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Revista da ABENO
Print version ISSN 1679-5954
Rev. ABENO vol.16 n.1 Londrina Jan./Mar. 2016
O uso da aprendizagem baseada em problemas na Odontologia: uma revisão crítica da literatura
Problem-Based Learning in Dentistry: a critical literature review
Juliana Schaia RochaI; Gisele Fernandes DiasII; Nara Hellen CampanhaII; Márcia Helena BaldaniII
I Doutoranda, Programa de Pós-Graduação em Odontologia, Universidade Estadual de Ponta Grossa
II Professora do Departamento de Odontologia da Uni-versidade Estadual de Ponta Grossa
RESUMO
A sociedade contemporânea impõe desafios constantes aos setores da saúde e da educação, alicerçada em revisões e reformulações permanentes para formação de recursos humanos. Este artigo promove uma revisão crítica da literatura a respeito da aprendizagem baseada em problemas (Problem Based Learnig - PBL) direcionada ao ensino da Odontologia. As bases de dados consultadas foram Medline (via EBSCO), SCIELO, BBO e LILACS (via BVS). As palavras-chave foram definidas baseadas em artigos previamente selecionados. Esta metodologia se apresenta como uma alternativa para formação e educação em Odontologia. É considerada uma ferramenta de trabalho para professores que buscam desenvolver em seus alunos capacidades cognitivas promotoras do desenvolvimento do raciocínio clínico integrado, com perfil direcionado à educação permanente.
Descritores: Aprendizagem Baseada em Problemas. Odontologia. Ensino.
ABSTRACT
Contemporary society imposes constant challenges in the areas of health and education, founded on permanent revisions and redesigns for training. This article promotes a critical review of the literature on problem-based learning (PBL) directed to the teaching of Dentistry. Data bases consulted were Medline (via EBSCO), SCIELO, BBO and LILACS (BVS). The keywords have been defined based on previously selected articles. The PBL is presented as an alternative methodology for training and education in Dentistry. It isconsidered a working tool for teachers seeking to develop in their students cognitive skills promoting the development of integrated clinical reasoning with the continuing education directed profile.
Descriptors: Problem-Based Learning. Dentistry. Teaching.
1 INTRODUÇÃO
O ensino tradicional tem passado por uma série de questionamentos e mudanças para atender às exigências das Diretrizes Curriculares Nacionais (DCN). Essas diretrizes definem a necessidade de um perfil generalista do cirurgião-dentista, com habilidades e competências a serem desenvolvidas. E, para isso, são necessárias a discussão e a construção de novos projetos pedagógicos nos cursos de Odontologia e mudanças curriculares1.
As habilidades gerais preconizadas pelas DCN são de atenção à saúde, tomada de decisão, comunicação, liderança, administração e gerenciamento, além de educação permanente. Para desenvolvê-las, o aluno deve ter diversas capacidades, dentre elas a de colher, observar e interpretar dados para a construção do diagnóstico; desenvolver o raciocínio lógico e a análise crítica na conduta clínica; propor e executar planos de tratamento adequados; realizar a promoção e a manutenção da saúde; comunicar-se com pacientes, com profissionais de saúde e com a comunidade em geral, dentro de preceitos éticos e legais; trabalhar em equipes interdisciplinares e atuar como agente de promoção de saúde; planejar e administrar serviços de saúde coletiva1.
O ensino tradicional na Odontologia resulta em dificuldades para o desenvol-vimento destas habilidades no aluno. As dificuldades surgem devido ao fato de que os cursos possuem padrões curriculares fragmentados, cabendo ao aluno realizar a integração dos conteúdos2. Esse modelo possui aulas apresentadas para grandes grupos, onde o professor é detentor do conhecimento. Este é depositado ou transferido para o aluno ouvinte3, que participa do processo ensino-aprendizagem de forma passiva. Os currículos são estruturados em disciplinas básicas e específicas não integradas, que se tornam muitas vezes repetitivas4.
A Odontologia é uma ciência complexa e integrada, logo o processo educacional também deve seguir esse padrão. Para isso, têm-se estudado as metodologias ativas de ensino, que são conceituadas como "processos interativos de conhecimento, análises, estudos, pesquisas e decisões individuais ou coletivas, com a finalidade de encontrar soluções para um problema"5. Baseiam-se no conceito de que o que impulsiona a aprendizagem é a superação de desafios, resolução de problemas e construção do conhecimento a partir de experiências prévias6.
