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Odontologia Clínico-Científica (Online)

versão On-line ISSN 1677-3888

Odontol. Clín.-Cient. (Online) vol.10 no.1 Recife Jan./Mar. 2011

 

ARTIGO ORIGINAL REVIEW ARTICIE

 

Avaliação dos hábitos de higiene bucal de crianças durante o período de internação hospitalar

 

Evaluation of oral hygiene habits of children during hospitalization

 

 

Vandilson Pinheiro RodriguesI; Fernanda Ferreira LopesII; Thalita Queiroz AbreuI; Maria Inez Rodrigues NevesII; Nila da Conceição CardosoIII

IPrograma de Pós-Graduação em Odontologia, Universidade Federal do Maranhão, São Luís - Brasil
IIFaculdade de Odontologia, Universidade Federal do Maranhão, São Luís - Brasil
IIIDepartamento de Saúde Pública, Universidade Federal do Maranhão, São Luís - Brasil

Endereço para correspondência

 

 


RESUMO

O objetivo deste estudo foi o de avaliar os hábitos de higiene bucal empregados por crianças durante o período de internação hospitalar, a fim de orientar na formulação de estratégias para abordagem da saúde bucal neste espaço diferenciado. Foi realizado um estudo observacional de corte transversal, no qual foram coletados dados de 91 crianças por meio de seus cuidadores, utilizando-se um questionário cujo conteúdo incluiu dados pessoais do cuidador e da criança, acesso à assistência odontológica, comportamentos e hábitos de higiene bucal adotados durante o período de internação hospitalar. Observou-se uma baixa adesão a procedimentos de higiene bucal (67%), reduzido acesso à assistência odontológica (9,9%) e a desvalorização da saúde bucal no contexto da criança hospitalizada. Além disso, observou-se associação significante (p<0,05) entre a adoção de hábitos de higiene bucal e as variáveis: idade da criança, uso de chupeta e atendimento prévio por um cirurgião-dentista. Os resultados sugerem a necessidade de se problematizar a abordagem da promoção de saúde bucal em ambiente hospitalar.

Descritores: Higiene Bucal; Hospitalização; Promoção de Saúde.


ABSTRACT

The aim of this study was to evaluate the oral hygiene habits employed by children hospitalization to formulate strategies for dealing oral health in this different space. This was a cross-sectional study in which data were collected from 91 children by their caregivers, using a questionnaire which included personal data of the caregiver and the children, access to dental care, behavior and habits of oral hygiene used during the period of hospitalization. There was a low adherence to procedures (67%) and oral hygiene, reduced access to dental care (9.9%) and oral health devaluation in the hospitalized child. In addition there was an association significant (p<0.05) between the use of oral hygiene habits and the variables: age child, pacifier use and prior access to dental care. The results suggest the need to discuss the approach oral health promotion in hospitals.

Keywords: Oral Hygiene; Hospitalization; Health Promotion.


 

 

INTRODUÇÃO

A cárie dentária, principal agravo em saúde bucal da infância1, representa um processo patológico passível de prevenção, sendo fundamental o controle da microbiota envolvida em sua etiologia. Nesse sentido, o controle mecânico do biofilme dental e a adoção de hábitos alimentares saudáveis têm-se mostrado adequados. Apesar de esses procedimentos mostrarem-se relativamente simples, o seu controle em nível populacional ainda não foi alcançado2.

Diversos estudos associaram os níveis de higiene bucal ao risco de cárie e periodontopatias, reforçando a importância da remoção do biofilme dental por meios mecânicos, como a escovação associada a agentes químicos e o uso regular do fio dental, na sua prevenção3. Sendo assim, a atenção odontológica deve se iniciar ainda nos primeiros meses de vida ou até anteriormente ao nascimento, em conjunto com as gestantes, já que hábitos alimentares e de higiene bucal se estabelecem muito cedo4.

Baseado nesse contexto, é extremamente importante incluir a mãe e/ou o cuidador da criança na implementação de ações de promoção, prevenção e educação em saúde bucal voltadas ao público infantil, com o intuito de torná-lo um agente multiplicador de informações e um formador de condutas e comportamentos que visem à atenção odontológica precoce, visto que seus hábitos podem influenciar direta ou indiretamente na condição de saúde bucal das crianças5,6. Dessa forma, é necessário sensibilizar e motivar a família à manutenção da saúde bucal da criança, proporcionando melhores condições para o desenvolvimento e conduzindo-a a uma dentição permanente saudável7,8.

