ARTIGO ORIGINAL DE PESQUISA ORIGINAL RESEARCH ARTICLE

 

Quantificação da área de desadaptação marginal de sistemas restauradores estéticos usados em inlays indiretas

 

Quantification of marginal leakage area of aesthetic restorations systems used in indirect inlays

 

 

Gleidson Rocha Arouca^I; Paulo Sérgio Souza da Silva^II; Antonio Fernando Monnerat^III; Rogério Luiz de Oliveira Mussel^III

^IFaculdade de Odontologia, Universidade do Estado do Rio de Janeiro – Rio de Janeiro – RJ – Brasil
^IIDepartamento de Procedimentos Clínicos Integrados, Faculdade de Odontologia, Universidade do Estado do Rio de Janeiro – Rio de Janeiro – RJ – Brasil
^IIILaboratório de Quantificação em Dentística, Departamento de Dentística, Faculdade de Odontologia, Universidade do Estado do Rio de Janeiro – Rio de Janeiro – RJ – Brasil

Endereço para correspondência

 

 

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RESUMO

INTRODUÇÃO E OBJETIVO: A desadaptação marginal em restaurações do tipo inlay é um problema crítico para dentistas, em razão das consequências danosas que sua intensidade pode causar ao dente, ao periodonto e à longevidade da restauração. O objetivo deste trabalho foi avaliar, pelo cálculo da área combinado à maior distância entre a borda cervical da restauração e do preparo, o desajuste marginal cervical de dois sistemas de compósito e um de cerâmica prensada.
MATERIAL E MÉTODOS: Tendo como base um modelo mestre metálico com preparo para inlay MOD, 15 troquéis de gesso tipo IV foram obtidos e distribuídos em três grupos (n = 5): Empress, Sinfony e Z350. Após a confecção das restaurações, cada peça foi posicionada no modelo mestre e fotografada nas faces mesial e distal para, por meio de um programa de análise de imagens, fazer a quantificação da desadaptação marginal cervical.
RESULTADOS: Quanto à área de desadaptação marginal cervical, houve diferença (P < 0,05) entre todos os grupos, e o Empress apresentou os maiores valores, seguido pelo Sinfony e pelo Z350. Empress e Sinfony demonstraram, respectivamente, áreas de desadaptação 280% e 110% maiores que Z350. No tocante à maior distância entre as bordas da restauração e as margens do preparo, os grupos Empress e Sinfony foram iguais entre si e estatisticamente diferentes (P < 0,05) do Z350, proporcionando, nesta ordem, desadaptação 215% e 120% maior em relação ao grupo Z350.
CONCLUSÃO: Tanto para o cálculo da área de desadaptação marginal no terço cervical como para o cálculo da maior distância entre a borda cervical da restauração e do preparo, a desadaptação marginal foi menor no grupo Z350, seguido por Sinfony e Empress. Na análise da desadaptação marginal cervical, todos foram considerados aceitáveis para a prática clínica.

Palavras-chave: inlay; quantificação; área de desadaptação marginal.

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ABSTRACT

INTRODUCTION AND OBJECTIVE: Marginal leakage of inlays restorations is a key issue for dentists, because of the damaging consequences that its intensity may cause to the tooth, periodontium, and longevity of restoration. The aim of this study was to assess the cervical marginal leakage of two composite systems and a pressed ceramic, through area calculation associated with the longest distance between the restoration and preparation cervical edges.
MATERIAL AND METHODS: Based on a metal pattern model with MOD inlay preparation, 15 type IV dental stone casts were obtained and randomly distributed into three groups (n = 5) as follows: Empress Group, Sinfony Group, Z350 Group. After restorations had been made, each one was positioned on the pattern model. Following, their middle and distal faces were photographed in order to analyze marginal cervical leakage through a computer software program.
RESULTS: Cervical marginal leakage area: there was statistically significant difference among the three groups (P < 0.05). Empress Group presented the highest values, followed by Sinfony and Z350 groups. Empress and Sinfony groups showed, respectively, a leakage area of 280% and 110% higher than Z350 group. Longest distance between restoration and preparation edges: Statistically significant differences were not observed between Empress and Sinfony groups; however, they showed statistically significant (P < 0.05) differences when compared to Z350 group (215% and 120% greater leakage than Z350 group, respectively).
CONCLUSION: Considering the cervical marginal leakage area calculation and the longest distance between restoration and preparation edges, marginal leakage was smaller in Z350 group followed by Sinfony and Empress groups. In the analysis of cervical marginal leakage, all groups were clinically acceptable.

