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Revista de Cirurgia e Traumatologia Buco-maxilo-facial

versão On-line ISSN 1808-5210

Rev. cir. traumatol. buco-maxilo-fac. vol.14 no.1 Camaragibe Jan./Mar. 2014

 

 

Corpo Estranho em Seio Maxilar: Remoção pela Técnica de Caldwell-Luc

 

Strange Body to the Maxillary Sinus: Removal by Caldwel-Luc Approach

 

 

Mauricio Nunes CruzI; Damião Edgleys PortoII; Sérgio Munhoz PereiraIII; Francisco Jadson LimaIV; Gustavo Pina GodoyV

I Graduando em Odontologia pela Universidade Estadual da Paraíba (UEPB), Araruna-PB/Brasil.
II Cirurgião Buco-Maxilo-Facial. Servidor Público. Hospital Regional Felipe Tiago Gomes, Picuí-PB/Brasil.
III Médico Anestesiologia. Servidor Público. Hospital Regional Felipe Tiago Gomes, Picuí-PB/Brasil.
IV Mestre em Odontologia. Professor Substituto da Universidade Estadual da Paraíba (UEPB), Araruna-PB/Brasil.
V Doutor em Patologia Oral. Professor do Programa de Pós-Graduação em Odontologia da Universidade Estadual da Paraíba (UEPB), Campina Grande-PB/Brasil.

Endereço para correspondência

 

 


RESUMO

Corpos estranhos nos seio da face são relativamente raros e resultam de traumas perfurantes de alta energia. Embora haja relatos envolvendo os seios etmoidais e esfenoidais, os seios frontal e maxilar são os mais frequentemente envolvidos. Este artigo relata o caso de um paciente com corpo estranho no seio maxilar direito há 34 anos, cuja a retirada deste, foi realizada através da técnica de Caldwell-Luc, tendo sido bem sucedida, e apresentando rápida recuperação do paciente.

Descritores: Seio maxilar; Procedimentos cirúrgicos ambulatoriais; Cirurgia oral.


ABSTRACT

Foreign bodies in the paranasal sinuses are relatively rare and are the result of high energy trauma perforating. Although there are reports involving the ethmoid and sphenoid sinuses, the frontal and maxillary sinuses are most frequently involved. This article reports the case of a patient with a foreign body in the right maxillary sinus for 34 years, where the removal, was performed by a Caldwell-Luc, which was successful and rapid patient recovery.

Keywords: Maxillary sinus; Ambulatory surgical procedures; Oral surgery.


 

 

INTRODUÇÃO

O seio maxilar é representado por um espaço pneumatizado, localizado bilateralmente, no interior do osso maxilar. O deslocamento de corpos estranhos para o seu interior é uma situação de ocorrência relativamente rara, resultante de injúrias penetrantes, como nos traumas de alta energia cinética, em que objetos (projéteis por arma de fogo, pedaços de vidros, pedras, madeira) podem ser lançados para o interior do seio e também durante procedimentos odontológicos quando dentes, raízes de dentes, cemento dental, pasta de impressão, cones de guta percha, amálgama dental. Também podem ser lançados para o seu interior inadvertidamente1-3.

A técnica de Caldwell-Luc tem sido sugerida como meio de acesso ao seio maxilar, por permitir sua inspeção e o tratamento das enfermidades que o acometem. Essa técnica é utilizada para o tratamento da sinusite crônica maxilar irreversível, remoção de raízes dentárias e corpos estranhos, excisão de pólipos antrocoanais, mucoceles, pioceles, tumores e cistos odontogênicos e na reparação de fístulas oroantrais4,5.

Os autores apresentam um caso de corpo estranho em seio maxilar há cerca de 34 anos que foi removido com sucesso, por meio da técnica cirúrgica de Cawldell-Luc.

 

RELATO DE CASO

Paciente do sexo masculino, com 46 anos, melanoderma, agricultor procurou o ambulatório do Serviço de Cirurgia e Traumatologia Bucomaxilofacial do Hospital Regional Felipe Tiago Gomes de Picuí-PB, com queixa de uma "ponta de madeira no rosto". Segundo o paciente, aos 12 anos de idade, durante o trabalho na lavoura, sofreu uma queda da própria altura com a penetração do objeto e que não se submeteu a nenhum tipo de tratamento. O paciente relatou vários episódios de processo infeccioso, com presença de edema acentuado e de secreção de exsudato purulento.

Ao exame físico extraoral observou-se uma invaginação na região geniana direita com dreanagem ativa de exsudato. À palpação, evidenciou-se endurecimento e dor na referida região. Ao exame intraoral, verificou-se aspecto normal da mucosa oral, sem alterações de cor e volume e ausência de fístulas.

Foram solicitados exames de imagem para avaliação. A radiografia panorâmica da área evidenciou a presença de imagem radiopaca no limite entre o seio maxilar direito e o óstio medial do seio paranasal (Fig. 1A). Adicionalmente, a tomografia computadorizada em cortes axial e coronal da região apontou uma imagem hiperdensa, compatível com corpo estranho no seio maxilar direito, conchas nasais, células etmoidais e seio frontal, com rompimento das paredes anterior, lateral e medial do seio maxilar e espessamento da parede lateral deste (Fig. 1B e 1C).

 

 

 

Com base no exame físico e de imagem, foi planejada a remoção do corpo estranho através de técnica de Caldwell-Luc, sob anestesia geral.

