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Revista de Cirurgia e Traumatologia Buco-maxilo-facial

versão On-line ISSN 1808-5210

Rev. cir. traumatol. buco-maxilo-fac. vol.14 no.2 Camaragibe Abr./Jun. 2014

 

 

Adenoma Pleomórfico de Parótida – Relato de Caso

 

Pleomorphic Adenoma of Parotid - Case Report

 

 

Damião Edgleys PortoI; Josuel Raimundo CavalcanteII; Josuel Raimundo Cavalcante JúniorIII; Mario Cesar Furtado da CostaIV; Sérgio Munhoz PereiraV

I Especialista em CTBMF pela Universidade Estadual da Paraíba. Cirurgião Buco-maxilo-facial do Hospital Regional Felipe Tiago Gomes de Picuí-PB.
II Doutor em CTBMF pela FOP/UPE/ Coordenador do Curso de Especialização em CTBMF da Universidade Estadual da Paraíba.
III Especialista em CTBMF pela Universidade Estadual da Paraíba.
IV Aluno do Curso de Especialização em CTBMF da Universidade Estadual da Paraíba.
V Anestesiologista do Hospital Regional Felipe Tiago Gomes de Picuí-PB.

Endereço para correspondência

 

 


RESUMO

O adenoma pleomórfico de glândula parótida, é uma lesão relativamente comum, tendo prevalência de aproximadamente 70% dos casos confirmados. A parótida é a glândula salivar mais afetada. A variedade de estruturas histológicas encontradas relacionadas a determinados comportamentos clínicos, ainda não pode ser comprovada. Esse trabalho tem como objetivo relatar um caso de adenoma pleomórfico encontrado em paciente do gênero feminino, leucoderma, na quinta década de vida, que tem seu desenvolvimento há aproximadamente dois anos. Foi realizada enucleação da lesão com sua cápsula íntegra. A proservação é de dois sem indícios clínicos de recidiva.

Descritores: Adenoma Pleomórfico; Neoplasia de Glândula Salivar; Enucleação.


ABSTRACT

Pleomorphic adenoma of parotid gland, is a relatively common injury, with prevalence of approximately 70% of confirmed cases. Parotid gland is salivary gland most affected by pathology. Variety of histological structures found related to specific clinical behaviors cannot be proven yet. The aim of this paper is to present a pleomorphic adenoma, found in a female patient, leucoderma, in the fith decade of life, having its development there about two years. We performed enucleation of the lesion with its intact capsule. Proservation is two years without clinical evidence of recurrence.

Descriptors: Pleomorphic adenoma, Salivary gland neoplasms, Enucleation.


 

 

INTRODUÇÃO

O adenoma pleomórfico, ou tumor misto benigno, é o neoplasma salivar mais comum. Acomete tanto glândulas salivares menores quanto maiores. Dentre todas as glândulas salivares, a parótida é a mais acometida.1,2,3 De todos tumores diagnosticados como adenoma pleomórfico, 70% a 80% estão localizados nas parótidas onde comumente forma uma massa nodular submucosa móvel, de consistência firme, crescimento lento e expansivo, cedendo pouco à palpação com compressão. A duração das lesões varia entre um a três anos e elas se apresentam assintomático na maioria das vezes, 10% nas submandibulares, alguns poucos nas glândulas sublinguais e 20% nas glândulas acessórias menores.4,5,6

A etiologia ainda é controversa, acredita-se que o adenoma pleomórfico desenvolva- se a partir de uma mistura de elementos ductais e células mioepiteliais. Podem desenvolver-se em qualquer idade, com maior incidência em indivíduos distribuídos entre a terceira e a sexta décadas de vida, com uma maior predominância no gênero feminino.6,7

O termo "pleomórfico" relaciona-se a variedade de aspectos histológicos encontrados. Essa variedade de componentes conjuntivos deve-se as propriedades multi potenciais das células mioepiteliais. É um tumor encapsulado, bem circunscrito, a cápsula pode ser incompleta ou mostrar infiltração pelas células tumorais. Pode apresentar células epiteliais, mioepiteliais, ductais e estroma, podendo conter áreas com células escamosas ceratinizantes, áreas mixóides, fibrosas, cartilaginosas e ósseas entremeadas em fundo semelhante ao mesênquima. Sua transformação maligna, resultando em um carcinoma ex-adenoma pleomórfico é citada, podendo ocorrer em cerca de 3 a 4 % dos casos. 4,8,9

O tratamento de eleição é a excisão cirúrgica, com pequena margem de segurança, incluindo a mucosa de revestimento com o objetivo de se evitar recidivas. Para lesões no lobo superficial da glândula parótida, recomenda-se a parotidectomia superficial. As recidivas são mais frequentes nas glândulas salivares menores e na variedade mucóide, rica em estroma, e a transformação maligna é mais observada em tumores marcadamente celulares. Com a técnica cirúrgica adequada, o prognóstico é excelente com taxa de 95% de cura. 5,10

Neste trabalho, relata-se um caso clínico de adenoma pleomórfico com dois anos de evolução, e proservação de 2 anos.

