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Odontologia Clínico-Científica (Online)

versão On-line ISSN 1677-3888

Odontol. Clín.-Cient. (Online) vol.12 no.1 Recife Jan./Mar. 2013

 

ARTIGO DE REVISÃO / REVIEW ARTICLE

 

Tratamento da hipersensibilidade dentinária cervical com laser de baixa potência – revisão de literatura

 

Low-level laser therapy for treating cervical dentinal hipersensitivity – literature review

 

 

Euler Maciel DantasI; Poliana Medeiros Cunha DantasII; Fernando José de Oliveira NóbregaIII; Rodrigo Gadelha VasconcelosIII; José Nazareno Aguiar JúniorIII; Lélia Maria Guedes QueirozIV

I Professor Adjunto de Clínica Integrada da Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN
II Mestranda pelo programa de Pós-graduação em Saúde Coletiva – Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN
III Doutorando do Programa de Pós-graduação em Patologia Oral da Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN
IV Professora Adjunta de Patologia Oral da Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN

Endereço para correspondência

 

 


RESUMO

A Hipersensibilidade Dentinária Cervical (HSDC) é uma patologia bastante prevalente, sendo, na maioria dos casos, de difícil diagnóstico e tratamento. Existem várias formas de tratamento, porém seus resultados são parciais e não duradouros. Nos últimos anos, os lasers têm merecido especial atenção, tanto os de alta como os de baixa intensidade. Tendo em vista uma grande variação nas formas de utilização desses lasers, constitui propósito deste estudo avaliar os trabalhos encontrados na literatura quanto às metodologias empregadas e os seus resultados. Diante dos poucos trabalhos encontrados, podemos concluir que a terapia a laser tem-se demonstrado promissora para o tratamento da HSDC, porém mais estudos devem ser realizados, visando ao estabelecimento de uma metodologia reprodutível e confiável para pesquisas na área, o que levará a resultados mais confiáveis.

DESCRITORES: Sensibilidade da dentina, Hipersensibilidade, Terapia a laser de baixa potência, Lasers.


ABSTRACT

The dentinal hipersensibility (HSDC) is a very prevalent pathology that, in most of the cases presents a hard diagnostic and difficulty of treatment. There are many forms of treatment, however with parcial results. In these past few years laser therapy have been in focus, as much as low and high power. The purpose of this study is to inquire into the methodology and results found in suitable literature. In front of a little amount of articles avaliable in literature we have to conclude that laser therapy have been shown a promising way to treat dentinal hipersensibility. Therefore, we should go deeper into the studies to establish a reproducible methodolgy in aid of research, providing reliable results.

KEYWORDS: Dentin sensitivity; hipersensitivity, low-level laser therapy; lasers.


 

 

Introdução

A hipersensibilidade dentinária cervical (HSDC) é caracterizada por uma dor aguda e curta, proveniente da dentina exposta, em resposta a um estímulo tipicamente térmico, evaporativo, táctil, osmótico ou químico, a qual não pode ser atribuída a nenhuma outra forma de defeito ou patologia dental 1.

Com uma prevalência alta, estimada em torno de 15 a 20%, a HSDC é uma condição que aparece frequentemente nos consultórios e nos serviços de saúde pública. Seu diagnóstico em algumas situações torna-se bastante difícil pelo fato de poder se assemelhar a outras situações clínicas (fraturas, cáries, envolvimentos pulpares, entre outros). Se o diagnóstico, às vezes, torna-se difícil, é mais ainda seu tratamento, pois há uma variedade enorme de modalidades de tratamento, sendo que nenhuma delas possibilita a cura total e definitiva2,3.

Existem várias teorias que tentam explicar a hipersensibilidade dentinária, sendo a teoria hidrodinâmica a mais aceita atualmente. Essa propõe que a hipersensibilidade dentinária se deve a um movimento mínimo de fluido no interior dos túbulos dentinários, causando, assim, uma pressão dos odontoblastos e a estimulação das fibras nervosas adjacentes, provocando dor4,5.