O professor deixa de ser um detentor e transmissor do conhecimento e passa a ser um facilitador/orientador nas pesquisas, reflexões e tomadas de decisão do aluno. Sendo assim, as metodologias ativas ensinam o aluno a aprender a aprender, através de experiências reais ou simuladas, favorecendo também a educação permanente6,7.
Dentre as metodologias ativas está a aprendizagem baseada em problemas (Problem Based Learning - PBL). Na PBL o ensino é centralizado no aluno, sendo ele o responsável pela busca do conhecimento de forma ativa. O ensino consiste na integração de conteúdos das várias áreas envolvidas, diferente do ensino tradicional que divide o conhecimento em disciplinas básicas e específicas. Essa metodologia tem como um dos objetivos desenvolver no aluno a capacidade de procurar soluções para problemas que surgem durante toda a sua vida profissional8.
Fundamentação teórica da metodologia PBL
A PBL é um modelo pedagógico que se iniciou em 1969, na educação médica da Escola de Medicina da Universidade McMaster em Ontário, Canadá. Na década de 90 ela foi incluída nos cursos de medicina em todo o mundo e aprovado pela Federação Mundial de Educação Médica e da Orga-nização Mundial de Saúde9. Sua introdução no ensino Odontológico iniciou muito mais tarde, em meados de 1990, com as escolas na Suécia, Austrália, EUA, Hong Kong, Irlanda e Reino Unido10.
A abordagem PBL se diferencia das outras metodologias ativas por constituir-se como o eixo principal do aprendizado técnico-científico dentro de uma proposta curricular7, em que o ensino está centrado no aluno. Desta maneira, os alunos devem definir e estabelecer objetivos de aprendizagem necessários para desenvolver sua compreensão de determinado problema, além de uma busca ativa do conhecimento11.
A PBL tem como objetivos principais assimilar novos conhecimentos a partir da integração de diferentes disciplinas, desenvolver uma abordagem para análise de situações clínicas e capacidade de avaliar seu próprio desempenho, além de desenvolver uma boa comunicação interpessoal e autonomia de aprendizado e favorecer a educação permanente12.
Esta pedagogia baseia-se em pequenos grupos de alunos trabalhando juntos na solução de um problema, sob orientação de facilitadores do corpo docente para alcançar os objetivos. O processo de aprendizagem ocorre da seguinte forma13: 1) os alunos são apresentados a uma situação problema, simulada, que definirá as prioridades de conhecimento; 2) os alunos trabalham em pequenos grupos com um facilitador para esclarecer termos e conceitos, analisar e interpretar a situação e identificar os problemas; 3) os grupos geram hipóteses de trabalho sobre as causas e consequências dos problemas; 4) o grupo identifica questões decorrentes do problema (questões de aprendizagem) para um estudo auto-dirigido; 5) os alunos se reúnem para compartilhar as informações pesquisadas e tentar explicar e encontrar respostas para o problema. Essas informações serão determinantes para o diagnóstico e planejamento do tratamento. O facilitador também contribui com informa-ções nesta etapa; 6) Após a solução do problema, deve ser realizada a avaliação das habilidades adquiridas pelo aluno durante o processo.
É importante destacar que o facilitador não atua como professor ou como um especialista no conteúdo, mas procura ajudar os alunos a trabalharem com o problema (caso) para obter o máximo benefício a partir de sua aprendizagem. Um exemplo de aplicação prática da metodologia PBL em Odontologia pode ser visto no estudo de Zheng et al14, no ensino de cirurgia bucal e maxilofacial. O primeiro tutorial traz a descrição de um caso com os principais pontos para a discussão. Os tutoriais seguintes trazem a resolução do caso passo a passo com os cenários para discussão em cada encontro. No último encontro são resumidos os pontos-chaves de cada cenário e dada a literatura complementar sobre o assunto.
Diante do exposto, este trabalho tem como objetivo revisar a literatura sobre a aplicação da metodologia ativa "Aprendi-zagem Baseada em Problemas" na Odontologia e verificar os avanços já alcançados.
