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IJD. International Journal of Dentistry

versão On-line ISSN 1806-146X

IJD, Int. j. dent. vol.9 no.2 Recife Abr./Jun. 2010

 

REVISÃO DE LITERATURA REVIEW ARTICLE

 

Considerações anátomo-clínicas da Síndrome de Eagle

 

Anatomic and clinical considerations of the Eagle's Syndrome

 

 

Érico Luiz Damasceno BarrosI; Carla Cabral dos Santos Accioly LinsII

ICirurgião-Dentista, Especialista em Morfologia Humana - UFPE
IIProfa. Dra. do Departamento de Anatomia Humana - UFPE

Correspondência

 

 


RESUMO

A Síndrome de Eagle é uma patologia caracterizada pelo alongamento do processo estilóide do osso temporal ou pela calcificação do ligamento estilo-hióideo, apresentando sintomatologia dolorosa na região cérvico-facial. O exame clínico somado à observação de radiografias possibilitará o seu diagnóstico, e a condução de um tratamento adequado, para cada caso. Desta forma, tivemos como objetivo fazer uma revisão da literatura abordando a importância do conhecimento dos aspectos anatômicos, e das manifestações clínicas desta Síndrome, para os cirurgiões-dentistas.

Palavras-chave: Anormalidades Maxilofaciais; Transtornos Craniomandibulares; Radiografia panorâmica.


ABSTRACT

Eagle's syndrome is a pathology characterized by an abnormally long styloid process temporal bone or by calcification of the stylohyoid ligament, presenting painful symptoms in the cervical-facial region. The added clinical examination to the comment of x-rays will make possible its diagnosis, and the conduction of an adjusted treatment, for each case. In such a way, this article had as objective to make a revision of literature approaching the importance of the knowledge of the anatomical aspects, and the clinical manifestations of this Syndrome, for the surgeon-dental.

Key-words: Maxillofacial Abnormalities; Craniomandibular Disorders; Panoramic radiography.


 

 

INTRODUÇÃO

O processo estilóide é uma estrutura óssea delgada e pontuda, que se projeta para baixo e para frente da face inferior do osso temporal. Está situado entre as artérias carótidas interna e externa, posteriormente à faringe, onde se originam os músculos: estilo-hióideo, estiloglosso e estilofaríngeo; e os ligamentos: estilo-hióideo e estilomandibular1. Tem origem embrionária na cartilagem de Reichert do segundo arco branquial e juntamente com o ligamento estilo-hióideo e o corno menor do osso hióide formam o complexo estilo-hióideo ou aparelho estilo-hióideo2.

O alongamento do processo estilóide é uma anomalia que pode es tar acompanhada pela: calcificação dos ligamentos estilo-hióideo e estilomandibular, podendo des encadear uma sérte de sintomas como disfagia, odinofagia, dor facial, otalgia, cefaléia, zumbido e trismo; e o conjunto desses sintomas associado ao alongamento do processo estilóide é denominado de Síndrome de Eagle3. A análise de radiografias e manejos no paciente, são importantes instrumentos para a confirmação do seu diagnóstico4.

Desta forma, este trabalho teve como objetivo fazer uma revisão da literatura abordando a importância do conhecimento dos aspectos anatômicos, e das manifestações clínicas da Síndrome de Eagle, para os cirurgiões-dentistas.

 

REVISÃO DA LITERATURA

O aparelho estilo-hióideo ou complexo estilo-hióideo refere-se ao conjunto formado pelo ligamento estilo-hióideo, corno menor do osso hióide e processo estilóide do temporal2. O s eu comprimento normal situa-se entre 25 e 30mm, podendo variar de pessoa para pessoa e até mesmo entre os dois lados do mesmo indivíduo. Quando os processos excedem essa média atribui-se o termo alongamento5.

O processo estilóide é alongado quando tanto o comprimento do processo quanto do ligamento estilo-hióide ultrapassam os 40mm6. E essa alteração poderá vir acompanhada da ossificação do ligamento estilo-hióideo provocando no indivíduo uma série de sintomas como: disfagia, odinofagia, dor facial, cefaléia, zumbido e trismo. Essa soma de sintomas, mais, a ocorrência do alongamento da apófise estilóide recebe o nome de Síndrome de Eagle4.