Os sintomas da hipersensibilidade dentinária podem regredir sem tratamento assim como a permeabilidade dentinária pode diminuir espontaneamente. A dessensibilização ocorre também por processos naturais, tais como dentina reparativa, dentina esclerótica e formação de cálculo dentário sobre a superfície dentinária. O efeito placebo se logra quando há excelentes relações entre o dentista e seu paciente. Os estímulos positivos emocionais e de motivação podem ativar inibidores da dor em nível central, ou seja, provocam a liberação de endorfinas no sistema nervoso central. Aproximadamente 20 a 45% dos pacientes que não recebem tratamento ou se tratam com placebos obtêm alívio. Mediante uma revisão das formas de tratamento da hipersensibilidade dentinária cervical, pode-se observar que a terapia propriamente dita se estabelece de acordo com a severidade do problema e que as substâncias mais utilizadas são: cianocrilato, que age no bloqueio dos túbulos dentinários, prevenindo, assim, o deslocamento de fluidos no seu interior6; vernizes cavitários, que têm ação seladora sobre os túbulos dentinários; corticosteroides, que têm ação anti-inflamatória, porém de efetividade duvidosa; hidróxido de cálcio, que bloqueia os túbulos dentinários com formação de dentina esclerótica e não é irritante à polpa, apresentando como desvantagens a baixa solubilidade e a combinação com o dióxido de carbono do ar, formando carbonato de cálcio, que é um composto inativo; oxalatos férrico e potássico, que reagem com íons cálcio do fluido dentinário para formar cristais de oxalato de cálcio, obliterando a luz dos túbulos; as resinas e os adesivos dentinários e ionômeros de vidro para obliterar os túbulos e evitar movimento dos fluidos; o flúor cuja ação sobre a superfície dentária é dada pela sua união com íons cálcio, resultando em fluoretos de cálcio e reduzindo o diâmetro dos túbulos; a iontoforese do flúor, que consiste no uso de um potencial elétrico para levar o flúor mais profundamente aos túbulos dentinários; a hipnose; os dentifrícios à base de cloreto de estrôncio e o nitrato de potássio para uso caseiro e os lasers7,8.

A terapia a laser é a mais nova opção de tratamento, que se oferece aos pacientes na clínica odontológica diária. A hipersensibilidade dentinária cervical, motivo de várias pesquisas na Odontologia nos últimos anos, é uma das indicações do uso do laser que mais vem se destacando. Para o tratamento da hipersensibilidade dentinária, pode-se usar tanto lasers cirúrgicos, que atuam promovendo o selamento dentinário pela obliteração dos túbulos dentinários, como os lasers não cirúrgicos, que atuam através dos efeitos analgésico, anti-inflamatório e bioestimulador da polpa dental, levando à formação de dentina reacional9.

Diante dos resultados promissores do uso do laser para o tratamento da HSDC e da popularização dos lasers terapêuticos, constitui-se como propósito deste trabalho fazer uma revisão dos trabalhos que abordam o assunto, discutindo suas metodologias e seus resultados.

 

Revisão de literatura

A palavra LASER é o acrônimo de "Light Amplification by Stimulated Emission of Radiation" (amplificação da luz por emissão estimulada de radiação). É uma forma de energia, que se transforma em energia luminosa, visível ou não, dependendo da matéria que produz esse tipo de radiação. Os lasers de baixa intensidade são emissores, que emitem radiações de baixas potências, sem potencial destrutivo. O laser de Hélio-Neônio (He-Ne) foi o primeiro laser gasoso desenvolvido e, também, o primeiro a emitir de forma contínua. O meio excitado é uma mistura de gases de Hélio (90%) e Neon (10%). O comprimento de onda encontra-se na faixa do visível com 632,8 ηm e de coloração vermelha. Quanto aos lasers diodo, os mais comuns são os de AsGaAl (Arseneto de Gálio e Alumínio), com o comprimento de onda desde o vermelho até próximo do infravermelho, variando entre 620 a 830 ηm, e o AsGa (Arseneto de Gálio), que emitem no infravermelho, variando de 830 a 920 ηm o comprimento de onda10.

