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Innovations Implant Journal

versão On-line ISSN 1984-5960

Innov. Implant. J., Biomater. Esthet. (Online) vol.5 no.2 São Paulo Mai./Ago. 2010

 

ARTIGOS CIENTÍFICOS

 

Falha do parafuso passante em minipilar cônico angulado cone morse - relato de caso

 

Failure of mini angled conical abutment cone morse transfixing screw - case report

 

 

Renato de FreitasI; Máx Costa DóriaII; Luiz Alves Oliveira-NetoII; Fabio Cesar LorenzoniIII

IDoutor em Reabilitação Oral. Professor Assistente Doutor do Departamento de Prótese, Faculdade de Odontologia de Bauru, Universidade de São Paulo, Bauru, SP, Brasil
IIMestrando em Reabilitação Oral, Faculdade de Odontologia de Bauru, Universidade de São Paulo, Bauru, SP, Brasil
IIIDoutorando em Reabilitação Oral, Faculdade de Odontologia de Bauru, Universidade de São Paulo, Bauru, SP, Brasil

Endereço para correspondência

 

 


RESUMO

Falhas em implantes dentários podem ocorrer por fatores biológicos e mecânicos. As principais complicações técnicas nos componentes do implante são a fratura da prótese e o afrouxamento ou fratura do parafuso. Conexões internas cônicas foram desenvolvidas para melhorar as propriedades biomecânicas e reduzir os problemas mecânicos encontrados em outros sistemas de conexão do implante, porém os parafusos transfixantes encontrados em intermediários de duas peças podem apresentar outros problemas. Este relato de caso descreve a falha do parafuso transfixante em um intermediário minipilar cônico angulado e o procedimento utilizado para remover sua parte rosqueável do interior do implante cone morse. As principais causas de afrouxamento ou fratura do parafuso são: torque inadequado, imprecisão do encaixe nos componentes do implante, forças oclusais desfavoráveis, ausência de sistemas antirrotacionais na interface implante-intermediário e características impróprias do material do parafuso com relação à resistência e fadiga. Conexões cônicas internas melhoraram as propriedades mecânicas, mas em intermediários de duas peças ocorre uma redução da resistência do parafuso transfi xante devido à solda existente entre a parte rosqueada e o eixo do parafuso. As falhas no parafuso do intermediário podem ser graves, uma vez que algum fragmento no interior do implante pode evitar o seu funcionamento adequado. Para superar estes problemas, o presente artigo descreve uma técnica para remover com segurança a parte rosqueável do parafuso transfi xante sem danificar o implante. Após sua remoção um novo intermediário foi usado e a prótese pode ser confeccionada. Em conclusão, os autores recomendam bastante cuidado no uso de intermediários angulados cônicos com parafuso transfixante devido ao tipo de solda utilizada neste intermediários de duas peças. A colocação de implantes cone morse deve ser indicada somente quando for possível uma correta inclinação e posicionamento em relação aos dentes adjacentes.

Palavras-chave: Implantes dentários. Prótese dentária. Prótese dentária fixada por implante.


ABSTRACT

Dental implants failures may occur by biological and mechanical factors. The main technical complications of implant components are fixture fracture and screw loosening or fracture. Internal tapered connections were developed to improve biomechanical properties and to reduce mechanical problems found in other implant connection systems, however the transfixing screws of the two piece abutments presents some problems. This clinical report describes a angled conical mini-pilar abutment with transfixing screw failure and the procedure used for removal the threaded portion of screw remaining inside cone morse implant. The main causes of screw loosening or fracture are inadequate tightening, misfi t in implant components, adverse occlusal forces, lack of basic antirotational characteristics of implant-abutment interface and fatigue character and yielding strength of the screw material. Internal tapered connections improve mechanical properties, but, in two piece abutments, there is a reduction of resistance due to the laserwelded between the threaded portion and screw shaft. Implant abutment screw failures can be a serious problem, as some fragment remaining inside the implant may prevent the implant appropriate function. To overcome it, this article presents a technique to safely remove the fractured screw and restore the tooth without sacrificing the implant. After removal the threaded portion of transfixing screw, new abutment was used, and fi xture could be done again. In conclusion, authors recommend extreme caution in the use of angled conical abutments with transfixing screw due to the weld type used in this two piece abutments. Placement of cone morse implants should be indicated only when it's possible a correct position and inclination in relation to adjacent teeth.

Key words: Dental implants. Dental prosthesis. Dental prosthesis, implant-supported.