Nesse sentido, a rede de relações sociais e afetivas adquiridas pela criança no núcleo familiar deve ser levada em conta no processo de hospitalização9, visto que esses fatores também podem influenciar sua condição de saúde. Além disso, esse período apresenta elementos que podem ser encarados com estresse e expectativa, envolvendo a adaptação da criança às várias mudanças na sua rotina10. Portanto, a família deve ser auxiliada a adaptar-se à nova situação, a fim de diminuir a ansiedade gerada na criança pelo novo ambiente. Vale ressaltar também que complicações e manifestações bucais podem estar associadas e interferir na condição sistêmica, tornando-se mais um agravante durante a internação hospitalar11.

Na perspectiva de que a internação hospitalar representa um momento cuja dinâmica confere ao cuidado especificidades singulares e salientando a necessidade da adoção de hábitos adequados de higiene bucal para a prevenção da cárie dentária, o presente estudo objetivou avaliar e discutir os hábitos de higiene bucal em crianças, empregados durante o período de internação hospitalar, julgando as características inerentes a esse período, visando à obtenção de dados para orientar na formulação de estratégias de ação do crirurgião-dentista neste espaço diferenciado.

 

METODOLOGIA

O presente trabalho caracteriza-se como um estudo observacional do corte transversal, com abordagem quantitativa, objetivando a descrição das variáveis colhidas em um determinado momento do tempo. Inicialmente, esta pesquisa teve seu projeto aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Federal do Maranhão, sob o protocolo nº 23115-5153/2008.

Os sujeitos da pesquisa foram crianças, representadas por seus cuidadores, admitidas no setor da internação e provenientes na clínica médica do Hospital Infantil Dr. Juvêncio Mattos. O Hospital, localizado no município de São Luís-MA, caracteriza-se como uma unidade pública de média complexidade, de referência municipal e regional para o atendimento do público infantil, ofertando uma gama de serviços ambulatoriais, procedimentos cirúrgicos e internação hospitalar. Os critérios para inclusão na pesquisa quanto à criança foram o período de internação hospitalar superior a 72 horas e idade superior a 28 dias de vida e inferior a 14 anos. Foram excluídas da pesquisa as crianças que passaram por terapia de nutrição enteral e parenteral durante o período de internação. Dessa população, obtivemos uma amostra final não probabilística de 91 crianças no período de março a maio de 2009, representado pelo binômio cuidador-criança.

A participação dos sujeitos deu-se de forma voluntária, mediante a solicitação de permissão e a explicitação sobre a finalidade e importância da colaboração e procedimentos a serem realizados, seguida da assinatura do termo de consentimento livre e esclarecido.

Os dados foram coletados mediante entrevistas direcionadas aos cuidadores, sendo realizadas nas enfermarias do setor de internação do hospital, utilizando um questionário semiestruturado, construído por questões fechadas e abertas. Foram investigadas variáveis categóricas, referentes a comportamentos, atitudes, características sócio-econômico-educacionais e pessoais relacionadas, direta ou indiretamente, à criança, como: identificação da criança (sexo, idade, local de procedência); identificação do cuidador (sexo, idade, escolaridade, grau de parentesco com a criança); dados da internação (motivo da hospitalização, episódio de internação anterior); variáveis comportamentais durante o período de hospitalização (adoção de hábitos higiene bucal, quem executa a higiene bucal da criança, uso de instrumentos para a higiene bucal, uso do fio dental, freqüência diária da higiene bucal, higiene bucal noturna, uso da mamadeira, uso da chupeta, ocorrência de orientação de higiene bucal concedida por profissionais da unidade); além disso, foi questionado se a criança já passara por atendimento odontológico.

Para o processamento de dados, foi construído um banco de dados utilizando o a planilha eletrônica Excel. Para a análise estatística, foram utilizados os recursos do software SSPS for Windows. Foi realizada a estatística descritiva dos dados por meio de freqüência absoluta e relativa. Para a estatística analítica foram utilizados os testes qui-quadrado convencional e exato de Fischer (p< 0,05).

