SciELO - Scientific Electronic Library Online

 
vol.11 issue1 author indexsubject indexarticles search
Home Pagealphabetic serial listing  

Odontologia Clínico-Científica (Online)

On-line version ISSN 1677-3888

Odontol. Clín.-Cient. (Online) vol.11 n.1 Recife Jan./Mar. 2012

 

ARTIGO ORIGINAL / ORIGINAL ARTICLE

 

Análise das estimativas de incidência de câncer de boca no Brasil e em Sergipe (2000 - 2010)

 

Estimates'evaluation of mouth cancer incidence in Brazil and Sergipe (2000 - 2010)

 

 

Allan Ulisses Carvalho de MeloI; Ricardo Luiz Cavalcanti Albuquerque JúniorII; Maria de Fátima Batista de MeloIII; Cyntia Ferreira RibeiroIV; Thiago de Santana SantosV; Ana Cláudia Amorim GomesVI

IProfessor Titular das Disciplinas de Odontologia Legal e de Estomatologia. Universidade Tiradentes (UNIT), Aracaju/SE, Brasil
IIProfessor Titular da Disciplina de Patologia Bucal. Universidade Tiradentes (UNIT), Aracaju/SE, Brasil
IIIProfessora Titular da Disciplina de Imaginologia Odontológica. Universidade Tiradentes (UNIT), Aracaju/SE, Brasil
IVAluna do Programa de Doutorado em Odontologia, Universidade de Taubaté (UNITAU), Taubaté/SP, Brasil
VAluno do Programa de Doutorado - FORP/USP
VIProfessora Adjunta da Faculdade de Odontologia de Pernambuco - Universidade de Pernambuco (FOP-UPE), Recife/PE, Brasil

Endereço para correspondência

 

 


RESUMO

O objetivo deste estudo foi analisar as estimativas de incidência de câncer de cavidade bucal no Brasil e em Sergipe, publicadas pelo INCA entre 2000 e 2010. Foram verificados os números de casos e as taxas brutas de incidência previstas para o Brasil, Sergipe e Aracaju, comparando-as com as dos outros Estados e Capitais brasileiros. Também foi observada a incidência estimada para outras localizações anatômicas mais acometidas pelo câncer. No Brasil, entre 2000 e 2010, a cavidade bucal foi uma das dez localizações anatômicas com maior número de casos novos de câncer estimados, sempre ocupando a sétima posição. Em Sergipe, houve um aumento nas estimativas de incidência alterando de 80 para 160 novos casos, com preponderância masculina (80% a 61,5%). Dentre os tipos de câncer mais incidentes, exceto pele não melanoma, a cavidade oral passou a ser, a partir de 2005, uma das cinco localizações com maior número de casos estimados, ultrapassando outros sítios como cólon e reto, esôfago, estômago, melanoma ou leucemia isoladamente. O número de casos novos de câncer de cavidade bucal estimados vem aumentando a cada ano, no Brasil e em Sergipe. Ainda há maior número de casos entre os homens, mas a proporção homem:mulher está diminuindo.

Descritores: Epidemiologia; Incidência; Neoplasias Bucais; Epidemologia; Boca; Carcinoma.


ABSTRACT

The aim of this study was to analyze the estimated incidence of oral cancer in Brazil and Sergipe published by INCA between 2000 and 2010. It was verified the numbers of cases and crude incidence rates estimated for Brazil, Sergipe, and Aracaju comparing them with those of other Brazilian states and capitals. It was also observed the estimated incidence for other anatomic sites most affected by cancer. In Brazil, between 2000 and 2010, the oral cavity was one of the ten anatomic sites with the highest number of new cancer cases estimated always occupying the seventh position. In Sergipe there was a continuous increase in incidence estimates for 80 out of 160 new cases, with male preponderance (80% to 61.5%). Among the most incident cancers, except non-melanoma skin, oral cavity became, from 2005, one of five locations with the highest number of estimated cases, surpassing other sites such as colon and rectum, esophagus, stomach, melanoma or leukemia alone. The number of new cases of oral cancer estimated has increase each year in Brazil and Sergipe. There are still more cases among men, but the man: woman ratio is decreasing.

