SciELO - Scientific Electronic Library Online

 
vol.5 número1 índice de autoresíndice de assuntospesquisa de artigos
Home Pagelista alfabética de periódicos  

Innovations Implant Journal

versão On-line ISSN 1984-5960

Innov. Implant. J., Biomater. Esthet. (Online) vol.5 no.1 São Paulo Jan./Abr. 2010

 

ARTIGOS CIENTÍFICOS

 

Influência da macro-geometria na estabilidade primária dos implantes

 

Influence of macro-geometry in the primary stability of implants

 

 

Fábio BezerraI; Érica Del Peloso RibeiroII; Sandro Bittencourt SousaIII; Ariel LenharoIV

IEspecialista em Periodontia. Diretor Clínico, INEPO - Instituto Nacional de Experimentos e Pesquisas Odontológicas, São Paulo, SP, Brasil
IIDoutora em Clínica Odontológica (Periodontia). Professora Adjunta, Escola Bahiana de Medicina e Saúde Pública, Salvador, BA, Brasil
IIIDoutor em Clínica Odontológica (Periodontia). Professor Adjunto, Escola Bahiana de Medicina e Saúde Pública, Salvador, BA, Brasil
IVDoutor em Implantodontia, Faculdade de Odontologia de Araçatuba, Universidade Estadual Paulista, Araçatuba, SP, Brasil

Endereço para correspondência

 

 


RESUMO

A estabilidade primária dos implantes está intimamente relacionada à macro-geometria dos implantes na medida que pode aumentar o contato íntimo entre o biomaterial e a estrutura óssea. O objetivo do presente estudo foi avaliar a influência da macro-geometria na estabilidade primária dos implantes. Foram utilizados dois tipos de implantes, um cilíndrico e com rosca única (grupo controle) e outro com conicidade apical e três tipos de roscas (grupo teste). Os implantes foram instalados por três operadores em osso bovino fresco. Cada profissional fez a instalação de oito implantes (4 teste e 4 controle) em osso bovino Os parâmetros avaliados foram: torque de inserção, frequência de ressonância e torque de remoção. A análise dos resultados permitiu a detecção de que os torques de inserção foram maiores no grupo teste (p < 0,05). Não foi observada influência do operador nas variáveis analisadas. Pode-se então concluir que a macro-geometria dos implantes do grupo teste favoreceu a estabilidade primária do implante.

Palavras-chave: Osseointegração. Implantes dentários. Titânio.


ABSTRACT

The primary stability of implants is related to implant geometry since it can raise the intimate contact between biomaterial and bone structure. The aim of the present study was to evaluate the influence of implant geometry on primary stability. It was used two types of implants, one cylindrical and with an unique thread (control group) and another tapered with three types of threads (test group). Implants were placed by three professionals in bovine bone. Each operator installed eight implants (4 test and 4 control). The parameters analyzed were: inserting torque, unscrewing torque and resonance frequency. As results it was detected that insertion torque was higher in the test group (p < 0,05). It was not observed influence of the operator in the parameters analyzed. Thus, it can be concluded that geometry of implants in the test group improved implant primary stability.

Key words: Osseointegrations. Dental implants. Titanium.


 

 

INTRODUÇÃO

A reabilitação oral utilizando implantes osseointegráveis é hoje uma das modalidades terapêuticas de maior sucesso na odontologia, devido ao seu alto grau de previsibilidade clínica, associado à evidenciação científica consistente para diferentes tipos de edentulismo. Apesar da sedimentação do conceito de osseointegração e os princípios biológicos que a norteiam, o desejo de usar implantes em situações clínicas cada vez mais desafiadoras estimula a realização de estudos sobre tipos de superfície de implante5, assim como sua macro-geometria6,9,10 e potenciais alterações que podem interferir positivamente no processo cicatricial16. Essas buscas se traduzem clinicamente muitas vezes em redução do tempo de tratamento, por meio da redução do tempo para estabelecimento da osseointegração, assim como na simplificação dos procedimentos clínicos utilizados2.

