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Odontologia Clínico-Científica (Online)

versão On-line ISSN 1677-3888

Odontol. Clín.-Cient. (Online) vol.11 no.1 Recife Jan./Mar. 2012

 

ARTIGO ORIGINAL / ORIGINAL ARTICLE

 

Resistência de união de dois sistemas adesivos ao esmalte bovino

 

Bond strength of two adhesive systems to bovine enamel

 

 

Rosana Costa Casanovas de CarvalhoI; Camila Belo FalcãoII; Daniele Meira CondeIII; Rogério Vera Cruz Ferro MarquesIII; Fernando Jorge Mendes AhidIV

IProfessora Adjunto II de Dentística Restauradora da Universidade Federal do Maranhão
IIProfessora Substituta de Dentística Restauradora da Universidade Federal do Maranhão
IIIMestranda em Odontologia da Universidade Federal do Maranhão
IVProfessor Adjunto de Dentística Restauradora da Universidade Federal do Maranhão

Endereço para correspondência

 

 


RESUMO

Objetivo: avaliar a resistência de união às forças de cisalhamento de dois sistemas adesivos, um convencional e um autocondicionante, em esmalte de dente bovino. Métodos: trinta e duas placas de esmalte bovino (16mm2) foram confeccionadas e divididas aleatoriamente, em dois grupos experimentais (n=16): G1-adesivo convencional Magic Bond (Vigodent) e G2- adesivo autocondicionante AdheSE DC Activator (Ivoclar Vivadent). A área de adesão foi delimitada em 4mm de diâmetro, e o sistema adesivo, aplicado de acordo com as recomendações do fabricante. Em seguida, um de cilindro de resina composta de 2x2mm (diâmetro x altura) foi confeccionado por placa. As amostras foram armazenadas em soro fisiológico por 2 dias, VG a 37°C e submetidas a ensaio mecânico de resistência de união ao cisalhamento (0,5mm/min - TIRAtest 2420). Foi utilizada estatística descritiva e teste t de Student (5%). Resultados: o adesivo Magic Bond (11,2 ± 1,9) apresentou maior média de resistência de união que o adesivo AdheSE DC Activator (4,4 ± 1,5). Conclusão: os dados sugerem que a resistência de união ao esmalte bovino é maior nos sistemas adesivos convencionais que nos autocondicionantes.

Descritores: Esmalte dentário; Adesivos dentinários; Resistência ao cisalhamento.


ABSTRACT

Objective: This study evaluated the shear bond strength of two adhesive systems, one etch-and-rinse adhesive and one self-etching adhesive, in bovine tooth enamel. Methods: Thirty-two plates of bovine enamel (16mm2) were fabricated and randomly divided into two experimental groups (n=16): G1- etch-and-rinse adhesive Magic Bond (Vigodent) and G2- self-etching adhesive AdheSE DC Activator (Ivoclar Vivadent). The adhesion area was enclosed in 4mm of diameter and adhesive system applied according to the manufacturer's recommendations. Then a cylinder of composite resin (2mm diameter x 2mm height) was made by the plate. The samples were stored in saline solution for 2 days at 37°C and subjected to mechanical testing of shear bond strength (0,5mm/min - TIRAtest 2420). Was used descriptive statistics and Student's t test (5%). Results: Magic Bond (11.2 ± 1.9) showed higher mean strength than AdheSE DC Activator (4.4 ± 1.5). Conclusion: The data suggest that the bond strength to bovine enamel is higher in etch-and-rinse adhesives than in self-etching adhesives.

Descriptors: Dental Enamel; Dentin-Bonding Agents; Shear Strength.


 

 

INTRODUÇÃO

A Odontologia vem vivenciando, ao longo dos anos, grandes transformações. Atualmente, com o desenvolvimento de novos materiais e técnicas, podem-se obter restaurações com características estéticas e funcionais mais duradouras1,2. A necessidade de materiais restauradores que se mantenham unidos à estrutura dental e que evitem a infiltração marginal, uma das grandes desvantagens das restaurações adesivas, foi a grande responsável pelo crescente número de pesquisas sobre sistemas adesivos, bem como pela evolução desses materiais3-7.

A técnica do condicionamento ácido do esmalte, preconizada por Buonocore8 em 1955, e o desenvolvimento das resinas compostas por Bowen9 em 1962 representaram um dos maiores progressos dentro da Odontologia. Entretanto, a evolução desses materiais trouxe um número cada vez maior de produtos oferecidos no mercado, prometendo maior durabilidade, facilidade de técnica e melhor adesão.4,7,10,11

Nos últimos anos, diversos estudos foram realizados em razão de alguns problemas críticos na técnica de aplicação dos adesivos, que podem levar ao surgimento de microinfiltrações e, como consequência, sensibilidade pós-operatória, cárie secundária e manchamento6,8. Na tentativa de eliminar esses inconvenientes, novos adesivos foram desenvolvidos, entre eles os autocondicionantes.