Descriptors: Incidence; Mouth Neoplasms; Epidemiology; Mouth; Carcinoma.


 

 

INTRODUÇÃO

O Brasil encontra-se num período de transição epidemiológica, em que as principais causas de morte deixaram de ser as doenças infecto-contagiosas, sendo substituídas pelas causas externas e pelas doenças crônico-degenerativas não-transmissíveis, dentre as quais se incluem os problemas do aparelho circulatório e as neoplasias1.

A industrialização e urbanização crescentes proporcionaram o controle das epidemias e das doenças infecciosas que afetavam, principalmente, os jovens, havendo, assim, um aumento da expectativa de vida dos brasileiros, o que ampliou as chances do aparecimento do câncer, uma doença relacionada às idades mais avançadas. Desde 2003, as neoplasias malignas constituem-se como a segunda causa de morte na população brasileira, perdendo, apenas, para as doenças cardiovasculares1,2.

O Instituto Nacional do Câncer (INCA) divulga, desde 1995, as "Estimativas de Incidência de Câncer no Brasil" que são produzidas pela Coordenação de Prevenção e Vigilância (CONPREV). Tal relatório é feito com base nos Registros de Câncer de Base Populacional (RCBP), supervisionados pelo INCA, e no Sistema de Informação sobre Mortalidade (SIM), do Ministério da Saúde (MS), centralizado nacionalmente pela Secretaria de Vigilância à Saúde (SVS/MS). O SIM foi criado em 1975 e utiliza a tradução portuguesa da Classificação Internacional de Doenças - 10a revisão (CID-10) - desde 19963.

Entre 2000 e 2003, as "Estimativas" eram divulgadas dentro do próprio ano; depois passaram a ser publicadas no ano anterior. As estimativas de 2006, por exemplo, foram publicadas em 2005. Para o ano de 2004, não foram publicadas estimativas.

As "Estimativas" eram publicadas anualmente e tratavam não apenas da incidência mas também da mortalidade por câncer no Brasil. Após 2004, passaram a apresentar apenas as estimativas de casos novos, sendo que, a partir de 2005, as "Estimativas" adquiriram periodicidade bienal, ficando as publicações, desde então, disponibilizadas para os biênios 2006-2007; 2008-2009 e 2010-2011.

Em Aracaju, os dados para o seu respectivo Registro de Câncer de Base Populacional foram coletados a partir de 1996, mas tal RCBP foi criado efetivamente, em 1982.

As publicações com as estimativas de incidência de câncer no Brasil têm o objetivo de fornecer aos gestores nacionais, estaduais e municipais de saúde dados que possam orientar na atenção oncológica, na construção de estratégias de prevenção e controle de câncer e na avaliação do desempenho de programas de controle da doença já implementados3.

O câncer de cavidade bucal e faringe, conjuntamente, são o sexto tipo de câncer mais comum no mundo. A estimativa anual para o câncer de cavidade bucal em todo o mundo é de 275.000 novos casos, havendo uma grande variação geográfica nessa incidência. Na América Latina e Caribe, os países com maior número de casos na última década são Uruguai, Porto Rico e Brasil4.

Esse tipo de câncer afigura-se como um grave problema de saúde pública não apenas em virtude das altas taxas de incidência mas também de morbidade e mortalidade dessa doença, cujo diagnóstico precoce e prevenção são plenamente alcançáveis5.

Para as estimativas de câncer de cavidade bucal, o INCA leva em consideração todos os sítios anatômicos intrabucais, glândulas salivares e orofaringe de acordo com o CID-10 (C00-C10). Nasofaringe, seio piriforme, hipofaringe, localizações mal definidas do lábio, cavidade bucal e faringe ou outras localizações não estão incluídas.

Diante do exposto, o objetivo desta pesquisa foi analisar as estimativas de incidência de câncer de cavidade bucal no Brasil e em Sergipe, publicadas pelo INCA entre 2000 e 2010.