Especificamente, em relação ao macro e microdesenho dos implantes, apesar da necessidade de maior confirmação científica, parece haver uma associação entre algumas características, como distância entre as roscas, profundidade da rosca e o sucesso da terapia com implantes1.

Nesses estudos, a estabilidade primária dos implantes tem sido utilizada como indicador de futura osseointegração e é indicada como elemento chave do sucesso clínico. Assim, é um parâmetro clínico relevante para tomada de decisão em relação à realização ou não da carga imediata. Essa estabilidade é influenciada por fatores relacionados ao sistema de fresagem, à macro-geometria dos implantes e densidade óssea11. Ainda não existe consenso sobre qual o desenho de implante que melhor favoreça a osseointegração em diferentes densidades.

Diante da importância desse conhecimento e da evolução dos implantes dentais, o objetivo do presente estudo foi avaliar a influência da macro-geometria dos implantes na obtenção da estabilidade primária.

 

MATERIAL E MÉTODOS

Este estudo foi conduzido no INEPO, Instituto de Ensino e Pesquisa em Odontologia (São Paulo, Brasil), utilizando três operadores calibrados e com experiência prévia
em osseointegração.

DELINEAMENTO DO ESTUDO

Foram utilizados dois tipos de implantes com diferentes macro-geometrias, denominados grupo controle (implantes Try-On, SIN - Sistema de Implante, São Paulo, SP, Brasil) e grupo teste (implantes Unitite, SIN - Sistema de Implante, São Paulo, SP, Brasil), sendo instalados em osso bovino fresco (Figuras 1 e 2).

 

 

 

 

O implante do grupo controle (Figura 3) tem macro-geometria com formato cilíndrico, com rosca única e perfil de corte triangular, enquanto o implante do grupo teste (Figura 4) tem formato cilíndrico com conicidade na sua porção apical, três tipos de rosca (micro-roscas na porção cervical, rosca externa e rosca interna) e perfil de corte quadrado. Todos os implantes utilizados foram de 4,0 milímetros de diâmetro e 10,0 milímetros de comprimento.

 

 

 

 

 

 

Cada profissional fez a instalação de oito implantes (4 testes e 4 controles) em osso bovino. O número total de implantes instalados foi 24 (Figuras 5 a 9).

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

PARÂMETROS ANALISADOS

As variáveis analisadas foram: torque de inserção, frequência de ressonância e torque de remoção. Os torques de inserção foram determinados pela utilização de um torquímetro cirúrgico calibrado (SIN - Sistema de Implante Nacional, São Paulo, SP, Brasil) com limite para torque de 80 N/cm, enquanto o torque de remoção foi aferido utilizando-se um torquímetro digital modelo BG1 (MARK-10, Copiague, NY, Estados Unidos) (Figura 10). A análise de frequência de ressonância foi realizada com o aparelho Osstell (Osstell AB, Gotemburgo, Suécia) (Figura 11).

 

 

 

 

ANÁLISE DOS RESULTADOS

A análise de variância (ANOVA) foi o teste escolhido para comparação entre implantes, já que essas variáveis se apresentaram como quantitativas, com distribuição normal e variâncias homogêneas. O teste de Tukey foi feito para avaliar a significância estatística das diferenças observadas no ANOVA. As variáveis independentes foram implante e operador, enquanto as variáveis dependentes foram torque de inserção, frequência de ressonância e torque de remoção. Foi adotado um nível de significância de 5%.

 

RESULTADOS

Diferenças, estatisticamente significantes, entre os implantes foram observadas para o torque de inserção (Tabela 1).

 

 

Nenhum dos parâmetros analisados sofreu influência do operador, o que significa que não foram observadas diferenças significativas entre os operadores, para torque de inserção, análise de frequência de ressonância e torque de remoção (Tabela 2).

 

 

DISCUSSÃO

A estabilidade do implante desempenha um papel crítico nas taxas de sucesso. Essa estabilidade primária tem sido determinada por alguns autores pela medida do torque de inserção e/ou torque de remoção4,19. Para essa primeira variável, os resultados do presente estudo demonstraram que maior estabilidade inicial foi conseguida com os implantes do grupo teste.