 

 

INTRODUÇÃO

Os implantes osseointegrados são uma modalidade de tratamento viável, eficaz, com altas taxas de sucesso e longevidade1,6. No entanto, apesar da confiabilidade da osseointegração, a longevidade das próteses sobre implante ainda é comprometida tanto por falhas biológicas quanto mecânicas.

As falhas na interface implante-intermediário estão relacionadas à desadaptação do intermediário ao implante, as quais podem estar associadas ao afrouxamento e/ou fratura de parafusos do intermediário, sendo a fratura do próprio intermediário um episódio raro8.

O parafuso de retenção do intermediário está sujeito a cargas de flexão lateral e alongamento, o que pode resultar na perda de retenção e consequente desadaptação da interface implante-intermediário15,20. A incidência de fratura do parafuso é pequena tanto em coroas unitárias (0,35%)7 quanto em próteses parciais fixas (1,5%)13. As causas principais podem ser: defeitos na forma ou material do parafuso, adaptação não passiva da infraestrutura protética e, sobrecarga biomecânica e/ou fisiológica9. Na maioria dos casos, o desaperto do parafuso do pilar ou da prótese ocorre antes da fratura com incidência em 5 anos de 12,7%7.

Em casos de fratura do parafuso de retenção no interior do implante foram relatados na literatura alguns métodos de remoção, desde o uso da sonda exploradora, sonda reta ou instrumental endodôntico9,17 até kits de recuperação9-10,12,14. Porém, a remoção do parafuso deve ser conservadora, visando à possibilidade de substituí-lo por um novo parafuso. Danos ao implante podem inviabilizar a restauração protética14, sendo necessária sua remoção16.

As conexões internas cônicas proporcionam um contato íntimo entre implante-intermediário, aumentando a estabilidade mecânica do intermediário4. Uma grande vantagem da conexão cônica é que a fixação e a estabilidade não estão em função do parafuso de retenção, mas resultam do atrito gerado entre o intermediário e o implante. A boa estabilidade obtida por este sistema parece oferecer uma alta resistência à flexão de forças na interface implante-pilar3,11.

Na conexão interna do tipo cone morse (Neodent Implante Osseointegrável, Curitiba, PR, Brasil), o assentamento pode ser realizado através de intermediários sólidos em corpo único com roscas na porção apical ou através de duas peças, no qual o intermediário é transfixado por um parafuso passante, permitindo a instalação de componentes pré-fabricados com angulações de 17º e 30º com torque de 10 Ncm3. Durante o processo de fabricação do intermediário com duas peças, a porção rosqueável do parafuso passante é soldada ao eixo do parafuso após a sua introdução no pilar, o que produz uma região de maior fragilidade3 (Figura1).

 

 

Este trabalho tem como objetivo descrever um caso clínico que apresentou uma falha na região de solda das roscas do parafuso passante em um intermediário do tipo minipilar cônico angulado de 30º em um implante cone morse.

 

RELATO DE CASO

Uma paciente do gênero feminino, 33 anos, foi encaminhada à clínica do curso de Aperfeiçoamento em Implantodontia da Via Oral, Bauru, SP, Brasil, para reabilitação protética. O exame clínico mostrou dois implantes osseointegrados cone morse (Neodent Implante Osseointegrável, Curitiba, PR, Brasil) na região de 11 e 21 (Figuras 2 e 3). Um modelo de estudo foi obtido após a transferência dos implantes, permitindo a seleção do componente protético (kit de seleção de intermediários (Neodent Implante Osseointegrável, Curitiba, PR, Brasil) (Figura 4). Após seleção optou-se pela instalação dos intermediários do tipo minipilar cônico angulado em 30º (Figura 5), pois os implantes estavam em inclinação desfavorável (vestibularizados) em relação aos dentes adjacentes.

 

 

 

 

 

 

 

 

Durante a instalação do minipilar foi constatado que um dos intermediários soltou-se durante a aplicação do torque de 10 Ncm. O intermediário foi removido e observou-se que a porção rosqueável permaneceu no interior do implante (Figura 6). A falha ocorreu exatamente na região da solda entre eixo do parafuso e a porção rosqueável, de tal forma que todas as roscas ficaram retidas no interior do implante, inviabilizando a instalação de um novo componente protético.

 

 

Considerando a indisponibilidade de um kit de remoção específico para este fragmento, aliada às dificuldades de visualização da luz da porção interna do implante e, tendo em vista que a superfície interna da parte rosqueável é lisa e cilíndrica, estudaram-se alternativas para remoção do fragmento sem causar danos ao implante. Desta forma, optou-se pela utilização de um palito de madeira com uma porção mais fina em uma das extremidades, para facilitar o acesso ao interior da rosca perdida dentro do implante (Figura 7). A madeira após ser umidecida expandiu-se e dessa forma a rosca ficou presa ao palito. Posteriormente foi realizado o movimento de rotação (sentido anti-horário) desrosqueando o fragmento que se encontrava no interior do implante (Figura 8).