 

MATERIAL E MÉTODOS

A metodologia utilizada nas "Estimativas" tem sido modificada e aperfeiçoada a partir da colaboração de epidemiologistas, estatísticos e especialistas, com o intuito de se aproximar da real incidência de câncer em cada Estado.

Desde 2000, o INCA utiliza o método proposto por Black et al. (1997)6 para estimar a incidência (I) de câncer no Brasil.É multiplicada a taxa observada de Mortalidade (M) da região pela razão entre os valores de incidência e mortalidade da localidade onde exista RCBP. Divide-se o total de casos novos registrados num determinado intervalo de tempo pela soma dos óbitos, fornecidos pelo SIM, referentes ao mesmo local e período. Tal período corresponde àquele de maior concentração de informações dos RCBP. A fórmula pode ser vista na figura 1.

 

 

 

Para a presente pesquisa, realizou-se a análise das estimativas de câncer de cavidade bucal, publicadas pelo INCA de 2000 a 2010, verificando-se o número de casos e as taxas brutas de incidência previstas para o Brasil, Nordeste e para Sergipe e Aracaju, comparando-as com as dos outros estados brasileiros. Além disso, também foi analisada a incidência estimada para outras nove localizações anatômicas mais acometidas pelo câncer.3,7,8,9,10,11,12,13

 

RESULTADOS

Em relação aos tipos de câncer mais incidentes estimados, entre 2000 e 2010, exceto o de pele não melanoma, na população brasileira, a cavidade bucal sempre esteve entre as dez localizações anatômicas mais acometidas, ocupando a sétima posição durante todos esses anos. Se for analisado apenas o sexo masculino, a cavidade bucal já ocupou a quarta (anos 2000 e 2001) e quinta posições (2002 até 2010) entre os sítios mais afetados (Tabela 1). Nesse mesmo período, entre as mulheres, a cavidade bucal sempre foi a sétima localização mais afetada pelo câncer, segundo as estimativas de casos novos no Brasil.

 

 

 

A incidência de casos novos de câncer de cavidade bucal no Brasil, de acordo com as estimativas entre 2000 e 2010, passou de 10.890 para 14.120 casos, o que significa um acréscimo de 29%. Entre os homens, o aumento foi de 24% , alterando de 8.282 para 10.330 casos, e para as mulheres foi de 41% passando de 2.680 para 3.790 novos casos por ano. (Gráfico 1)

 

 

 

Em Sergipe, houve um aumento nas estimativas de incidência de câncer de cavidade bucal, alterando de 80 para 160 novos casos, embora , antes disso, tenha havido uma queda importante nesse número, chegando, apenas, a trinta. Entre 2000 e 2010, nenhuma outra localização anatômica apresentou tal ampliação. Nesse período, sempre houve mais casos novos estimados para os homens, variando entre 80% e 61,5%. A proporção homem: mulher chegou a ser de 4:1 em 2001, 1,3:1 em 2005, e, para o biênio 2010-2011, a proporçãoé igual a 2,2:1. (Tabela 2)

As estimativas da incidência para o ano 2000 não trouxeram nenhuma informação sobre casos de câncer nas capitais, seja sobre o número de casos novos ou sobre a incidência por 100 mil habitantes, independentemente da localização anatômica. Quanto a Aracaju, entre 2001 e 2006, as estimativas de câncer de cavidade bucal mantiveram-se as mesmas, num total de 30 casos, sendo 20 para os homens e 10 para as mulheres. Em 2008, foram estimados 50 casos (30 homens e 20 mulheres), e, para 2010-2011, não foi publicada a estimativa para mulheres, mas apenas a informação de que seriam menos de 15 casos.