Keywords: inlay; quantification; marginal leakage area.

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Introdução

O aumento da demanda por restaurações estéticas em dentes posteriores tem intensificado o desenvolvimento de sistemas restauradores para restaurações indiretas em resina composta e em porcelana. A adaptação marginal de restaurações dentárias possui grande importância clínica, já que a descontinuidade no limite dente/restauração proporciona um nicho para acúmulo de placa dental, com consequências à integridade do próprio dente, ao agente cimentante e ao periodonto [5, 6, 10, 18, 20].

Na análise dessa questão são descritos vários métodos para quantificar a adaptação marginal das restaurações indiretas, tanto em modelos in vivo quanto in vitro. Nos trabalhos in vivo geralmente se fazem as medidas mediante análise visual com sonda, espelho e exames radiográficos [7, 8, 11, 12, 17]. Todavia a grande maioria efetua a avaliação com estudos in vitro via método da réplica de silicone ou da cimentação. Em tais técnicas é realizado um corte no sentido mesiodistal dos espécimes e se obtém a medida linear entre a superfície interna da restauração e a superfície do preparo em seu término cervical [1, 2, 3, 4, 8, 9, 13, 16, 19, 22, 23].

O objetivo desta pesquisa foi averiguar a desadaptação marginal em dois sistemas restauradores estéticos indiretos – Empress e.max (Ivoclar, Liechtenstein) e Sinfony (3M Espe, EUA) – e um direto – Z350 (3M Espe, EUA) – por meio do cálculo de sua área no terço cervical e também da medida linear encontrada na maior distância entre a borda cervical da restauração e do preparo.

 

Material e métodos

Em primeiro molar superior direito de acrílico (Columbia Dentform Corp., EUA) realizou-se um preparo tipo inlay MOD com paredes divergentes em 12º da cervical para a oclusal, ângulos arredondados e sem bisel. A profundidade da caixa oclusal foi de cerca de 2 mm e nas caixas proximais de 3,5 mm, com um istmo oclusal de metade da distância intercuspídea. Desse padrão conseguiu-se por inclusão em revestimento (Micro-Fine 1700 Talladium, EUA) e posterior volatilização da resina em forno elétrico (EDG) um modelo mestre fundido em liga de níquel-cromo (Fit Cast V Talladium, EUA) (figura 1).

 

 

Com base em tal modelo confeccionaram-se 15 impressões em polivinilsiloxano (Aquasil, Dentsply Detrey, Alemanha), das quais foram obtidos 15 troquéis em gesso tipo IV (Durone, Dentsply). Estes foram aleatoriamente distribuídos em três grupos: grupo Empress (n = 5), no qual se executaram restaurações do sistema Empress e.max (Ivoclar, Liechtenstein); grupo Sinfony (n = 5), em que foram efetuadas restaurações do sistema Sinfony (3M Espe, EUA); e grupo Z350 (n = 5), no qual se fizeram restaurações em resina composta Z350 (3M Espe, EUA). As restaurações de Empress e Sinfony aconteceram em laboratórios credenciados e de acordo com as instruções dos fabricantes. No grupo Z350 os troquéis receberam três camadas de espaçador de troquéis (Pico Fit Remfert, Alemanha), seguidas da aplicação de um isolante para troquel (Insulate Gel, Kulzer, Alemanha). Inseriu-se a resina em incrementos começando pelas cervicais até terminar na face oclusal, e cada incremento foi fotopolimerizado (Unix, Kulzer, Alemanha) por 90 segundos. Ao final da restauração, esta foi removida do troquel e polimerizada durante 180 segundos.

