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Odontologia Clínico-Científica (Online)

On-line version ISSN 1677-3888

Odontol. Clín.-Cient. (Online) vol.15 n.2 Recife Apr./Jun. 2016

 

Relato de Caso/ Case Report

 

O USO DE OLEATO DE MONOETANOLAMINA NO TRATAMENTO DE HEMANGIOMA EM LÁBIO INFERIOR: RELATO DE CASO

 

THE USE OF MONOETHANOLAMINE OLEATE IN TREATMENT OF LOWER LIP HEMANGIOMA: CASE REPORT

 

Jonathan Ribeiro da SilvaI; Hernando Valentim da Rocha JuniorII; Fabrizio AlbieriI; Carlos Fernando MourãoI; Guto Fidalgo Daumas MoraesI; Nicolas HomsiII

 

I Staff do Serviço de Cirurgia Bucomaxilofacial do Hospital Geral de Nova Iguaçu
II
Professor de Cirurgia Bucomaxilofacial da Universidade Federal Fluminense, Nova Friburgo, Brasil

Correspondência para:

 

 


 

RESUMO

Objetivo: Demonstrar a eficiência e segurança da utilização de solução de oleato de monoetanolamina a 5% no tratamento de malformações vasculares na região bucomaxilofacial. Método: Foi utilizado uma solução de oleato de monoetanolamina a 5% para a realização de escleroterapia em um paciente portador de hemangioma em lábio inferior, em um protocolo de 2ml a cada 7 dias por 4 semanas Resultados: Houve redução total da lesão após 4 sessões sem nenhuma complicação significativa observada Conclusão: A escleroterapia realizada com solução de oleato de monoetanolamina a 5% é uma boa opção para os casos de hemangiomas na região bucomaxilofacial, pois apresenta eficiência no tratamento da lesão sem as complicações do tratamento cirúrgico.

Palavras-chave: etanolamina, escleroterapia, hemangioma.


 

ABSTRACT

Objective: To demonstrate the efficiency and safety of use oleate solution of monoethanolamine to 5% in the treatment of vascular malformations in maxillofacial region. Method: Solution of monoethanolamine oleate 5% was used to perform sclerotherapy in a patient with hemangioma in lower lip with a protocol of 2ml every 7 days for 4 weeks. Results: There was total reduction of lesion after 4 sessions without any significant complication observed. Conclusion: Sclerotherapy performed with 5% monoethanolamine oleate solution is a good option for cases of hemangiomas in the oral and maxillofacial region, because it shows efficiency in the treatment of injury without the complications of surgical treatment.

Keywords: Ethanolamine, sclerotherapy, hemangioma.


INTRODUÇÃO

O hemangioma é tumor benigno do endotélio vascular e é um dos tumores mais comuns da infância1. Estes são formados devido a uma alteração na morfologia dos vasos sanguíneos, contendo uma camada de sangue revestido por endotélio, podendo existir associações congênitas e sindrômicas. Podem ser classificadas como: hemangioma capilar, juvenil, cavernoso e arteriovenoso1,2. O hemangioma capilar é a forma mais comum e apresenta-se em uma formação menor e localizada, enquanto o cavernoso se apresenta como lesões maiores e infiltradas. Clinicamente podem não aparentar diferenças significativas, podendo até existir uma lesão mista1,2.

Estes tumores podem ser definidos como hamartomas congênitos, representados por restos do tecido mesodérmico vaso-formativo2. São caracterizados por uma fase inicial de rápida proliferação, que é seguido, na maioria dos casos, por involução espontânea3.

Estas malformações vasculares podem afetar não só a superfície cutânea da cabeça e do pescoço, mas também de mucosas3, tendo maior prevalência em mulheres 4,5.

A diascopia ou vitropressão é uma forma muito interessante para diagnóstico diferencial, uma vez que essas lesões vasculares podem ser facilmente confundidas por mucoceles, cistos e hematomas. Após a realização da vitropressão, o hemangioma ganha uma aparência esbranquiçada uma vez que o sangue presente nos vasos é comprimido, diferentemente de outras lesões que mantêm a coloração 6,7.

Atualmente, as opções terapêuticas para formação venosa são: escleroterapia, cirurgia, cirurgia combinada com escleroterapia, embolização, crioterapia, eletrocauterização e terapia com laser6,7.

Na escolha de uma solução esclerosante leva-se em consideração sua eficácia, toxicidade local, facilidade de administração, e resultados satisfatórios em lesões pequenas8,9.