 

RESULTADOS

Neste estudo, foram coletados dados referentes a 91 cuidadores-crianças. Dentre as variáveis relacionadas à caracterização do grupo de crianças, observamos que 51,6% eram do sexo masculino e 48,4% do sexo feminino. A média de idade das crianças do estudo foi de 2,9 anos, com predomínio de crianças na primeira infância (68,1%), período que compreende o primeiro e o sexto ano de vida. Com relação ao município de procedência, a maioria das crianças (72,5%) residia em São Luís. A média de tempo de internação hospitalar, no momento que foi aplicado o questionário, foi de 6,2 dias, sendo que 72,5% encontravam-se hospitalizadas a um período de até uma semana. Considerando a causa da internação, 39,6% crianças encontravam-se internadas devido a doenças do aparelho respiratório. Observou-se que 40,7% das crianças já haviam passado por episódios de internação anteriores, enquanto que 59,3% nunca haviam sido internadas (Tabela 1).

 

 

A Tabela 2 expressa a caracterização dos cuidadores, ao revelar que 91,8% eram do sexo feminino e 2,2%, do sexo masculino. As mães constituíram o grupo mais frequente de grau de parentesco como cuidadores, correspondendo a 87,9%, seguidos de avós (5,5%). A idade média dos cuidadores foi de 28,3 anos, sendo que 40,6% tinham até 25 anos de idade. Com relação à escolaridade dos cuidadores, 29,7% não tinham finalizado o ensino fundamental, sendo que 36,3% possuíam o ensino médio completo, e 2,2% dos cuidadores possuíam graduação em ensino superior.

 

 

Analisando os hábitos de higiene bucal e comportamentos das crianças durante a internação hospitalar, constatamos que 67% crianças realizaram algum tipo de procedimento de higiene bucal durante a hospitalização. Dentre essas crianças que praticavam a higiene bucal, quem a realizava na criança na maioria das vezes era o adulto (75,4%). O instrumento mais utilizado para esse fim foi a escova dental (75,4%). Sobre essas práticas, pôde-se observar que 42,6% relataram a ocorrência da higienização bucal três ou mais vezes ao dia, 36,1%, duas vezes, e 21,3%, apenas uma vez ao dia. Sobre a higiene bucal antes do sono noturno, 31,1% relataram que realizavam todos os dias, sendo que 21,3% não realizam a higiene noturna (Tabela 3).

 

 

Em relação às orientações de saúde bucal obtidas durante a internação por profissionais da unidade, 92,3% dos cuidadores informaram que não haviam recebido orientação durante o período; dentre os cuidadores que receberam algum tipo de orientação, essas foram concedidas por médicos, enfermeiros e técnicos de enfermagem. Constatou-se, também, no presente estudo, que nenhuma criança havia utilizado o fio dental durante esse período. Além disso, observou-se que 49,5% das crianças utilizavam mamadeira, e 26,4% utilizavam chupeta durante o período. Foi questionado se as crianças já haviam recebido algum atendimento odontológico, observou-se que 90,1% das crianças nunca foram atendidas por um cirurgião-dentista.

Além disso, testou-se a associação da adoção de procedimentos de higiene bucal pelas crianças durante o período de internação hospitalar e variáveis referentes ao binômio criança-cuidador (Tabela 4). Observou-se associação significante (p<0,05) para as variáveis idade da criança, uso de chupeta e atendimento prévio por um cirurgião-dentista.

 

 

DISCUSSÃO

Observou-se, na presente pesquisa com 91 cuidadores-crianças, o predomínio de crianças na primeira infância (68,1%), correspondendo à faixa etária de estabelecimento da dentição decídua. É importante ressaltar que nessa fase as crianças podem ser afetadas por qualquer alteração que ocorra em seu cotidiano, tornando-as mais susceptíveis a problemas de saúde12. A causa mais comum da internação foi atribuída às doenças do aparelho respiratório (39,6%); esses achados corroboram os dados disponíveis em meio eletrônico, extraídos do Sistema DATASUS13, correspondendo ao ano de 2006, que apresentam as doenças do aparelho respiratórias, doenças infecciosas e parasitárias, e doenças do aparelho digestivo, respectivamente, como as três principais causas de internação na faixa etária de zero a nove anos de idade no município de São Luís.