Para a análise morfométrica da área de desadaptação cervical, as restaurações foram fotografadas em suas faces mesial e distal e posicionadas no modelo mestre. Delimitou-se o modelo mais ou menos entre o terço cervical e o terço médio [14]. Obtiveram-se todas as fotografias a uma distância fixa de 4 cm entre as faces em questão e com lente de câmera fotográfica digital de 12.1 megapixels (Sony Cyber-shot DSC-W215), na proporção de imagem de 1:1, no modo macro. Nessas mesmas condições, retirou-se fotografia de uma régua milimetrada, para posterior calibragem do sistema de análise de imagens (Image-Pro Plus, versão 5.0 Media Cybernectics, Silver Springer, EUA). Depois da importação pelo sistema de análise de imagem da fotografia da régua milimetrada e de ser executada a calibragem, as fotografias a serem analisadas foram importadas. A fim de aferir a área de desadaptação cervical usou-se a ferramenta do polígono para delimitar, por marcação de pontos sequenciais, o perímetro compreendido entre as bordas cervicais do preparo e da restauração, limitadas em suas extremidades por marcas no modelo mestre que correspondem, aproximadamente, ao limite entre os terços cervical e médio, uma medida bidimensional (figura 2, PG1). Para mensurar a maior distância entre as bordas cervical da restauração e do preparo recorreu-se à ferramenta de união entre dois pontos, uma medida linear (figura 2, L1).

Calculou-se a estatística descritiva dos grupos. Diferenças nos parâmetros analisados foram testadas pela Anova one way e identificadas pelo teste de comparações múltiplas de Tukey. O índice de significância a = 0,05 foi considerado estatisticamente expressivo [24]. Fez-se tal análise com auxílio dos programas Excel e GraphPad Prism versão 4.00 para Windows.

 

Resultados

As diferenças entre os grupos experimentais, na quantificação da área de desadaptação no terço cervical, e da maior distância entre a borda cervical da restauração e do preparo estão expostas na tabela I. A figura 3 traz imagens fotográficas que representam o padrão de desadaptação nos grupos Empress, Sinfony e Z350.

Quanto à área da desadaptação marginal no terço cervical, todos os grupos apresentaram diferença estatística significativa entre si. A pior atuação coube a Empress, seguido pelo Sinfony e, por fim, pelo grupo Z350; este teve a melhor performance. Empress e Sinfony demonstraram, respectivamente, áreas de desadaptação 280% e 110% maiores em relação à desadaptação marginal cervical quando comparados ao grupo Z350.

No que tange à maior distância entre a borda cervical da restauração e do preparo, o melhor desempenho aponta para o grupo Z350, com diferença estatística expressiva para os demais. Os grupos Empress e Sinfony proporcionaram desadaptação de 215% e 120%, nessa ordem, em comparação ao grupo Z350. Empress e Sinfony não evidenciaram discrepância estatisticamente significante entre si, porém o primeiro mostrou valor de desadaptação 43% maior que o segundo.

 

Discussão

O objetivo deste trabalho foi avaliar a desadaptação marginal cervical em restaurações inlay confeccionadas com três tipos de materiais estéticos pela técnica indireta, usando o cálculo da área da desadaptação no terço cervical e a medida linear da maior distância entre a borda cervical da restauração e do preparo. Observaram-se diferenças expressivas entre os grupos experimentais no tocante aos itens analisados.

