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Revista de Cirurgia e Traumatologia Buco-maxilo-facial

versão On-line ISSN 1808-5210

Rev. cir. traumatol. buco-maxilo-fac. vol.16 no.4 Camaragibe Out./Dez. 2016

 

 

Linfangioma Microcístico em Língua: Relato de Caso

 

Microcystic Lymphangioma of the Tongue: Case Report

 

 

Caio de Andrade HAGEI; Jennifer Sanzya Silva de ARAÚJOII; Priscilla Flores SILVAIII; Fábio Luiz Neves GONÇALVESIV; Helder Antonio Rebelo PONTESV

 

I Cirurgião-Dentista Graduado pela Universidade Federal do Pará - Residente em Cirurgia e Traumatologia Buco- Maxilo-Facial do Hospital Universitário João de Barros Barreto (UFPA)
II Cirurgiã-Dentista Graduada pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte - Residente em Cirurgia e Traumatologia Buco-Maxilo-Facial do Hospital Universitário João de Barros Barreto (UFPA)
III Mestre em Patologia Oral; Cirurgiã Buco- Maxilo-Facial Staff da Residência de Cirurgia e Traumatologia Buco-maxilo- Facial do Hospital Universitário João de Barros Barreto (UFPA)
IV Mestre em Patologia Oral; Cirurgião Buco-Maxilo-Facial Staff da Residência de Cirurgia e Traumatologia Buco-maxilofacial do Hospital Universitário João de Barros Barreto (UFPA)
V Doutor em Odontologia (Patologia Bucal); Coordenador da Residência de Cirurgia e Traumatologia Buco-Maxilo- Facial do Hospital Universitário João de Barros Barreto (UFPA)


Endereço para correspondência

 

 


RESUMO

Linfangiomas são malformações hamartomatosas dos vasos linfáticos, raras, benignas, congênitas e de etiologia desconhecida. Tratam-se de proliferações benignas que envolvem o sistema linfático tendo uma predileção pela cabeça, pescoço e cavidade oral. Há um prognóstico bom em relação as lesões em língua na maioria dos casos, exceto quando lesões volumosas podem comprometer as vias aéreas. O objetivo deste estudo é relatar um caso clínico de linfangioma localizado na língua, bem como revisar a literatura pertinente enfocando os aspectos clínicos e possibilidades terapêuticas.

Palavras-chave: Linfangioma; Má-formação congênita; Macroglossia.


ABSTRACT

Lymphangiomas are hamartomatous malformations of the lymphatic vessels, rare, benign, congenital and of unknown etiology. These are benign proliferations involving the lymphatic system having a predilection for the head, neck and oral cavity. There is a good prognosis in relation to injuries to the tongue in most cases, except when bulky lesions may compromise the airway. The objective of this study is to report a case of lymphangioma located on the tongue, as well as review the literature focusing on the clinical and therapeutic possibilities.

Key Words: Lymphangioma; congenital malformation; macroglossia.


 

 

INTRODUÇÃO

Linfangioma é uma malformação rara, benigna, congênita e de etiologia desconhecida, que se origina a partir de vasos linfáticos. Esta entidade foi primeiramente descrita por Virchow em 1854 e têm uma predileção marcada para a região da cabeça e pescoço, respondendo por cerca de 75% de todos os casos, sendo que cerca de 50% destas lesões são observadas no nascimento e cerca de 90 % desenvolvem após os dois anos de idade1,2. Entretanto, o diagnóstico de linfangioma em adultos é uma ocorrência rara2,3.

Quando ocorre na cavidade oral, a língua é o local mais afetado4,5. Clinicamente, o linfangioma da cavidade oral é muito raro e evidencia macroglossia. Geralmente, as lesões se apresentam superfi cialmente com aparência pedregosa ou vesiculosa, chamada de"ovos de rã '' ou "pudim de tapioca". Quando localizado mais profundamente,pode se apresentar como uma massa submucosa e apesar de ser uma lesão benigna, pode tornar-se um caso complicado devido à sua natureza infi ltrativa, às margens indefinidas eao envolvimento de estruturas vitais5,6.

Vários métodos de tratamento do linfangioma têm sido relatados na literatura, entre eles, a abordagem cirúrgica convencional, ablação cirúrgica por radiofrequência, terapia a laser e escleroterapia. De acordo com Fliegelman (1999)7, a excisão completa destas lesões é muitas vezes difícil, caso a lesão seja infi ltrante, tendo dessa forma, uma alta taxa de recorrência. Já o prognóstico é bom para a maioria dos pacientes, embora os tumores grandes do pescoço ou da língua possam resultar em obstrução das vias aéreas e óbito. 8

Neste artigo, pretendemos abordar um caso de linfangioma em língua com tratamento cirúrgico.

 

RELATO DO CASO

Paciente, 14 anos de idade, sexo feminino, cor negra, procurou o serviço de Cirurgia e Traumatologia Buco-Maxilo-Facial do Hospital Universitário João de Barros Barreto (UFPA) para avaliação de lesão em língua, com aproximadamente 02 anos de evolução, indolor a palpação,histórico de sangramento auto-limitante durante a alimentação, causando dislalia e disfagia. No exame físico intra- oral, observou-se lesão de formato irregular, exofítica, de coloração arroxeada, apresentando 30mm no maior diâmetro, envolvendo ápice e bordo lateral direito de língua, extendendo-se ao ventre lingual (Figura 1).

 

 

 

Realizou-se biópsia incisional da lesão e a peça enviada para análise histopatológica que apresentou hipótese diagnóstica de linfangioma tipo cavernoso com aspecto clínico do tipo microcístico (<2cm³).

