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Revista da ABENO

versão impressa ISSN 1679-5954

Rev. ABENO vol.12 no.2 Londrina Jul./Dez. 2012

 

ARTIGO ORIGINAL / ORIGINAL ARTICLE

 

Perspectiva do ensino odontológico na ótica do discente da Faculdade de Odontologia da Universidade Federal Fluminense: novas diretrizes curriculares e perfil profissional

 

Prospects of a dental education from the viewpoint of dental students from the School of Dentistry of the Fluminense Federal University: new curriculum guidelines and professional profile

 

 

Camila de Siqueira GomesI; Mariana Rocha NadaesI; Marcos Antônio Albuquerque da SennaII; Mônica Villela GouvêaIII; Natasha Moreira DiasI; Priscila Nogueira SirimarcoI

I Acadêmica do 9º período da Faculdade de Odontologia da Universidade Federal Fluminense (FOUFF)
II Dentista. Prof. Dr. do Departamento de Saúde e Sociedade do Instituto de Saúde da Comunidade da FOUFF
III Dentista. Profa. Dra. do Departamento de Planejamento em Saúde do Instituto de Saúde da Comunidade da FOUFF

 

 


RESUMO

Após o movimento da reforma Sanitária no Brasil e a Implantação do Sistema Único de Saúde através da constituição de 1988, diversas mudanças foram observadas no cenário da saúde do país. Contudo, algumas escolas de Odontologia não acompanharam essas transformações, mantendo até então um currículo defasado. O presente estudo buscou analisar a percepção dos alunos da Faculdade de Odontologia da Universidade Federal Fluminense (FOUFF) no ano de 2008 com relação à atual grade curricular. De um total de 102 estudantes, 43 (42,2%) acham ruim a atual grade curricular, enquanto 55 (53,9%) consideram boa, e apenas 4 (3,9%) consideram ótima. Já de um total de 111 alunos, 82 (73,9%) acreditam na necessidade de mudança do atual currículo oferecido pela Faculdade, enquanto apenas 2 (1,8%) não acham necessária a mudança e 27 (24,3%) não souberam opinar.

DESCRITORES: Mudança Curricular. Ensino. Faculdade de Odontologia.


ABSTRACT

Following the health reform movement in Brazil and the implementation of the Unified Health System (SUS) as a ramification of the Constitution of 1988, several changes were observed in Brazil's health scene. However, some dental schools failed to follow through with these changes, and their curriculum lagged behind. The present study sought to examine how the students attending the School of Dentistry of the Fluminense Federal University (FOUFF) in 2008 perceive the current curriculum. Of a total of 102 students, 43 (42.2%) consider the current curriculum poor, whereas 55 (53.9%) consider it good, and only 4 (3.9%) consider it excellent. On the other hand, of a total of 111 students, 82 (73.9%) believe a change must be made in the current curriculum offered by the dental school, whereas only 2 (1.8%) did not think this change was necessary, and 27 (24.3%) did not know.

DESCRIPTORS: Curriculum Change. Teaching. School of Dentistry.


 

 

O trabalho tem como objeto a análise da formação superior em odontologia e aposta na crítica e na transformação do ensino de graduação, revendo o papel da universidade na formação do profissional, no sentido de capacitá-lo não apenas para a prática cirúrgico-restauradora, mas para o adequado diagnóstico de necessidades e competente intervenção nos problemas de saúde da população.

Esse debate foi intensamente estimulado a partir do processo de reestruturação do sistema de saúde brasileiro que vem ocorrendo desde o movimento da reforma Sanitária e da implantação do Sistema Único de Saúde, tendo se tornado evidente a inadequação da formação em saúde para atender às necessidades da sociedade.

