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RFO UPF

Print version ISSN 1413-4012

RFO UPF vol.15 n.1 Passo Fundo Jan./Apr. 2010

 

EDITORIAL

 

Um olhar sobre a pós-graduação em odontologia no Brasil

 

 

Cassiano Kuchenbecker Rösing

Professor Associado de Periodontia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul

 

 

Foi com grande satisfação que recebi o convite para ministrar a aula inaugural do Programa de Pós-Graduação (PPG) em Odontologia da Universidade de Passo Fundo (UPF). Essa situação é vinculada ao fato de que o momento da aprovação e início de atividades de um PPG para uma universidade é um momento de grande orgulho. É a partir da pós-graduação stricto sensu que a universidade consegue consolidar sua maioridade. A construção do conhecimento representada pela pesquisa e a formação de recursos humanos de alta qualidade são parte da vocação da universidade. Assim, também considero um grande orgulho poder dirigir essas palavras aos leitores da Revista da Faculdade de Odontologia da UPF, que certamente também será beneficiada pelo PPG.

A reflexão que considero importante, num momento jubiloso como esse, está inserida no contexto da pós-graduação e da produção acadêmica brasileiras. No momento, dados indicam que nosso país é o décimo terceiro país em produção científica mundial, atingindo o quarto lugar na nossa área de maior interesse - a odontologia. São mais de noventa PPGs em odontologia no país, uma área que a cada dia consolida mais o seu espaço no contexto da produção intelectual brasileira. Entretanto, é importante atentar para o fato de que esses PPGs, na sua grande maioria, estão concentrados no eixo Sudeste-Sul. A odontologia carece ainda muito de PPGs em áreas como Centro-Oeste e Norte, especialmente no nível de doutorado. Além disso, a maior parte da produção científica brasileira concentra-se na universidade pública.

Essas informações poderiam levar a uma pergunta: com o número já existente de PPGs em odontologia, por que estar comemorando mais um no cenário da profissão? A resposta para esse questionamento é simples: uma universidade é o espaço da dialética, da democracia, da prestação de serviços, da construção do conhecimento e do processo de educação. Lamentavelmente, temos no nosso país muitas fábricas de alunos que somente se preocupam com o ministrar aulas/conteúdos, sem entender que formar um indivíduo significa permitir que o mesmo, desde a graduação, consiga tomar contato e participar de diferentes atividades, entre as quais se incluem as de pesquisa. Nesse sentido, é muito claro que a qualidade dos cursos de graduação está diretamente vinculada à existência de um PPG, que dá suporte e propicia uma integração vertical entre os diferentes níveis de ensino. A efervescência observada com a pesquisa suscita acadêmicos de graduação com maior capacidade crítica, profissionais mais qualificados e cidadãos mais conscientes, e, no caso da odontologia, um sistema de saúde mais eficaz.

Por outro lado, num momento como esse não poderia deixar de lembrar um paradoxo: universidades privadas no Brasil têm demitido doutores por esses "custarem muito caro". Esse fato é lastimável e denota a falta de entendimento de dirigentes (muitos deles sem nunca terem cursado pós-graduação, são meros gerentes de empresas), o que, no meu olhar, envergonha a universidade brasileira. A falta de entendimento de que o objetivo de uma universidade não pode ser somente o lucro, mas a qualidade, gera educação de baixo nível, com reprodução sem construção de conhecimento. A UPF, uma das mantidas da Fundação UPF, é uma universidade comunitária e entende essa questão de forma diferenciada. Tem usado da democracia para escolha de seus dirigentes e tem priorizado a produção acadêmica de qualidade. Por isso, parabéns a essa universidade.

Especificamente na Faculdade de Odontologia, o transpirar do espírito do PPG certamente vai ser um transformador da graduação. Práticas pedagógicas mais modernas, descentralizadas da aula magistral do professor, que deixa de ser o ditador para ser um facilitador e aprendiz ao mesmo tempo, serão estimuladas pela existência de um PPG. Professores com práticas mais tradicionais sentir-se-ão compelidos a inovar sua forma de atuar e, com certeza, melhorarão seu fazer em educação. Isso foi o que aconteceu na maioria dos locais com PPGs consolidados. Certamente na UPF não será diferente.

Também estimulo, nesse momento, que cada docente seja cada dia mais produtivo. E o que significa ser produtivo? Para mim, significa não deixar de dar aula na graduação, trabalhar nas atividades didáticas da pós-graduação, inserir-se em atividades de extensão e, obviamente, produzir conhecimento. Isso faz o professor completo. Em muitos lugares temos docentes, mas não professores. Na odontologia, passamos da fase do "dentista que dá aula" para a fase do "professor de odontologia". Esse é o profissional completo que utiliza os conceitos aprendidos na sua pós-graduação para melhorar a educação odontológica. Além das atividades acima expostas, divulgar o conhecimento produzido através da publicação é fundamental. Quem se diz professor universitário e nunca produziu cientificamente ou o fez de forma muito discreta, nos dias de hoje, deve questionar qual foi o seu papel na transformação da sociedade. Talvez tenha sido muito pequeno. Isso é frustrante...

Assim, a consolidação da maturidade da Faculdade de Odontologia da UPF pelo PPG vai, com certeza, ser um impulsionador da sua qualidade. Meus desejos são de pleno sucesso ao PPG, à revista da faculdade e que a nossa profissão e o nosso país possam ficar melhores com mais essa contribuição.

Aos leitores, desejo que a Revista da Faculdade de Odontologia de Passo Fundo possa estimulá-los a serem dentistas mais conscientes, mais atualizados, mais críticos e mais felizes.