A efetividade da laserterapia na redução da hipersensibilidade dentinária e seus efeitos na vitalidade pulpar foram estudados. Gelskey et al.11 utilizaram dezenove pacientes em um estudo aleatório e duplo cego. A sensibilidade dentinária foi provocada mecanicamente, com uma ponta exploradora, e, através do estímulo térmico, utilizando um jato de ar da seringa odontológica, foi registrado o grau de hipersensibilidade mediante a utilização da escala analógica visual, sendo a vitalidade pulpar aferida por meio de estímulos elétricos. Após os registros iniciais, dois sítios de cada paciente foram tratados por um mesmo operador, tendo um recebido tratamento com laser de He-Ne (632 ηm) e o outro, He-Ne (632 ηm), associado ao Nd:YAG (1064 ηm). Imediatamente após a aplicação dos lasers, com uma semana, um mês e três meses subsequentes, o grau de sensibilidade e a resposta pulpar foram aferidos por um examinador que não tinha conhecimento em relação ao tratamento que havia sido realizado em cada elemento. Mediante a análise dos resultados, verificou-se uma redução da sensibilidade imediatamente após bem como ao terceiro mês subsequente. O tratamento com He-Ne reduziu a hipersensibilidade dentinária ao ar em 63% e ao estímulo mecânico em 61%. Entretanto, o tratamento com He-Ne associado ao Nd:YAG reduziu a hipersensibilidade dentinária ao ar em 58% e ao estímulo mecânico em 61%. Todos os dentes permaneceram vitais após o tratamento sem efeitos adversos ou complicações.

Gerschman et al.12 realizaram em estudo comparativo duplo cego com o intuito de testar a terapia com laser de baixa intensidade de AsGaAl no tratamento da hipersensibilidade dentinária em relação a um placebo. A amostra constou de 28 dentes no grupo placebo, 22 no grupo de sensibilidade táctil e 21 no de sensibilidade térmica. O laser foi aplicado por um minuto tanto no ápice quanto na cervical do dente e reaplicado em intervalos de uma, duas e oito semanas, sendo o grau de hipersensibilidade observado a cada visita. Tanto nos grupos de sensibilidade táctil quanto nos de sensibilidade térmica, os resultados foram significantes na primeira semana, aumentando ainda mais na segunda e na oitava semana. O valor da média para a sensibilidade térmica diminuiu 67% comparada com 17% do placebo, e a sensibilidade táctil diminuiu 65% comparada com 21% do placebo em oito semanas, o que levou os autores a concluir que o laser AsGaAl mostrou-se efetivo para o tratamento da hipersensibilidade dentinária.

O laser de baixa intensidade vem sendo aplicado com sucesso, no tratamento da hipersensibilidade dentinária, por meio da indução de alterações na rede de transmissão nervosa dentro da polpa dental, fase seu efeito bioestimulativo, produzindo dentina secundária neoformada e promovendo, dessa forma, obliteração fisiológica dos canalículos dentinários, e, ainda, por meio da estimulação da formação de endorfina na sinapse das terminações nervosas, localizadas nos canalículos dentinários. A energia laser deve ser aplicada perpendicularmente à superfície da dentina sensível de forma pontual, dirigida ao colo sensível do dente, com uma dosimetria energética, que pode variar de 4 a 6J/cm2. De acordo com o autor, a experiência clínica tem demonstrado que, em 85% dos casos, se obtém remissão da hipersensibilidade, sendo que destes, 90%, na primeira sessão10.