Na tentativa de propor mudanças capazes de aproximar formação e necessidades do trabalho em saúde, começou-se a questionar o clássico modelo pedagógico fragmentado e compartimentalizado caracterizado pela dissociação entre as disciplinas de áreas básicas e aquelas do chamado ciclo profissional, centrado na atividade clínica e com forte direcionamento para a especialização, em detrimento de prevenção da doença ou promoção da saúde, dificultando a percepção holística do paciente/ usuário que é percebido de forma dissociada dos núcleos que o integram, que são a família e a comunidade. Muitas críticas apontam a necessidade de transformação, pautadas em mudanças no mercado de trabalho e, portanto, na necessidade de contornar as dificuldades para a inserção profissional. Essa condição é histórica como aponta Zanetti (2006),12 que afirma que desde o século XIX, como forma de garantir o controle do mercado profissional, procurou-se a estandardização do conhecimento, para que as escolas de formação buscassem apoio no conhecimento científico e empreenderam a institucionalização da Odontologia como disciplina das ciências da saúde.

Esses questionamentos foram acompanhados pela introdução de conceitos relacionados ao binômio ensino-aprendizagem, evidenciando-se a necessidade de aprender a aprender, aprender a ser e aprender a fazer, sabendo como, por que e para que utilizar a informação. A formação desse novo profissional exigiria também uma nova atitude docente, principalmente pela compreensão de seu papel como facilitador da aprendizagem e mediador no processo de construção do conhecimento.

Críticas apontam a necessidade de transformação, pautada nas mudanças e exigências dos cenários de trabalho e, portanto, na necessidade de contornar as dificuldades para a inserção profissional. Rodrigues e Assis (2005)9 constataram que o trabalho deve ser no sentido da construção de uma

"consciência sanitária, para o exercício da cidadania que permita aos usuários e profissionais, o conhecimento dos aspectos que condicionam e determinam um dado estado de saúde e dos recursos existentes para sua prevenção, promoção e recuperação, onde a integralidade seja percebida como um direito a ser conquistado".

Evidencia-se ainda a necessidade de se promover formação em cenários de ensino-aprendizagem diversificados, no que diz respeito não somente ao local onde se realizam as práticas, mas aos sujeitos envolvidos, à natureza e ao conteúdo das práticas desenvolvidas.6

No Brasil muitas universidades são ainda alheias as reais necessidades da população e apenas reproduzem em salas de aula, laboratórios e ambulatórios, uma realidade da qual o país se encontra distante. Nesse aspecto, há um comprometimento no processo de aprendizagem, o que culmina na persistência de elevadas taxas de incidência e prevalência das doenças bucais.4

Para Marcondes (2001),5 uma crise de paradigmas caracteriza-se como uma mudança conceitual ou uma mudança de visão de mundo, conseqüência de uma insatisfação com os modelos anteriormente predominantes de explicação. Não podemos afirmar que chegamos a viver tal "mudança paradigmática", mas é certo que existe descontentamento por parte de grande parcela de alunos com relação ao preparo que recebem para o enfrentamento das reais necessidades da população, tarefa com a qual a maioria dos egressos acaba se envolvendo nos espaços de trabalho.

Em meio a esses questionamentos, a faculdade de Odontologia da Universidade Federal Fluminense (FOUFF) vem investindo na reorientação de seu Projeto Político Pedagógico (PPPC) que data de 1986. Esse processo de análise e proposição tem cerca de doze anos, considerando que este começou a ser discutido em 2000, ficou pronto no ano de 2009 e a nova previsão de entrar em vigor é para o ano de 2014.

Uma pesquisa realizada por Gabin et al. (2006)4 que debate a importância das universidades na formação do profissional conclui o trabalho da seguinte maneira:

"Já está mais que na hora de os projetos pedagógicos e as reformulações das diretrizes curriculares saírem da teoria e do papel para mudarem a realidade do ensino e consequentemente do País".

