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Revista da ABENO

versão impressa ISSN 1679-5954

Rev. ABENO vol.11 no.1 Londrina Jan./Jun. 2011

 

ARTIGO ORIGINAL / ORIGINAL ARTICLE

 

Programa de teleodontologia da UFMG

 

UFMG teledentistry program

 

 

Rogeli Tiburcio Ribeiro da Cunha PeixotoI; Simone Dutra LucasII

IDoutora em Dentística Restauradora, Professora da Faculdade de Odontologia da UFMG
IIDoutora em Saúde Pública, Professora da Faculdade de Odontologia da UFMG

 


RESUMO

Introdução: O programa de Teleodontologia da Faculdade de Odontologia da UFMG teve início em 2005 com o Projeto BH Telessaúde. Atualmente o programa conta também com outros dois: um desenvolvido na Faculdade de Medicina e o outro no Hospital das Clínicas, ambos da UFMG. Objetivo: Aproximar profissionais dos serviços de saúde e alunos do conhecimento produzido na Universidade resultando em aprimoramento das práticas profissionais e ao mesmo tempo diminuindo o número de encaminhamentos de pacientes para distantes centros especializados e promovendo atualização ou mesmo uma segunda opinião aos profissionais. Descrição da atividade: O programa conta com duas atividades: videoconferências e teleconsultorias. As videoconferências do BH Telessaúde são realizadas mensalmente e tem duração de uma hora e meia. Na Faculdade de Medicina as videoconferências são quinzenais e levam uma hora. Tanto a Faculdade de Medicina quanto o Hospital das Clínicas realizam teleconsultorias on line e off line. Considerações finais: O projeto de extensão apresenta um série de atividades muito relevantes por propiciar uma atualização permanente à distância através de videoconferêcias e teleconsultorias aos profissionais de saúde e aos estudantes da UFMG. Entretanto, o programa tem uma capacidade de alcance bem maior considerando seu ilimitado potencial. A telemática tem uma relevância social inquestionável à medida que encurta distâncias, estimula a integração dos docentes e discentes com o serviço, amplia o conhecimento e melhora o desempenho dos profissionais da saúde.

DESCRITORES: Telessaúde. Odontologia. Educação.


ABSTRACT

Introduction: The Teledentistry program of the School of Dentistry at the Federal University of Minas Gerais (UFMG) began in 2005 with the BHTelehealth project. Besides this project, the Teledentistry program works with two others: one developed at the School of Medicine and another at the University Hospital (UFMG). Objectives: Provide professionals of dental health services and students with the knowledge produced in the University, resulting in the updating and improvement of professional practices, and, at the same time, decreasing the need to refer patients to distant specialized centers, and providing professionals with an updated or even second opinion. Description of activity: the program has two telehealth activities: videoconferences and teleconsultations. The BH Telehealth's videoconferences occur once a month and last an hour and a half. The School of Medicine's videoconferences are held fortnightly and last one hour. Both the School of Medicine and the University Hospital hold online and offline teleconsultations. Final considerations: This extension project has a relevant set of activities, insofar as it provides ongoing distance learning through videoconferences and teleconsultations to public health professionals and UFMG students. However, the program has been used at too low a rate, considering its unlimited potential. Telematics has unquestionable social relevance since it shortens distances, encourages professor and student integration with public service, extends knowledge and improves health professional
performance.

DESCRIPTORS: Telehealth. Dentistry. Education.


 

 

Percebe-se no cenário atual do desenvolvimento tecnológico uma promessa explicita de importantes contribuições para os projetos da área de saúde. O compartilhamento de conhecimentos acena com a possibilidade de uma assistência mais segura e renovação e aprimoramento permanente sobre a capacitação dos profissionais.5,3 Para tal, a telemática sendo definida como a "manipulação e utilização da informação pelo uso combinado de computador, seus acessórios e meios de comunicação" se destaca e se firma como um instrumento político e estratégico neste objetivo das ações de saúde. Quando esta ferramenta é empregada a serviço da saúde ela adota o nome de e-saúde ou mais comumente telessaúde. A OMS do século XXI considera que a principal expectativa referente à saúde coletiva será alcançada por meio da melhoria do acesso aos recursos disponíveis. Nessa perspectiva a telessaúde se coloca imprescindível e indispensável para o alcance dessa meta de abrangência da assistência à população no que se refere à sua saúde.