Kimura et al.13 avaliaram, mediante uma revisão de literatura, quatro tipos de lasers utilizados no tratamento da hipersensibilidade dentinária e foi verificado que a média de efetividade variou de 5,2 a 100%. A utilização do laser para o tratamento de hipersensibilidade dentinária demonstrou melhor resultado que as demais formas de tratamento, porém o tipo de laser utilizado bem como a severidade da hipersensibilidade dentinária são fatores que devem ser observados.

De acordo com Karu14, o laser de baixa potência apresenta propriedades de produzir efeito biológico em nível celular, promovendo a estimulação das mitocôndrias e provocando um aumento no metabolismo celular. Na dessensibilização dentinária, ocorre um aumento no limiar das terminações nervosas livres, produzindo efeito analgésico e estimulação de células mesenquimais da polpa para diferenciar-se em odontoblastos e produzirem ou gerarem dentina reparadora15.

Com o objetivo de avaliar clinicamente o tratamento da hipersensibilidade dentinária com laser de AsGaAl, Gentile16, selecionaram-se 32 indivíduos com hipersensibilidade dentinária, compondo uma amostra de 68 dentes, divididos em dois grupos: 33 no grupo controle e 35 no grupo tratado. O grupo tratado foi submetido a seis aplicações de laser de As- GaAl, 670 ηm (visível, vermelho), potência de 15mW, fluência de 4J/cm2, tempo de exposição de 2 minutos, em intervalos de 48 a 72 horas, e o grupo placebo, exposto à luz do fotopolimerizador, durante 30 segundos para simular a aplicação do laser. A determinação do grau de sensibilidade foi obtida por meio da escala analógica visual, após estímulos com jato de ar (1 segundo a 1cm de distância do elemento) e tátil, com a sonda exploradora, sendo os registros realizados previamente a cada aplicação, no término do período experimental e após seis semanas. Mediante a análise dos resultados, o autor concluiu que a terapia com laser de AsGaAl induziu à redução estatisticamente significante da sensação dolorosa, após cada uma das aplicações e, entre o início e o final do tratamento, embora não tenha havido diferença estatisticamente significante ao final do tratamento e após a avaliação imediata dos resultados (após seis semanas) entre o grupo-tratado e o grupo-controle, dificultando a mensuração real da efetividade do laser e do efeito placebo.

Marsílio et al.17 (2003) realizaram um estudo com o objetivo de avaliar a efetividade do laser de AsGaAl na energia mínima e máxima recomendada pelo fabricante para o tratamento da HSDC. Foram selecionados 25 pacientes, com um número total de 106 casos de HSDC que receberam tratamento com laser de baixa intensidade AsGaAl. Os dentes foram irradiados com 3 e 5J/cm2 ,em cinco sessões com um intervalo de 72 horas entre cada aplicação, tendo sido avaliados inicialmente após cada aplicação e com 15 e 60 dias após o tratamento. O tratamento foi efetivo em 86,53% e 88,88% nos dentes irradiados, respectivamente, com o mínimo e máximo de energia recomendada pelo fabricante. Os autores puderam concluir que uma diferença estatisticamente significante foi observada entre os valores de hipersensibilidade iniciais e após 60 dias, em ambos os grupos tratados, sem, no entanto, ter havido diferença significante entre a energia mínima (3J) e a máxima (5J) aplicada.

Aranha et al.18 compararam cinco métodos dessensibilizantes durante seis meses de acompanhamento clínico. Após análise dos padrões de inclusão e exclusão, foram selecionadas 101 lesões cervicais, divididas em cinco grupos: G1: aplicação de Gluma Desensitizer; G2: Seal&protect; G3: Oxa-Gel; G4: flúor fosfato acidulado e G5: irradiação com laser de baixa intensidade. O nível de sensibilidade de cada voluntário foi avaliado por meio da escala visual analógica com o auxílio do ar da seringa tríplice,1 semana antes, após 5 minutos, 1 semana, 1, 3 e 6 meses da aplicação do agente. Os referidos autores observaram que os agentes Gluma e Seal & protect apresentaram efeito imediato após a aplicação, com remissão do nível da dor constante até os 6 meses. Em relação à irradiação com laser de baixa intensidade, este se mostrou efetivo, porém com efeito não imediato. O nível da dor diminuiu a partir da primeira semana, mantendo-se constante até o final do estudo. Os agentes Oxa-gel e flúor fosfato acidulado apresentaram efeito somente após o primeiro e terceiro mês, respectivamente. Desse modo, os autores concluíram que todos os agentes dessensibilizantes foram eficazes em reduzir a hipersensibilidade dentinária, porém com efeitos diferentes.