A intenção desse artigo é demonstrar a eficácia do uso do oleato de monoetanolamina a 5% (Ethamolin®, Zest Farmacêutica Ltda., Rio de Janeiro, RJ) como agente esclerosante, por meio de um caso clínico onde foi possível a regressão total da lesão sem procedimentos cirúrgicos.

 

CASO CLÍNICO

Paciente leucoderma, gênero masculino, 44 anos, procurou o serviço de Cirurgia Bucomaxilofacial do Hospital Geral de Nova Iguaçu apresentando uma lesão séssil de coloração azulada e indolor em região de lábio inferior. (Figura 1) Ao diagnostico diferencial, foi realizada a vitropressão cujo resultado foi positivo e afastou a possibilidade de se tratar de uma neoplasia epitelial, cisto, mucocele ou hematoma.

 

 

 

O tratamento iniciou-se com a infiltração de 2,0 ml de Ethamolin® no interior da lesão. Após a infiltração o paciente relatou ardência e desconforto moderado no local. Foi prescrito Dipirona sódica 500mg durante 03 dias para analgesia pós-operatória. No 7º dia após a primeira infiltração a paciente retornou ao ambulatório com discreta diminuição no volume da lesão. (Figura 2)

 

 

 

Foi estabelecido um protocolo de infiltração semanal do Ethamolin® até o 28º dia. Após cada sessão de escleroterapia, a paciente relatou sensação de queimação, dor, e edema local, porém sendo controlado com uso de medicação e cuidados locais.

Houve a regressão da lesão, obtendo-se um resultado cosmético satisfatório e excluindo a possibilidade de realização de cirurgia naquele momento. (Figura 3)

 

 

 

DISCUSSÃO

Os agentes esclerosantes podem causar dano às células da parede endotelial e em algumas camadas mais profundas da parede do vaso 10. Este dano profundo é importante para o sucesso da escleroterapia diminuindo a incidência de recanalização 10.

Existem três grupos de agentes esclerosantes nos quais possuem um mecanismo de ação distinto, sendo classificados em: detergentes, agentes osmóticos e irritantes químicos10,11.

Os agentes osmóticos causam desidratação por perturbar o balanço hídrico celular causando assim dano às células endoteliais. A camada mural não-celular do vaso também pode ser afetada diminuindo a chance de recanalização 10,12.

A glicose hipertônica é uma solução osmótica considerada mais suave e menos capaz de produzir efeitos colaterais quando comparada aos agentes detergentes12,13.

Como principais vantagens da utilização da glicose como solução esclerosante podemos ressaltar: a segurança, por ser um agente orgânico não produzindo reações alérgicas, a fácil obtenção, e o baixo custo 12. Uma desvantagem citada é o ardor causado ao se administrar por via intravascular, e o resultado questionável pela pouca quantidade de trabalhos utilizando esta substancia 13,14.

O oleato de monoetanolamina apresenta bons resultados para lesões na região bucomaxilofacial, já que estas lesões normalmente são de diâmetro menor quando comparado com os hemangiomas de outras áreas do corpo10,15. O sucesso dessa terapia minimiza a morbidade e o custo dos tratamentos cirúrgicos, evitando complicações como cicatriz, hemorragias, e parestesias, dependendo do tamanho e da localização da lesão2.

Mesmo sendo uma alternativa menos invasiva para o tratamento dos hemagiomas, a terapia com agentes esclerosantes pode apresentar contra-indicações como: gravidez, histórico de hipercoagulabilidade, arteriopatias isquêmicas, estados infecciosos, patologia oncológica ativa, diabetes descompensado e alergia ao agente esclerosante escolhido10,16.

 

CONCLUSÃO

A realização da terapia esclerosante requer um equipamento mínimo sendo um tratamento no qual o resultado depende da resposta de cada paciente e da quantidade de sessões necessárias em cada caso.

O uso do oleato de monoetanolamina como agente esclerosante demonstrou ser uma escolha eficaz para hemangiomas da região bucomaxilofacial, com mínimas complicações associadas ao seu uso.

É importante ressaltar que a reicidiva das lesões de má formação vascular é uma realidade e não existe um tratamento protocolado para tal. É possível ocorrer associações de terapia respeitando as peculiaridades de cada lesão e paciente.

 

BIBLIOGRAFIA

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16. Figueiredo et al. Extensive Gingival Hemangioma. J Oral Maxillofac Surg 2012

 

Correspondência para:
Jonathan Ribeiro da Silva
Estrado do Monan Pequeno, 77, Badu
Niterói, Rio de Janeiro, Brasil
e-mail:
bucomaxilofacial@hotmail.com

 

 

Recebido: 15/07/2017
Aceito: 02/09/2016