Várias são as modalidades da prática de telessaúde: telemedicina, teleenfermagem e teleodontologia. A aplicação desta prática vem sendo usada tanto como a teleeducação voltada quer seja para a educação permanente de profissionais quanto para alunos de graduação, e a teleconsultoria que se refere à assistência aos trabalhadores de saúde de regiões remotas com disponibilização de laudos ou segunda opinião de especialistas locados em pólos centrais. A teleeducação, no que tange às videoconferências, na graduação, pode propiciar interação professor/aluno "on line" e também, através das teleconsultorias "on line" ou "off line", recursos certamente muito úteis, também, nos estágios rural ou urbano fora dos espaços da Universidade.6 Como suporte assistencial, aproxima o profissional do serviço do profissional da universidade, que com isto contribui com uma assistência mais respaldada e, portanto, mais efetiva.

A proposta se coloca como relevante, pois aproxima docentes de profissionais já habilitados que estão nos serviços e nem sempre têm oportunidade de atualizar seus conhecimentos ou mesmo ouvir uma segunda opinião quando têm dúvidas nas situações clínicas enfrentadas.4

A aproximação da universidade e sociedade tem sido cada vez mais ambicionada, pois, abre um caminho de mão dupla. Assim, o programa de Teleodontologia tem potencial para ocupar o importante papel de ligação da universidade com a sociedade, contribuindo na melhoria da assistência prestada e direcionando a produção de conhecimentos para atender às reais necessidades da população.

A experiência da Faculdade de Odontologia com essa tecnologia iniciou-se em 2005 através do projeto de extensão "Telessaúde Bucal", em parceria com a Prefeitura de Belo Horizonte.6,2 Nesse projeto são realizadas videoconferências mensais para as equipes de saúde bucal dos centros de saúde de Belo Horizonte. As videoconferências abordam temas de interesse dos profissionais do serviço, em função da sua necessidade de atualização, da Universidade, na busca em divulgar o conhecimento nela produzido e também da coordenação de saúde bucal do município que, através do projeto, compartilha discussões de interesse geral e estabelece um caminho de transformação de suas práticas.

Optou-se, posteriormente, pela criação de um programa constituído de três projetos alocados, além da Prefeitura de Belo Horizonte, na Faculdade de Medicina e Hospital das Clinicas ambos da UFMG . O programa traz, além das vantagens citadas acima, projeção e visibilidade a essa tecnologia levando os diferentes setores da faculdade e dos serviços a identificarem seu potencial de aplicação e aproveitamento em suas ações. Os projetos foram implementados de forma progressiva e contemplam e/ou devem contemplar:

• A realização de videoconferências e teleconsultorias;
• A capacitação do corpo discente da disciplina Estágio Supervisionado e de outras disciplinas da Faculdade de Odontologia para que possam usufruir de mais esse recurso;
• A viabilização da produção de recursos pedagógicos para disponibilizar a diferentes disciplinas, projetos, profissionais, estudantes e ao público em geral, seja em processos de educação permanente seja em ações educativas e informativas;
• Consolidar e reforçar as ações da Liga Acadêmica de Telessaúde da UFMG – LITEL. Essa liga congrega estudantes das Faculdades de Medicina, Enfermagem e Odontologia, e até o momento está sediada na escola de Medicina e tem pouco impacto nas demais unidades por não existir ainda nas mesmas uma adequada estrutura de suporte para as ações desenvolvidas.