 

 

 

No Brasil, excetuando-se pele não melanoma e "outras localizações", a cavidade bucal, desde 2000, foi uma das localizações anatômicas mais acometidas pelo câncer, passando da oitava para sétima posição. Em Sergipe, para o biênio 2010-2011, as neoplasias malignas de cavidade bucal serão o terceiro tipo de câncer mais incidente entre os homens e o quinto entre as mulheres. Para o referido biênio, Sergipe terá mais casos novos de câncer de cavidade bucal do que câncer de cólon e reto, esôfago, estômago, melanoma ou leucemia isoladamente. (Tabela 3)

 

 

 

Para Aracaju, entre 2001 e 2006, foram estimados trinta novos casos de câncer de cavidade bucal a cada ano, sendo que, para 2008 e 2010, foram previstos 50 e 40 casos, respectivamente. Para o ano 2000, o INCA não publicou estimativas relativas às capitais. (Gráfico 2)

 

 

 

O número absoluto de casos não permite a comparação entre os Estados e as regiões do país. Para tal análise, são mais indicadas as taxas brutas ou ajustadas de incidência por 100 mil habitantes. Em Sergipe, a referida taxa bruta, no caso dos homens, passou de 6,87 em 2000 para 2,70 em 2003 e chegou,em 2010, com um valor igual a 9,97. O estado, que já ocupou a vigésima posição, atualmente é o sétimo estado da federação com maior incidência de casos novos por 100 mil habitantes. Quanto às mulheres, a taxa passou de 1,72 para 4,36, colocando Sergipe na nona posição, sendo que, no biênio anterior, chegou a ser, proporcionalmente, o quinto Estado com maior incidência estimada de casos em mulheres.

Comparando Aracaju com as outras capitais, o aumento da taxa bruta também foi bastante significativo. Entre os homens, o valor alterou de 10,78 (2001), caiu até 6,99 (2003) e voltou a subir, atingindo 13,72 em 2010 (oitava posição). Para as mulheres, iniciou com valor de 2,77, atingiu o ápice de 6,25 (2008) e, para o período 2010-2011, é igual a 3,98 (décima primeira posição). Percebe-se que, de acordo com as estimativas de 2008, Aracaju foi, proporcionalmente, a quarta capital do país com o maior número de casos novos de câncer de boca estimados nas mulheres naquele biênio.

 

DISCUSSÃO

O INCA ressalta que as diferenças apresentadas entre as publicações das "Estimativas" poderiam ser fruto exclusivo de alteração metodológica e, por isso, a análise de séries temporais deveria ser vista com cautela. Outra limitação das "Estimativas" residiria no fato de que a base de dados para mortalidade, o SIM, apresenta defasagem de dois anos, e mudanças no quadro de mortalidade teriam efeitos retardados nas estimativas de incidência7-13.

Apesar de a análise das "Estimativas" ser afetada por inúmeros fatores e correr o risco de não ser completamente fidedigna à realidade, ela é baseada em dados reais de mortalidade e permite que os gestores e profissionais da área possam vislumbrar, mais facilmente, uma tendência em relação ao câncer, mais especificamente da cavidade bucal.

Atualmente o câncer se constitui na segunda causa de morte por doença no Brasil, sendo que a boca encontra-se entre as dez localizações do corpo mais acometidas. O país está vivenciando uma transição epidemiológica no que diz respeito às neoplasias malignas, pois há uma sobreposição de casos de câncer em sítios anatômicos associados com pobreza, como estômago, colo de útero, pênis e cavidade bucal; com aqueles relacionados à riqueza, como mama, próstata, cólon e reto. Esse padrão heterogêneo resulta da união de fatores de risco ambientais com aqueles relacionados à exclusão social14.

A partir dos resultados da presente pesquisa, percebeu-se um incremento nas estimativas de câncer de cavidade bucal no Brasil e em Sergipe, a cada ano. Em concordância com esse dado, outro autor15 afirmou que o problema do câncer de boca e faringe cresceria nas próximas décadas, principalmente devido à baixa sobrevida dos brasileiros portadores dessa doença, fato esse ligado ao retardo no diagnóstico.

Do total de casos novos de câncer de cavidade bucal estimados para os sergipanos, entre 80% e 61,5% afetariam indivíduos do sexo masculino. Tal percentual é compatível com a literatura nacional16,17,18,19, sendo que, em estudo realizado nos serviços de anatomia patológica de Aracaju20 nos quais foram analisados laudos de carcinoma epidermoide de boca emitidos entre 1979 e 1999, houve 62,2% de pacientes do sexo masculino.