2 MATERIAIS E MÉTODOS
Este estudo é uma revisão crítica de literatura, baseada em uma busca estratégica de publicações. As bases de dados utilizadas foram: Medline (via EBSCO), SCIELO, BBO e LILACS (via BVS). As palavras-chave foram definidas baseadas em artigos previamente selecionados, as quais foram: educação em Odontologia, Odontologia, aprendizagem baseada em problemas e PBL nos idiomas português, inglês e espanhol, limitados aos últimos 10 anos (2005-2015). A estratégia de busca utilizada em cada base está representada no quadro 1.
Os critérios de inclusão utilizados foram estudos que explorassem o tema "Aprendizagem Baseada em Problemas na Odontologia". Foram excluídos aqueles estudos que 1) envolviam apenas cursos de outras áreas da saúde fora da Odontologia; 2) estudos não publicados, como tese e dissertações; 3) estudos com texto completo não disponível 4) não tinham como objetivo principal a PBL.
Após as buscas realizadas, foram excluídos os artigos duplicados. Em seguida, os artigos foram eliminados por título e resumo. Os resumos condizentes com os critérios adotados (citados no parágrafo anterior) foram selecionados e incluídos nesta revisão crítica.
3 RESULTADOS
Foram recuperados 210 artigos, a partir das palavras-chave. Após a remoção das duplicações e da utilização dos critérios previamente definidos, restaram 25 artigos (figura 1).
A tabela 1 apresenta a relação dos artigos selecionados. Dos 25 artigos encontrados na literatura, 7 são de revisão de literatura, 5 comparam o ensino tradicional com a PBL, 12 mostram experiências da PBL na Odontologia e avaliação dos alunos e 1 discute uma metodologia para capacitação docente.
Os tópicos a seguir sintetizam os assuntos abordados nos artigos selecionados, na seguinte sequência: experiências na Odontologia, sucessos e desafios e ensino tradicional versus aprendizagem baseada em problemas.
Experiências na Odontologia
A inserção da PBL na Odontologia tem sido iniciada de forma gradativa nas faculdades de Odontologia. Em 2009 foram avaliados os currículos dos cursos de Odontologia do Canadá e dos EUA sobre o formato, avaliação e inovação do currículo. Quarenta e nove por cento dos entrevistados definiram seu formato curricular organizado principalmente por disciplinas, sendo que metade usava PBL em uma seção ou componente específico de alguma disciplina. Entretanto, 65% dos currículos estão em processo de renovação ou foram modificados dentre os últimos 2 anos. Houve um aumento no percentual de escolas com cursos inter-disciplinares, especialmente nas ciências básicas, mas nenhuma mudança no uso da PBL. Porém, as previsões para um currículo integrado estavam dentre as prioridades. Além disso, o treinamento do corpo docente para melhorar suas habilidades de ensino e métodos de avaliação foi listado como a necessidade mais fundamental para apoiar a inovação futura24.
Na China, mesmo com as novas exigências na formação do aluno com uma visão integral, ainda há resistência e dificuldade para alcançar estes objetivos. A Escola de Estomatologia na Universidade de Wuhantem foi pioneira na implementação de inovações, reestruturando o currículo através da introdução do PBL e outras estratégias na formação clínica. Apesar de a PBL estar em seus estágios iniciais, há um entusiasmo com esta abordagem em termos cognitivos, afetivos e habilidades psicomotoras, tanto do corpo docente quanto dos alunos17.
Diferentemente da medicina, ao invés de programas completos do PBL, muitos cursos na Odontologia têm apresentado seu currículo híbrido18,31. Um currículo híbrido consiste na mescla de sessões de PBL, palestras, aulas laboratoriais, tutoriais, módulos on-line e prática clínica. Isso proporciona ao aluno diferentes estímulos de aprendizagem13.
Este é o caso da Universidade de Adelaide, a primeira escola de Odontologia na Austrália a adotar a metodologia PBL. Seu currículo está estruturado em blocos temáticos, não em disciplinas (integração horizontal), assim como são integrados ao longo dos cincos anos de curso (integração vertical)18. Não só adotam sessões do PBL, mas também outros estímulos de aprendizagem, tais como: palestras, aulas laboratoriais e clínicas. O perfil também foi adotado na Faculdade Ostrow de Odontologia da Universidade do Sul da Califórnia (OSDUSC), em que a pedagogia PBL é utilizada ao longo dos dois primeiros anos. Após, há uma combinação de módulos tradicionais, pré-clínicos e clínicos31.