O novo PPPC responde às orientações da Lei de Diretrizes e Bases da Educação (1996) e das Diretrizes Curriculares para Cursos de Graduação em Odontologia (2001) no sentido de formar cirurgiões-dentistas mais capacitados às principais necessidades da população brasileira, tornando-o apto a interagir em todos os aspectos no atual sistema de saúde do país. O perfil profissional proposto é o do generalista, humanista, crítico e reflexivo, preparado para atuar em todos os níveis de atenção à saúde, com base no rigor técnico e científico. Esse profissional deve ser capacitado para o exercício de atividades referentes à saúde bucal da população, pautado em princípios éticos, legais e na compreensão da realidade social, cultural e econômica do seu meio e dirigindo sua atuação para a transformação da realidade em benefício da sociedade.1,2

As discussões para a conformação do novo PPPC envolveram a comunidade acadêmica e este trabalho é parte de um processo amplo de avaliação na FOUFF realizado em 2008, que envolveu docentes, discentes e funcionários. Pretendeu-se neste artigo, apresentar os resultados relativos à investigação feita com os alunos com o objetivo de conhecer suas opiniões, críticas e sugestões com relação à matriz curricular de 1986 ainda vigente.

 

Materiais e Métodos

Trata-se de pesquisa exploratória e descritiva desenvolvida em 2008, com o universo de alunos do curso de Odontologia da Universidade Federal Fluminense. A participação foi anônima e voluntária. Utilizou-se a técnica da aplicação de questionários com questões semiestruturadas abordando as opiniões e críticas sobre o curso, bem como sugestões com relação à necessidade de mudanças. Os questionários foram distribuídos em sala de aula depois de pré-testados. Foram aplicados 220 questionários, tendo um retorno de 111. Os dados quantitativos foram analisados estatisticamente, interpretados e discutidos.

 

Resultados

O índice de retorno dos questionários foi de 50,4% e a análise dos dados permitiu conhecer a visão dos alunos participantes sobre aspectos da matriz curricular de 1986, ainda vigente na FOUFF.

A maioria dos participantes respondeu que estavam seguros com relação à sua escolha profissional (78,4%) e satisfeitos com a escolha pela Faculdade de Odontologia da Universidade Federal Fluminense (74,5%).

Quando solicitados a analisar a matriz curricular em sua totalidade, 53,9% a julgaram boa e apenas 3,9% a consideraram ótima. 33,6% dos participantes analisaram positivamente a estruturação e organização das disciplinas na matriz curricular.

Apenas 3,6% dos participantes consideraram que as disciplinas do ciclo básico não são importantes para a formação em odontologia, porém 89,2% acham que deveria haver maior aproximação entre o ciclo básico e a prática odontológica, sendo que alguns (53,6%) avaliam negativamente o fato de o ciclo profissional iniciar apenas no 4º período.

Apenas 24,3% dos respondentes relataram ter vontade de participar do movimento de representação estudantil, enquanto 75,7% não apresentaram essa disposição.

As disciplinas que mais agradaram na visão dos alunos foram relacionadas no Gráfico 1. Conforme pode ser observado, foram citadas:

• Anatomia (19,9%);
• Periodontia (9%);
• Endodontia (8,3%);
• Dentística (6,6%);
• Odontopediatria (6,0%) e
• Odontologia Social e Preventiva (OSP; 6,0%).

As disciplinas que menos agradaram na visão dos alunos foram relacionadas no Gráfico 2. Conforme pode ser observado, foram citadas:

• Genética (16,9%);
• Embriologia (15,1%);
• Biologia Celular (7,8%);
• Biofísica (6,8%);
• Anatomia (6,4%) e
• Cirurgia Bucal (6,4%).

Com relação à prática que os alunos gostariam de estar exercendo mais, o atendimento clínico foi o mais requisitado (37,5%), seguido de atividades em comunidades (18,8%), iniciação à pesquisa (17,8%), ações preventivas (15,8%), atividades educativas (8,9%), como mostra o Gráfico 3.

 

 

 

 

 

 

 

Discussão

Considerando que o último PPPC da FOUFF data de 1986, depreende-se que sua reformulação pressupõe ruptura com conceitos que antecedem mudanças importantes no campo da educação e da saúde.

No campo da educação, a aprovação da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), (Brasil, 1996), explicitou a responsabilidade da União em definir prioridades e garantir a melhoria da qualidade do ensino. Especificamente na área da saúde, em 2001 foi aprovada a Resolução CNE/CES (as Diretrizes Curriculares Nacionais dos Cursos de Graduação em Odontologia, aprovadas pelo CNE8 que definiu as Diretrizes Curriculares Nacionais para o Curso de Graduação em Odontologia).

