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Revista de Cirurgia e Traumatologia Buco-maxilo-facial

versão On-line ISSN 1808-5210

Rev. cir. traumatol. buco-maxilo-fac. vol.11 no.2 Camaragibe Abr./Jun. 2011

 

 

Adaptação de Placas Reconstrutivas: uma Nova Técnica

 

Adaptation of Reconstructive Plates: A New Device

 

 

Luciano Cincurá Silva SantosI; Alexandre Martins SeixasI; Breno BarbosaIII; Rosana Nogueira Santana CincuráIV

I Residente do 3º ano em Cirurgia e Traumatologia Bucomaxilofacial – Hospital Santo Antônio (Obras Sociais Irmã Dulce) e Hospital Universitário Professor Edgard Santos (Universidade Federal da Bahia).
II Preceptor da Residência e Especialização em Cirurgia e Traumatologia Bucomaxilofacial do Hospital do Oeste – Barreiras (Obras Sociais Irmã Dulce- SESAB).
III Residente do 2º ano em Cirurgia e Traumatologia Bucomaxilofacial – Hospital Santo Antônio (Obras Sociais Irmã Dulce) e Hospital Universitário Professor Edgard Santos (Universidade Federal da Bahia).
IV Especialista em Saúde Pública. Consultora da Secretaria Estadual de Saúde da Bahia (SESAB).

Endereço para correspondência

 

 


RESUMO

Ressecção mandibular em tratamento de tumores promove alterações estéticas e funcionais importantes que atualmente vêm sendo minimizadas pelo uso de placas reconstrutivas com modelagem prévia em protótipos. A adaptação dessas placas de reconstrução objetiva recriar o contorno anatômico prévio, no entanto, algumas vezes, é dificultado pela expansão das corticais ósseas induzida pelo crescimento tumoral. O objetivo do presente artigo é o de descrever a elaboração de um dispositivo capaz de adaptar fielmente placas reconstrutivas de maneira rápida e de baixo custo.

Descritores: Mandíbula; Patologia; Placas ósseas.


ABSTRACT

Resection of the mandible in the treatment of tumors produces major aesthetic and functional changes that are currently being minimized by the use of reconstructive plates with prior modeling in prototypes. The adaptation of these reconstructive plates aims to recreate the original anatomical contour; the process is sometimes hampered, however, by the expansion of cortical bone, induced by tumor growth. The purpose of this article is to describe the development of a device capable of faithfully adapting reconstructive plates in a rapid manner and at low cost.

Keywords: mandible, pathology, bone plates.


 

 

INTRODUÇÃO

A reconstrução mandibular é um dos principais desafios para a cirurgia bucomaxilofacial no que diz respeito ao restabelecimento e à estabilidade funcional, à estética satisfatória e condições ideais para reabilitação dentária. Diante disso, tem-se observado uma busca por melhor compreensão da etiopatogenia dos tumores odontogênicos e subsequente introdução e desenvolvimento de novas técnicas reconstrutivas1,2,3,10,11,12.

A mandíbula é um osso ímpar e de grande importância para a harmonia facial. É responsável pela mastigação, contribui com a deglutição, apoia a base da língua para manter as vias respiratórias e articula-se com a base do crânio6. Logo, o profissional deve ficar atento às particularidades e funções desse osso para conduzir um melhor planejamento e obter sucesso no tratamento9.

O início dos estudos sobre a reconstrução mandibular ocorreu antes do século XX, e, durante quase 200 anos, a literatura médica já recolheu mais de 2.000 artigos, detalhando as nuances da reconstrução mandibular7.

As reconstruções podem ser imediatas ou secundárias (dois tempos cirúrgicos). A imediata utiliza-se de uma placa de reconstrução isoladamente ou através da fixação de enxerto ósseo no momento da ressecção da mandíbula. Essa técnica pode ser um tratamento definitivo ou pode ser seguido de uma reconstrução secundária5,11.

