SciELO - Scientific Electronic Library Online

 
vol.11 issue2 author indexsubject indexarticles search
Home Pagealphabetic serial listing  

Odontologia Clínico-Científica (Online)

On-line version ISSN 1677-3888

Odontol. Clín.-Cient. (Online) vol.11 n.2 Recife Apr./Jun. 2012

 

RELATO DE CASO / CASE REPORT

 

Candidose bucal em paciente HIV positivo: relato de caso

 

Oral candidiasis in HIV- infected patient: report case

 

 

Tássia Tamara Pedroza VieiraI; Jossaria Pereira de SousaI; Maria Sueli Marques SoaresII; Edeltrudes de Oliveira LimaIII; Marçal de Queiroz PauloIV; Maria de Fátima Farias Peixoto de CarvalhoV

IAlunas da Graduação do curso Odontologia da UFPB, Bolsistas do PIBIC/CNPq
IIProfessora da Pós-graduação em Odontologia/CCS/ UFPB
IIIProfessora do Departamento de Ciências Farmacêuticas/CCS/UFPB
IVProfessor do Departamento de Química/CCEN/UFPB
VFarmacêutica Bioquímica do Departamento de Ciências Farmacêuticas/CCS/ UFPB

Endereço para correspondência

 

 


RESUMO

A candidose bucal é a infecção oportunista mais frequente no paciente HIV+ e representa um marcador da progressão da AIDS. O presente artigo tem como objetivo descrever um caso de candidose bucal recorrente em paciente HIV+. Desenvolvimento: Paciente, sexo masculino, 46 anos, HIV infectado compareceu ao Hospital Universitário Lauro Wanderley/UFPB, apresentando placas brancas que se desprendiam ao raspado, localizadas na mucosa jugal, labial e orofaringe e ainda fissura na comissura labial. O paciente referia dificuldade de deglutir, ardor bucal e na garganta, rouquidão e perda do paladar. O diagnóstico clínico foi candidose pseudomembranosa bucal e de orofaringe e queilite angular. Obteve-se diagnóstico definitivo, realizando-se exame micológico que mostrou presença de Candida albicans (CFU= 430). Prescreveu-se fluconazol 100mg 12/12h, durante uma semana. O paciente retorna com remissão do quadro clínico. No presente relato, são discutidos os fatores predisponentes, a relação com níveis de CD4+, as características clínicas, o diagnóstico e o tratamento da candidose bucal. Conclusão: É importante o exame clínico bucal e micológico para diagnóstico da candidose bucal. Ressalta-se a atuação do cirurgião-dentista no controle da saúde bucal e geral do paciente HIV+.

DESCRITORES: Infecções por HIV; Orofaringe; Candidíase Bucal; Candida albicans.


ABSTRACT

DOral candidiasis is the most frequent opportunistic fungical infection among human immunodeficiency virus (HIV)-infected patients, and it uses to represent a marker for AIDS' progression. This paper aims to describe a case of oral candidosis and oropharynx in a HIV+ patient. Development: Patient, male, 46 years old, HIV infected, attended the SIVIH/HULW showing white plaques that could be scraped off, located in the jugal, labial mucosa and oropharynx, as well as showing clefts in the labial commissures. He related difficulty swallowing, oral and throat burn, hoarseness and loss of taste. The clinical diagnosis was oral pseudomembranous candidosis, oropharynx and angular cheilitis. Definitive diagnosis has been obtained by performing mycological examination that showed the presence of Candida albicans (CFU= 430). Fluconazole 100 mg 12/12 h during one week has been prescribed. Patient returned showing total remission of clinical frame, with negative result for candida. In this case, predisposing factors, relation with CD4+ levels, clinical features, diagnosis and treatment for oral candidosis and oropharynx are discussed. Conclusion: Oral and mycological clinical examination are important for diagnosis of oral candidosis. The role of the dentist is emphasized in the control of oral and general health of the HIV+ patient.

Keywords: HIV Infections; Oropharynx Candidiasis; Oral Candidiasis; Candida albicans.


 

 

INTRODUÇÃO

A candidose bucal é comum em pacientes infectados pelo HIV, podendo atingir até 94% dos casos, dependendo do estágio da infecção e da população analisada1. Essa infecção bucal representa um marcador da progressão da doença HIV/AIDS e preditivo para o aumento da imunossupressão.2

O diagnóstico e tratamento da infecção bucal por Candida é importante para o controle do paciente HIV+. A candidose pode produzir hiperplasia epitelial e originar leucoplasia bucal. A invasão do epitélio pela Candida albicans e a sua posterior proliferação podem contribuir para a alteração neoplásica3. Também pode ocorrer progressão da infecção para o esôfago, os pulmões ou disseminar, no organismo, candidemia.4

O presente artigo tem como objetivo descrever um caso de candidose bucal recorrente em um paciente HIV+. Ressalta-se a importância do conhecimento do cirurgião-dentista acerca das características clínicas, do diagnóstico e tratamento dessa patologia.

