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Revista da ABENO

versão impressa ISSN 1679-5954

Rev. ABENO vol.11 no.2 Londrina Jul./Dez. 2011

 

RESUMOS

 

A inserção do acadêmico de odontologia no PET-Saúde / Vigilância em Saúde: relato de experiência

 

Autores: Adriano de Aguiar Filgueira, Lívia Cordeiro Portela Frota, José Renato Rodrigues Alves, Sandra Maria Carneiro Flor, Raimundo Vieira Dias, Cibely Aliny Siqueira Lima Freitas, Maria Socorro Carneiro Linhares, Ana Karine Macedo Texeira
Instituição: Universidade Federal do Ceará

 

Vigilância em saúde foi definida por Waldman (1998) como a observação contínua da distribuição e tendências da incidência de doenças mediante a coleta sistemática, consolidação e avaliação de informes de morbidade e mortalidade, assim como de outros dados relevantes, e a regular disseminação dessas informações a todos os que necessitam dela. O município de Sobral está localizado na região noroeste do estado do Ceará e conta com uma população estimada de 182.430 habitantes, vem organizando o serviço de vigilância em saúde de forma integrada com a atenção básica e sua estrutura abrange ações na área da vigilância epidemiológica, vigilância sanitária, vigilância nutricional, vigilância de saúde do trabalhador, vigilância em saúde ambiental, vigilância dos fatores biológicos de risco e a análise da situação de saúde. Em 2010, o município de Sobral foi contemplado com o PET-Saúde / Vigilância em Saúde (VS), onde juntamente com a Universidade Federal do Ceará (UFC) e a Universidade Estadual Vale do Acaraú (UVA) inseriram os 4 acadêmicos de medicina, 8 de enfermagem e 4 de odontologia no serviço de vigilância em saúde, além de 4 preceptores do serviço e 2 tutores. Com o Pet -Saúde/VS surge o desafio de se trabalhar de forma interdisciplinar, possibilitando a integração ensino-serviço e a integração do serviço de vigilância em saúde com a atenção básica. Autores apontam, que quanto maiores os índices de interdisciplinaridade e maiores as pactuações interinstitucionais, quanto mais diversificados os cenários de aprendizagem, maior a instauração de possibilidades à integralidade das práticas em saúde, já que a interdisciplinaridade é uma exigência para a integralidade (Feuerwerker; Sena, 1999; Feuerwerker, 2003; Garcia et al., 2007). Experiências de colaboração interprofissional apontam como resultados o entusiasmo dos estudantes e a possibilidade dessas práticas serem instrumentos de mudanças no setor saúde (Barreto et al., 2011). O objetivo desse trabalho é relatar a inserção dos acadêmicos de odontologia no PET-Saúde/VS no município de Sobral - CE. Os relatos apresentados são resultados das vivências dos acadêmicos de odontologia em um ano do PET-Saúde/ VS. O processo de trabalho no PET-Saúde/VS estruturou- se em três eixos:

• vivências teórico-conceituais,
• vivências no serviço e
• vivências de pesquisa.

Um dos objetivos desse projeto é estimular o raciocínio e a sensibilidade dos alunos a utilizarem-se do conjunto de ferramentas e ações disponibilizadas pela Vigilância em Saúde em suas rotinas, principalmente de atenção à saúde coletiva. Nos primeiros meses de vigência do projeto, optou-se por realizar uma imersão dos integrantes no serviço de vigilância em saúde local, com o objetivo de conhecer e de se apropriar do processo de trabalho dos profissionais que ali atuam, além de reconhecer a importância da vigilância no processo saúde-doença de uma população, além disso, foram propiciados momentos formativos para que os diferentes saberes fossem re-significados e potencializados para um campo comum. Os acadêmicos se apropriaram das ferramentas para a vigilância em saúde como os principais sistemas de informação e os indicadores do pacto pela vida. A partir de uma análise epidemiológica, foram identificados problemas e agravos de importância epidemiológica para o município de Sobral - CE e prioritários no Pacto pela Saúde, para serem trabalhados no PET-Saúde/VS durante toda a vigência do projeto, de modo que os acadêmicos pudessem contribuir para a melhoria dos indicadores de saúde. Os problemas e agravos trabalhados pelos acadêmicos de odontologia de forma interdisciplinar com os demais estudantes e profissionais foram:

• AIDS,
• sífilis,
• hanseníase,
• tracoma,
• dengue,
• doença de chagas e
• mortalidade infantil.