Essa maior estabilidade inicial dos implantes do grupo teste, verificada pelos maiores valores de torque de inserção, pode ser explicada por sua macro-geometria e seu sistema de fresagem. Merecem destaque a conicidade desse implante na sua porção mais apical, os três tipos de rosca e o perfil de corte das roscas. As micro-roscas devem aumentar a área de contato osso-implante e a existência de uma rosca interna e externa no corpo do implante deve influenciar o processo de reparo e osseointegração10. Em relação à conicidade, diversos autores têm demonstrado que ela aumenta a estabilidade inicial do implante e por isso implantes cônicos são bem indicados em regiões de menor densidade óssea8,12-15.

Outra maneira de aferir a estabilidade primária é por meio da análise de frequência de ressonância. Essa análise é uma maneira prática e objetiva de medir a estabilidade do implante e osseointegração17. Além disso, é um método não-invasivo e que não causa danos à interface implante-osso, como pode acontecer clinicamente com a medição do torque de remoção. Nessa avaliação, não foi encontrada diferença entre os implantes, mesmo com maiores níveis de torque de inserção apresentados pelo grupo teste. Isso pode ser explicado pelo fato da macro-geometria deste implante gerar um contato parcial do mesmo com o tecido ósseo, criando câmaras para obtenção da ossificação intra-membranosa, diferentemente do grupo controle, onde existe um maior contato do implante com o tecido ósseo no momento da sua instalação. Apesar disso, os valores da análise de frequência de ressonância do grupo teste não são inferiores ao do grupo controle, pois para essa avaliação a região marginal é a mais importante7.

Outro fator associado ao desempenho dos implantes osseointegrados e até a dor experimentada pelo paciente após o procedimento cirúrgico para colocação de implantes dentais estava significativamente associada com a experiência do operador3,18. Apesar, de no presente estudo todos os profissionais envolvidos apresentarem experiência prévia com osseointegração, os resultados do presente estudo mostraram influência do operador em todas as variáveis analisadas para ambos os implantes testados.

O conhecimento biológico relativo ao processo da osseointegração, associado ao domínio da técnica operatória e utilização de um sistema de implantes que influencie positivamente o tempo intra-operatório e a estabilidade primária obtida em diferentes densidades ósseas, pode aumentar os índices de previsibilidade de tratamento com implantes e simplificar os procedimentos cirúrgicos realizados em Implantodontia, elevando o seu índice de sucesso clínico e satisfação dos pacientes em relação ao tratamento como um todo.

 

CONCLUSÃO

Dentro dos limites deste estudo, podemos concluir que:

1. A macro-geometria do implante do grupo teste apresentou resultados superiores e estatisticamente significantes no torque de inserção quando comparada ao grupo controle.

2. Não houve diferenças estatisticamente significativas entre os grupos quando foi avaliada a análise de frequência de ressonância e o torque de remoção.

3. Estudos clínicos prospectivos longitudinais são necessários para confirmar os reais benefícios clínicos gerados pelas mudanças na macro-geometria aqui apresentados.

 

REFERÊNCIAS

1. Abuhussein H, Pagni G, Rebaudi A, Wang HL. The effect of thread pattern upon implant osseointegration. Clin Oral Implants Res. 2010;21(2):129-36.         [ Links ]

2. Albrektsson T, Wennerberg A. Oral implant surfaces: part 2 – review focusing on clinical knowledge of different surfaces. Int J Prosthodont. 2004;17(5):544-64.         [ Links ]

3. Al-Khabbaz AK, Griffin TJ, Al-Shammari KF. Assessment of pain associated with the surgical placement of dental implants. J Periodontol. 2007;78(2):239-46.         [ Links ]

4. Aparicio C, Lang NP, Rangert B. Validity and clinical significance of biomechanical testing of implant/bone interface. Clin Oral Implants Res. 2006;17(Suppl 2):2-7.         [ Links ]