A neoplasia maligna, que mais acomete a população brasileira é aquela do tipo pele não melanoma. Para os homens, os outros sítios anatômicos mais afetados são próstata, pulmão, estômago, cólon e reto. Entre as mulheres, destacam-se os cânceres de mama, colo de útero, cólon e reto e pulmão2.

Verificou-se na presente pesquisa que, no Brasil e em Sergipe, a cavidade bucal está entre os dez sítios anatômicos mais acometidos pelo câncer, mas, a depender do sexo do indivíduo, ela passa a ser uma das cinco localizações mais afetadas, ultrapassando, inclusive, os casos de estômago e de cólon e reto. Outros autores21 já apontaram uma tendência de altas taxas de mortalidade por câncer de cabeça e pescoço nas duas últimas décadas, em comparação aos outros sítios anatômicos, principalmente entre brasileiros do sexo masculino.

As "Estimativas" são feitas a partir de dados do SIM. Sendo assim, entender os dados relacionados à mortalidade por neoplasias malignas é importante para a análise dos resultados da presente pesquisa.

O Sistema de Informação de Mortalidade é construído a partir das declarações de óbito feitas pelos médicos. Dessa forma, falhas no preenchimento desse documento geram subnotificações com consequências nas "estimativas". São poucos os estudos sobre a confiabilidade das declarações de óbito por câncer de boca, mas aqueles publicados concluíram que elas eram confiáveis e válidas e que tal resultado se devia, possivelmente, ao fácil acesso para inspeção direta, possibilitando confirmação clínica22,23.

A mortalidade pelo câncer de cavidade bucal é influenciada por diversos fatores, porém um dos mais importantes é o estadiamento tumoral ao diagnóstico. Não existem dados específicos para Sergipe, mas estudos em populações brasileiras com câncer de cavidade bucal demonstraram o seguinte: (1) mais da metade dos pacientes apresentam-se com a doença em estágios avançados e com metástase16,17,18 e (2) há uma menor sobrevida entre os pacientes com metástases, portanto, com estadiamento mais avançado24,25.

Ao apresentar a situação do câncer no Brasil, o INCA mostrou a distribuição dos 10 tumores primários mais frequentes, segundo o estadiamento clínico, atendidos no Hospital do Câncer entre 1999 e 2031. A cavidade bucal foi a sexta localização anatômica com maior porcentagem de casos avançados (estádios III e IV) e o segundo sítio com maior porcentagem de estádio IV. Situações como essa são um indicativo do motivo por que a cavidade bucal tem apresentado uma incidência cada vez maior nas "estimativas" em relação aos outros sítios anatômicos. Maior porcentagem de diagnósticos em estádios avançados leva a uma maior mortalidade e eleva as "Estimativas" ano a ano.

Inegavelmente, é Importante considerar o fato de que, apesar de as estimativas de incidência em Sergipe terem apresentado um acréscimo de 100% no período do estudo, em Aracaju, o aumento não atingiu tal patamar. Isso sugere que o interior do Estado está apresentando um número cada vez maior de casos.

O tabagismo é o principal fator de risco para o câncer de cavidade bucal, podendo influenciar o surgimento de novos casos da doença. A pesquisa anual de vigilância de fatores de risco e proteção para doenças crônicas por inquérito telefônico (VIGITEL) é realizada desde 2006 e contém dados sobre o tabagismo nas 26 capitais brasileiras. Em todas as edições do VIGITEL26,27,28,29, Aracaju apresentou um dos mais baixos percentuais de adultos fumantes, girando em torno de 12% a 8%. Como o tabagismo é o principal fator de risco para o câncer de cavidade bucal, o baixo índice de fumantes na capital também pode ser um dos motivos que tem levado a uma queda da participação de Aracaju nas estimativas de incidência em Sergipe.

Nos últimos dez anos, novos serviços e profissionais de saúde relacionados ao diagnóstico de câncer de cavidade bucal passaram a atuar em Sergipe. Além disso, os RCBP e RHC aprimoraram sua capacidade de registrar os casos desse tipo de câncer. Esses dois fatores também podem ter contribuído para um aumento nas estimativas de incidência entre 2000 e 2010.

