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Revista da ABENO

versão impressa ISSN 1679-5954

Rev. ABENO vol.16 no.1 Londrina Jan./Mar. 2016

 

 

 

Aceitação da utilização de metodologias ativas nos estágios no SUS por discentes da graduação e pós-graduação em Odontologia

 

Acceptance of the use of active methodologies during training sessions in the SUS by undergraduate and graduate Dental students

 

 

Wellington Mendes CarvalhoI; Patrícia Tiemi CawahisaI; Paula Cabrini ScheibelI; Juliana Nunes BotelhoII; Raquel Sano Suga TeradaIII; Najara Barbosa RochaIII; Luiz Fernando LolliIII; Mitsue FujimakiIII

 

I Mestre em Odontologia Integrada - Universidade Estadual de Maringá, PR
II Doutora em Odontologia - Universidade Estadual de Campinas, SP

III Professores do Departamento de Odontologia - Universidade Estadual de Maringá, PR

Correspondência para:

 

 


 

RESUMO

O objetivo do estudo foi avaliar a aceitação da utilização de metodologias ativas de ensino-aprendizagem nos estágios no SUS (Sistema Único de Saúde) por discentes da graduação e pós-graduação em Odontologia. Foi realizada uma pesquisa de opinião, com análise de dados de forma quanti-qualitativa. Para tanto, 30 estudantes de graduação e 10 de pós-graduação responderam a um questionário semiestruturado contendo perguntas relativas às suas experiências com esta metodologia. Os dados revelaram que 67% dos estudantes de graduação e 70% da pós-graduação nunca haviam entrado em contato com metodologias ativas de ensino-aprendizagem. Houve satisfação com a metodologia adotada, aprovada pela totalidade dos alunos. As metodologias ativas mostraram-se como alternativas didático–pedagógicas viáveis, com aceitação entre os estudantes de graduação e pós-graduação, estando em consonância com as Diretrizes Curriculares Nacionais para os Cursos de Odontologia no Brasil.

Descritores: Odontologia. Aprendizagem Baseada em Problemas, Educação Superior.


 

ABSTRACT

The aim of the study was to evaluate the acceptance of the use of active teaching-learning methodologies during training sessions in the SUS (Brazilian National Health System) with quantitative and qualitative data analyses. Thirty undergraduate and 10 graduate students answered a questionnaire after their participation in activities using the methodology. The data showed that 67% of undergraduate and 70% of graduate students had never experienced active teaching-learning methodologies. Moreover, the students showed great satisfaction with the new method that was totally approved. The active methodologies were shown to be a feasible didactic and pedagogical alternative with acceptance among undergraduate and graduate students, in accordance with the National Guidelines for Dentistry Course Curricula in Brazil.

Descriptors: Dentistry. Problem-Based Learning. Higher Education.


 

1 INTRODUÇÃO

A exigência de um profissional com competências e habilidades, bem como flexibilidade para continuar aprendendo ao longo da vida profissional, é cada vez maior diante de demandas sociais tão complexas, pois requer um crescimento acelerado do volume de conhecimento1. Exige-se que o profissional de saúde tenha uma formação sólida que contemple tanto o conhecimento em sua área de atuação, como as habilidades e atitudes2. Há uma necessidade de mudanças na graduação do cirurgião-dentista para que seja possível formar os profissionais de forma generalista, humanista, crítica e reflexiva3-5, ficando cada vez mais evidente a fragilidade do modelo de ensino conhecido como "tradicional" ou de transmissão, centrado na figura do professor que detém e transmite conhecimento, que cria uma distância entre teoria e prática e consequentemente, um desconhecimento da realidade6,7.

As tendências da área da Educação apontam para a utilização de metodologias ativas de ensino, que têm no aluno o centro do processo ensino-aprendizagem, sendo este o protagonista do seu próprio processo de formação. Duas das principais metodologias ativas utilizadas nos cursos da área de saúde no mundo são a Aprendizagem Baseada em Problemas (ABP) ou Problem-based Learning (PBL), onde todo o currículo é planejado de forma a utilizar metodologias ativas, e a Metodologia da Problematização, que pode também ser adotada como norteadora de todo o currículo ou em apenas uma disciplina ou curso8. Nestas duas propostas, a utilização de problemas reais (problematização) ou a criação de problemas por uma equipe de especialistas (ABP), são o norte para o processo ensino-aprendizagem. No Brasil, até o momento, nenhum curso de Odontologia adotou a ABP como estrutura curricular, mas cursos em outros países tem sido inspiradores para ultrapassar a abordagem tradicional8. Junto com a integração ensino-serviço, a utilização de metodologias ativas de ensino-aprendizagem é apontada como estratégia para a formação voltada para o mundo do trabalho e para as necessidades da população, visando o aprendizado significativo, ou seja, quando o aluno adquire novos conhecimentos mediante seu próprio esforço, ligando conceitos ou proposições relevantes preexistentes5,8,9.

