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Revista de Cirurgia e Traumatologia Buco-maxilo-facial

versão On-line ISSN 1808-5210

Rev. cir. traumatol. buco-maxilo-fac. vol.16 no.2 Camaragibe Abr./Jun. 2016

 

Artigo Caso Clínico

 

Cisto ósseo simples: relato de caso

Simple bone cyst: a case report

 

Eduardo de Lima AndradeI; Lucas Souza CerqueiraII; Deyvid Silva RebouçasIII; Thaíse Gomes FerreiraIV; Antônio Márcio Teixeira MarchionniV

 

I Residente de Cirurgia e Traumatologia Buco-Maxilo-Facial da Escola Bahiana de Medicina e Saúde Pública/Hospital Geral Roberto Santos
II Residente de Cirurgia e Traumatologia Buco-Maxilo-Facial da Escola Bahiana de Medicina e Saúde Pública/Hospital Geral Roberto Santos
III Residente de Cirurgia e Traumatologia Buco-Maxilo-Facial da Escola Bahiana de Medicina e Saúde Pública/Hospital Geral Roberto Santos

IV Residente de Cirurgia e Traumatologia Buco-Maxilo-Facial da Escola Bahiana de Medicina e Saúde Pública/Hospital Geral Roberto Santos
V Preceptor do Serviço de Cirurgia e Traumatologia Buco-Maxilo-Facial da Escola Bahiana de Medicina e Saúde Pública/ Hospital Geral Roberto Santos

Endereço para correspondência

 

 


 

RESUMO

Cistos ósseos simples são lesões benignas, raras, que acometem o tecido ósseo. Podem ser considerados como pseudocistos devido à falta de revestimento epitelial e geralmente estão associados a traumas anteriores, que provocam a formação de hematoma intraosseo. A lesão acomete, principalmente, indivíduos jovens, o diagnóstico definitivo de cisto ósseo simples é normalmente alcançado durante o procedimento de biópsia, que também é o tratamento proposto. O diagnóstico histológico é difícil de ser obtido devido à quantidade de material insuficiente, ou mesmo, inexistente. O objetivo deste trabalho é relatar um caso de cisto ósseo simples em paciente jovem que compareceu ao ambulatório de Cirurgia Buco-Maxilo-Facial do Hospital Geral Roberto Santos em que o diagnóstico foi sugerido durante o procedimento da cirurgia exploratória. Muitos cistos ósseos apresentam características clínicas e radiográficas semelhantes, que podem indicar lesões com potencial agressivo. Por isso, torna-se necessária a intervenção cirúrgica para se estabelecer o diagnóstico.

Palavras-chave: Cisto ósseo; Mandíbula; Cirurgia Bucal.


 

ABSTRACT

Simple bone cysts are benign, rare lesions that affect bone tissue. Pseudocyst can be considered as due to lack of epithelial lining and usually associated with previous injuries which trigger the intra hematoma formation of bone. The injury affects mainly individuals Young, the definitive diagnosis of simple bone cyst is usually achieved during the biopsy procedure which is also the proposed treatment. The histological diagnosis is difficult to be obtained due to insufficient amount of or even no material. The objective of this study is to report a simple bone cyst case in a young patient who attended the outpatient clinic of Oral and Maxillofacial Surgery of the General Hospital Roberto Santos, where the diagnosis was suggested during the procedure of exploratory surgery. Many bone cysts present similar clinical characteristics and radiographic, which may indicate lesions with malignant potential so it is necessary surgery to establish the diagnosis.

Key words: Bone Cyst; Mandible; Oral Surgery.


 

INTRODUÇÃO

O cisto ósseo simples (COS) é classificado como pseudocisto intraósseo, pois se trata de uma cavidade patológica sem revestimento epitelial1,2. Pode ser também denominado de cisto ósseo solitário, cisto unicameral, hemorrágico, idiopático e, ainda, cavidade óssea traumática 2,3.

Apresenta etiologia desconhecida4, e a teoria do desenvolvimento de um foco hemorrágico intramedular pós-trauma que desenvolve um hematoma, é a mais aceita. Segundo essa teoria, o hematoma, que não sofre organização e reparo, pode liquefazer-se e resultar em um defeito cístico3. A localização mais comum ocorre na região de metáfise dos ossos longos e, raramente nos ossos maxilares2. Corresponde a 1,25% dos cistos encontrados nos maxilares1.