Entre os objetivos do programa de teleodontologia destacam-se:

• Explorar a telemática como instrumento de suporte assistencial e de educação permanente na Odontologia através de videoconferências e teleconsultorias;
• Fornecer aos alunos da FO/UFMG, educação permanente e supervisão à distância nas ações realizadas dentro e fora da Faculdade (internato/projetos);
• Fornecer educação permanente e suporte assistencial aos profissionais do serviço;
• Capacitar docentes e discentes da Faculdade de Odontologia na aplicação da telemática;
• Consolidar e reforçar as ações da "Liga Acadêmica de Telessaúde da UFMG – LITEL;
• Disponibilizar as videoconferências já realizadas para a comunidade acadêmica;
• Apresentar o projeto em eventos científicos.

 

MATERIAL E MÉTODOS

Até o presente momento as videoconferências da Odontologia têm sido realizadas na Faculdade de Medicina da UFMG e Secretaria Municipal de Saúde de Belo Horizonte limitando o acesso aos nossos estudantes, professores e funcionários. As videoconferências realizadas na Faculdade de Medicina contam com a participação de 50 municípios. A secretaria municipal de saúde de Belo Horizonte possui aproximadamente 150 Unidades Básicas de Saúde em condições de participar das videoconferências realizadas neste município.2,1 É importante ressaltar que a disciplina Estágio Supervisionado conta com estudantes em algumas destas Unidades tanto do interior do Estado como em Belo Horizonte. As videoconferências são realizadas mensalmente na Secretaria Municipal de Saúde de Belo Horizonte e quinzenalmente na Faculdade de Medicina com duração média de 90 e 60 minutos respectivamente. Após a exposição do docente abre-se a discussão com os participantes com o objetivo de sanar dúvidas sobre o cotidiano do trabalho em saúde.7

O projeto BH Telessaúde equipou a rede assistencial com a tecnologia de telemática e a Rede Nacional de Telessaúde implantou nos municípios selecionados, os insumos tecnológicos necessários para seu funcionamento. A Faculdade de Odontologia, através do presente programa organiza e subsidia as ações relacionadas à saúde bucal. Fica a cargo deste projeto a organização da seleção de conteúdos, de consultores, do agendamento e do fluxo de contatos para a obtenção de teleconsultorias e emissão de segunda opinião tanto no sistema off line como on line. Pelo fato de não termos uma equipe de professores em esquema de plantão para o projeto são realizadas predominantemente teleconsultorias off-line.

Atualmente os alunos do Estágio Supervisionado contam com aulas teóricas sobre o Teleodontologia e mecanismo de acesso à plataforma no tocante a videoconferência e teleconsultoria. Pretende-se ampliar a formação de outros discentes para o uso desta ferramenta.

Pretende-se estabelecer na Faculdade de Odontologia um espaço equipado com a tecnologia necessária para gerar as videoconferências. Esse espaço atenderá não só o Teleodontologia como também outros possíveis projetos que necessitarão desse suporte tecnológico. Com a instalação dos equipamentos na Faculdade de Odontologia a participação dos estudantes de diferentes períodos do curso poderá ser ampliada tanto para disciplinas extra-muros como intra-muros. Profissionais do serviço serão também convidados a participar o que propiciará uma maior aproximação entre os mesmos e a comunidade da Faculdade de Odontologia. É importante destacar que esta já possui os insumos técnicos para viabilizar essa proposta e um técnico treinado para o projeto.

 

RESULTADOS

As atividades da coordenadora do projeto, junto à Secretaria Municipal de Saúde de Belo Horizonte, consistem da organização de videoconferências mensais destinadas a cerca de 150 Unidades Básicas de Saúde. A partir dos temas sugeridos pelos profissionais da Secretaria Municipal de Saúde de Belo Horizonte ela convida um profissional, preferencialmente da UFMG, para proferir a videoconferência mensal e o acompanha no dia da sua realização. Este projeto atinge, em média, 50 Unidades Básicas de Saúde e cerca de 100 profissionais por videoconferência como pode ser observado no Gráfico 1.

As atividades desenvolvidas pela coordenadora do programa junto à Faculdade de Medicina da UFMG envolvem a organização e acompanhamento de videoconferências quinzenais e teleconsultorias. A partir dos temas sugeridos pelos profissionais de 50 municípios participantes do projeto ela convida um profissional, preferencialmente da UFMG, para proferir a videoconferência e o acompanha no dia da sua realização. O número de municípios e de participantes varia em média entre 15 e 50 respectivamente como pode ser observado no Gráfico 2.