Alguns exemplos de utilização da problematização nos cursos de Odontologia podem ser citados como a disciplina de Fisiologia na FOP-UNICAMP10, Disciplina de Periodontia na UEPG11, disciplinas isoladas do curso de Odontologia da UNIFOR12 e da UNIPLAC13, disciplina de Oclusão na FO-UFG14 e na disciplina de Estomatologia da UFES15,16.

É válido citar, além da PBL e a problematização, outros tipos de metodologias ativas que podem ser utilizadas no processo ensino-aprendizagem: portfólio, internet, dramatização, discussão, seminários, estudos de casos, entre outros9,17-19.

Em 1992, o Curso de Odontologia da Universidade Estadual de Maringá (UEM) implementou mudanças no projeto pedagógico baseadas em um currículo integrado, já contando com uma carga horária de estágio totalizando 20% do total do curso. Estas mudanças foram consideradas inovadoras e se encontravam em consonância com as Diretrizes Curriculares Nacionais (DCN) para os cursos de graduação em Odontologia20, que só entraram em vigor a partir de 2002. No ano de 200521, o curso teve seu projeto aprovado pelo Programa Nacional de Reorientação da Formação Profissional em Saúde (Pró-Saúde) e entre as ações previstas, pode-se destacar a capacitação para uso de novas metodologias de ensino-aprendizagem. Assim, a implementação de metodologias ativas se iniciou no ano de 2006, nas atividades do 5º ano da graduação na disciplina Estágio Supervisionado IV, referentes à prática dentro da Estratégia Saúde da Família. A principal metodologia utilizada na disciplina foi a problematização. Além disso, a preocupação em formar docentes aptos a ensinar utilizando essa metodologia surgiu com a criação do Programa de Mestrado em Odontologia Integrada da UEM, em 2008, onde a primeira turma de mestrandos puderam vivenciar as metodologias ativas em dois créditos do curso: Introdução à Saúde Coletiva e Currículo Integrado e Integração Multiprofissional.

Apesar dos relatos na literatura sobre a utilização de metodologias ativas de ensino-aprendizagem10-16 na área da Odontologia até o momento, poucos trabalhos têm demonstrado a aplicação destas na integração do serviço de saúde ao ensino da Odontologia. Desta maneira, o objetivo do estudo foi avaliar a aceitação de discentes de graduação e pós-graduação stricto sensu do Curso de Odontologia e do Programa de Pós-Graduação em Odontologia Integrada da UEM sobre a utilização de metodologias ativas de ensino-aprendizagem.

 

2 MÉTODOS

Este trabalho foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da UEM sob o protocolo CAAE n. 0409.0.093.000-08, de 13 de fevereiro de 2009.

Tratou-se de um relato de uma experiência realizada em 2009, na área de Saúde Coletiva do Curso de Odontologia da UEM, com análise dos dados de forma quanti-qualitativa. Participaram deste estudo 30 acadêmicos do último ano da graduação em Odontologia que participavam da disciplina de Estágio Curricular Supervisionado em Saúde Coletiva IV e todos os acadêmicos da pós-graduação Strictu Sensu em Odontologia Integrada da UEM.

Os critérios de inclusão da amostra incluíram os indivíduos que consentiram em participar da pesquisa respondendo a um questionário semiestruturado, contendo questões abertas e fechadas, que abordavam impressões e opiniões sobre a metodologia de ensino-aprendizagem empregada durante os encontros. O questionário foi elaborado a partir de uma revisão da literatura prévia do tema e de avaliações rotineiras anuais dos estágios e disciplinas da pós-graduação.

