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RSBO (Online)

versão On-line ISSN 1984-5685

RSBO (Online) vol.8 no.2 Joinville Jun. 2011

 

ARTIGO ORIGINAL DE PESQUISA ORIGINAL RESEARCH ARTICLE

 

Influência da agulha irrigadora e da dilatação do canal radicular na eficácia da irrigação endodôntica

 

Influence of the endodontic irrigation needle and root canal enlargement on endodontic cleaning efficacy

 

 

Livia Etchebehere de Loiola; Juliane Maria Guerreiro-Tanomaru; Renata Dornelles Morgental; Mário Tanomaru Filho

Departamento de Odontologia Restauradora, Faculdade de Odontologia de Araraquara, Universidade Estadual Paulista – Araraquara – SP – Brasil

Endereço para correspondência

 

 


RESUMO

INTRODUÇÃO: A irrigação do canal radicular visa à sua limpeza e desinfecção, contribuindo para o sucesso do tratamento endodôntico.
OBJETIVO: Avaliar a influência do diâmetro e tipo de agulha irrigadora e da dilatação do canal radicular na eficácia mecânica da irrigação endodôntica.
MATERIAL E MÉTODOS: Utilizaram-se 12 incisivos inferiores humanos com canal radicular único. Durante algumas etapas da instrumentação (dilatação com lima K #20, #30 e #40), os canais radiculares foram preenchidos com solução de contraste radiológico espessada com propilenoglicol e óxido de zinco. Empregaram-se agulhas de diferentes diâmetros e designs: G1 – 23G e abertura lateral; G2 – 22G e abertura apical; G3 – 30G e abertura lateral; G4 – 30G e abertura apical. As agulhas foram inseridas até resistência, com recuo de 1 mm para não obliterar a luz do canal radicular. Realizou-se a irrigação com 2 ml de água destilada. Antes da irrigação/aspiração e após, radiografaramse os dentes nos sentidos vestibulolingual e mesiodistal por intermédio de um sistema radiográfico digital. A seguir, as áreas do canal radicular antes (preenchido pelo contraste) e depois da irrigação (remanescente do contraste) foram submetidas ao método de subtração de imagens pelo programa Adobe Photoshop CS4. Posteriormente, mensuraram-se as áreas por meio do programa Image Tool 3.0, o que possibilitou a obtenção do percentual de limpeza para cada modalidade. A fim de analisar os dados obtidos, recorreu-se à Anova e ao teste de Tukey, com nível de significância de 0,05.
RESULTADOS: Para todas as dilatações do canal radicular, as agulhas 30G (G3 e G4) proporcionaram melhor limpeza. Quanto aos grupos, observou-se o maior percentual de limpeza após dilatação com lima K #30 e #40.
CONCLUSÃO: Agulhas de menor diâmetro mostraram-se mais eficazes, independentemente do seu design. A limpeza foi maior quando o canal radicular apresentou maior dilatação.

Palavras-chave: agulhas; Endodontia; irrigantes do canal radicular.


ABSTRACT

INTRODUCTION: The irrigation of root canals aims to their cleaning and disinfection, improving endodontic treatment success.
OBJECTIVE: To investigate the influence of the diameter and type of irrigation needle and the root canal enlargement on the mechanical efficacy of endodontic irrigation.
MATERIAL AND METHODS: Twelve human single-rooted mandibular incisors were used. During some instrumentation stages (enlargement by #20, #30, and #40 K file), root canals were filled with radiographic contrast solution mixed to propyleneglycol and zinc oxide. Needles with different diameters and designs were employed: G1 – 23G and lateral opening; G2 – 22G and apical opening; G3 – 30G and lateral opening; G4 – 30G and apical opening. The needles were inserted up to resistance, with 1 mm step-back to avoid root canal obliteration. The irrigation was performed with 2 mL of distilled water. Before and after irrigation/aspiration, teeth were radiographed at bucco-lingual and mesiodistal direction, using a digital radiographic system. Then, root canal areas, before (filled by contrast solution) and after irrigation (remnant of contrast solution), were submitted to image subtraction with Adobe Photoshop CS4 software. Subsequently, the areas were measured by Image Tool 3.0 software, allowing the obtaining of the cleaning percentage for each modality. Data were analysed by using Anova and Tukey's test. The level of significance was set at P < 0.05.
RESULTS: For all root canal enlargements, 30G needles (G3 e G4) presented a better cleaning efficacy. In all groups, higher cleaning efficacy percentage was observed at #30 and #40 K file enlargement.
CONCLUSION: Regardless their design, thinner needles were more effective; a better cleaning efficacy occurred in more enlarged root canals.

Keywords: needles; Endodontics; root canal irrigants.


 

 

Introdução

A instrumentação e a irrigação do sistema de canais radiculares têm como objetivos remover o conteúdo séptico-tóxico de seu interior e preparar o canal radicularparaaobturação,demodoacolaborar para o sucesso do tratamento endodôntico [13]. As soluções irrigadoras são muito importantes porque, além de apresentar propriedades antissépticas e capacidade de remoção de resíduos, lubrificam as paredes dentinárias. Mesmo as que não possuem atividade antimicrobiana demonstram eficácia física na redução da microbiota endodôntica [2].