Verificou-se que 33% das crianças não realizaram procedimentos de higiene bucal durante o período, revelando uma baixa adesão a essa prática. Somado a isso, observou-se que a idade da criança e o uso de chupeta apresentaram associação significante com a adoção dessas práticas. Isso provavelmente ocorre porque há certa negligência na adoção dessas práticas quanto menor a idade da criança, além disso, a dentição decídua, com freqüência, não é considerada tão importante quanto a permanente14, sendo que muitas mães encaram a lesão de cárie em dentes decíduos com normalidade15. Esse fato é preocupante, visto que cárie é passível de prevenção e se desenvolve, inicialmente, em superfícies lisas, facilmente acessíveis à rotina de escovação16.

Sobre as práticas de higiene bucal durante o período de hospitalização, observou-se o predomínio do cuidador como o responsável por realizar a higiene bucal da criança (75,4%), reforçando a importância de sua conscientização para intensificar a adesão de medidas de promoção e prevenção de saúde pelo público infantil. A remoção mecânica do biofilme dental com o auxílio da escova dental foi o método mais utilizado (75,4%). Observou-se que 42,6% das crianças que executavam a higiene bucal relataram realizar o procedimento três ou mais vezes ao dia. Fato semelhante ao detectado por Cruz et al.17, ao verificar que 73,8% das mães de crianças de 0 a 3 anos realizavam rotineiramente a higiene bucal domiciliar de seus filhos, sendo que 32,2% utilizavam a fralda, gaze ou cotonete úmido para a realização do procedimento. Prado et al.18, ao avaliarem escolares, verificaram que 48,9% das crianças relataram escovar os dentes três vezes ao dia. Essa realidade, também, foi citada por Moura et al.8, avaliando crianças cujas mães frequentaram programa odontológico, quando observaram que a maioria das crianças (85,4%) realizava a higiene bucal uma vez ao dia, sendo que 86,5% estavam sob supervisão de um adulto.

Entretanto, é importante avaliar também a qualidade do procedimento de higiene bucal. Cruz et al.19, em pesquisa realizada com crianças hospitalizadas, observaram uma alta prevalência de língua saburrosa (61,82%), revelando deficiência ou ausência de higiene bucal. Portanto, o procedimento de higiene bucal deve ser realizado adequadamente, para promover a remoção do biofilme, assegurando, assim, a manutenção da saúde bucal.

No presente estudo, constatou-se, também, que nenhuma criança havia utilizado o fio dental durante esse período. Rank et al.20 relatam em seu estudo que as principais dificuldades maternas que influenciam e interferem no uso do fio dental em crianças, são a falta de esclarecimento quanto ao uso e à técnica, além da ausência do hábito pelos pais. Portanto, o uso do fio dental deve ser estimulado em função de sua ação preventiva da cárie dentária em áreas interproximais.

Por meio do presente trabalho, pôde-se observar a necessidade de se incrementar o atendimento público odontológico no Município de São Luís, uma vez que apenas 9,9% das crianças já haviam tido acesso ao cirurgião-dentista, revelando um reduzido acesso do público infantil à assistência odontológica. Além disso, o acesso ao cirurgião- dentista apresentou associação significativa com a adoção de procedimentos de higiene bucal pelas crianças hospitalizadas, fato que pode ser explicado pela possível motivação pelo contato prévio com um profissional da odontologia nesse grupo de crianças. Silva et al.21, em seu estudo, analisando a assistência pública para a infância e adolescência no município de São Luís, revelaram que a atenção odontológica é voltada para a dentição permanente, visto que o atendimento odontológico para crianças se concentra na faixa etária de 6 a 12 anos, despertando a necessidade de reformulação de um modelo de atenção para a oferta universal dos serviços. Noro et al.22, num estudo com crianças na faixa etária de cinco a nove anos de idade, residentes na área urbana do Município de Sobral, nos anos de 1999 a 2000, constataram que 49,1% desta população jamais tiveram acesso ao tratamento odontológico, além disso, destacaram o acesso irregular dessa população ao serviço, utilizando-o de maneira pontual, demonstrando que, apesar da reconhecida importância da saúde bucal, uma parcela considerável da população brasileira não tem acesso aos serviços de assistência odontológica.