Por sua vez, o Sistema Único de Saúde criado em 1988, vem desafiando os cursos superiores em saúde para mudanças na qualidade da formação, em especial no que diz respeito à fundamentação flexneriana dos projetos pedagógicos, cujas consequências Filho (2010)7 descreve bem:

"Do ponto de vista conceitual, reiteradamente identificam- -se, no modelo flexneriano, diversos elementos (ou defeitos): perspectiva exclusivamente biologicista de doença, com negação da determinação social da saúde; formação laboratorial no Ciclo Básico; (...); estímulo à disciplinaridade, numa abordagem reducionista do conhecimento. Do ponto de vista pedagógico, o modelo de ensino preconizado por Flexner é considerado massificador, passivo, (...), individualista e tendente à superespecialização, com efeitos nocivos (e até perversos) sobre a formação profissional em saúde. Do ponto de vista da prática de saúde, dele resultam os seguintes efeitos: educação superior elitizada, subordinação do Ensino à Pesquisa, (...), privatização da atenção em saúde, controle social da prática pelas corporações profissionais. Do ponto de vista da organização dos serviços de saúde, o Modelo Flexneriano tem sido responsabilizado pela crise de recursos humanos que, em parte, produz crônicos problemas de cobertura, qualidade e gestão do modelo assistencial, inviabilizando a vigência plena de um sistema nacional de saúde integrado, eficiente, justo e equânime em nosso país. Do ponto de vista político, por ter sido implantado no Brasil a partir da Reforma Universitária de 1968, promovida pelo regime militar, tal modelo de ensino e de prática mostra-se incompatível com o contexto democrático brasileiro e com as necessidades de atenção à saúde de nossa população, e dele resultam sérias falhas estruturais do sistema de formação em saúde."

Realmente, a análise do PPPC de 1986 vigente na FOUFF mostra que a matriz curricular segue o modelo de currículo mínimo, extinto pela LDB/1996, com características de "grade" curricular, isto é, uma relação estática de disciplinas e cargas horárias sem coerência com a base epistemológica que fundamenta esses elementos. Essa formatação está em desacordo com as diretrizes curriculares, que preconizam a aproximação precoce com as necessidades de saúde da população e a formação generalista, humanista, crítica e reflexiva, capaz de propiciar uma atuação em todos os níveis de atenção à saúde, com base no rigor técnico e científico.3

Cabe ressaltar que a partir da orientação das DCNs, nacionalmente vários cursos de odontologia iniciaram discussões sobre as necessárias mudanças, encontrando porém resistências em sua operacionalização. Nesse sentido, estudo realizado na Universidade Estadual do Ceará comparando diversas Faculdades do país no período de 1992 a 2005, constatava a dificuldade de se reorientar mudanças e o PPPC no sentido das necessidades sociais.

A pesquisa de que é objeto esse artigo, procurou conhecer com os alunos, opiniões e principais críticas e sugestões com relação à matriz curricular na qual estavam inseridos, representando portanto, uma real oportunidade de manifestação anônima com relação a suas insatisfações com o curso. No entanto, observou-se que apenas 50,4% concordaram em preencher o questionário. Esse percentual poderia ser explicado por um possível desinteresse na problematização da matriz curricular vigente, considerando que por já estarem cursando, não seriam beneficiados por qualquer mudança.

Zeneti (2001),13 estudando o perfil do jovem brasileiro com base em pesquisa sobre juventude e revolução, mostrou jovens nada alienados a sua realidade político-social. No entanto, apesar de se mostrarem conscientes das questões sociais, os jovens revelaram menor participação nas questões ligadas mais diretamente às lutas políticas.