Sucessos e desafios
Os alunos têm respondido favo-ravelmente a este tipo de currículo (PBL), pois permite a aprendizagem situacional, o desenvolvimento de competências em clima de motivação, participação ativa e alto nível de satisfação dos alunos30.
A Faculdade de Cirurgia Dentária em Dharan, Nepal, fez um estudo a fim de avaliar o impacto do PBL e os desafios encontrados na sua implantação. Os temas integrados foram articulação temporo-mandibular, músculos da mastigação e oclusão, perpassando por várias disciplinas do currículo tradicional. Os alunos tiveram um período de 5 dias (40 horas) de PBL, com seus tutores previamente treinados. Após a conclusão do módulo, a maioria dos alunos que participaram da pesquisa preferiu o ensino em PBL por ser mais interativo e colaborativo, sendo que a integração de disciplinas lhes forneceu perspectivas diferentes para a mesma doença34.
Alunos da Universidade de Malmö foram avaliados quanto a sua educação e satisfação profissional. Egressos entre 1995 e 1999 foram questionados sobre aspectos de sua educação, desempenho profissional e interesse em pós-graduação. A maioria dos entrevistados se declarou preparado para o exercício profissional e se disseram satisfeitos quanto à sua profissão, afirmando que o ensino em PBL foi um ponto valioso na sua formação. Além disso, 77% dos entrevistados manifestaram interesse em especializações33. Apesar da resposta positiva à metodologia PBL, os alunos apontam a falta de palestras como ponto negativo do método, o que denota certa relutância dos alunos em se tornarem aprendizes independentes.
Outra crítica comum à PBL é a presença de lacunas no conhecimento, já que o aluno não possui disciplinas delimitando os assuntos. E isto é dependente da habilidade do facilitador, conhecimento prévio do aluno e qualidade dos casos. Antes de abordar este assunto, deve-se saber que também há lacunas presentes no currículo tradicional, uma vez que não são todos os alunos que possuem 100% de aproveitamento.
No processo da PBL, um dos primeiros passos é identificar os problemas presentes no caso13. Com base nos problemas, os próximos passos envolvem engajar os alunos ao pensamento crítico, para definir as suas ideias e hipóteses que explicam os fatos. Essas são discutidas entre os alunos, a fim de encontrar as lacunas no conhecimento e determinar as necessidades de aprendizagem para confirmar suas idéias/hipóteses. Assim, apesar de haver objetivos de aprendizagem previstos pelo corpo docente, estes podem não ser atingidos, dependendo do rumo que os alunos tomarem. O estudo Hagparast et al.25 comparou as necessidades de aprendizagem geradas por alunos de quatro grupos de PBL de um programa de doutorado de Cirurgia Dentária. Destes, apenas um grupo apresentou diferenças estatisticamente significantes de aprendizagem. Para resolver este problema, o tutor pode usar questões norteadoras para facilitar as investigações do grupo de conceitos importantes.
Então, para converter um currículo educacional de Odontologia tradicional para PBL é fundamental o desenvolvimento do corpo docente, ou seja, o professor deve estar apto para ser um tutor, ao delinear os objetivos de cada caso clínico apresentado15. O corpo docente deve estar preparado para que a abordagem de ensino não seja mais centrada do professor, e sim no aluno. Um exemplo é a escola de Wuhan na China, a qual formou seu corpo docente em PBL, sendo que apenas os professores certificados estavam aptos a serem tutores17, otimizando a aplicação do método.
Ao se detectar problemas, não só no corpo docente, mas também na busca do sucesso da metodologia, é necessária avaliação constante e dinamismo. No estudo da Universidade de British, Columbia, foi realizada a avaliação do currículo, a partir da percepção dos alunos. Embora a PBL funcionasse no curso de Odontologia, foram identificados alguns pontos para a melhoria do curso: os alunos se queixaram da discrepância de comentários entre os diferentes tutores, da falta de feedback e dos relatórios exigidos como complemento, considerados extensos e cansativos. Com estes resultados, houve adaptações no currículo para melhorar o desempenho dos alunos22, no intuito de otimizar a aprendizagem do aluno e alcançar os objetivos propostos.