Clinicamente, a lesão apresentase assintomática e geralmente descobrese mediante exames radiológicos de rotina5. Radiograficamente, manifesta-se como uma área radiotransparente, unilocular, bem definida, com margens festonadas3. Devido à falta de peculiaridades clínicas e radiográficas, torna-se importante considerar o diagnóstico diferencial de lesões ósseas dos maxilares sobretudo as que apresentam imagens radiotransparentes2.

A exploração cirúrgica para o auxílio no diagnóstico é a terapia suficiente para o tratamento6. É prudente se realizar a curetagem da cavidade para que se obtenha material necessário para o diagnóstico histológico. A neoformação óssea é possível ser visualizada dentro de poucos meses pós-operatório. As recorrências bem como a persistência da lesão após o tratamento são incomuns, por isso, o acompanhamento radiográfico periódico é necessário até total remissão da lesão6.

O presente artigo tem por objetivo relatar um caso de cisto ósseo simples em paciente jovem que compareceu ao ambulatório de Cirurgia e Traumatologia Buco-Maxilo-Facial do Hospital Geral Roberto Santos-Salvador-Ba em que o diagnóstico foi apontado no transoperatório.

 

RELATO DE CASO

Paciente 15 anos, gênero masculino foi encaminhado ao ambulatório de Cirurgia e Traumatologia Buco-Maxilo-Facial do Hospital Geral Roberto Santos devido a alterações intraósseas, identificadas em exame radiográfico de rotina. Ao exame físico, não foi observado abaulamento das corticais mandibulares, alteração da coloração normal da pele ou mucosa, deslocamento, mobilidade ou perda de vitalidade das unidades dentárias adjacentes à área patológica. O paciente referiu há 08 anos história de trauma na região de mento mandibular, após acidente ciclístico.

Ao exame radiográfico (Figura 1), foi observado área radiolúcida unilocular com halo esclerótico, sem sinais de reabsorção radicular, localizada na mandíbula em região de sínfise mandibular, medindo cerca de 2,0 cm. Após a avaliação da tomografia computadorizada da face (Figura 1), foi identificado discreto abaulamento da cortical óssea mandibular vestibular e lingual.

 

 

 

A hipótese diagnóstica era de Tumor Odontogênico Ceratocístico, tendo se considerado como tratamento enucleação e curetagem. A cirurgia foi realizada sob anestesia local e o acesso foi o vestibular mandibular anterior. A punção-aspirativa da cavidade revelou conteúdo sanguinolento. Após osteotomia, não foi notada a presença de cápsula cística ou qualquer tipo de tecido mole no interior da cavidade óssea, e realizou-se curetagem das paredes da cavidade cística. O diagnóstico de cisto ósseo simples foi cogitado de acordo com as características clínicas, radiográficas, achados cirúrgicos e confirmado posteriormente, com exame histopatológico.

Na análise da radiografia panorâmica de controle pós-operatório de um ano (Figura 2), foi notado que houve neoformação óssea na região anterior da mandíbula, com contornos ósseos preservados, sem sinais sugestivos de reabsorção de ápices dentários, bem como suspeita de recidiva ou persistência da lesão.

 

 

 

DISCUSSÃO

Diversas lesões intraósseas radiolúcidas podem acometer os maxilares, sendo a maioria delas assintomáticas, como no caso do cisto ósseo simples1. Com características conflitantes, apresentam-se radiograficamente como imagem radiolúcida, radiopaca ou mista7,8. Nesse caso relatado, a lesão cística observada era radiolúcida. A maioria dos cistos ósseos simples possui características, unilocular1, o que também foi evidenciado no presente trabalho e em outro caso semelhante apresentado por Paiva et al. (2011).

A etiologia dos cistos ósseos simples é controversa, e muitas teorias têm tentado explicar sua origem7,10. A teoria mais aceita atualmente, conhecida como traumático-hemorrágica, propõe que a falta de resolução ou lise do coágulo sanguíneo intramedular após um episódio de trauma é a responsável pela formação da lesão2,9. O caso supracitado corroborou a teoria aceita na literatura, pois o paciente referiu história prévia de trauma em região de mento mandibular.

Cistos ósseos simples são comumente encontrados em ossos longos e coluna vertebral, apenas 1,9% relatada na face7. A maioria dos casos foi observada na mandíbula10 e com maior incidência em regiões posteriores (corpo e ramo)2. Contrário à literatura, no caso relatado, a lesão cística encontrava-se em região de sínfise mandibular. Essas lesões são geralmente diagnosticadas em pacientes jovens, com idade inferior a 20 anos3,5,10. Em relação ao gênero, a maior incidência é reportada à ocorrência em homens11. Dados também foram observados no presente caso.