No caso da FOUFF, a intensa carga horária curricular, a busca por estágios remunerados nos horários vagos e um certo descrédito com relação ao papel das organizações estudantis, vem afastando os estudantes de seus espaços de mobilização o que pode ser comprovado pelo fato de que dentre os respondentes, 75,7% relataram não ter interesse em participar do diretório acadêmico ou de outro movimento de representação estudantil. O resultado revela a desarticulação entre os estudantes e seus representantes, mas concordando com Zeneti, talvez revele antes de tudo, desarticulação entre os próprios estudantes, não só em termos de organização como no plano das ideias.

Um importante descontentamento dos alunos participantes revelado pela pesquisa, diz respeito à divisão do currículo em dois ciclos, já que 89,2% dos participantes gostariam de aproximar o ciclo básico com a prática clínica odontológica Esse resultado pode ser associado ao fato de que dentre as disciplinas que menos agradam, as mais citadas foram as pertencentes ao ciclo básico (Gráfico 2). Por outro lado, apenas 3,6% dos participantes consideram que as disciplinas do ciclo básico não são importantes para a formação em odontologia. O que na verdade 89,2% solicitam é uma maior aproximação entre o ciclo básico e a prática odontológica, e o fato desse "ciclo profissional" iniciar apenas no 4º período.

Cristino (2005)10 em artigo sobre limites e possibilidades da antecipação de clínicas integradas, defende a ideia de que é preciso organizar uma dinâmica de trabalho capaz de garantir a experiência clínica nos vários procedimentos básicos da Odontologia. A autora conclui que isso pressupõe a existência de um corpo docente disposto a construir projetos integradores, para além da competência na área específica, e uma organização do trabalho pedagógico que permita a construção coletiva.

Com relação às disciplinas que menos agradam e as que mais agradam na FOUFF, podemos perceber que há uma marcada predileção pelas matérias do ciclo profissional. Essas disciplinas respondem melhor à perspectiva dos alunos de atuação profissional e o fato foi reforçado quando 37,5% dos alunos manifestaram que gostariam de realizar mais atendimentos clínicos.

Cristino (2005)10 fala ainda que analisando criticamente o Ensino em odontologia reconhece sua fragmentação nas disciplinas clínicas tradicionais de Periodontia, Prótese, Endodontia, Dentística, Cirurgia etc. A autora lembra que geralmente essas disciplinas são ministradas isoladamente, num nível de articulação à beira do inexistente, cuja contribuição para a qualidade de vida das pessoas é, no mínimo, questionável. Para a autora,

"falamos em tratar o paciente como um todo, quando a nossa prática ensina a lidar com partes de partes. Na melhor das hipóteses, nosso ensino tradicional tem dado conta, quando muito, 'da boca como um todo', como se esta pudesse representar 'algum todo' de alguém."

A manifestação de 18,8% dos participantes com relação ao desejo de realizar mais atividades em comunidades pode ter justificado a inclusão da disciplina de Odontologia Social e Preventiva (OSP) dentre as que agradaram, uma vez que na FOUFF, todas as ações feitas fora do ambiente universitário são coordenadas pelo Instituto de Saúde da Comunidade que reúne as OSPs.

Pode-se afirmar que a conformação de um perfil profissional mais adequado às necessidades em saúde da população, obtido principalmente a partir de vivencias e práticas promovidas na perspectiva da integração ensino-serviço-comunidade, constitui um aspecto já consensual junto a muitos cursos de odontologia. Nesse sentido, Moimaz et al. (2004)11 reconhecem que as atividades extramuros possibilitam aos alunos dentre outros, o conhecimento das estruturas organizacional, administrativa, gerencial e funcional dos serviços públicos de saúde; a participação no atendimento à população; a compreensão do papel do cirurgião-dentista; a aplicação do método epidemiológico bem como a aplicação de suas bases nos programas de saúde e saúde bucal, além do conhecimento dos parâmetros e/ou instrumentos de planejamento utilizados na organização dos serviços de saúde.