Merece destaque o desempenho positivo de Z350 quanto à área de desadaptação, com diferença estatística em relação aos demais grupos estudados. Empress e Sinfony evidenciaram, respectivamente, áreas de desadaptação 280% e 110% maiores, considerando a desadaptação marginal cervical, em comparação ao grupo Z350. É muito provável que tais achados estejam associados à maior contração volumétrica das cerâmicas em relação aos compósitos durante as etapas de produção das restaurações. Os resultados da presente pesquisa apontam diferença estatística também entre os grupos de resina composta Sinfony e Z350, o que nesse aspecto contraria a literatura. Sempre com medidas lineares, vários autores [9, 19, 21] relataram maior desajuste marginal cervical, com diferença estatística, de sistemas cerâmicos quando comparados a sistemas de resina composta e afirmaram não existir discrepância entre os sistemas de resina composta. Neste estudo, no qual se encontrou também divergência entre sistemas de resina composta, empregou-se o cálculo da área, uma medida bidimensional, portanto mais informativo do ponto de vista quantitativo que a medida de espessura [15].

A análise da medida linear da maior distância entre a borda cervical da restauração e do preparo é justificada em função da topografia irregular apresentada pela borda cervical das restaurações. Aqui, tornou-se importante o fato de os grupos Empress e Sinfony terem os piores resultados, não mostrando diferença estatística significante entre si. No entanto o primeiro evidenciou valor de desadaptação linear 43% maior que o segundo. Empress e Sinfony proporcionaram, nesta ordem, desadaptação linear de 215% e 120% maior que o grupo Z350. Mais uma vez em desacordo com a literatura consultada [1, 2, 3, 4, 8, 9, 13, 16, 19, 22, 23], observou-se diferença entre os grupos de resina composta. A bibliografia analisada usou o método da réplica de silicone ou da cimentação, em que é feito um corte central, no sentido mesiodistal dos espécimes, e se obtém a medida linear entre a superfície interna da restauração e a superfície do preparo, especificamente junto ao término cervical. Tudo leva a crer que o arbítrio de escolher sobre a imagem da região averiguada a maior distância linear entre as bordas do preparo e da restauração determinou a diferença.

Demonstrou-se que, apesar de os grupos Empress e Sinfony serem diferentes estatisticamente do grupo Z350 em relação à maior distância entre a borda cervical da restauração e do preparo, os valores individuais máximos encontrados nos dois grupos ficaram abaixo ou muito próximos dos 150 µm, o que conforme a literatura [4, 16, 22, 23] é aceitável para a prática clínica. Assim, ainda que os números sugiram melhor desempenho do grupo Z350 para a maior distância entre a borda cervical da restauração e do preparo, os demais grupos experimentais podem ser considerados opções no que diz respeito ao ajuste das margens cervicais. Essa adaptação é crítica não só em virtude de fatores como a descontinuidade no limite dente/restauração, com suas consequências na integridade do próprio dente e no periodonto, como também tem foco importante no que tange aos problemas inerentes ao cimento resinoso e as suas limitações, como dissolução da matriz resinosa do cimento nos fluidos orais, o que provoca a perda do selamento marginal ao longo do tempo [7].

Esta investigação expõe uma metodologia para ser usada na quantificação da interface dente/restauração: a possibilidade de fazer análises de áreas, e não somente análises lineares. O estudo da área da desadaptação marginal no terço cervical e da maior distância entre a borda cervical da restauração e do preparo constitui uma ferramenta capaz de identificar as discrepâncias proporcionadas pelos sistemas restauradores averiguados e também onde elas foram mais ou menos intensas.

 

Conclusão

Com base nos dados obtidos, conclui-se que, tanto para o cálculo da área de desadaptação marginal no terço cervical como para o cálculo da maior distância entre a borda cervical da restauração e do preparo, a desadaptação marginal foi menor no grupo Z350, seguido por Sinfony e Empress. Na análise da desadaptação marginal cervical todos os grupos estão em conformidade com o aceitável clinicamente.

 

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Endereço para correspondência:
Rogério Luiz de Oliveira Mussel
Universidade do Estado do Rio de Janeiro – Faculdade de Odontologia
Avenida 28 de Setembro, n.º 157 – Vila Isabel
CEP 20551-030 – Rio de Janeiro – RJ
E-mail: mussel@uerj.br

Recebido em 4/3/2010.
Aceito em 17/6/2010.
Received for publication: March 4, 2010.
Accepted for publication: June 17, 2010.