 

RELATO DE CASO

Paciente leucoderma, gênero feminino, 57 anos, procurou o ambulatório do Serviço de Cirurgia e Traumatologia Buco-Maxilo-Facial do Hospital Regional Felipe Tiago Gomes de Picuí-PB, relatando que "percebeu um inchaço em baixo da orelha". Ao exame clínico observou-se um aumento de volume na região de glândula parótida esquerda, indolor, com crescimento lento de aproximadamente dois anos de evolução.

Foram solicitados exames imagenológicos através de ultrassonografia cervical com doppler colorido de glândula parótida e tomografia que mostrou imagem compatível com massa sólida, com degenerações císticas, septações e reforço acústico, medindo 1,1 x 3,0 x 1,3 mm, localizada em istmo superficial de glândula parótida esquerda, sem vascularização periférica e central sugestiva de adenoma pleomórfico. A punção aspirativa com agulha fina foi negativa.

Não apresentava linfonodos cervicais alterados

 

 

 

O procedimento cirúrgico foi realizado sob anestesia geral, com incisão na região pré-auricular esquerda. Após infiltração subcutânea de lidocaína a 2% com adrenalina, incisaram-se a pele e o tecido conjuntivo subcutâneo e se dissecou em profundidade em direção à fáscia superficial temporal. Concomitantemente, foram retraídos anteriormente, com o retalho obtido, os vasos temporais superficiais. A partir de então a divulsão continua obliquamente até atingir a face externa da glândula parótida. A enucleação removeu a cápsula do adenoma intacta e o polo inferior da parótida esquerda (parotidectomia parcial). Após a colocação de dreno a vácuo foi realizada sutura por planos, com poligalactina 910 (Vicryl) 4.0 e náilon 5.0, seguida da colocação de curativo compressivo. (Foto 2)

 

 

 

DISCUSSÃO

A maioria das lesões diagnosticadas como tumor benigno é encontrada em pacientes entre a 3ª e 6ª década de vida, com maior frequência no gênero feminino1,2,3,4,7. No caso clínico apresentado a paciente encontrava-se na quinta década de vida e pertencia ao gênero feminino.

O adenoma pleomórfico apresenta- se como uma lesão de crescimento lento e indolor, pode haver um intervalo prolongado entre o surgimento dos primeiros sinais e sintomas até o diagnóstico definitivo e seu tratamento. A literatura demonstra que a lesão permanece, em média, por um período de 12 meses sem diagnóstico 2,8,10.

A técnica cirúrgica utilizada é o fator determinante para a recidiva ou não da lesão. A taxa de recorrência do tumor varia de acordo com técnica empregada5,7. O prognóstico é considerado excelente quando a cirurgia é feita de maneira adequada, com um índice de cura de aproximadamente 95% e o risco de transformação em lesão maligna é cerca de 5% dos casos 4,5,9.

O tratamento mais utilizado para o adenoma pleomórfico consiste na excisão cirúrgica com margem de segurança, uma vez que a recidiva pode ocorrer devido à permanência de resíduos da cápsula ou mesmo da própria lesão 4,6,8. No presente caso, foi realizada a remoção cirúrgica convencional sob anestesia geral, e a enucleação removeu a cápsula do adenoma intacta e o polo inferior da parótida esquerda, foi realizada a parotidectomia parcial, preservando-se o nervo facial.

Índices de recorrência, variando de 0 a 14% foram evidenciados em pacientes submetidos a à palpação, bem como casos de neoplasias na família e o restante dos exames pré-operatórios do paciente estavam dentro da normalidade. (Foto 1). uma dissecção extra capsular cirúrgica. A principal causa da recorrência do adenoma pleomórfico consiste na incompleta ressecção cirúrgica da cápsula envolvente, por razões de exposição parcial ou de rompimento desta durante o transoperatório6,2. A paciente em questão está em proservação há aproximadamente 2 anos sem evidencias de recidivas.

 

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Foi relatado um caso clínico cirúrgico de adenoma pleomórfico na glândula parótida. O diagnóstico precoce dessa lesão resulta, na maioria dos casos, em tratamentos mais conservadores e melhor prognóstico para o paciente. Mesmo realizando-se um procedimento menos radical, como a parotidectomia parcial, não houve qualquer sinal de recidiva em 2 anos de proservação, evidenciando-se que o sucesso do tratamento depende da escolha adequada da técnica cirúrgica e do cuidado para exérese total do referido tumor.

 

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