SciELO - Scientific Electronic Library Online

 
vol.15 número3 índice de autoresíndice de assuntospesquisa de artigos
Home Pagelista alfabética de periódicos  

Revista de Cirurgia e Traumatologia Buco-maxilo-facial

versão On-line ISSN 1808-5210

Rev. cir. traumatol. buco-maxilo-fac. vol.15 no.3 Camaragibe Jul./Set. 2015

 

Artigo Caso Clínico

 

Adenoma pleomórfico em lábio inferior: relato de caso

 

Pleomorphic adenoma in lower lip: Case Report

 

 

Leonardo de Freitas SilvaI; Vinícius Gabriel Barros FlorentinoII; Germano de Lelis Bezerra JúniorIII; José Lincoln Carvalho ParenteIV

 

I Mestrando em CTBMF da Universidade Estadual Paulista Foa-Unesp, Araçatuba- SP
II Residente de CTBMF do Instituto Dr. José Frota, Fortaleza-CE
III Mestrando em CTBMF da Faculdade de Odontologia de Pernambuco FOP-UPE, Recife-PE
IV TAFF do serviço de CTBMF do Hospital Batista Memorial, Fortaleza-CE

Endereço para correspondência

 

 


 

RESUMO
O adenoma pleomórfico é o tumor benigno mais comum de glândulas salivares, acometendo, com mais frequência, as glândulas salivares maiores, especialmente a glândula parótida. Geralmente se apresenta como nódulo firme, indolor e de crescimento lento. Suas localizações mais comuns, em glândulas salivares menores, são o palato mole, duro e lábio superior, podendo ser encontrado em outras regiões com menos frequência. Essa lesão tem ligeira preferência pelo gênero feminino e seu tratamento consiste na excisão cirúrgica. O prognóstico é bom para as lesões benignas enucleadas. O objetivo deste trabalho é relatar o caso de um paciente portador de adenoma pleomórfico em lábio inferior. O paciente foi tratado sem intercorrências por meio da excisão cirúrgica da lesão e encontra-se em acompanhamento pós-operatório de um ano sem sinais de recidiva e sem queixas funcionais ou estéticas. No entanto, um acompanhamento mais prolongado se faz necessário para indicar cura do paciente.

Palavras-chave: Glândulas Salivares; Adenoma Pleomorfo; Tumor.


 

ABSTRACT
Pleomorphic adenoma is a benign tumor most common of salivary glands, it usually occurs in major salivary glands, especially the parotid gland. Normally, it is seen as a firm nodule, painless with slow growth. Its locations most common, in minor salivary glands, are the soft and hard palate and upper lip, it can be found in other regions less frequently. This lesion has slight preference for females and its treatment consists on surgical excision. The prognosis is good to the removed benign lesions. The aim of this work is to report the case of a patient with the diagnosis of pleomorphic adenoma in lower lip. The case was treated without complications, and a year follow-up patient showed no recurrence, but longer follow is necessary to indicate patient's cure.

Keywords: Salivary Glands; Adenoma, Pleomorphic; Tumor


 

INTRODUÇÃO

Adenoma pleomórfico é o tumor mais comum de glândula salivar maior, especialmente a glândula parótida1. Em torno de 22% a 40% desse tipo de tumor acomete as glândulas salivares menores2. Com relação à cavidade oral, os locais mais comuns de acometimento nas glândulas salivares menores são o palato e o lábio superior, sendo rara sua localização no lábio inferior3. É mais diagnosticado entre a quarta e a sexta década de vida e geralmente se apresenta como um aumento de volume indolor, endurecido e móvel à palpação, não sendo comum a ulceração da área envolvida4. O prognóstico é bom para as lesões benignas enucleadas5. O objetivo deste trabalho é relatar o caso de um paciente portador de adenoma pleomórfico em lábio inferior, tratado através da excisão cirúrgica da lesão, sob anestesia local.

 

RELATO DE CASO

Paciente J.P.A., 65 anos, leucoderma, procurou o serviço de cirurgia buco-maxilo-facial em Fortaleza-CE, apresentando um aumento de volume endurecido e indolor em região de lábio inferior, lado esquerdo e referia ter notado a alteração há cerca de um ano. Ao exame físico, não foram observadas alterações de cor na mucosa oral ou tecido cutâneo do lábio, e o aumento de volume se encontrava móvel (Figura 1).

 

 

 

O paciente foi submetido a uma biópsia por punção com agulha fi na recebendo o diagnóstico de adenoma pleomórfico. Desse modo, foi realizada a exérese do tecido lesional por meio de uma incisão horizontal na região da mucosa do lábio inferior (Figura 2).

 

 

 

A peça com aproximadamente 2 cm em seu maior diâmetro foi encaminhada para análise histopatológica em que se pôde-se observar fragmentos de neoplasia glandular de origem epitelial, revestida parcialmente por uma cápsula fibrosa e caracterizada pela proliferação de células dispostas ora em cordões, ora em ninhos que se anastomosam, formando lençóis. Foram observadas também estruturas ductiformes, confi rmando o diagnóstico de adenoma pleomórfi co. No momento, o paciente se encontra em acompanhamento de um ano, sem sinais de recidivas ou queixas funcionais e estéticas. (Figura 3).