A síndrome foi descrita, primeiramente em 1937 por Eagle, que teve como base os sintomas relatados por seus pacientes. A primeira forma relatada por ele foi denominada de Síndrome de Eagle ou estiloalgia, caracterizada por dor faríngea na fossa tonsilar, dificuldade de deglutição, dor ao girar a cabeça, sensação de corpo estranho na garganta e até mudança na voz por alguns instantes; e a segunda forma, chamada de Síndrome estilo-carotídea, caracterizava-se por dor pers istente que irradiava para a região da artéria carótida, otalgia, vertigem e cefaléia7.

Não existe ainda um consenso sobre a sua etiologia, porém várias teorias como: o alongamento congênito decorrente da persistência de um folheto embrionário cartilaginoso; calcificação do ligamento estilo-hióideo resultando em um processo estilóide alongado; a formação de um tecido ósseo na inserção do ligamento estilo-hióideo2 e presença de fibrose pós tonsilectomia8, são consideradas como fatores causais.

Para o diagnóstico propõem-se a realização de anamnese para coleta das principais queixas, sinais e sintomas do paciente. Em seguida, a realização de um exame físico que consiste em palpar a fossa tonsilar com o dedo indicador na intenção de identificar o processo estilóide, indicará que o processo encontra-se alongado, caso contrário não poderá ser sentido por esta manobra. O fechamento do diagnóstico é realizado com a solicitação e observação de radiografias PA, lateral de mandíbula ou panorâmica que evidenciarão a presença do processo estilóide alongado9.

Deve-se incluir no diagnóstico diferencial das disfunções da articulação temporomandibular, dos tumores de base de língua, das neuralgias do trigêmeo e do glossofaríngeo4; dos quadros de enxaqueca, terceiros molares não irrompidos ou impactados, dor miofacial e artrite cervical10.

Em várias situações não se necessitade intervenção alguma para realizar o seu tratamento, porém nos casos mais leves em que o paciente faz queixa de dor existe a opção de fazer injeções locais de corticosteróides para aliviar o sintoma11.

A excisão cirúrgica do processo estilóide alongado será aplicada para tratamento dos casos mais severos de dor, optando-se fazê-la via intraoral ou por via extraoral. O tratamento por via intraoral é mais rápido e não deixa cicatriz externa visível, sendo assim mais estético, porém, a visualização das estruturas adjacentes ao processo estilóide fica bastante prejudicada, expondo o paciente à contaminação dos espaços cervicais; o acesso extraoral é o mais utilizado por permitir melhor campo visual das estruturas nobres próximas ao processo estilóide, como as artérias carótidas e o nervo facial, o que diminui o risco de lesões às mesmas7.

 

DISCUSSÃO

A prevalência do processo estilóide alongado é de 4% a 28% na população12; e neste grupo 4 a 10,3% poderão realmente apresentar um quadro de sintomatologia, embora não se tenha dados correlacionando o tamanho do alongamento com o grau de severidade dos sintomas13.

Com o alongamento do processo estilóide ou a calcificação do ligamento estilo-hióideo, o indivíduo poderá desenvolver dor não específica ao mudar a cabeça de posição, disfagia e sensação de corpo estranho através da faringe14. Esta condição clínica anormal do aparelho estilo-hióideo é denominada de Síndrome de Eagle12,15.

Para um diagnóstico bem feto o exame clínico deve ser criterioso, associando os achados à história médica do paciente, seguidos da solicitação e observação de ortopantomografias e/ou tomografias computadorizadas16.

Artrite têmporomandibular, neuralgias do trigêmeo, do glossofaríngeo e do esfenopalatino, cefaléia histamínica, diverticulose esofagiana, tumores, dentes impactados ou não irrompidos, artrite cervical e enxaquecas são exemplos de diagnósticos diferenciais para a síndrome4,10,14.

O acesso intraoral no tratamento da Síndrome de Eagle resulta num procedimento rápido, simples e sem cicatriz externa visível. Porém, o preferível é o acesso extra-oral por permitir uma visão mais ampla das estruturas, não expondo a riscos maiores7,16. O seu prognóstico é considerado favorável1.

 

CONCLUSÃO

Com base na revisão da literatura, concluímos que a utilização de radiografias panorâmicas em conjunto com a história clínica dos pacientes deverá ser o alicerce para a construção do diagnóstico diferencial da Síndrome de Eagle, a fim de nortear seu correto tratamento.

 

REFERÊNCIAS

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Correspondência:
Carla Cabral dos Santos Accioly Uns
Departamento de Anatomia / CCB
Rua Prof. Moraes Rego, 1235, CEP 50670-901
Cid. Universitária - Recife- PE
cabralcarla1@hotmail.com
Fones: 2126-8555/21268554

Recebido em 15/03/2010
Aprovado em 08/04/2010