O diagnóstico do COS pode ser sugerido somente após a obtenção de acesso cirúrgico à cavidade óssea3. O diagnóstico diferencial das lesões radiolúcidas dos maxilares, inclui o tumor odontogênico ceratocístico, malformações vasculares intraósseas e lesão central de células gigantes2. No presente trabalho, o tumor odontogênico ceratocístico foi a suspeita diagnóstica inicial, porém, no transcirúrgico, observou-se cavidade óssea, sem revestimento epitelial, o que corroborou para COS assim como se observou no caso proposto por Paiva et al (2011).

Histologicamente, o COS possui, apenas, a presença de uma membrana de tecido conjuntivo, que recobre as paredes da cavidade patológica, caracterizando, portanto, a lesão como um pseudocisto2. Esse achado histopatológico foi característico no presente trabalho, o qual evidenciou, na lâmina histológica, pequenos vasos e pseudocapsula (Figura 3).

 

 

 

Apesar de alguns cistos ósseos simples apresentarem remissão espontânea3, a exploração cirúrgia é o tratamento de escolha, para confirmar o diagnóstico. Curetagem das paredes ósseas e necessária e confere reparo ósseo, com recorrências incomuns para essa lesão2,5.

 

CONCLUSÃO

Casos de osteopetrose afetados por osteo O COS pode ser confundido com outras lesões com mesmo aspecto imaginológico. Por isso, a exploração cirúrgica é indicada para auxílio no diagnóstico e demonstra ser efetiva no tratamento.

 

REFERÊNCIAS

1. Oliveira JFCD, Barbosa DBM, Pereira LC, Gabrielli MAC, Sarmento VA. Mandibular simple bone cysts: a rare case of bilateral occurrence. Braz J Otorhinolaryngol. 2012;78(2):134        [ Links ]

2. Martins-Filho PRS, Santos TS, Araújo VLC, Andrade ESS, Silva LCF. Traumatic bone cyst of the mandible: a review of 26 cases. 2012;78(2):16-21

3. Jesus VAD, Santos TS, Fernandes AV, Santos JS. Cisto Ósseo Traumático - Relato de Caso. Rev. Cir. Traumatol. Buco-Maxilo- Fac. Camaragibe. 2010 out- dez;10(4):27- 30.

4. Arrvold A, Smith JO, Tayton ER, Edwards CJ, Fowler DJ, Gent ED, Oreffo ROC. The role of osteoblast cells in the pathogenesis of unicameral bone cysts. J Child Orthop. 2012;6:339–46.

5. Kumar ND, Sherubin JE, Raman U, Shettar S. Solitary bone cyst. Indian J Dent Res. 2011;22:172-4.

6. Tong, A. C, NG, I. O, YAN B. S. Variations in clinical presentations of the simple bone cyst: report of cases. J. Oral Maxillofac. Surg. 2003;61(12):1487-1491.

7. Bharadwaj G, Singh N, Gupta A,Sajjan AK. Giant aneurysmal bone cyst of the mandible: A case report and review of literature. Natl J Maxillofac Surg. 2013 Jan-Jun; 4(1):107–110.

8. Paiva LCA, Menezes FS, Porto GG, Cerqueira PRF. Cisto Ósseo Simples- Relato de caso. Ver. Cir. Traumatol. Buco- Maxilo-Fac, Camaragibe. 2011; 11(2): 15-2.

9. Kumar ND, Sherubin JE, Raman U, Shettar S. Solitary bone cyst. Indian J Dent Res 2011; 22(1):172-4.

10. Mannarino FS, Gorla LFO, Gabrielli MFR, Vieira EH, Gabrielli MAC, Filho VAP. Cisto Ósseo Simples- relato de casos. Ver. Cir. Traumatol. Buco-Maxilo- Fac. Camaragibe. 2014; 14(3): 15-20

11. Xanthinaki AA, Choupis KI, Tosios K, Pagkalos VA, Papanikolaou SI. Traumatic bone cyst of the mandible of possible iatrogenic origin: a case report and brief review of the literature. Head & Face Medicine. 2006; 2:40.

 

Endereço para correspondência:
Eduardo de Lima Andrade
Endereço: Rua João José Rescala, 256A
Cond. Vivendas do imbuí. Bairro Imbuí
CEP: 41720000

e-mail:
Andrade.eduardolima@gmail. com

 

Recebido: 23/07/2015
Aceito: 22/08/2015