Por fim, os resultados evidenciaram críticas feitas pelos alunos com relação à matriz curricular de 1986 vigente, no entanto apesar de reconhecerem necessidades de mudanças, 74,5% afirmaram estar satisfeitos com a escolha pelo curso de Odontologia da UFF. Isso pode ser justificado com base no fato de que, mesmo com previsão de implantação do novo PPPC apenas em 2014, desde o seu encaminhamento em 2009, a FOUFF vem promovendo de forma compensatória a oferta de atividades complementares e programas de adesão voluntária, como as clínicas integradoras que aproximam alunos dos primeiros períodos com as clínicas integradas dos últimos períodos ou o programa de tutoria em saúde coletiva para calouros em que os alunos percorrem unidades da rede SUS de saúde problematizando com equipes e usuários necessidades de saúde de um determinado território.

 

Conclusão

A atual matriz curricular da FOUFF data de 1986 e ainda não foi reformulada segundo os preceitos da LDB e das DCNs para cursos de graduação em odontologia. Os resultados desse estudo contribuíram para o desenho do novo PPPC que tem previsão de implantação em 2014.

O estudo revelou que a matriz curricular na ótica dos alunos corresponde a um modelo tradicional flexneriano, o que poderia direcionar os acadêmicos para uma vivência desumanizadora durante o curso universitário com possibilidade de reflexos na postura profissional futura dos egressos.

Os resultados foram divulgados em quiosque organizado pelos próprios alunos durante a jornada acadêmica da FOUFF e representou instrumento para a sensibilização e divulgação do necessário movimento de mudança e do encaminhamento do novo PPPC junto à comunidade acadêmica.

 

Referências

1. Brasil. Ministério da Educação. Conselho Nacional de Educação. Diretrizes Curriculares Nacionais do Curso de Graduação em Odontologia. Brasília, 2001.         [ Links ]

2. Brasil. Ministério da Educação. Conselho Nacional de Educação. Câmara de Educação Superior. Diretrizes Curriculares Nacionais do Curso de Graduação em Odontologia. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 4 mar. 2002. Seção 1, p. 10.

3. Brasil. Ministério da Educação e Cultura. Conselho Nacional de Educação. Resolução CNE/CES 3/2002. Diário Oficial da União, Brasília, 04 mar 2002 [citado 2005 ago 10].

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5. Marcondes D. A crise de paradigmas e o surgimento da Modernidade. In: Brandão Z, organizadora. A crise dos paradigmas e a educação. São Paulo: Cortez; 2001. p.14-29

6. Martin, GB. Parceria entre universidades e serviços: construção de um novo compromisso na formação e desenvolvimento de profissionais de saúde. Olho Mágico, 9(1), 2002, p. 54-58.

7. Filho NA. Reconhecer Flexner: inquérito sobre produção de mitos na educação médica no Brasil contemporâneo. Cad. Saúde Pública vol.26 no12 Rio de Janeiro Dec. 2010.

8. Parecer da Câmara de Educação Superior do Conselho Nacional de Educação – CNE/CES nº 1.300/01, de 06/11/2001; Resolução CNE/CES nº 3, de 19/02/2002, publicadas no Diário Oficial da União de 04/03/2002)

9. Rodrigues AAAO, Assis MMA. Oferta e demanda na atenção à saúde bucal: o processo de trabalho no Programa Saúde da Família em Alagoinhas-Bahia. Rev. Baiana de Saúde Pública 2005; 29:273-85.

10. Cristino OS. Clínicas Integradas antecipadas: limites e possibilidades. Revista da ABENO 5(1): 12-8:2005.

11. Moimaz SAS, Saliba NA, Garbin CAS, Zina LG, Furtado JF AMORIM JA. Serviço Extramuro Odontológico: Impacto na Formação Profissional. Pesq. Brás Odontoped Clin Integr, João Pessoa, v. 4, n. 1, p. 53-57, jan./abr. 2004

12. Zanetti CHG. A formação do cirurgião-dentista. In: Dias AA, organizador. Saúde Bucal Coletiva: metodologia de trabalho e práticas. São Paulo: Editora Santos; 2006. p. 21-41.

13. Zeneti H. Juventude revolução: uma investigação sobre atitude revolucionária no Brasil. Ed. Endunb, Brasília, 2001.

 

 

Recebido em 08/10/2012
Aceito em 10/12/2012