Os alunos da graduação foram divididos em grupos de no máximo sete pessoas, com dois tutores para cada grupo. Nesta atividade, foram abordados o histórico das políticas públicas de saúde no Brasil, implantação do SUS e suas principais diretrizes. O estudo se dividiu em três etapas:

1. Identificação do problema: por meio de um texto previamente elaborado, os alunos de graduação, com a ajuda dos tutores, foram expostos a um problema onde conhecimentos sobre as políticas de saúde e sobre o SUS eram a temática. Assim, os alunos expressaram seu conhecimento prévio sobre o tema e formularam perguntas para resolverem suas dúvidas.

2. Teorização do assunto: no segundo encontro, os alunos trouxeram suas pesquisas sobre as perguntas formuladas e houve uma nova discussão, na qual todo o conteúdo teórico pesquisado pelos graduandos foi exposto, com comple-mentações didáticas dos tutores.

3. Fechamento do estudo: após as discussões, o grupo elaborou uma síntese, onde todos os conhecimentos adquiridos foram explicitados. Essa síntese foi exposta em uma reunião final, com todos os grupos juntos.

Essa abordagem metodológica foi empregada pela primeira vez em nível de graduação no curso.

 

3 RESULTADOS

Os resultados às perguntas fechadas estão expressos em porcentagens na tabela 1. Verifica-se que todos os alunos que participaram da pesquisa, tanto em nível de graduação quanto de pós-graduação, responderam que a utilização de metodologias ativas durante a graduação é uma experiência válida. Mais da metade dos alunos não havia participado até então de alguma atividade de ensino que empregava metodologia ativa. A maioria deles, quando no trabalho em grupo, respondeu que se sente muito à vontade para expor suas opiniões.

 

 

 

As falas mais significativas para ilustrar as principais opiniões emitidas estão apresentadas a seguir.

 

Alunos da Graduação

Apenas dois alunos responderam já terem vivenciado experiências com metodologias ativas na graduação, sendo um deles em atividades extracurriculares:

"No PET" {Programa de Educação Tutorial} (A12)

"Poucas vezes" (A22)

Quanto à questão sobre a validade do uso de metodologias ativas, algumas falas analisadas foram relacionadas ao pensamento crítico e à construção de competências de comunicação:

"O aluno é levado a pensar também e não só a escutar" (A1)

"Estimula o aprendizado e o senso crítico" (A8)

"Colocando a questão desta forma todos podem opinar e discutir" (A17)

"As opiniões e conselhos dos colegas sempre acrescentam ideias sobre o assunto" (A23)

Dentre as justificativas para a facilidade de se comunicar, muitas falas destacaram a abertura proporcionada pelo trabalho em pequenos grupos:

"O grupo é pequeno e amigo" (A2)

"Muito à vontade e também para esclarecer minhas dúvidas" (A17)

"Abrem-se espaços para debates" (A25)

"Com o decorrer da aula as opiniões saem naturalmente" (A29)

As justificativas mais marcantes sobre a vontade de conhecer mais sobre metodologias ativas foram:

"Gostaria de conhecer os resultados positivos e negativos..." (A5)

"Poderia ser utilizada em debates de casos clínicos" (A12)

 

Alunos de Pós-Graduação

Dos dez mestrandos, sete relataram nunca terem tido experiências com a metodologia. Entre as falas:

"Em minhas experiências como aluno, foi o primeiro contato com o método" (M3)

"Todas as aulas que participei foram bancárias, nenhuma dessa forma" (M6)

Todos ainda relataram ser positiva a utilização de metodologias ativas na graduação, sendo de destaque:

"Acho válido transmitir parte da responsabilidade de buscar o conhecimento para o aluno" (M3)

"Favorece o crescimento do aluno para aprendizado independente, pesquisa, comunicação, e consolidação e memorização do conteúdo discutido" (M6)

Quanto à liberdade em expressar opiniões, os mestrandos disseram:

"Nesse tipo de metodologia acho que todas as ideias são válidas" (M1)

"De uma maneira mais informal nos sentimos mais a vontade para dizer o que pensamos sobre os assuntos" (M10)

Todos também relataram querer conhecer mais sobre metodologias ativas, justificando:

"Acho que as metodologias ativas têm muito espaço para se desenvolver no ensino odontológico" (M4)

"Sim, como aluno de mestrado, interesso-me por metodologias de ensino" (M9)