 

 

 

 

Como a remoção não danificou a porção interna do implante foi possível a instalação de um novo intermediário com as mesmas características.A utilização dos componentes angulados permitiu que o orifício de acesso ao parafuso da prótese se localizasse na região palatina, garantindo um resultado estético satisfatório (Figura 9).

 


 

DISCUSSÃO

Independente do tipo de conexão, o torque no parafuso gera uma pré-carga, responsável pela retenção do intermediário ao implante18. No hexágono externo, a estabilidade do conjunto intermediário-implante é dependente principalmente do aperto do parafuso. Nas conexões internas, o formato e o atrito das superfícies resultam na proteção contra forças de flexão no sistema, implicado em menores taxas de afrouxamento do parafuso17,19. Entretanto, as principais causas de afrouxamento ou fratura do parafuso foram identificadas como: torque inadequado, forças oclusais desfavoráveis e características do material do parafuso com relação à resistência e fadiga17-18.

Na conexão do tipo cone morse, os intermediários de duas peças principalmente do tipo minipilar cônico angulado em 17º e 30º são retidos no implante por meio de um parafuso passante que apresenta as roscas soldas ao seu eixo3. O procedimento de solda das roscas ao eixo do parafuso gera um ponto de fragilidade, não apresentando as mesmas características de força e resistência à fadiga de um parafuso torneado em peça única. Inclusive, o torque recomendado pelo fabricante neste parafuso é menor do que outros, cerca de 10 Ncm3. Desta forma, diversos fatores podem interagir propiciando falhas. Devido à angulação destes componentes ocorre um direcionamento não axial das forças provenientes da mastigação, o que acaba sobrecarregando regiões específi cas deste sistema, principalmente o parafuso2,17.

Métodos para recuperar os fragmentos de parafuso no interior do implante foram relatados na literatura9-10,12,14,17. Algumas empresas apresentam kits de reparo do implante para remoção utilizando instrumentos rotatórios, que podem danificar as roscas internas do implante tornando-o inútil9-10,12,14, além de apresentarem um custo extra. No entanto, por vezes, o fragmento do parafuso pode ser removido de forma conservadora e substituído por um novo parafuso. Nos casos em que o fragmento não se encontra retido, pode ser utilizado um explorador, sonda reta ou instrumental endodôntico para tentar desenroscá-lo9,17. A ponta do instrumento é movida com cuidado em orientação no sentido anti-horário, sobre a superfície do segmento de rosca até ocorra o afrouxamento. Neste relato de caso, foi utilizada uma técnica diferenciada, prática e de baixo custo, que facilitou a remoção das roscas fraturadas. Com o auxílio de um pequeno palito de madeira introduzido no interior destas roscas, o contato com a umidade causa a expansão da madeira, propiciando desta forma o aprisionamento das roscas fraturadas ao palito, sendo possível desenroscá-la.

O ideal seria a utilização de outro modelo de intermediário sem a necessidade de um parafuso passante com roscas soldadas, mas devido à ausência de intermediários com angulação necessária para corrigir a inclinação dos implantes cone morse, optou-se novamente pela utilização do mesmo modelo de intermediário com parafuso passante.

Recomenda-se muito cuidado na utilização de componentes protéticos angulados com parafuso passante devido ao tipo de solda utilizada nesta marca comercial e na colocação destes implantes cone morse somente quando for possível uma posição e inclinação correta em relação aos dentes adjacentes5.

 

CONCLUSÃO

Falhas no parafuso do intermediário acontecem em taxas reduzidas, mas podem comprometer a restauração protética e o implante osseointegrado. O uso de intermediários que apresentem parafuso passante com roscas soldadas ao eixo do parafuso deve ser feita com bastante cautela. A utilização do palito de madeira para remoção deste tipo de rosca fraturada mostrou-se um técnica baste eficaz, prática e de custo reduzido. Devemos lembrar que o ideal é a colocação dos implantes na angulação correta e 2 mm intraósseo, evitando assim, a utilização destes componentes angulados com os parafusos descritos.

 

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Endereço para correspondência:
Renato de Freitas
Rua Baptista Antonio de Agelis, 1-30 Vila Regina
17044-400 - Bauru - São Paulo - Brasil
E-mail: renato.fr@ig.com.br

Recebido: 08/07/2010
Aceito: 10/08/2010