 

CONCLUSÃO

A partir da análise das Estimativas de Incidência de Câncer no Brasil, publicadas pelo INCA entre 2000 e 2010, concluiu-se que o número de casos novos de câncer de cavidade bucal estimados está aumentando a cada ano, no Brasil e em Sergipe. Ainda existe um maior número de casos entre os homens, embora a proporção homem: mulher esteja diminuindo.

Em Sergipe, o câncer de cavidade bucal tem representado uma parcela cada vez maior no número de casos de câncer em relação aos outros sítios anatômicos e, no total de casos estimados, os municípios do interior têm uma participação continuamente maior frente à capital Aracaju.

Os dados sugerem a necessidade de uma política eficaz de prevenção do câncer de cavidade bucal no Brasil e em Sergipe, de modo a reduzir a incidência e permitir um diagnóstico precoce, melhorando o prognóstico e reduzindo os custos dos serviços de saúde para tratamento e reabilitação dos pacientes.

 

AGRADECIMENTOS

À Sra. Kátia Simões, bibliotecária do Serviço de Edição e Informação Técnico-Científica do INCA, por ter disponibilizado cópias das estimativas referentes aos anos 2000, 2001 e 2002.

 

REFERÊNCIAS

1. Brasil. Ministério da Saúde. Instituto Nacional de Câncer. A situação do câncer no Brasil. Rio de Janeiro: INCA, 2006. 120p.         [ Links ]

2. Brasil. Ministério da Saúde. Instituto Nacional de Câncer. Câncer no Brasil: dados dos registros de base populacional, v. 4. Rio de Janeiro: INCA, 2010. 488p.         [ Links ]

3. Brasil. Ministério da Saúde. Instituto Nacional de Câncer. Estimativas da incidência e mortalidade por câncer no Brasil 2000. Rio de Janeiro: INCA, 2000. 75p.         [ Links ]

4. Warnakulasuriya S. Global epidemiology of oral and oropharyngeal cancer. Oral Oncol. 2009; 45(4-5):309-16.         [ Links ]

5. Melo AUC, Rosa MRD, Agripino GG, Ribeiro CF. Informação e comportamento preventivo de cirurgiões-dentistas do Programa Saúde da Família de Aracaju a respeito de câncer bucal. Rev Bras Cir Cabeça Pescoço 2008; 37(2): 114-19.         [ Links ]

6. Black RJ, Bray F, Ferlay J, Parkin DM. Cancer incidence and mortality in the European Union: cancer registry data and estimates of national incidence for 1990. Eur J Cancer. 1997; 33(7):1075-107.         [ Links ]

7. Brasil. Ministério da Saúde. Instituto Nacional de Câncer. Estimativas da incidência e mortalidade por câncer no Brasil 2001. Rio de Janeiro: INCA, 2001. 83p.         [ Links ]

8. Brasil. Ministério da Saúde. Instituto Nacional de Câncer. Estimativas da incidência e mortalidade por câncer no Brasil 2002. Rio de Janeiro: INCA, 2002. 91p.         [ Links ]

9. Brasil. Ministério da Saúde. Instituto Nacional de Câncer. Estimativas da incidência e mortalidade por câncer no Brasil 2003. Rio de Janeiro: INCA, 2003. 92 p.         [ Links ]

10. Brasil. Ministério da Saúde. Instituto Nacional de Câncer. Estimativas 2005: Incidência de Câncer no Brasil. Rio de Janeiro: INCA, 2004. 94p.         [ Links ]

11. Brasil. Ministério da Saúde. Instituto Nacional de Câncer. Estimativas 2006: Incidência de Câncer no Brasil. Rio de Janeiro: INCA, 2005. 94p.         [ Links ]

12. Brasil. Ministério da Saúde. Instituto Nacional de Câncer. Estimativas 2008: Incidência de Câncer no Brasil. Rio de Janeiro: INCA, 2007. 94p.         [ Links ]

13. Brasil. Ministério da Saúde. Instituto Nacional de Câncer. Estimativas 2010: Incidência de Câncer no Brasil. Rio de Janeiro: INCA, 2009. 98p.         [ Links ]