Na questão 5, respondida apenas pelos mestrandos, sobre a intenção de uso de metodologias ativas no futuro profissional, as respostas mostraram uma percepção positiva e interessante:

"Ela é muito válida, pois faz o aluno buscar aquilo que ele tem necessidade de aprender e saber" (M2)

"Seria uma ferramenta a ser utilizada para estimular o aluno a procurar" (M6)

"Para alguns assuntos" (M8)

 

4 DISCUSSÃO

As DCN do Curso de Graduação em Odontologia preconizam o perfil do Cirurgião-Dentista baseado em uma formação generalista, humanista, crítica e reflexiva, para atuar em todos os níveis de atenção à saúde, com base no rigor técnico e científico. Além disso, o profissional deve estar capacitado ao exercício de atividades referentes à saúde bucal da população, pautado em princípios éticos, legais e na compreensão da realidade social, cultural e econômica do seu meio, dirigindo sua atuação para a transformação da realidade em benefício da sociedade22. Para este nível de formação, fica clara a necessidade de modelos pedagógicos que possibilitem a construção ativa do conhecimento, que deverá prolongar-se por toda a vida profissional. A integração ensino-serviço-comunidade e a utilização de metodologias ativas de ensino-aprendizagem são apontadas como estratégias para a formação de profissionais voltados para o mundo do trabalho e para as necessidades da população, visando o aprendizado significativo18,22.

Quanto aos resultados, pode-se observar que a maioria dos alunos de graduação não estava familiarizada com esse tipo de metodologia. Isso se deve a metodologia de ensino empregada na grande maioria das escolas de ensinos fundamental e médio brasileiros, que é tradicional18. Entretanto, os entrevistados demonstraram satisfação com o método de ensino, o que desmistifica a ideia da dificuldade de aceitação de novas metodologias pelos alunos observadas neste trabalho. Analisando as opiniões, pode-se perceber que os acadêmicos valorizam a oportunidade de poder compartilhar suas experiências e conhecimentos, além de se sentirem mais motivados em uma aula onde suas opiniões são ouvidas. Estes resultados estão de acordo com os encontrados por Pires e Bueno23, que avaliaram a aceitação de alunos de graduação quando estes participaram de um curso de capacitação do programa de ensino em Saúde da Família fora da universidade, que utilizava a problematização. Os resultados revelaram aceitação desta metodologia. Na Austrália, na Universidade de Adelaide e na Universidade de Sidney, a ABP também foi bem aceita pelos estudantes24,25.

Quanto aos acadêmicos de pós-graduação, as impressões sobre a metodologia ativa também foram positivas. A maioria demonstrou interesse e satisfação pela metodologia e relatou que gostaria de utilizá-la futuramente no exercício docente. Ressalta-se aqui a importância do ensino e uso de metodologias ativas para os acadêmicos de pós-graduação strictu sensu. Como professores do futuro, é importante que estes profissionais estejam familiarizados com essas metodologias que contribuem para a consolidação de um ensino odontológico em consonância com as DCN2.

A necessidade de mudança no ensino das profissões de saúde tem sido sentida desde a década de 50, quando se originou na Case Western Reserve University, a Aprendizagem Baseada em Problemas (ABP). Desde então, diversas universidades, principalmente na América do Norte, adotaram estratégias semelhantes. Em 1960, a McMaster University do Canadá reformou seu currículo com base na ABP e tornou-se uma de suas principais vitrines para o mundo. No Brasil, algumas faculdades de Medicina adotaram a ABP como estrutura curricular26. A enfermagem é outro curso da área da saúde que explora as metodologias ativas, principalmente a problematização, para melhorar a aprendizagem de seus alunos27. Entretanto, a utilização dessas metodologias é explorada na Odontologia e existem relatos pontuais de experiências em disciplinas específicas10-16,18,19, mas não existe no curso de Odontologia brasileiro que utilize a ABP como estrutura curricular, ou seja, todos os conhecimentos essenciais do currículo são trabalhados a partir de problemas de ensino. O ensino odontológico ainda está seguindo o padrão de aulas expositivas, com o conhecimento sendo explorado de forma compartimentalizada, centrado na figura do professor que, em sua grande maioria, ainda segue a ideologia baseada no conceito tecnicista6,7. Por outro lado, o desenvolvimento de competências relacionadas à capacidade de comunicação, tomada de decisões e liderança, como destaca o Art. 4º das DCN19, certamente é garantido no trabalho em pequenos grupos, onde os espaços para o crescimento individual são garantidos, respeitando-se o trabalho em equipe e a construção coletiva dos saberes e fazeres.