As teleconsultorias desenvolvidadas na Faculdade de Medicina são geradas a partir de dúvidas que levam os profissionais do interior do Estado de Minas Gerais a solicitarem uma segunda opinião de especialistas. A coordenadora do projeto encaminha tais demandas para os especialistas e retorna aos solicitantes com as respostas emitidas pelos mesmos. Os temas mais demandados pelos profissionais são patologia e cirurgia como mostra o Gráfico 3.

Os três teleconsultores lotados no Hospital das Clínicas estão cadastrados e respondem às dúvidas de profissionais de aproximadamente 600 municípios do Estado de Minas Gerais, diferentes daqueles alocados na Faculdade de Medicina. A indicação destes consultores se deu em reunião realizada com a vicediretora da Faculdade de Odontologia juntamente com a coordenadora do projeto do Hospital das Clínicas e coordenadora do Teleodontologia. A indicação teve como base a quantidade de a qualidade das teleconsultorias respondidas por estes profissionais. O número de telconsultorias deste projeto, realizadas em 2009 e 2010 pode ser observado no Gráfico 4.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

DISCUSSÃO

Por se tratar de uma metodologia moderna de ensino/aprendizagem é avaliado, na última videoconferência do semestre, o impacto desta tecnologia nas práticas profissionais da equipe de saúde bucal através da resposta de um questionário on-line. Investiga-se se o uso da telemática contribuiu na resolução de dúvidas enfrentadas no dia a dia dos alunos e profissionais.

 

CONCLUSÕES

Observa-se que o projeto é muito relevante por propiciar uma atualização ou mesmo segunda opinião para profissionais que muitas vezes atuam em áreas distantes da capital o que pode dificultar a participação em cursos para atualizar o conhecimento. No entanto o programa tem uma capacidade de alcance bem maior do que a apresentada nos últimos tempos.

Finalmente, destacamos que a telemática encurta distâncias, estimula a integração dos docentes e discentes com o serviço, amplia o conhecimento e melhora o desempenho dos serviços o que lhe confere inegável relevância social na medida em que atinge profissionais, estudantes e usuários dos serviços de saúde.

 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

1. Belo Horizonte. Secretaria Municipal de Saúde. A atenção básica de saúde em Belo Horizonte: recomendações para a organização local. Belo Horizonte: SMS/PBH; 2006. 120p. mimeog.         [ Links ]

2. Belo Horizonte. Secretaria Municipal de Saúde. A telessaúde bucal na atenção primária em saúde no município de Belo Horizonte, 2006 Ago.;1(2):1-8.         [ Links ]

3. Cook J, Austen G, Stephens C. Videoconferencing: what are the benefits for dental practice? Br Dental J. 2000 Jan; 188(2):67-70        [ Links ]

4. Litwin E. Educação à distância: temas para o debate de uma nova agenda educativa. Porto Alegre: Artmed Editora, 2001.         [ Links ]

5. Masotti AS, Jardim JJ, Oshima H, Pacheco JFM. Ensino a distância em odontologia via internet: o que está sendo produzido no Brasil? Rev Odonto Ciênc. 2002 Jan./Mar.; 17(35):96-102        [ Links ]

6. Moraes MAS, Cavalcanti CAT, Sá EMO, Drumond MM. Telessaúde bucal: uma concepção diferente de teleodontologia. In: Santos AF, Souza C, Alves HJ, Santos SF, editors. Telessaúde: Um instrumento de suporte assistencial e educação permanente. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2006. p. 95-128        [ Links ]

7. Moraes MAS, Drumond MM, Resende EJC, Santos SF, Cavalcanti CAT, Sá EMO. Teleodontología: Educación permanente a distancia. Latin Am J Telehealth. 2009 Abr. 1(1): 97-104.         [ Links ]

 

 

Recebido em 07/07/2011
Aprovado em 25/07/2011