Em um estudo clínico realizado por Noya et al.19, a eficácia imediata do laser de GaAlAs na terapia da sensibilidade dentinária foi avaliada em 32 dentes íntegros. A sensibilidade a estímulos térmico, evaporativo e tátil foi registrada antes e após a irradiação. Cada paciente tinha dois dentes homólogos selecionados, com e sem hipersensibilidade dentinária. Todos os dentes foram submetidos aos estímulos mecânico e térmico (menor que 10º C) e evaporativo, e a resposta devia ser de acordo com a escala: 0 – Desconforto não significante; 1 – Desconforto com dor não considerável; 2 – Dor aguda durante o estímulo; 3 – Dor aguda durante e após o estímulo. Os dentes que apresentaram sensibilidade foram submetidos à aplicação do laser. De acordo com os resultados obtidos com a utilização do laser GaAlAs, foi necessária, apenas, uma sessão terapêutica para os estímulos sonda e térmico, embora tenham sido necessárias duas sessões para se obter redução da sensibilidade ao estímulo evaporativo.

O efeito oclusivo do laser Nd:YAG e Sensodyne (cloreto de estrôncio) em dentina exposta foi avaliado por meio da determinação da completa penetração da tinta nos túbulos dentinários expostos a nível cervical de dentes tratados endodonticamente, utilizando-se um microscópio eletrônico de varredura para mostrar a superfície dentinária antes e após o uso de laser Nd:YAG ou Sensodyne. A amostra foi constituída de 40 dentes maxilares anteriores extraídos. Os resultados mostraram que os dentes tratados pelo laser Nd:YAG tiveram menos penetração da tinta que os dentes tratados com Sensodyne. No entanto, não houve diferença significante dos efeitos oclusivos do laser Nd:YAG e da pasta Sensodyne, mas o efeito oclusivo do laser ocorre dentre segundos, enquanto a Sensodyne demora, no mínimo, três semanas20.

Shintome et al.21 compararam clinicamente o laser de baixa intensidade de AsGaAl e o laser de alta intensidade de Nd:YAG em 14 pacientes (72 dentes) no tratamento da hipersensibilidade dentinária. O laser AsGaAl, ajustado em 50mW/2J, foi aplicado em quatro pontos na região cervical: mesial, médio e distal da face vestibular e um ponto na face lingual. O laser Nd:YAG, ajustado em 30mJ/10Hz, foi aplicado por varredura, não contato por 2 minutos. Foram realizadas 4 aplicações com intervalos de 7 dias, e, a cada sessão, o paciente atribuía escores para os testes táctil e evaporativo, realizados antes e depois da aplicação do laser. Todos os valores obtidos foram submetidos à análise de variância não paramétrica de Friedman e teste de comparação múltipla de Dunn (p<0,05). Os dados demonstram que ambos os grupos apresentaram diferença estatisticamente significante entre a condição inicial sem tratamento e a última aplicação do laser para os testes aplicados. Este estudo demonstrou que o laser de AsGaAl e o laser de Nd:YAG são efetivos no tratamento da hipersensibilidade dentinária, não tendo havido diferença significante entre os resultados obtidos entre o laser de AsGaAl e o laser de Nd:YAG.