Inicialmente, foi realizada uma incisão em fundo de vestíbulo maxilar direito de canino até segundo molar, seguido do descolamento mucoperiosteal, expondo parede anterior do seio maxilar. Posteriormente, foi efetuada a osteotomia de formato elíptico na parede anterior do seio maxilar, por meio do qual o corpo estranho foi localizado e removido o com auxílio de pinça hemóstática curva, sendo este de um fragmento de madeira de dimensões 35x10 mm(Fig. 2B). Também foi evidenciado que parte da mucosa sinusal apresentava necrose, sendo realizada a sinusectomia, e, após limpeza da cavidade e abundante irrigação, realizou-se a sutura em pontos simples (Fig. 2C).

Atualmente o paciente encontra-se em proservação, sem nenhuma queixa relacionada ao tratamento ou episódios de reincidência do processo infeccioso.

 

 

 

DISCUSSÃO

A presença de corpos estranhos no seio maxilar é tão incomum quanto a forma por meio de ocorre esse processo, o qual, na grande parte dos casos relados na literatura, provém de uma injúria penetrante ou trauma (FREITAS et al., 2003; SVERZUT et al., 2005; OLIVEIRA et al., 2010). No presente relato, um episódio de trauma foi identificado e em uma ocorrência rara na literatura, uma vez que o indivíduo permaneceu cerca de 34 anos com o corpo estranho no seio maxilar, sem que fosse sugerido diagnóstico ou proposta de tratamento, tendo sido apenas realizado procedimentos paliativos e sintomatológicos.

Neste relato, a presença do corpo estranho em seio maxilar apresentava períodos de remissão e reincidência, provocando dor e drenagem de exsudato purulento, comprometendo a qualidade de vida do paciente. Apesar da ocorrência dessas complicações, segundo Oliveira et al. esses eventos são pontuais quando se trata da presença de corpos estranhos nos seios paranasais, sendo possível a migração desses corpos para os seios etmoidais ou esfenoidais.

A solicitação de exames de imagem, nesse caso é fundamental para o diagnóstico e planejamento do tratamento, sendo a radiografia panorâmica a mais utilizada, embora ela possa causar um alargamento mensurado em torno de 25%(FREITAS et al., 2003; SVERZUTet al., 2005; GASSEN et al., 2007; MORAIS et al., 2007; OLIVEIRA et al., 2010). Nessa perspectiva, a localização de um corpo estranho em um plano radiográfico bidimensional é difícil, requerendo imagens tridimensionais que são propiciadas pela tomografia computadorizada (GASSEN et al., 2007; OLIVEIRA et al., 2010). No presente caso os exames de imagem, além de confirmaram a hipótese auxiliam na escolha da técnica cirúrgica.

O tratamento de alterações no seio maxilar, em especial a remoção de corpos estranhos, é frequentemente relatado na literatura através da técnica de Caldwell-Luc, embora existam relatos de alterações no seio maxilar após esse tipo de cirurgia, como proliferações fibro-ósseas, contração antral (FREITAS et al., 2003; SVERZUT et al., 2005; MORAIS et al., 2007). Nesse relato, a técnica de Caldwell-Luc permitiu fácil acesso e visualização do corpo estranho e da mucosa alterada que foi facilmente retirada. Atualmente, o paciente encontra-se em acompanhamento, sem nenhuma queixa ou episódios de reincidência do processo inflamatório, bem como nenhuma alteração em seio maxilar.

 

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Com a possibilidade da ocorrência de acidentes durante os procedimentos cirúrgicos e de se deparar com a penetração de corpos estranhos no seio maxilar na nossa rotina, é de grande relevância por parte dos Cirurgiões Buco-Maxilo-Faciais o completo domínio anatômico da região e o treinamento específico para intervir, quando necessário.

 

REFERÊNCIAS

1. Freitas TMC, Farias JG, Mendonça RG, Alves MF, Ramos Jr. RP, Câncio AV. Fístulas oroantrais: diagnóstico e propostas de tratamento. Rev Bras Otorrinolaringol. 2003;69(6):838-44.         [ Links ]

2. Sverzut CE. Accidental displacement of impacted maxillary third molar: a case report. Braz Dent J. 2005;16(2):185-8.

3. Oliveira RS, Costa RO, Carvalho Neto LG, Araújo FF. Aplicação da técnica cirúrgica de Caldwell-Luc para remoção de corpo estranho do seio maxilar: relato de caso. J Health Sci Inst. 2010;28(4):318-20

4. Gessen HT, Biancon Filho LA, Ciprandi MTO, Silva Júnior NA, Hernandez PAG. Deslocamento de corpo estranho para o seio maxilar: fatores etiológicos e remoção pela técnica de caldwell-luc. Robrac, 2007;16(42):15-22.

5. Morais HHA, Rocha NS, Gondim DGA, Melo AR. Corpo estranho no seio maxilar: relato de caso atípico. Rev Cir Traumatol Buco-Maxilo-fac, 2007;7(1):65-70.

 

 

Endereço para correspondência:
Gustavo Pina Godoy
Universidade Estadual da Paraíba – Campina Grande, Paraíba/Brasil
Rua Juvêncio Arruda, s/n – Bodocongó
Departamento de Odontologia
CEP: 58.429-600

e-mail:
odonto2006.1jadson@gmail.com