 

RELATO DE CASO

Paciente do sexo masculino, 46 anos, portador de HIV compareceu ao SIVIH/Hospital Universitário Lauro Wanderley para acompanhamento médico. Foi encaminhado para avaliação da mucosa bucal por um cirurgião-dentista que desenvolve pesquisa com prevenção e tratamento de candidose bucal em paciente HIV. Durante anamnese, o paciente relatou sentir difi culdade para deglutir, ardor na mucosa bucal e na garganta, rouquidão e perda do paladar. Paciente era portador de prótese total superior, a qual se apresentava mal higienizada. A partir do protocolo médico do paciente, foi observada carga viral de 2.797 partículas/mm e contagem de linfócitos (CD4=266 cells/mL, CD8= 2.317 cells/mL).

Ao exame intrabucal, foi observada grande área eritematosa e placas brancas que se desprendiam ao raspado, localizadas na mucosa do fundo de sulco vestibular, bordas laterais da língua, mucosa labial superior e inferior, palato duro e palato mole e orofaringe (Figura 01). Na comissura labial, observava-se fissura atingindo a pele do lábio (Figura 02). O paciente referiu que esse quadro clínico já havia ocorrido anteriormente. O diagnóstico clínico foi de candidose pseudomembranosa bucal e de orofaringe, língua saburrosa e queilite angular. Para o diagnóstico definitivo da candidose, foram realizadas coletas de raspado na mucosa do palato, língua e orofaringe. O material coletado foi semeado em placa de Petri, contendo CHROMagar e encaminhado para análise no Laboratório de Microbiologia da Universidade Federal da Paraíba. O material foi incubado em estufa a 37° C, e, após 24h, realizada leitura de unidade de colônias formadas (CFU) de Candida. Foi identificada, apenas, a espécie Candida albicans, com CFU= 430.

Para o paciente, foi receitado bochecho com Cymbopogon citratus (Capim Santo), 3 vezes ao dia, durante 01 semana. Foram prestadas informações sobre como higienizar a prótese dentária e recomendado que a tirasse antes de dormir. O paciente retornou para controle, e, ao exame clínico, percebeu-se melhora parcial. Por se tratar de um paciente com baixa imunidade e devido ao risco de disseminação da infecção, optou-se por realizar medicação sistêmica, em que a infectologista receitou fluconazol 100mg, 12/12h, durante uma semana. O paciente retornou apresentando remissão total do quadro clínico (Figura 03). Após 15 dias de proservação, realizou-se outra coleta de esfregaço da mucosa para avaliação micológica, sendo o resultado negativo para Candida.

 

 

 

 

 

 

 

DISCUSSÃO

A correlação entre portar Candida na cavidade bucal e a contagem de linfócitos CD4+ no plasma ainda apresenta controversas. Alguns autores afirmam que a redução de linfócitos T CD4+ menor que 200 cells/ mm3 apresenta correlação significante com a presença de Candida na cavidade bucal5, enquanto que outros estudos não encontraram tal correlação.6,7 No presente caso, o paciente apresentava contagem de linfócitos T CD4+266 cél./mm3. Observam-se, na literatura, estudos que identificam diminuição signifi cante da incidência de candidose bucal, porém não, de candidose de orofaringe8. Esses afirmam que o aumento da contagem de linfócitos TCD4+, observado na reconstrução imune em paciente HIV+ que toma HAART(terapia antirretroviral altamente ativa) não é suficiente para protegê-lo contra a colonização de Candida8. Ressaltamos que, no presente caso, a candidose de orofaringe era recorrente, o que expressava a necessidade de estudos para melhor entendimento da relação entre colonização e infecção por Candida no paciente HIV+.

Quanto aos fatores predisponentes para a candidose bucal no paciente HIV+, a redução de linfócitos CD4+ menor que 200 cells/ mm3 é citada como o mais importante fator para colonização de Candida e desenvolvimento de candidose bucal.9 No entanto, outros fatores que podem influenciar nos mecanismos de defesa que limitam a proliferação de Candida são destacados e, dentre eles, são citados: terapia antifúngica, gênero, uso de prótese dentária, tabagismo, uso de drogas injetáveis, taxa de fluxo salivar, constituintes antimicrobianos da saliva, liberação de lisozima e sistema imune da mucosa bucal.10,11 No presente caso, o paciente era usuário de prótese dentária, e esta se apresentava mal higienizada. Acreditamos que as próteses dentárias mal higienizadas funcionam como reservatórios de microrganismos, que atuam na reinfecção e manutenção da candidose bucal, sendo esse um importante fator predisponente. Tem sido demonstrado que a presença assintomática de Candida ssp. e o uso de próteses dentárias são importantes fatores de risco para subsequente infecção10,12.