Vieira et al.22 realizaram um estudo avaliando o uso do laser AsGaAl e oxalato de potássio a 3% no tratamento de hipersensibilidade dentinária. Para o estudo, foram utilizados 164 dentes de 30 pacientes. Os dentes foram randomicamente divididos em 03 (três) grupos: 1. Laser de AsGaAl; 2. Gel de oxalato de potássio e 3. Gel placebo. O grau de sensibilidade aos estímulos táteis e ao ar foi avaliado de acordo com a escala visual analógica, imediatamente após a quarta aplicação e três meses após a quarta aplicação. Os resultados mostraram redução estatisticamente significante na hipersensibilidade dentinária imediatamente após e três meses após o tratamento, quando comparados ao período inicial. Entretanto, não foram observadas diferenças significativas entre os três grupos. Os autores concluíram que os tratamentos efetuados foram efetivos na redução da hipersensibilidade dentinária.

Pesevska et al. 23 realizaram um estudo com o objetivo de comparar a efetividade do laser em baixa intensidade com aplicação tópica de flúor após tratamento periodontal de raspagem e alisamento radicular. O grupo experimental, composto por 15 pacientes, foi tratado com laser diodo, entretanto o grupo-controle, também com 15 indivíduos, recebeu tratamento com aplicação tópica de flúor. Todos os pacientes foram tratados no dia inicial da visita, no segundo e no quarto dia após o tratamento inicial. A dor foi avaliada subjetivamente como forte, média, média-baixa, baixa ou sem dor. Ausência total de hipersensibilidade foi relatada em 26,66% dos grupos examinados após a segunda visita, comparado com o grupo-controle no qual a resolução completa da sensibilidade não foi observada após o mesmo período. Ausência total de dor foi relatada em 86,6% dos pacientes tratados com laser e somente em 26,6% dos pacientes tratados com o grupo controle após a terceira visita. Os autores chegaram à conclusão de que a bioestimulação pela baixa energia do laser obteve sucesso no tratamento de hiperestesia dentinária subsequente ao procedimento de raspagem e alisamento radicular.

 

Discussão

A hipersensibilidade dentinária cervical (HSDC) é uma patologia, que atinge um alto percentual de indivíduos2,3,22, responsável por um desconforto que leva o paciente a buscar tratamento em consultórios particulares ou serviços de saúde pública com uma frequência razoável. Sua origem se deve à exposição da dentina radicular a estímulos térmicos, evaporativos, tácteis, osmóticos e químicos, que provocam um mínimo de movimentação do fluido no interior do túbulo dentinário, causando uma pressão dos odontoblastos e estímulo às fibras nervosas adjacentes, levando ao aparecimento da dor5.

Tratamentos à base de fluoretos, corticosteroides, cianocrilatos, vernizes cavitários, restaurações com resina, ionômero, oxalato férrico e potássico ou potássio ??? e hidróxido de cálcio têm sido usados, a maioria com o objetivo de selamento dos túbulos, impedindo o estímulo doloroso, apresentando resultados parciais e não duradouros7.

A terapia laser tem sido estudada recentemente para o tratamento de diversas patologias na área da Odontologia, inclusive para o tratamento da hipersensibilidade8. Os lasers utilizados podem ser os de alta potência, que promovem a obliteração dos túbulos dentinários (selamento dentinário) bem como os lasers "terapêuticos" (de baixa potência), que atuam através de ação a nível celular, promovendo efeitos analgésico, anti-inflamatório e bioestimulador da polpa dental - formação de dentina reacional9.

Os lasers "terapêuticos" têm sido mais utilizados na clínica diária, sendo os mais atualmente disponibilizados, em ordem decrescente, os de AsGa e AsGaAl. A diminuição no valor dos aparelhos, seus benefícios em várias patologias e a possibilidade de melhorar o "marketing" com o paciente têm gerado uma grande procura pelos clínicos, possibilitando uma variação na forma de utilização, talvez pela falta de preparo científico ou pelo grande número de fabricantes que trazem "fórmulas" para seu uso, que são seguidas, sem que se estabeleçam critérios para a sua utilização, o que pode levar a resultados desfavoráveis da terapia.