A diferença entre o adesivo autocondicionante e o adesivo convencional está nos passos clínicos distintos do condicionamento ácido em esmalte e dentina, visto que o primeiro dispensa a etapa prévia de condicionamento ácido, pois apresenta, em sua composição, monômeros acídicos no primer, que é aplicado em esmalte e dentina e não deve ser removido em lavagem, promovendo condicionamento da estrutura dentária12,17.

O condicionamento ácido em esmalte e dentina, quando do uso de sistemas adesivos convencionais, além de exigir passos clínicos distintos, também pode produzir diferentes padrões da superfície condicionada, dependendo da concentração e do tempo de aplicação. A força de adesão depende da metodologia empregada e, principalmente, da área de esmalte condicionada4.

Os sistemas adesivos autocondicionantes lançados no mercado pretendem, dessa forma, substituir efetivamente os sistemas de múltiplos passos, tornando-se clinicamente interessantes devido à simplificação da técnica13,15-17. Entretanto, estudos que realmente comprovem a eficácia desses sistemas ainda precisam ser realizados.

O propósito deste estudo foi avaliar comparativamente a resistência de união de dois sistemas adesivos, um convencional e outro autocondicionante, em esmalte de dentes bovinos, por meio de teste de cisalhamento.

 

MATERIAL E MÉTODOS

Foram utilizados 32 dentes bovinos, limpos com curetas, desinfetados com álcool 70% por 30 minutos, esterilizados em autoclave e acondicionados em depósito plástico contendo soro fisiológico a 0,9% por duas semanas, à temperatura ambiente. A troca do soro fisiológico foi realizada a cada semana, a fim de evitar a sua contaminação10.

Com o auxílio de uma ponta diamantada tronco cônica nº 4138 (KG Sorensen), a coroa de todos os dentes foi seccionada nos sentidos mésio-distal e cérvico-incisal, para a confecção de 32 blocos, medindo aproximadamente 16mm2.

Os blocos de dente foram inclusos em resina acrílica, utilizando-se uma matriz bipartida de aço inoxidável em forma circular, com um orifício central, com dimensões de 10mm de diâmetro por 12mm de altura, deixando exposta a face vestibular. Para evitar a desidratação, os corpos-de-prova foram acondicionados em soro fisiológico a 0,9% durante dois dias,à temperatura ambiente, em recipiente fechado.

As amostras foram divididas em dois grupos (n=16), de acordo com o tipo de adesivo a ser utilizado: grupo I (G1) - sistema adesivo convencional Magic Bond (Vigodent) e grupo II (G2) - sistema adesivo autocondicionante AdheSE DC Activator (Ivoclar Vivadent).

Foi realizada profilaxia com escova de Robinson, pedra-pomes e água em todas as amostras. No grupo 1, foi realizado o condicionamento com ácido fosfórico a 37% (Atactek, Denteville), por 30 segundos e posterior lavagem por 30 segundos. A padronização da área de adesão foi feita com uma fita adesiva, com orifício de 4mm de diâmetro, delimitando, assim, a área de colagem. O sistema adesivo Magic Bond foi aplicado de acordo com as recomendações do fabricante e polimerizado por 20 segundos (Bryde Led, MM Optics, 1200mW/cm2). Um cilindro de resina composta (Opallis, FGM) de 2mm de diâmetro por 2mm de altura foi confeccionado com o auxílio de matriz metálica bipartida e anel estabilizador. Utilizou-se um único incremento, sendo este acomodado com espátula antiaderente e fotopolimerizado por 40 segundos.

Nos corpos de prova do grupo 2, foi feita a limitação da área e aplicação do sistema adesivo autocondicionante Adhe-SE DC Activator, conforme recomendações do fabricante e fotopolimerização por 20 segundos. Em seguida, foi utilizado o mesmo protocolo para a confecção do cilindro de resina do grupo 1.

Os corpos de prova foram armazenados em soro fisiológico a 0,9%, por 2 dias, a 37°C, em depósitos plásticos devidamente fechados e foram submetidos a ensaio mecânico de resistência de união às tensões de cisalhamento (0,5mm/min - TIRAtest 2420).