Algumas experiências no campo da Odontologia têm sido relatadas fora do Brasil. Efetivamente tomam força, somente a partir de 1995 e provavelmente, algumas das primeiras escolas de Odontologia28 a adotarem a APB foram a Universidade de Adelaide, em 1993, e a de Harvard29, em 1995. Ou seja, a história da ABP nos cursos de Odontologia é relativamente curta, com menos de 20 anos de experiência. Vários países já aderiram a ABP30: Canadá, Irlanda, Suécia, Inglaterra, Tailândia. Fincham et al.31 relataram que a ABP leva os estudantes a aprenderem tão bem quanto – se não mais que – o ensino tradicional e acredita-se que com esta abordagem os mesmos estejam melhor preparados para enfrentar o mundo em constante mudança do século XXI. Outro local que tem larga experiência com ABP em Odontologia é a Austrália32, onde todas as escolas de Odontologia a implantaram na década de 90.

Algumas experiências sobre o uso de metodologias ativas no Brasil na área da odontologia foram relatadas10-16,18,19. As metodologias ativas fundamentam-se em métodos de aprimorar o processo de aprender, com utilização de experiências reais ou inventadas, objetivando resolver, com sucesso, desafios advindos das atividades da profissão, em diferentes contextos25. Além disso, estimulam e desenvolvem nos alunos atitudes críticas e criativas em relação ao meio em que vivem e à profissão para a qual se preparam. A ABP possibilita a integração da teoria com a prática e também desenvolve o raciocínio lógico, a comunicação e a aprendizagem auto-dirigida29. Portanto é uma ótima alternativa pedagógica a ser utilizada na formação profissional.

Existem algumas pesquisas mostrando a resistência de muitos professores da área da saúde em romper com a metodologia tradicional, sendo que a principal dificuldade é a falta de um treinamento específico para a formação de tutores nessa nova metodologia2,6,7, O curso de Odontologia da UEM, a partir das ações propostas no projeto Pró-Saúde, vem realizando oficinas de capacitação em metodologias ativas de ensino-aprendizagem para seus docentes com as demais áreas da saúde, além do tema ser pauta das discussões em reuniões pedagógicas do curso. Acredita-se que o aprofundamento do estudo dessas metodologias, bem como sua disseminação, possa contribuir com os docentes e o curso para vencer as dificuldades e melhorar a qualidade do ensino praticado em nosso país. Desta maneira, é importante a capacitação permanente dos educadores fundamentada na DCN, que visam formar um profissional crítico e reflexivo que possa atuar com o perfil necessário às necessidades dos serviços de saúde e da população2,4,5.

Vale ressaltar que este estudo é um relato de experiência de um grupo de alunos de graduação e pós-graduação em uma única instituição. Além disso, há algumas limitações metodológicas que devem ser reportadas como a dificuldade na amostragem, validação do questionário e análise dos dados. Assim faz-se necessário novas pesquisas em outras IES e com uma amostra maior de discentes para confirmação destes achados. Futuros estudos longitudinais sobre a implementação de novas metodologias no curso poderão contribuir para a tomada de decisões sobre o melhor caminho na busca de uma formação de excelência.

 

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Mudanças envolvem pessoas, valores, culturas e, especificamente no campo da saúde e da educação, envolvem também questões ideológicas, sociais, econômicas e históricas. Isso significa romper com antigos paradigmas, sem negar, entretanto, a historicidade das profissões, o acúmulo de conhecimentos e os modelos de atenção à saúde existentes no país. Neste contexto, as metodologias ativas são uma alternativa metodológica com potencial didático–pedagógico para preparar o futuro profissional e cidadão, necessária para ajudar a enfrentar os desafios de uma sociedade globalizada que passa por rápidas transformações. A partir dos resultados deste trabalho, pode-se sugerir uma tendência a aceitação e satisfação com metodologias ativas de ensino-aprendizagem, tanto pelos acadêmicos de graduação como os de pós-graduação.

 

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Correspondência para:
Mitsue Fujimaki
Departmento de Odontologia
Universidade Estadual de Maringá
Av. Mandacaru, 1550
87080-000 Maringá, Paraná

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