5. Buser D, Broggini N, Wieland M, Schenk RK, Denzer AJ, Cochran DL, et al. Enhanced bone apposition to a chemically modified SLA titanium surface. J Dent Res. 2004;83(7):529-33.         [ Links ]

6. Coelho PG, Suzuki M, Guimaraes MV, Marin C, Granato R, Gil JN, et al. Early bone healing around different implant bulk designs and surgical techniques: a study in dogs. Clin Implant Dent Relat Res. 2009; May 7. Epub ahead of print.         [ Links ]

7. Ito Y, Sato D, Yoneda S, Ito D, Kondo H, Kasugai S. Relevance of resonance frequency analysis to evaluate dental implant stability: simulation and histomorphometrical animal experiments. Clin Oral Implants Res. 2008;19(1):9-14.         [ Links ]

8. Greenstein G, Cavallaro J, Romanos G, Tarnow D. Clinical recommendations for avoiding and managing surgical complications associated with implant dentistry: a review. J Periodontol. 2008;79(8):1317-29.         [ Links ]

9. Leonard G, Coelho P, Polyzois I, Stassen L, Claffey N. A study of the bone healing kinetics of plateau versus screw root design titanium dental implants. Clin Oral Implants Res. 2009;20(3):232-9.         [ Links ]

10. Marin C, Granato R, Suzuki M, Gil JN, Janal MN, Coelho PG. Histomorphologic and histomorphometric evaluation of various endosseous implant healing chamber configurations at early implantation times: a atudy in dogs. Clin Oral Implants Res. 2010; Jan 22. Epub ahead of print.         [ Links ]

11. Orsini E, Salgarello S, Bubalo M, Lazic Z, Trire A, Martini D, et al. Histomorphometric evaluation of implant design as a key factor in peri-implant bone response: a preliminary study in a dog model. Minerva Stomatol. 2009;58(6):263-75.         [ Links ]

12. O'Sullivan D, Sennerby L, Meredith N. Measurements comparing the initial stability of five designs of dental implants: a human cadáver study. Clin Implant Dent Relat Res. 2000;2(2):85-92.         [ Links ]

13. Porter JA, von Fraunhofer JA. Success or failure of dental implants? A literature review with treatment considerations. Gen Dent. 2005;53(6):423-32.         [ Links ]

14. Sakoh J, Wahlmann U, Stender E, Nat R, Al-Nawas B, Wagner W. Primary stability of a conical implant and a hybrid, cylindric screw-type implant in vitro. Int J Oral Maxillofac Implants. 2006;21(4):560-6.         [ Links ]

15. Santos MV, Elias CN, Cavalcanti Lima JH. The effects of superficial roughness and design on the primary stability of dental implants. Clin Implant Dent Relat Res. 2009 Sep 9. Epub ahead of print.         [ Links ]

16. Schouten C, Meijer GJ, van den Beucken JJ, Spauwen PH, Jansen JA. Effects of implant geometry, surface properties, and TGF-beta1 on peri-implant bone response: an experimental study in goats. Clin Oral Implants Res. 2009;20(4):421-9.         [ Links ]

17. Sennerby L, Meredith N. Implant stability measurements using resonance frequency analysis: biological and biomechanical aspects and clinical implications. Periodontol 2000. 2008;47:51-66.         [ Links ]

18. Sennerby L, Roos J. Surgical determinants of clinical success of osseointegrated oral implants: a review of the literature. Int J Prosthodont. 1998;11(5):408-20.         [ Links ]

19. Sullivan DY, Sherwood RL, Collins TA, Krogh PH. The reverse-torque test: a clinical report. Int J Oral Maxillofac Implants. 1996;11(2):179-85.         [ Links ]

 

 

Endereço para correspondência:
Fábio Bezerra
Rua Almeida Garret, 57
Itaigara
41815-320 - Salvador – Bahia - Brasil
E-mail: fabiobezerra@cenior.com.br

Recebido: 05/03/2010
Aceito: 09/04/2010