O presente estudo revelou que orientações sobre práticas de higiene bucal são raramente abordadas pela equipe de saúde que presta assistência à criança durante a internação hospitalar, visto que apenas 7% dos cuidadores relataram ter recebido algum tipo de orientação sobre o assunto durante o período. Em estudo desenvolvido por Cruz et al.17 com mães que acompanhavam filhos em consultas pediátricas, 67,5% das mães relatam que não tinham recebido orientação de qualquer profissional sobre a saúde bucal dos filhos. Dentre as que receberam, o pediatra foi o agente transmissor mais citado.

Vale destacar também que o uso de medicamentos líquidos açucarados, prática que poderá estar intensificada durante a internação hospitalar, merece atenção dos profissionais da saúde e cuidadores, pois o risco do desenvolvimento da doença-cárie associado ao uso de medicamentos líquidos torna-se ainda maior, quando nenhuma medida efetiva de higiene bucal é realizada, a fim de eliminar os resíduos dessas substâncias da cavidade bucal das crianças23, sendo um relato comum de pais associarem o uso frequente de medicamentos durante a infância ao precário estado de saúde bucal de seus filhos24 Além disso, poucos são os profissionais de saúde que orientam os responsáveis sobre a presença do açúcar nos medicamentos, devendo sua administração ser seguida da devida higienização da cavidade bucal25.

Portanto, a utilização de recursos humanos não-odontológicos como uma estratégia para a promoção de saúde bucal pode representar uma alternativa para a ineficiência do atendimento odontológico clássico visando à manutenção da saúde bucal26. Sendo importante a capacitação da equipe de saúde, que presta assistência à criança hospitalizada sobre eventos na cavidade bucal que poderão agravar e retardar a recuperação frente à situação causal da internação, visando ao atendimento do paciente em sua integralidade.

Sobre o uso de mamadeira e da chupeta, é necessário que haja orientação adequada sobre essas práticas. Esse fato se mostra importante já que hábitos de sucção deletérios contribuem com um potencial maléfico para o estabelecimento de más oclusões27. A presente pesquisa observou que 49,5% das crianças utilizavam mamadeira, ratificando ser um hábito comum entre as crianças.

Sob a ótica de que a promoção de saúde bucal pode e deve-se realizar para além dos limites do consultório odontológico e reconhecendo que a procura pela assistência odontológica infantil ocorre predominantemente em situações de emergência28, geralmente associado a intervenções mais invasivas, e, somando a isso, o fato de o estresse gerado no atendimento odontológico poder desencadear manifestações negativas resultando em comportamento pouco colaborativo29, a inserção do profissional cirurgião-dentista nas equipes multiprofissionais que atuam num setor de internação hospitalar infantil, amplia e enriquece as possibilidades para a abordagem da saúde bucal. Pode-se figurar como o primeiro contato da criança com esse profissional, que fora da rotina estressante de um consultório odontológico, pode permitir uma melhor formação de vínculos e uma melhor compreensão da relação das condições sócio-econômicas e psicológicas com o processo de saúde-doença30, além de proporcionar uma oportunidade para detecção precoce de doenças bucais.

Dessa forma, o presente levantamento teve não apenas o sentido de investigação dos hábitos de higiene bucal de crianças durante internação hospitalar mas também discutir e apontar para nossas práticas de abordagem da promoção e prevenção da saúde bucal.

 

CONCLUSÕES

Frente aos resultados encontrados no presente estudo, como a baixa adesão a procedimentos de higiene bucal, o reduzido acesso à assistência odontológica, a desvalorização da saúde bucal no contexto da criança hospitalizada, sugere-se a necessidade de se problematizar a abordagem da saúde bucal em ambiente hospitalar.

Deve ser estimulada a formação de equipes multidisciplinares no intuito de enfatizar a adoção de medidas de promoção de saúde, incluindo a saúde bucal, na tentativa de auxiliar na melhoria do quadro de saúde durante a hospitalização, sendo essencial, durante esse processo, incluir todos os sujeitos envolvidos no seu cuidado: criança, cuidador e profissionais da saúde.

 

AGRADECIMENTOS

À direção e aos funcionários do setor de internação do Hospital Infantil Dr. Juvêncio Mattos , pelo auxílio para a realização deste estudo.

 

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Endereço para correspondência
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Recebido para publicação: 16/08/10
Aceito para publicação: 30/11/10