Por fim, deve-se ter cautela quando houver a integração de cursos, fato que ocorre principalmente durante o aprendizado das ciências básicas. Um estudo avaliou o impacto da integração dos cursos de Medicina e Odontologia na aprendizagem dos alunos, 279 alunos de Medicina e 100 alunos de Odontologia estudaram juntos, utilizando o método PBL durante os dois primeiros anos da faculdade. No final da avaliação, os alunos de Odontologia relataram que se sentiam excluídos, pois eles tinham que se deslocar até a área da medicina e não tinham acesso a todos os espaços, prejudicando o processo de aprendizagem. Com isso, percebe-se que os fatores contextuais devem ser considerados e estudados, pois podem impactar negativamente em experiências de aprendizagem dos alunos19.
Ensino Tradicional versus Aprendizagem Baseada em Problemas
Estudos na literatura odontológica avaliam a eficácia da PBL comparada ao ensino tradicional. Uma revisão sistemática da literatura realizada em 20148 mostrou a necessidade de estudos bem delineados, pois ainda há um número muito limitado de estudos controlados bem desenhados que abordem este tema. Os resultados encontrados foram que a metodologia PBL aumenta o conhecimento/desempenho do aluno para as situações clínicas, promove a autopercepção quanto ao preparo para a vida profissional e influencia na sua confiança na prática clínica. Outra revisão sistemática sobre o ensino Odontológico em PBL na China encontrou um efeito positivo na teoria e prática dos alunos, mostrando a metodologia PBL como superior ao ensino tradicional28.
Para avaliar as diferenças de aprendizagem entre o ensino tradicional e a PBL, foi realizado um estudo com alunos e professores da Universidade Europea de Madrid, cujos 2 grupos de alunos receberam diferentes tipos de ensino sobre cuidados especiais em Odontologia: um grupo assistiu a aulas expositivas e o outro frequentou aulas em PBL. Apesar dos resultados de aprendizagem avaliados serem ligeiramente maiores em alunos PBL, não houve diferenças estatisticamente significativas entre os grupos32.
Outros estudos21,27 também não encontraram diferenças na aprendizagem ao longo da vida entre alunos que receberam o ensino tradicional e a PBL. No estudo de Polyzois et al.21 ambos os grupos tiveram uma proporção semelhante de ingresso em pós-graduações. Houve uma tendência maior de assinaturas em periódicos odontológico entre alunos que foram formados em faculdades com um currículo tradicional ou híbrido (35,42%) do que aqueles que se formaram a partir do currículo PBL (29,17%). Com isso, pode-se concluir que a PBL não influenciou na melhoria da aprendizagem ao longo da vida, variáveis demográficas e profissionais parecem ser mais importantes do que o tipo de currículo21. Resultados semelhantes foram encontrados por Yiu et al.26, sem diferenças no conhecimento clínico entre os alunos formados na Universidade de Hong Kong com um currículo tradicional (1997-2001) e com PBL (2004-2008).
Outro estudo avaliou o desempenho dos alunos de pós-doutorado na Escola de medicina dental de Harvard entre diplomados com a PBL e não (co-residentes). No geral, graduados em PBL se classificaram mais altamente do que os não graduados em todas as competências avaliadas. Porém, não houve diferença significativa entre conhecimentos gerais em Odontologia, conhecimentos específicos da especialidade, habilidades pré-clínicas, habilidades clínicas, a comunicação com a equipe e educação do paciente. Houve diferenças significativas para a comunicação com os pacientes, o pensamento crítico, a aprendizagem independente, o desempenho em pequenos grupos, auto-avaliação e trabalho em equipe. O desempenho dos diplomados em PBL durante a sua formação de pós-doutorado correspondeu às expectativas e foram semelhantes aos não-graduados para competências tradicionais do programa de residência. No entanto, a formação PBL parece fornecer aos graduados habilidades aprimoradas em aprendizagem independente, comunicação e habilidades de cooperação16.
Em um estudo que avaliou a aprendizagem de alunos sobre o papel do profissional e a ética, através de situações clínicas (PBL), os alunos tiveram seu senso de responsabilidade como dentista melhorados, quando comparados ao ensino tradicional20.