Na terapia da hipersensibilidade dentinária, apenas uma sessão de aplicação do laser GaAlAs é suficiente para eliminar estímulos térmicos. Para a redução da sensibilidade ao estímulo evaporativo, são necessárias duas sessões19.

O laser de Nd:YAG também é encontrado na literatura como possível tratamento para a hipersensibilidade dentinária. Quando comparado ao laser de AsGaAL, os resultados obtidos foram semelhantes (Shintome et al., 2007). Entretanto, em comparação à pasta sensodyne, o efeito oclusivo do laser tem ação mais rápida, ocorrendo em segundo, enquanto a pasta pode demorar 3 semanas20.

Poucos são os trabalhos científicos que abordam o assunto, talvez pelo pequeno tempo de utilização ou pela dificuldade de se desenvolverem métodos para o estudo da hipersensibilidade dentinária cervical.

Pode-se observar nos trabalhos uma redução da HSDC que varia de 5 a 100%13, sendo que, em todos eles, há uma redução satisfatória, mesmo que seja com lasers de AsGaAl ou de He-Ne, utilizados com energia máxima ou mínima recomendada, tempo de aplicação, comprimento de onda e forma de aplicação diferentes11,16,17,23.

O trabalho em que se utilizou a associação do laser de alta intensidade com o "terapêutico" demonstrou resultado satisfatório quanto à redução da hipersensibilidade, porém sem diferença estatisticamente significante para o grupo em que foi aplicado somente o laser terapêutico11. As pesquisas em que se utilizaram outras substâncias dessensibilizantes, como controle, o Gluma Desensitizer, Seal & Protect, Oxa-Gel, fluoretos e vernizes demonstraram resultados satisfatórios quanto à redução da HSDC tanto para o grupo teste (laser) quanto para os controle OU GRUPO CONTROLE com uma pequena vantagem para o grupo teste18. Os trabalhos em que foram utilizados como controle o grupo placebo também demonstraram uma melhoria pouco significativa para o grupo não tratado12 bem como altamente significativa, aproximando-se da melhoria proporcionada pelo laser16.

Esse fato deve ser observado com cautela, já que os resultados dos placebos, em pesquisas com HSDC, são muito próximos dos grupos tratados, necessitando, talvez, de controles por períodos maiores de tempo após o término das aplicações, quando, então, o efeito placebo possa se dissipar e, com isso, se aferir, com maior clareza, o real efeito do laser. Ainda pode ser observado que os padrões ideais para a utilização dos lasers de baixa potência, tanto o de He-Ne quanto o de AsGaAl, são difíceis de se estabelecerem, pois vários fatores devem ser levados em consideração, como a severidade da sensação dolorosa aos estímulos, a área de exposição de superfície radicular, o grau de perda da estrutura radicular e a resposta individual de cada paciente frente ao tratamento, sendo este último aspecto muito crítico, pois, como as pessoas agem diferentemente aos vários tipos de tratamento da hipersensibilidade dentinária, pode-se supor também que, dentre essas últimas variáveis, haja um limiar a partir do qual o tratamento possa ser realmente estimulador16. Ressaltam-se, ainda, condições dos próprios protocolos de aplicação, como: modo de aplicação (contato, pontual ou varredura e não contato), tempo de exposição e densidade de energia aplicada, que podem modificar a resposta terapêutica24.

 

Conclusão

Conclui-se que a terapia com laser tem-se demonstrado promissora para o tratamento da HSDC, porém mais estudos devem ser realizados, visando ao estabelecimento de uma metodologia reprodutível e confiável para pesquisas.

 

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Endereço para correspondência:
Fernando José de Oliveira Nóbrega
Rua do Jacarandá, 227/30 Nova Parnamirim - Parnamirim/RN
CEP: 59152-210

e-mail:
nóbrega.fernando@hotmail.com

 

Recebido para publicação: 11/07/12
Aceito para publicação: 20/11/12