Os dados foram tabulados e analisados, utilizando-se o programa SPSS for Windows 10.0 (1999). Inicialmente, procedeu-se à análise descritiva dos dados. Para avaliar a diferença da resistência ao cisalhamento dos dois tipos de sistemas adesivos aplicados, utilizou-se o teste t de Student para amostras independentes. O nível de significância para se rejeitar a hipótese de nulidade foi de 5%.

 

RESULTADOS

Os valores relativos à resistência de união ao cisalhamento estão discriminados na Tabela 1.

Foi observada diferença significativa (P < 0,05) na variável resistência, para a qual a média da resistência do sistema adesivo convencional (11,2 MPa) foi superior ao sistema adesivo autocondicionante (4,4 MPa).

 

 

 

DISCUSSÃO

Embora os testes laboratoriais não reproduzam exatamente as condições que ocorrem in vivo, eles representam um importante parâmetro de análise, uma vez que, se o material apresentar comportamento eficiente in vitro, provavelmente resultará em um desempenho clínico satisfatório. Dentre os testes in vitro para análise da adesão na interface dente/restauração, destacam-se os mecânicos e o de microinfiltração, sendo que cada um deles apresenta características e parâmetros próprios.4,6,14,18

Dentre os testes mecânicos, o de resistência ao cisalhamento é o mais utilizado, principalmente devido à simplicidade do protocolo e da confecção dos corpos de prova, além de proporcionar resultados altamente satisfatórios6.

O uso de dentes bovinos neste estudo justifica-se pelo fato de serem estes considerados aceitáveis nos testes in vitro15. Informações confiáveis e importantes têm sido geradas, utilizando-se dentes bovinos em testes in vitro.9,19,20

Apesar de os adesivos convencionais serem muito utilizados, a sensibilidade pós-operatória, apresentada em alguns casos, tem feito com que pesquisas sejam realizadas usando alternativas para o condicionamento ácido em esmalte e dentina. Nesse sentido, destacam-se os adesivos autocondicionantes que, ao mesmo tempo em que condicionam a estrutura dentária, promovem um embricamento micromecânico. Isso facilita consideravelmente o protocolo clínico, pois elimina a etapa do condicionamento com ácido fosfórico e sua posterior lavagem e secagem12,19-21.

É sabido que a profundidade de condicionamento interfere nos resultados de adesão. Quanto maior a profundidade de penetração de um sistema adesivo, maior a resistênciaà tração obtida4.

Neste estudo, a média dos valores de resistência ao cisalhamento dos sistemas adesivos convencionais (11, 22 MPa) foi significativamente maior que a dos adesivos autocondicionantes (4,43 MPa). Outros trabalhos concordam com os nossos resultados, preconizando uma melhor efetividade na adesão dos adesivos convencionais.10,17,20 Entretanto, alguns autores encontraram maiores valores de resistência de união para os adesivos autocondicionantes.21-23

Provavelmente os resultados satisfatórios do sistema adesivo convencional se justificam pelo fato de que, quando se utilizou o adesivo autocondicionante, houve uma falta de retenções típicas (asperizações) no esmalte, como as obtidas com o uso do ácido fosfórico16. Alguns autores preconizam que, para melhorar a resistência ao cisalhamento dos adesivos autocondicionantes, deve-se fazer uma asperização do esmalte como forma de remover a camada aprismática, que é menos retentiva aos monômeros acídicos, gerando, dessa forma, um aumento da união com esses sistemas24.

Outro fator que pode justificar a inferioridade dos sistemas autocondicionantes está relacionado com a formação de espaços vazios na interface dente/adesivo, permitindo uma obliteração por corpos estranhos das microporosidades. Estudos concluíram que o esmalte é pobre em molhamento e tem como característica produzir espaços vazios na interface dente/adesivo2. Adesivos à base de primer têm sua resistência diminuída, já que, após a aplicação do primer, não há uma lavagem para a remoção dos corpos estranhos que possuem como habitat a interface dente/adesivo20.

 

CONCLUSÃO

Com base nos resultados obtidos e de acordo com a metodologia utilizada, conclui-se que, em esmalte bovino, o sistema adesivo convencional comportou-se significativamente melhor em relação ao sistema autocondicionante no teste de resistência ao cisalhamento.

 

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Endereço para correspondência:
Rosana Costa Casanovas de Carvalho
Rua dos Rouxinóis, 3574/404, Bl-2 - Cond. Alphaville - Jardim Renascença
São Luis – Maranhão/Brasil CEP: 65075-630

e-mail:
rosana.c.casanovas@hotmail.com

 

Recebido para publicação: 12/07/11
Aceito para publicação: 11/10/11