 

 

 

DISCUSSÃO

A etiologia do adenoma pleomórfico é ainda incerta, entretanto, a lesão tem sido descrita como de origem epitelial com anormalidades cromossômicas envolvendo 8q12 e 12q156. O adenoma pleomórfico do lábio superior excede o inferior na proporção de 6:1, sendo este fato explicado por diferenças no desenvolvimento embrionário entre o lábio superior e inferior3. Acredita-se que o potencial de células tumorais é diminuído pela presença contínua de células inflamatórias no lábio inferior induzida por traumatismos episódicos3.

Segundo o trabalho de Wang et al.4, 2007, com 737 pacientes, os tumores benignos de glândulas salivares menores representam 46.1% e os malignos 53,9%4. O adenoma pleomórfico compreende 40% dos tumores de glândulas salivares menores2. No estudo realizado por Kuo YL et al. 5, 2011, com 42 pacientes diagnosticados com adenoma pleomórfico de glândula salivar menor observouse que as regiões mais acometidas foram o palato mole seguida pelo palato duro e lábio superior, não sendo observado em região de lábio inferior, e o gênero feminino foi o mais acometido5. No caso apresentado, o paciente é do gênero masculino, e a lesão apresentava-se na região de lábio inferior, diferindo do encontrado na literatura.

No trabalho de Wang et al.4, 2007, a média de idade do diagnóstico de adenoma pleomórfico foi de 43,6 anos, com idades variando entre a primeira e a sétima décadas de vida4. Segundo Toet al.3, 2002, o adenoma pleomórfico nos lábios tende a ocorrer em pessoas mais jovens que o encontrado em outras regiões3. No presente trabalho o paciente apresentava 65 anos, estando na faixa etária encontrada na literatura.

O adenoma pleomórfico geralmente se apresenta como um aumento de volume firme, indolor, de crescimento lento, que não causa ulceração da mucosa sobrejacente4. As características clínicas de malignidade sugerem aumento repentino de tamanho, dor, envolvimento da pele e das camadas profundas e adenopatias1. No caso relatado, o paciente apresentava as características de uma lesão benigna, sendo notada a lesão há aproximadamente um ano.

Os adenomas pleomórficos são geralmente bem demarcados, mas podem se estender dentro da cápsula, e, algumas vezes, lóbulos do tumor podem se apresentar completamente separados7. Além disso, segundo a organização mundial de saúde, 2005, os tumores malignos compreendem 50% dos tumores de glândulas salivares menores8. Desse modo, foi optada a realização da excisão cirúrgica com margem livre, objetivando assegurar a completa remoção da lesão.

Na avaliação histológica, os adenomas pleomórficos são lesões complexas, que consistem de componentes epiteliais e mioepiteliais, com padrões de organização variados e embebidos em um estroma de mucopolissacarídeos1. Os achados da análise histopatológica do caso relatado corroboram a literatura.

 

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O tratamento de adenoma pleomórfico por meio da excisão cirúrgica com margens livres se mostrou efetivo. No entanto, os tumores de gândulas salivares menores apresentam uma tendência ao desenvolvimento de lesões malignas e à recorrência local. Dessa forma, um acompanhamento de maior prazo se faz necessário para indicar a cura do paciente.

 

REFERÊNCIAS

1. Arpit S, Shraddha D, Ahmed S, Jyoti D. Pleomorphic adenoma of the minor salivary gland of the cheek. Singapore Med J 2013; 54(9): e183-e184.         [ Links ]

2. Torske K. Benign neoplasm of the salivary glands. In: Thompson LDR (ed) Head and neck pathology. 1st ed. Philadelphia: Elsevier; 2006.

3. To EWH, Tsang WM, Tse GMK. Pleomorphic adenoma of the lower lip: Report of a case. Journal of Oral and Maxillofacial Surgery, 2002; 60 (6): 684-686.

4. Wang D, Li Y, He H, Liu L, Wu L, He Z.Intraoral minor salivary gland tumors in a Chinese population: a retrospective study on 737 cases. Oral Surgery, Oral Medicine, Oral Pathology, Oral Radiology and Endodontology, 2007;104 (1): 94-100.

5. Kuo YL, Tu TY, Chang CF, Li WY, Chang SY, Shiao AS, et. al. Extra-major salivary gland pleomorphic adenoma of the head and neck: a 10-year experience and review of the literature European Archives of Oto- Rhino-Laryngology, 2011; 268(7): 1035-1040.

6. Farina A, Pelucchi S, Grandi E, Carinci F. Histological subtypes of pleomorphic adenoma and age-frequency distribution. Br J Oral MaxillofacSurg 1999; 37:154-5.

7. Speight PM. Update on diagnostic difficulties in lesions of the minor salivary glands. Head and Neck Pathol.2007 Jan; 1:55-60.

8. Barnes L, Eveson JW, Reichart P, et al, eds. World Health Organization Classification of Tumours: Pathology and Genetics of Head and Neck Tumours. Lyon, France: IARC Press, 2005:254Y258.

 

Endereço para correspondência:
Leonardo de Freitas Silva
Av. Leovigildo Filgueiras, n 324, 301
Garcia Salvador - BA
e-mail: leonardofreitas86@gmail.com

 

Recebido: 21/01/2015
Aceito: 07/04/2015