seu efeito hipoglicemiante8,13,14,23.

Quando analisados os medicamentos de opção dos profissionais em pacientes diabéticos não compensados (Tabela 4), o maior percentual de erros no primeiro questionário foi relacionado aos anti-inflamatórios, e , embora tenha sido verificado um aumento significativo de acertos no segundo momento, (p< 0,001), 36,4% dos profissionais persistiram no erro, refletindo uma necessidade maior de esclarecimentos quanto a este assunto. A utilização incorreta de medicamentos gera grande preocupação devido ao aumento da morbidade desses pacientes. Para Andrade23 (2003), a elevação de casos de doenças crônicas, como a diabetes na população, obriga o cirurgião-dentista a buscar novos conhecimentos, em especial na administração de medicamentos, além de outros cuidados de ordem geral.

Em relação aos protocolos de atendimentos de pacientes diabéticos nas unidades básicas de saúde , a Cartilha fornecida pelo Ministério da Saúde (2006)1 focaliza apenas as medidas básicas para a prevenção e o tratamento das doenças periodontais. Entretanto outros autores indicam medidas mais abrangentes para o atendimento do paciente diabético. Nesse sentido, relata-se uma anamnese minuciosa com o intuito de investigar o estado clínico do paciente, exames clínico e radiográfico, prescrição de antibióticos em casos de infecção e a manutenção da dieta normal no dia da consulta8,16,17,24,25,26. Nesta questão , a maioria dos profissionais respondeu corretamente; no primeiro questionário aplicado ,(trecho confuso) este percentual se elevou, e nenhum profissional respondeu de forma incorreta na segunda etapa da pesquisa (78,8% x 97%) (Tabela 5).

Ainda em relação aos cuidados especiais , no transoperatório, os profissionais citaram: aferir a pressão arterial, questionar sobre os valores glicêmicos, realizar a consulta evitando ao máximo o estresse (possibilidade de elevação da glicemia). Estas são algumas recomendações preconizadas na literatura, adicionadas da realização de consultas curtas e não utilizar vasoconstritores adrenérgicos17,24,26. Neste aspecto, um percentual de 57,6% respondeu corretamente, atingindo um percentual de 87,9% num segundo momento (Tabela 5).

Atenção especial deve ser adotada para evitar as infecções secundárias e sangramentos no pós-operatório24. Estes foram citados pelos profissionais tanto na primeira quanto na segunda etapa, de forma expressiva. Além desses cuidados mencionados, existe a necessidade de atenção ao processo cicatricial, pois se sabe a dificuldade de cicatrização em pacientes diabéticos1,27. Os percentuais de acertos na primeira e segunda etapa da pesquisa foram 93,6% e 97%, respectivamente (Tabela 5).

Percebeu-se que, de uma forma geral, os cirurgiões-dentistas das unidades básicas conhecem os passos operatórios a serem seguidos quando do atendimento do paciente portador de diabetes, sendo estes conhecimentos mais consolidados após palestra informativa.

A abordagem em equipe multiprofissional com hipertensos e diabéticos é uma necessidade nos serviços de saúde, e a atuação dos profissionais das unidades básicas de saúde é evidente, sendo criado o Plano Nacional de Reorganização da Hipertensão Arterial e ao Diabetes Mellitus, doenças crônicas com importante reflexo na saúde pública. Este plano fez surgir o HIPERDIA, com o objetivo de fazer campanhas e alerta à população sobre a importância e diagnóstico precoce através de consultas, palestras, capacitações da unidade de saúde da família, nas comunidades e meios de comunicação. Além do cadastro, o plano permite o acompanhamento, a garantia do recebimento dos medicamentos prescritos, ao mesmo tempo em que, em médio prazo, poderá ser definido o perfil epidemiológico desta população e o consequente desencadeamento de estratégias de saúde pública que levarão à modificação do quadro atual, à melhoria da qualidade de vida dessas pessoas e à redução do custo social de pacientes com essas doenças28.

O Ministério da Saúde 14 estabelece a competência do agente de saúde , do médico e do enfermeiro da estratégia de saúde da família no atendimento de pacientes diabéticos, entretanto não é delegada qualquer tarefa específica ao cirurgião-dentista; cita-se, apenas, sobre a importância interdisciplinar com outros profissionais, entretanto é de suma importância a participação deste profissional no tratamento e controle de pacientes diabéticos.

Seguindo esta linha, foi questionado aos profissionais se eles participavam do HIPERDIA, percentuais de 42,4% e 54,5% responderam positivamente, na primeira e segunda etapa, respectivamente (Tabela 5). Observou-se também um percentual maior de profissionais que admitiram não participar deste plano, no segundo momento (p= 1,000). Esses aspectos refletem a ausência de integração entre os profissionais, que é contrária às novas práticas de saúde consoantes com os princípios e diretrizes do SUS, visando ao trabalho de uma equipe interdisciplinar para a prestação de um atendimento integral a este grupo.

A metodologia utilizada neste estudo surtiu efeitos positivos, como demonstrado na segunda parte da pesquisa, entretanto existe a necessidade de educação continuada, com o intuito de capacitar e atualizar os profissionais, para aprimorarem o atendimento e, por conseguinte, contribuírem para uma melhor qualidade de vida desses pacientes.

A universidade como formadora de opinião e com o intuito de influenciar positivamente a assistência à saúde para a comunidade deve assumir este papel, tornando os profissionais comprometidos com as reais necessidades da população e, dessa forma, contribuindo para a resolução de nós críticos, vivenciados pelos serviços locais de saúde.

 

CONCLUSÕES

De uma forma geral, os profissionais apresentaram relativo conhecimento sobre o tema, sendo que o percentual de respostas corretas foi maior no segundo questionário , revelando os resultados positivos após palestra informativa. Dessa forma, verifica-se a importância da educação continuada dos profissionais da atenção básica, salientando-se a necessidade do envolvimento da universidade neste aspecto.

 

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Recebido para publicação: 05/08/10
Aceito para publicação: 17/08/10