4 DISCUSSÃO
Avanços na metodologia de ensino na Odontologia são necessários, para promover metodologias ativas, direcionadas às necessidades de aprendizagem do aluno, facilitando o desenvolvimento de habili-dades, como a de solucionar problemas e de aprendizagem contínua. Dentre essas metodologias, está a PBL, em que há a integração das ciências básicas e clínicas, extinguindo-se as disciplinas. A integração tem como objetivo eliminar a redundância no currículo e formar um profissional com uma visão integral do conhecimento, sem recortes29.
O professor teria papel de facilitador, auxiliando o aluno a explorar o problema, para assim extrair os fatos relevantes e gerar hipóteses. Além disso, ele deve identificar as necessidades de aprendizagem dos alunos15,17. Este novo papel exigirá conhecimento prévio, sensibilização e prática, sendo um dos primeiros desafios do professor no emprego desta metodologia15,17.
É importante ressaltar que, ainda são necessários estudos da PBL em Odontologia, pois há um número limitado de publicações e grande parte destas são da área da medicina10, ou baseada na literatura médica. E isto se torna um problema, pois as competências necessárias e o foco da educação para a formação de alunos de Medicina e de Odontologia são diferentes. Então, extrapolar resultados encontrados em estudos da educação médica para a Odontologia pode ser limitado8.
Ao analisar os estudos e revisões de literatura, conclui-se que há uma necessidade de estudos controlados, bem desenhados na educação odontológica sobre a eficácia da PBL especialmente a nível curricular com a finalidade de promover a qualidade da evidência científica. Uma vez que, a maioria dos estudos foram classificados como sendo de fraca qualidade e com baixa quantidade de sujeitos de pesquisa8,28.
Apesar disto, a evidência desta análise sugere que a PBL não afeta negativamente o conhecimento dos alunos. E apesar de contradições8,17,26-28, pode haver melhoria no desenvolvimento das competências dos alunos que aprenderam com a PBL, quando comparados com o ensino tradicional. Além disso, os alunos se sentem mais preparados para a vida profissional. Isto pode ser relacionado à rotina de aprendizagem dos alunos com a PBL, pois os mesmos vivenciam a resolução de problemas desde o início de sua formação16,20. Não houve diferença na educação permanente entre os estudos, pois os alunos buscavam igualmente cursos de pós-graduação. Este perfil geralmente é dos alunos que se destacam, fator independente da metodologia de aprendizagem21.
A problemática de debate quanto ao uso ou não da PBL não deve ser definida apenas como ensino centrado no aluno, ou no professor. Deve-se levar em consideração o conhecimento gerado, através de discussão, pesquisa e até mesmo palestras dirigidas por professores. O artigo de Tonwsend et al.35 (2012) pressupõe que há momentos em que todas estas concepções podem ser valiosas em educação odontológica; uma etapa para a transmissão de conhecimentos e outra em que os alunos precisam para se envolver ativamente no processo de diagnosticar e compreender problemas. Uma palestra sem sentido não é melhor ou pior do que uma classe PBL sem sentido. A PBL não deve ser vista como única opção para promover o processo ensino-aprendizagem. Também existem muitas outras metodologias ativas que podem ser eficientes na educação Odontológica11.
Como observado neste artigo, a PBL tem-se mostrado uma ferramenta promissora na educação da Odontologia29. Sendo que, currículos híbridos planejados e integrados são colocados como os mais apropriados na Odontologia13. Em que são caracterizados como uma mescla da PBL, com palestras, aulas laboratoriais, tutoriais, módulos on-line e prática clínica, proporcionando ao aluno diferentes estímulos de aprendizagem13,18,31.
5 CONCLUSÃO
A metodologia PBL se apresenta como uma alternativa no campo da educação em Odontologia. É considerada uma ferramenta de trabalho para professores, que ao utilizá-la promovem nos alunos capacidades cognitivas. Estas contribuem para o desenvolvimento do raciocínio clínico integrado, com perfil direcionado à educação permanente e habilidades cognitivas de diagnosticar e resolver o problema alicerçado no processo de ensino-aprendizagem constante. Mais estudos no ensino da Odontologia devem ser realizados, bem delineados e com amostras suficientes, para mostrar os efeitos da metodologia PBL e encontrar pontos que necessitam melhorias.
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Correspondência para:
Juliana Schaia Rocha
Rua Alf. Angelo Sampaio, 2692
80730-460 - Curitiba/PR
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