14. Koifman S, Koifman RJ. Environment and cancer in Brazil: an overview from a public health perspective. Mutation Research. 2003; 544(2/3): 305-11.         [ Links ]

15. Wunsch-Filho V. The epidemiology of oral and pharynx cancer in Brazil. Oral Oncol 2002; 38(8):737-46.         [ Links ]

16. Antunes AA, Takano JH, Queiroz TC, Vidal AKL. Perfil epidemiológico do câncer bucal no CEON/HUOC/UPE e HCP. Odontol Clin-Científ. 2003; 2(3): 181-6.         [ Links ]

17. Santos LCO, Cangussu MCT, Batista OM, Santos JP. Câncer bucal: amostra populacional do estado de Alagoas em hospital de referência. Braz J Otorhinolaryngol 2009; 75(40): 524-9.         [ Links ]

18. Teixeira AKM, Almeida MEL, Holanda ME, Sousa FB, Almeida PC. Carcinoma espinocelular da cavidade bucal: um estudo epidemiológico na Santa Casa de Misericórdia de Fortaleza. Rev Bras Cancerol 2009; 55(3): 229-36.         [ Links ]

19. Daher GCA, Pereira GA, Oliveira ACD. Características epidemiológicas de casos de câncer de boca registrados em hospital de Uberaba no período 1999-2003: um alerta para a necessidade de diagnóstico precoce. Rev Bras Epidemiol. 2008; 11(4): 584-596.         [ Links ]

20. Anjos Hora IA, Pinto LP, Souza LB, Freiras RA. Estudo epidemiológico do carcinoma epidermóide de boca no estado de Sergipe. Cienc Odontol Bras 2003; 6 (2): 41-8.         [ Links ]

21. Chatenoud L, Bertuccio P, Bosetti C, Levi F, Curado MP, Malvezzi M, Negri E, La Vecchia C. Trends in cancer mortality in Brazil, 1980-2004. Eur J Cancer Prev. 2010; 19(2): 79-86.         [ Links ]

22. Queiroz RCS, Mattos IE, Monteiro GTR, Koifman S. Confiabilidade e validade das declarações de óbito por câncer de boca no Município do Rio de Janeiro. Cad Saúde Pública 2003; 19(6): 1645-53.         [ Links ]

23. Nogueira LT, Rêgo CFN, Gomes KRO, Campelo V. Confiabilidade e validade das Declarações de Óbito por câncer de boca no Município de Teresina, Piauí, Brasil, no período de 2004 e 2005. Cad. Saúde Pública 2009; 25(2): 366-74.         [ Links ]

24. Oliveira LR, Ribeiro-Silva A, Zucoloto S. Perfil da incidência e da sobrevida de pacientes com carcinoma epidermóide oral em uma população brasileira. J Bras Patol Med Lab 2006; 42(5): 385-92.         [ Links ]

25. Honorato Julia CDR, Silva LE, Dias FL, Faria PAS, Lourenço SQC. Análise de sobrevida global em pacientes diagnosticados com carcinoma de células escamosas de boca no INCA no ano de 1999. Rev Bras Epidemiol. 2009; 12(1): 69-81.         [ Links ]

26. Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Vigitel Brasil 2006: vigilância de fatores de risco e proteção para doenças crônicas por inquérito telefônico. 2007. 92 p.         [ Links ]

27. Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Vigitel Brasil 2007: vigilância de fatores de risco e proteção para doenças crônicas por inquérito telefônico. 2008. 138 p.         [ Links ]

28. Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Vigitel Brasil 2008: vigilância de fatores de risco e proteção para doenças crônicas por inquérito telefônico. 2009. 112 p.         [ Links ]

29. Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Vigitel Brasil 2009: vigilância de fatores de risco e proteção para doenças crônicas por inquérito telefônico. 2010. 150 p.         [ Links ]

 

 

Endereço para correspondência:
Thiago de Santana Santos
e-mail:
thiago.ctbmf@yahoo.com.br

 

Recebido para publicação: 25/07/11
Aceito para publicação: 29/12/11