Com a escolha do tema a ser trabalhado o processo de trabalho seguiu o seguinte fluxo:

• análise de situação do agravo por meio do estudo dos bancos de dados dos sistemas de informação, de relatórios da vigilância epidemiológica do município e
• investigação direta nas unidades de saúde.

Em seguida, ocorreu a busca de referencial teórico, seja manuais, documentos ou normas técnicas que permitisse um embasamento teórico para a operacionalização da vigilância dos problemas selecionados. Depois, os acadêmicos foram a campo e vivenciaram a realidade das ações de vigilância em saúde no município, desde a investigação e inquéritos epidemiológicos até o processamento de dados, além da realização de pesquisas, nesse momento foi possível identificar algumas falhas no serviço, que serviu de base para os acadêmicos elaborarem um projeto de intervenção e operacionalizarem-no, visando transformar a realidade local e melhorar a qualidade das ações de vigilância em saúde e com isso a obtenção de indicadores de saúde mais confiáveis que realmente expressem a realidade das condições de saúde da população, capaz de subsidiar o planejamento em saúde e o desenvolvimento de políticas públicas de saúde. A inserção do cirurgião-dentista na área de vigilância em saúde ainda é incipiente e ainda vinculada a ações voltada para a saúde bucal, como o heterocontrole da fluoretação das águas de abastecimento público ou a vigilância dos fatores de risco dos serviços odontológicos. Até mesmo a realização de levantamentos epidemiológicos em saúde bucal se estrutura ainda de forma desconectada do serviço de vigilância em saúde ficando a cargo das coordenações de saúde bucal, além disso, os próprios indicadores de avaliação dos serviços de saúde bucais ainda são muito frágeis, o que confere pouca ligação do dentista com a vigilância em saúde. Esse fato é decorrente da inserção tardia da equipe de saúde bucal na Estratégia de Saúde da Família somente em 2001, enquanto que a construção do Sistema de Vigilância em Saúde do Brasil é um processo que acompanha o projeto da Reforma Sanitária e a estruturação do Sistema Único de Saúde (SUS), como também decorrente de uma formação tecnicista e biologicista características dos cursos de odontologia. É possível observar com inserção dos estudantes de odontologia no PET-Saúde/VS, o desenvolvimento de determinadas habilidades e competências tais como: a apropriação dos sistemas de informação, capacidade de coleta e análise de indicadores de saúde, conhecimento do fluxograma de notificação de agravos, experiência de inquérito epidemiológico, em especial do tracoma, capacidade de avaliação de programa de controle de determinado agravo, como por exemplo, da doença de chagas, realizações de capacitação de agentes de endemias, compreensão de uma pesquisa entomológica, vivência na vigilância da mortalidade infantil, compreensão do fluxo de atendimento de pacientes com hanseníase, percebendo a importância de se investigar os contatos, entre outras. O PET-Saúde/VS tem contribuído para ampliar os conhecimentos dos acadêmicos de odontologia, tonando-os aptos exercerem funções de modo interdisciplinar dentro do serviço de vigilância em saúde, bem como contribuir para uma aproximação da saúde bucal com esse serviço.

 

Descritores

Vigilância em saúde. Interdisciplinaridade. Ensino-serviço.

 

Referências

1. Barreto, M.C.H.C. et al. O desenvolvimento da prática de colaboração interprofissional na graduação em saúde: estudo do caso da Liga de Saúde da Família em Fortaleza (Ceará, Brasil). Interface - Comunic., Saude, Educ., v.15, n.36, p.199-211, jan./ mar. 2011.

2. Feuerwerker, LCM; SENA, RR. A construção de novos modelos acadêmicos, de atenção à saúde e de participação social. In: Feuerwerker L; Almeida M; Llanos CM, (org). A educação dos profissionais de saúde na América Latina: teoria e prática de um movimento de mudança. Tomo 1– Um olhar analítico. São Paulo: Editora Hucitec. Buenos Aires: Lugar Editorial/Londrina: EditoraUEL; 1999. p. 47-81.

3. Feuerwerker, LCM. Reflexões sobre as experiências de mudança na formação dos profissionais de saúde. Olho Mágico 2003; 10:21-6.

4. Garcia, MAA et al. A interdisciplinaridade necessária à Educação Médica. RBEM. 31 (2):147 – 155; 2007.

5. Waldman, E.A. A vigilância como instrumento de saúde pública. Vigilância e Saúde Pública. São Paulo, v. 7, 1998. (Série: Saúde & Cidadania).

 

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