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RSBO (Online)

versão On-line ISSN 1984-5685

RSBO (Online) vol.8 no.2 Joinville Jun. 2011

 

EDITORIAL CONVIDADO

 

Uso de cadáveres humanos como ferramenta de ensino-aprendizagem: passado ou futuro?

 

 

Há muito tempo tem sido descrito o emprego de cadáveres no estudo do corpo humano. A vantagem dessa técnica é permitir o contato com os tecidos verdadeiros, o que possibilita uma simulação muito próxima do real. Repetidamente, relata-se o uso de corpos preservados, de desenhos e pinturas com detalhes perfeitos da anatomia, apreendidos de extensa observação do corpo humano.

Hoje em dia é comum nas áreas da saúde utilizar cadáveres preservados em formol durante o estudo da anatomia. No entanto tal forma de preservação mostra-se precária, sobretudo porque modifica os tecidos com o passar do tempo. Com a falta de novos modelos e o desgaste causado pelo uso repetitivo por diferentes turmas, o estudante depara com situações de dilaceração intensa e perda de tecidos e órgãos, que se deterioram, exauridos quase que completamente do seu estado natural. Isso contribui para uma defasagem no aprendizado e conhecimento, levando o aluno a encarar uma prática clínica com enormes lacunas. Assim, erros podem acontecer durante a realização primária dos procedimentos em pacientes.

No Brasil, para melhorar a qualidade do desenvolvimento das aptidões nas áreas da saúde, tem-se recorrido aos animais. Contudo existem diferenças importantes entre os animais e os seres humanos, o que, de certo modo, limita o processo de ensino-aprendizagem.

Por outro lado, quando se manuseia um cadáver bem preservado ou com recente conservação, a simulação de procedimentos clínico-cirúrgicos de maior ou menor complexidade passa a ser bastante vantajosa. Esse tipo de experiência permite tanto ao professor como ao discente uma demonstração prática pausada com exposição de detalhes, discussão simultânea da escolha da técnica e um trabalho com sensação de realidade, ou seja, com textura, cor e profundidade iguais às de um paciente vivo. Além disso, possibilita ao estudante a observação criteriosa de manobras clínico-cirúrgicas, a realização de procedimentos mesmo sem ter experiências prévias, a inibição do medo ou da insegurança que um determinado protocolo terapêutico manual gera no operador novato e ainda favorece a correção de erros sem grandes consequências ao "paciente".

Desde que respeitados os preceitos da ética, o uso de cadáveres em excelente estado de conservação não exige pré-requisitos, titulação ou anos de estudos, o que acaba sendo muito valioso para o estímulo profissional. Por exemplo, alunos das primeiras séries de Odontologia já podem ter noções de cirurgias avançadas relacionadas à implantodontia, ou até mesmo de uma simples exodontia. Uma curta experiência como essa pode, quem sabe, contribuir para o avanço da formação do pensar profissional desse estudante, representando um ganho de meses em relação aos métodos de ensino convencional, além do profundo conhecimento da anatomia, com a possibilidade de testar com tranquilidade os limites da morfologia humana.

Apesar de todas as vantagens, a atual legislação brasileira não permite estocar cadáveres para estudo. Todavia, assim como a doação de órgãos é liberada e aceita para o salvamento de vidas, a mesma doação poderia ter efeito didático, a fim de que discentes das áreas da saúde pudessem melhorar a sua prática clínica. Como retorno, tal atitude ajudaria a reduzir iatrogenias e riscos de morte. As discrepâncias entre diferentes países mostram que em outros lugares, ao contrário, a prática do estudo em cadáveres é muito mais comum e admitida e talvez até mesmo menos problemática do que a própria aplicação in vivo.

Com base nisso, em evento realizado nos Estados Unidos em janeiro de 2011, professores do curso de pós-graduação em Odontologia da Universidade Positivo, numa iniciativa inédita, organizaram um curso de extensão intitulado "Implantodontia e cirurgias avançadas com treinamento em cadáveres humanos frescos", voltado para alunos e profissionais da Odontologia em qualquer nível de formação. Espera-se que tal tipo de ação resgate dos primórdios grandes avanços para o futuro do processo ensinoaprendizagem em saúde. Para mais informações sobre os próximos cursos já programados visite o site www.up.com.br.

 

Prof. Dr. João César Zielak
Profa. Dra. Tatiana Miranda Deliberador

Universidade Positivo