Embora a COF seja frequentemente assintomática, sintomas, como disgeusia ou um sabor de algodão, podem ocorrer9. A queixa de dor ao engolir e durante a alimentação, muitas vezes, é precursora de uma doença mais extensa, como candidose esofágica. Os referidos sintomas foram encontrados no caso aqui relatado, sugerindo infecção esofágica.

A candidose pseudomembranosa é a forma clínica mais prevalente entre pacientes infectados pelo HIV13. Esse dado corrobora o achado do presente caso, no entanto ressaltamos que as formas clínicas pseudomembranosa, eritematosa e queilite angular se apresentaram conjuntamente.

 

CONCLUSÕES

A candidose bucal causa comorbidade e reduz a qualidade de vida dos pacientes HIV infectados. Ressalta-se a importância do exame clínico bucal e do exame micológico para o diagnóstico bem como a atuação do cirurgião–dentista no controle da saúde bucal e geral desses pacientes.

 

AGRADECIMENTOS

Agradecemos ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico e à Universidade Federal da Paraíba pelo apoio financeiro e aos pacientes e dirigentes do Hospital Universitário Lauro Wanderley/ SIVIH/HULW/João Pessoa/PB pela prestimosa contribuição.

 

REFERÊNCIAS

1. Cavassani VGS, Andrade Sobrinho J, Homem MGN, Rapopport A. A Candidíase oral como marcador de prognóstico em pacientes portadores do HIV. Rev Bras Otorrinolaringol. 2002;68:27-31.         [ Links ]

2. Mesquita RA, Aguiar MCF, Tarquínio SBC, Gomez RS, Bertazzoli RCB. Candidíase oral e a infecção HIV/Oral candidiasis and the HIV infection. Rev CROMG.1998;4:27-31.         [ Links ]

3. Regezi JA, Sciubba JJ. Patologia Bucal – Correlações clinicopatológicas. Rio de Janeiro; Guanabara Koogan. 2000. 475p.

4. Colombo AL, Guimarães T. Epidemiologia das infecções hematogênicas por Candida ssp. Rev Soc Bras Med Trop. 2003;36:599-607.         [ Links ]

5. Schoofs AG, Odss FC, Colebunders R, Ieven M, Goossens H. Cross-sectional study of oral candida carriage in a human immunodeficiency virus (HIV)-seropositive population: predisposing factors, epidemiology and antifungal susceptibility. Mycoses.1998;41:203-11.         [ Links ]

6. Campisi G, Pizzo G, Milici ME, Mancuso S, Margiotta V. Candidal carriage in the oral cavity of human immunodeficiency virus-infected subjects. Oral Surg Oral Med Oral Path Oral Radiol Oral Endod. 2002; 93:281-6.         [ Links ]

7. Costa CR, Cohen AJ, Fernandes OFL, Miranda KC, Passos XS, Souza LKH, et al. Asymptomatic oral carriage of Candida species in HIV-infected patients in the highly active antiretroviral therapy era. Rev Inst Med Trop. São Paulo.2006;48:257-61.         [ Links ]

8. Yang YL, Lo HJ, Hung CC, Li Y. Effect of prolonged haart on oral colonization with candida and candidiasis. BMC Infect Dis. 2006; 6: 8-11.         [ Links ]

9. Thompson GR, Patel PK, Kirkpatrick WR, Westbrook SD, Berg D,Erlandsen J, et al. Oropharyngeal candidiasis in the era of antiretroviral therapy. Oral Surg Oral Med Oral Pathol Oral Radiol Oral Endod. 2009;109:488-95.         [ Links ]

10. Katiraee F, Khosravi AR, Khalaj V, Hajiabdolbaghi A, Khaksar M, Rasoolinejad MS, et al. Oropharyngeal candidisis and oral yeast colonization in Iranian Human Immunodeficiency virus positive patients. J Mycol Med. 2010;20: 8-14        [ Links ]

11. Leigh JE, Barousse M, Swoboda RK, Myers T, Hager T, Wolf NA, et al. Candida-specific systemic cell-mediated immune reactivities in human immunodeficiency virus-positive persons with mucosal candidiasis. J Infect Dis. 2001;183: 277-85.         [ Links ]

12. Fong IW, Laurel M, Buford-Mason A. Asymptomatic oral carriage of Candida albicans in patients with HIV infected. Clin Invest Med.1997;20: 85-93.         [ Links ]

13. Miotto N M L, Yurgel L S, Cherubini K. Candidíase oral em pacientes do Serviço de Estomatologia do Hospital São Lucas da PUCRS. Rev Odonto Ciência. 2003;17:354-61.         [ Links ]

 

 

Endereço para correspondência:
Maria Sueli Marques Soares.
Rua Pres. Venceslau Braz, 770 - Bessa
e-mail: msuelimarques@gmail.com

 

Recebido para publicação: 28/05/10
Aceito para publicação: 04/08/10