O plano de tratamento inlcuiu excisão cirúrgica sob anestesia geral e acompanhamento periódico. Realizou-se então o procedimento com demarcação das margens da lesão com aréa de segurança de 3mm para cada lado da lesão devido sua invasividade. Após a demarcação realizou-se infi ltração de anestésico local com vasoconstritor (Cloridrato de levobupivacaína 0,5% com hemitartarato de epinefrina 1:200.000), as bordas laterais foram tracionadas com fi o de seda 2-0 para melhor manipulação da lingua, aexérese foi realizada através de incisão em cunha em V com eletrocautério, os bordos da ferida cirúrgica foram cauterizados (Figura 2).

 

 

 

Realizou-se sutura com fio sintético e reabsorvível de Vycril® (poliglactin 910) 3-0 com pontos simples internos na musculatura e no bordo da ferida cirúrgica (dorso e ventre). A paciente encontra- se atualmente sob acompanhamento de 12meses, sem recidivas, apresentando discreta hipoestesia de ápice lingual, contorno anatômico satisfatório, com melhora na fala e alimentação. (Figura 3)

 

 

 

DISCUSSÃO

De acordo com sua apresentação clínica, os linfangiomas são classificados em macrocísticos (cavidades maiores do que cerca de 2cm3), microcísticas (cavidades menores que cerca de 2cm3) e mista, em que combinam estes dois tipos2. Neste relato, a paciente apresentava lesão com cavidades menores que 2cm3, caracterizando-a como um linfangioma do tipo microcístico, além devisíveis áreas de equimose superficial, provavelmente devido ao constante trauma local.

Os objetivos do tratamento desta macroglossia estão na preservação do paladar, a restauração do tamanho da língua para articulação da fala, correção de deformidades mandibulares, dentárias e cosméticas2. Contudo, ressalta-se que a paciente deste relato não apresentava macroglossia ou outras características que pudessem classificá-la como portadora de quaisquer das síndromes citadas acima.

Histopatologicamente, o linfangioma é classifi cado como capilar, cavernoso ou cístico. A evidente dilatação dos vasos linfáticos é visualizada histopatologicamente, tal como pôde ser exemplifi cado na Figura 1-C. Vasos capilares de pequeno calibre, grandes canais linfáticos dilatados e grandes espaços císticos macroscópicos são, respectivamente, classificados em linfangioma capilar, cavernoso e cístico,sendo que o tipo cavernoso é o mais comum que acomete a cavidade oral 2,9 - o mesmo evidenciado em nosso resultado histopatológico.

O tratamento do linfangioma depende do seu tipo, tamanho, envolvimento de estruturas anatômicas e infiltração para os tecidos circundantes. Lesões microcísticas não respeitam planos de tecido, são difusas e difíceis de erradicar ao passo que lesões macrocísticas são localizadas e facilmente excisadas. As várias modalidades de tratamento são a excisão cirúrgica, radioterapia, crioterapia, a electrocauterização, a escleroterapia, administração de esteróides, laserterapia e técnica de ablação por radiofrequência.2

 

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Embora existam diversas modalidades de tratamento não-cirúrgicas, a excisão cirúrgica continua a ser parte integrante no manejo destas lesões, em muitos casos10.

No caso apresentado, optou-se pela excisão cirúrgica devido ao traumatismo local constante com sangramentos que difi cultavam a função. A margem foi estabelecida de forma a remover toda a lesão clinicamente visível e possível infi ltração circunjacente, contudo a abordagem foi limitada a fim de afetar o mínimo possível as funções estomatognáticas da paciente.

 

REFERÊNCIAS

1. Supriya M Kheur, Samapika R, Yashwant I, Desai RS. Lymphangioma of Tongue: A Rare Entity. Indian Journal of Dental Advancements.2011;3(3):635-37.         [ Links ]

2. Usha V, Sivasankari T, Jeelani S, Asokan GS, Parthiban J. Lymphangioma of the Tongue - a case report and review of literature. Journal of Clinical and Diagnostic Research. 2014 Sep, 8(9): ZD12-ZD14.

3. Sunil S, Devi Gopakumar, Sreenivasan BS. Oral lymphangioma - Case reports and review of literature. Contemporary Clinical Dentistry. 2012;3(1):116-18.

4. Hudson JW, Meszaros EJ. Submucosal lymphangioma of the maxillary sinus. J Oral Maxillofac Surg 2003;61:390-2.

5. Catafalmo L, Lombardo G, Siniscalchi EN, Saverio DPFS, Nava C, Iudicello V. Tonge Lynphangioma in adult. The Journal of Craniofacial Surgery. 23(6), 2012.

6. Bozkaya S, Ugar D, Karaca I, et al. The treatment of lymphangioma in the buccal mucosa by radiofrequency ablation: a case report. Oral Surg Oral Med Oral Pathol Oral Radiol Endod 2006;102:e28-e31.

7. Fliegelman LJ, Friedland D, Brandwein M, et al. Lymphatic malformation: predictive factors for recurrence. Otolaryngol Head Neck Surg 1999;123:706-710.

8. Neville BW, Damm DD, Allen CM, Bouquot, JE. Patologia Oral e Maxilofacial. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2008. pp.456-458. 2ed..

9. Guelmann M, Katz J. Macroglossia combined with lymphangioma case report. J Cli Pediatr Den. 2003;27:167–70.

10. Mosca RC, Pereira GA, Mantesso A. Cystic hygroma: characterization by computerized tomography. Oral Surg Oral Med Oral Pathol Oral Radiol Endod. 2008;105(5):65-9.

 

 

Endereço para correspondência:
Caio de Andrade Hage
Hospital Universitário João de Barros Barreto
Departamento de Patologia Bucal
Rua dos Mundurucus, 4487, Bairro Guamá
Belém-PA
CEP: 66.073-000
e-mail: caio_hage@hotmail.com