Com o advento das placas de osteossíntese, tratamentos maxilofaciais de trauma e patologias passaram a ser mais eficientes e eficazes. Para tanto, faz-se necessário adequado manuseio de tal tecnologia. Um dos problemas referentes ao uso das placas reconstrutivas, principalmente nos casos em que o defeito ressectivo envolve região de sínfise mandibular, é o desafio de se restaurar um contorno facial aceitável devido à dificuldade de se promover uma perfeita adaptação da placa por conta da rigidez desta e da deformação do contorno mandibular provocada pela extensão tumoral.

Sendo assim, este artigo trata de uma nova técnica criada para facilitar a adaptação fiel de placas reconstrutivas de forma simples, com baixo custo e de alto impacto na qualidade pós-operatória de pacientes tratados com ressecção mandibular.

RELATO DA TÉCNICA

1. Obtenção de prototipagem através de tomografia computadorizada em cortes de 5 mm, com limites de ressecção tumoral estabelecido. (Fig. 1)

 

 

 

2. Pré-modelagem da placa de reconstrução. (Fig. 2)

 

 

 

3. Confecção de aparato para fixação de protótipo (a), fixação do protótipo (b), cirurgia do protótipo (c), modelagem e fixação final da placa de reconstrução (d) e reconstrução operatória (e).

a) Confecção de aparato: Obtenção de compensado de 33,5cm X 14,5cm; fixação do compensado em torno; desenho, em lápis, do contorno dos ramos mandibulares seccionados no compensado. (Fig. 3)

 

 

 

b) Fixação do protótipo: Perfuração bilateral com fresa de 1mm de diâmetro, em sentido ínfero-superior no centro da circunferência referente ao côndilo e coronoide, apoiando o protótipo na demarcação estabelecida no compensado; instalação de pinos metálicos de 1,3mm em cada perfuração confeccionada; cola de rápida secagem e alta retentividade (Durepoxi® líquida) em pinos e desenho dos ramos demarcado no compensado; adaptação do protótipo e tempo de presa da cola (5 minutos). (Fig. 3)

c) Cirurgia do protótipo: corte com serra de 0,5mm nos limites para ressecção tumoral pré-estabelecidos com ajuda da tomografia computadorizada. (Fig. 4)

d) Modelagem e fixação final da placa de reconstrução: sistema 2.4 fixado com três parafusos de 10mm, em corpo mandibular direito e três parafusos 08mm em ramo mandibular esquerdo. (Fig. 4)

e) Reconstrução operatória: nota-se ressecção fiel da peça cirúrgica e contorno facial pós-operatório imediato. (Fig. 5)

 

 

 

 

 

DISCUSSÃO

O tratamento de alguns tumores mandibulares requer ressecções extensas que demandam uma reconstrução precisa e ágil. Diversas fontes doadoras ósseas são relatadas na literatura, sendo os enxertos livres ou microvascularizados de crista ilíaca ou fíbula os mais utilizados. No entanto, uma fiel adaptação da placa de reconstrução é fator mandatório para uma boa reabilitação estética e funcional1,2,3,10,11,12.

A manutenção da forma e a da função são as principais considerações no tratamento e planejamento para ressecção de tumores benignos ou malignos. Essas decisões devem ser tomadas com base no estado físico de cada paciente, na otimização dos resultados e nas condições financeiras envolvidas 8,13.

O custo de uma prototipagem, em determinadas circunstâncias como em serviços públicos, é elevado, o que dificulta a solicitação de imagens espelhadas ou técnicas mais apuradas de confecção de protótipos.

Dessa forma, o aparato proposto para a adaptação de placas de reconstrução proporciona boa estética e menor trauma cirúrgico aos pacientes submetidos à ressecção mandibular, uma vez que a fidelidade na adaptação da placa, estabelecida pelo aparato, diminui o tempo do transoperatório e promove melhores condições de reabilitação futura4,6.

 

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Pode-se concluir que o dispositivo apresentado permitiu, com baixo custo, a modelagem fiel da placa reconstrutora, proporcionando um menor tempo cirúrgico, melhores contornos estéticos e maior potencial para a reabilitação bucomaxilofacial.

 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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Endereço para correspondência:
Luciano Cincurá Silva Santos
Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia
R. José Moreira Sobrinho, s/n, Jequiezinho
Jequié –Ba, CEP: 45206-190

e-mail:
cincuraluc@uol.com.br