A eficácia de limpeza da irrigação dos canais radiculares pode ser influenciada por diversos fatores, como os diferentes diâmetros disponíveis de agulhas irrigadoras [10], o design da sua ponta [5, 19], a profundidade de penetração delas [18], o diâmetro final do preparo [20], o grau de curvatura do canal [15], além do volume, do tipo e das propriedades da solução irrigadora utilizada [9].

Empregou-se o método radiográfico com o intuito de averiguar a eficácia da irrigação na remoção de meios de contraste radiopacos em canais radiculares de dentes extraídos [1, 17]. Aliado a programas de manipulação de imagens, ele também vem sendo usado em estudos relacionados à remoção do material obturador em casos de retratamento endodôntico [8, 14]. O método radiográfico digital apresenta vantagens em relação ao convencional por ser mais rápido, seguro e por oferecer boa qualidade de imagem [12, 16]. Além disso, softwares que permitam a subtração de imagens e mensuração de áreas possibilitam a análise precisa da limpeza obtida em diferentes modalidades de irrigação.

O objetivo deste estudo ex vivo foi avaliar, por meio de um sistema radio digital, a influência do diâmetro e tipo de agulha irrigadora e da dilatação do canal radicular na eficácia mecânica da irrigação endodôntica.

 

Material e métodos

O Comitê de Ética em Pesquisa da Faculdade de Odontologia de Araraquara da Universidade Estadual Paulista (Unesp) aprovou o projeto. Selecionaramse 12 incisivos inferiores humanos extraídos, provenientes do banco de dentes da faculdade citada. Incluíram-se apenas dentes com canal único, rizogênese completa e diâmetro inicial do canal radicular igual ou menor a uma lima K #15.

A abertura coronária foi efetuada com ponta diamantada esférica #1012 (KG Sorensen, São Paulo, SP, Brasil) e complementada com fresa de Largo #1 (Dentsply Maillefer, Ballaigues, Suíça), para execução do desgaste compensatório. Em seguida, estabeleceu-se o comprimento do canal radicular introduzindo lima K #10 (Dentsply Maillefer, Ballaigues, Suíça) até a sua observação no forame apical. O comprimento de trabalho foi determinado ao subtrair-se 1 mm do comprimento total obtido.

Recorreu-se à técnica escalonada com recuo progressivo programado, e durante algumas etapas da instrumentação (dilatação com lima K #20, #30 e #40) preencheram-se os canais radiculares com solução de contraste radiológico (diatrizoato sódico de meglumina – Pielograf 76%, BerliMed S.A., Madri, Espanha) espessada com propilenoglicol e óxido de zinco na proporção 3:1:1 (massa). Os forames apicais foram previamente vedados com cera utilidade (Clássico Artigos Odontológicos, São Paulo, SP, Brasil).

Em cada uma das dilatações testaram-se agulhas irrigadoras de diferentes diâmetros e designs, quais sejam: G1 – 23G e abertura lateral (Optimus, São Paulo, SP, Brasil); G2 – 22G e abertura apical (Ultradent Products, South Jordan, EUA); G3 – 30G e abertura lateral (Optimus, São Paulo, SP, Brasil); G4 – 30G e abertura apical (NaviTip, Ultradent Products, South Jordan, EUA). Delimitou-se a profundidade de penetração pela introdução das agulhas até encontrar resistência, com recuo de 1 mm para não obliterar a luz do canal, sendo acopladas a seringas plásticas de 5 ml (BD, São Paulo, SP, Brasil). Fez-se a irrigação com 2 ml de água destilada, numa velocidade correspondente a 5 ml/minuto. No decorrer do procedimento executaram-se movimentos de vaivém com 2 mm de amplitude. Aspirou-se o refluxo da solução irrigadora com cânula de sucção (BD, São Paulo, SP, Brasil) posicionada na câmara pulpar.

Antes e depois de cada irrigação/aspiração, os dentes foram posicionados em um dispositivo padronizador sobre material de moldagem e radiografados nos sentidos vestibulolingual e mesiodistal, utilizando o sistema digital Kodak RVG 6000 (Eastman Kodak Company, Rochester, EUA), com resolução de 20 pares de linha, e aparelho de raio X Spectro II (Dabi-Atlante, Ribeirão Preto, SP, Brasil), com tempo de exposição de 0,5 segundo. Um sensor eletrônico CCD (charged coupled device) conectado a um computador por meio de um cabo com fibra óptica captou as imagens, exibidas no monitor após exposição. Em seguida, as imagens digitais antes e depois da irrigação foram submetidas à subtração no programa Adobe Photoshop CS4 (figura 1A, B e C) e transferidas para o programa Image Tool 3.0 (figura 2). Um operador delimitou em mm2 as áreas do canal radicular antes da irrigação (preenchido pelo contraste) e da imagem subtraída (área limpa pela irrigação). Calculou-se a razão entre essas áreas como percentagens de limpeza para cada modalidade.

