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Odontologia Clínico-Científica (Online)
On-line version ISSN 1677-3888
Odontol. Clín.-Cient. (Online) vol.11 n.3 Recife Jul./Sep. 2012
OBSERVATÓRIO
Conflito de Interesse em Odontologia
Breno de Albuquerque Mello
Cirurgião-Dentista, Mestre e Doutor na área de Dentística e Endodontia, Professor associado do Curso de Odontologia da Universidade Federal de Pernambuco (aposentado).
Visando à atualização em suas especialidades, as leituras de revistas científicas, a presença em congressos e cursos e a utilização de outras mídias são fundamentais, tendo sido meios bastante utilizados.
Em trabalhos científicos realizados por pesquisadores, dentre suas qualidades, deve predominar a isenção total diante da obtenção dos dados e a interpretação dos resultados.
A necessidade de a comunidade acadêmica publicar tem maximizado o número de trabalhos de pesquisa.
Os interesses políticos institucionais das universidades, os interesses dos pesquisadores e, principalmente, a busca de resultados pelas empresas financiadoras podem provocar desvirtuamento das interpretações dos resultados e, consequentemente, das conclusões.
Trabalhos (pseudo) científicos têm sido apresentados em livros, revistas, participações em congressos e similares por meio de artigos, cursos, conferências e outras formas.
A propaganda sub-reptícia de novos materiais tem sido identificada em eventos odontológicos no Brasil.
A Medicina já se antecipou e proibiu a seus praticantes o recebimento de abonos, viagens para congressos e outros bônus, visando à propaganda de medicamentos, equipamentos e procedimentos, quando financiados por fabricantes.
Na Odontologia, é cada vez mais comum, nos congressos, ministradores de cursos ou palestras, professores ou pesquisadores serem oficial ou oficiosamente ligados a laboratórios, propagando materia is de sua fabricação, no mínimo, enganando os participantes assistentes que não conhecem os vínculos dos apresentadores com empresas patrocinadoras.
A ética científica pode estar sendo ferida. Evidente que, na mostra de profissionais oficialmente ligados aos laboratórios, a conduta deve ser aceita, desde que o assistente seja informado do que o apresentador representa naquele momento e, dessa forma, discernir sobre os aspectos do trabalho.
Evidente que nem todas as pesquisas realizadas por funcionários de empresas são tendenciosas, pois materiais e medicamentos foram descobertos por cientistas trabalhando em laboratórios privados.
Essas observações que estão sendo feitas têm também a ver com aspectos da psicologia humana.
Poder-se-ia perguntar: até onde a dependência financeira e os mimos recebidos podem redirecionar a interpretação e os resultados das pesquisas? Até onde o financiamento por laboratórios pode afetar as pesquisas acadêmicas, retirando o que há de mais importante no pesquisador, que é a isenção.
Evidências têm demonstrado que o efeito é grande e verdadeiro. Em trabalho citado por Zoboli, "os pesquisadores financiados por indústrias são de nove a dez vezes mais propensos a prescreverem os medicamentos dos patrocinadores de seus estudos, quando comparados aos que não recebem tal tipo de financiamento".
A apresentação de trabalhos que espelhem nítidos conflitos de interesse deve ser bem avaliada antes da possível publicação.
Desse modo, cuidados devem ser tomados para que, na pesquisa, quem financia e quem se beneficia sejam bem caracterizados, visando ao aperfeiçoamento dos conhecimentos, e a tomada de decisão por parte dos profissionais seja cientificamente comprovada.