 

 

 

 

A comparação entre as percentagens das modalidades (cada diâmetro e tipo de agulha e cada dilatação do canal) foi realizada mediante análise de variância (Anova) e, quando necessário, teste post hoc de Tukey, com nível de significância de 0,05.

 

Resultados

Na comparação entre os quatro grupos experimentais, independentemente da dilatação do canal radicular, G3 e G4 apresentaram eficácia estatística semelhante e mostraram-se mais eficazes na remoção do contraste radiológico durante a irrigação dos canais radiculares (tabela I).

Quando se comparou a eficácia das agulhas nas variadas dilatações, pôde-se observar que G1 teve desempenho parecido nas dilatações #20 e #30 e nas dilatações #30 e #40, porém a melhor limpeza ocorreu na dilatação #40. A mesma situação aconteceu no G2. No que se refere aos grupos G3 e G4, verificou-se uma ação de limpeza similar nas dilatações #30 e #40, sendo muito maior do que na dilatação #20 (tabela II).

Tais resultados estão expressos no gráfico 1.

 

 

Discussão

As agulhas 30G, qualquer que fosse o seu design, evidenciaram mais eficácia na remoção do contraste nas três dilatações propostas. Abou-Rass e Piccinino [1] obtiveram resultados semelhantes quando utilizaram um meio de contraste radiopaco misturado com raspas de dentina em canais radiculares de molares inferiores extraídos. Os autores concluíram que a agulha anestésica de 30G foi mais eficiente do que uma agulha irrigadora de 23G, mesmo quando se empregou uma lima K #15 a fim de agitar a solução dentro do canal.

Acidentes decorrentes da extrusão de solução irrigadora para os tecidos periapicais já foram descritos [3, 6, 7, 22]. Diante disso, propuseram-se agulhas com abertura lateral com a finalidade de dificultar a propulsão da solução irrigadora além do forame apical [11, 21]. No presente estudo o fato de as agulhas terem abertura lateral ou apical não resultou em diferenças estatísticas significantes na limpeza dos canais radiculares, independentemente da dilatação. Por outro lado, Kahn et al. [11] divulgaram que agulhas com ponta romba e fenda lateral para saída da solução irrigadora se mostraram melhores na remoção de corante do que agulhas convencionais e ultrassom, tanto na posição maxilar quanto na mandibular. É importante notar que tais autores recorreram a uma metodologia distinta, empregando corante alimentício vermelho em blocos de resina transparente com canais simulados.

A velocidade constante de irrigação de 5 ml/ minuto está de acordo com Boutsioukis et al. [4]. Os autores investigaram o fluxo da solução irrigadora por meio de transdutores, comparando agulhas 25G, 27G e 30G. Eles concluíram que agulhas mais finas exigem maior esforço do operador, e a pressão excessiva não é aconselhável, em função do risco de extrusão. Verificaram ainda que o fluxo do irrigante varia de maneira considerável de um operador para outro. Portanto, o mesmo operador realizou todos os procedimentos neste trabalho.

Em um modelo experimental in situ, Usman et al. [20] checaram a eficácia de limpeza do terço apical de canais radiculares quando preparados até um instrumento rotatório de níquel-titânio GT #20 ou #40. Assim como notado aqui, quanto maior a dilatação do canal radicular, mais eficiente a sua limpeza quando se comparam diferentes agulhas irrigadoras.

Utilizando um modelo computadorizado de dinâmica de fluidos, estudos recentes comprovaram que o design da ponta da agulha irrigadora influencia no padrão de fluxo do irrigante, na velocidade desse fluxo e na pressão apical gerada [5, 19]. No tocante à eficácia na substituição do irrigante na região apical, tal método deixou claro que agulhas com abertura lateralizada ou biselada não apresentaram vantagem em relação à agulha com abertura apical convencional. Todavia elas reduziram a pressão criada no forame apical, o que possivelmente evita a extrusão do irrigante para os tecidos periapicais. Logo, pesquisas adicionais relacionadas à extrusão da solução irrigadora se fazem necessárias na busca por uma agulha irrigadora ideal que consiga conciliar eficácia e segurança.

 

Conclusão

Com base nos resultados obtidos, concluiu-se que, quanto maior a dilatação do canal radicular, mais eficaz é a sua limpeza. O fato de a agulha irrigadora possuir abertura apical ou lateral não resultou em melhor ou pior desempenho na irrigação, mas seu diâmetro é importante na limpeza de resíduos: quanto menor, maior a remoção de contraste do interior do canal radicular.

 

Referências

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Endereço para correspondência:
Mário Tanomaru-Filho
Rua Humaitá, n.º 1.680 – Centro
CEP 14801-903 – Araraquara – SP
E-mail: tanomaru@uol.com.br

Recebido em 8/11/2010
Aceito em 15/12/2010
Received for publication: November 8, 2010
Accepted for publication: December 15, 2010.